A relação da epistemologia genética com o ensino- aprendizagem
Por Roseli Gonçalves | 28/10/2011 | EducaçãoEPISTEMOLOGIA E O ENSINO/APRENDIZAGEM
O trabalho do Epistemólogo de Piaget é, sem dúvida alguma, uma das principais contribuições ao entendimento de como o ser humano se desenvolve. Os seus estudos, juntamente com colaboradores, no Centro de Epistemologia Genética de Genebra tiveram, e têm ainda, uma profunda influência sobre Psicólogos, Pedagogos e Educadores em geral e o entendimento dos principais resultados por ele obtidos é fundamental, para que a atividade docente seja realmente produtiva e eficiente.
Um conceito básico dentro da teoria piagetiana é o de equilíbrio: os organismos vivos estariam sempre em busca do equilíbrio. A partir da noção de equilíbrio entre organismo e meio surge na teoria piagetiana uma tríade de conceitos que são fundamentais e dos quais todos os demais conceitos da teoria são derivados.
Entende-se por assimilação como sendo um processo mental pelo qual se incorporam os dados das experiências aos esquemas de ação e aos esquemas operatórios existentes. É um movimento de integração do meio no organismo.
Entende-se por acomodação como sendo um processo mental pelo qual os sistemas existentes vão modificar-se em função das experiências do meio. É um movimento do organismo no sentido de se submeter às exigências exteriores, adequando-se ao meio.
Ao processo de regulação entre assimilação e acomodação dá-se o nome de equelibração.
Estes são interactivos, pois o facto de o sujeito integrar os dados do meio e estes serem assimilados permite que os esquemas evoluam e que, portanto, sejam mais capazes de responder aos problema.
Existem actividades mentais em que há um predomínio da assimilação (jogo simbólico) e outras em que há um predomínio da acomodação (imitação).
explica-se em termos de uma "abstracção reflexiva" interioriza o processo dialéctico, através do qual o ser humano cresce, se socializa, conhece e se autodetermina (o conhecimento não pode ser tratado como um facto mas sim como um processo).
Segundo Piaget o processo de desenvolvimento cognitivo faz-se por etapas sucessivas em que as estruturas intelectuais se constróem progressivamente Piaget dividiu o desenvolvimento em quatro estágios, cada estádio é diferente do outro do ponto de vista qualitativo, tem as suas formas próprias de adaptação ao meio. O desenvolvimento vai no sentido de uma melhor adaptação do sujeito ao meio.
O Estágio Sensório-Motor - este estádio situa-se aproximadamente entre 0 aos 24 meses de vida, e é caracterizado por uma inteligência prática, isto é, aplica-se na resolução de problemas baseada na ação, no movimento e nas percepções. É neste período que as aquisições são mais rápidas e mais numerosas. No início desta fase a criança encontra-se num estado de indeferenciação entre ela e o mundo, não se destinguindo, por conseguinte, dos objetos que a rodeiam, nem compreendendo as relações entre os objetos independentemente dela.
Em vez de palavras a criança serve-se de percepções e movimentos organizados em esquemas de acção. Na presença de um novo objeto, o bebé incorpora-o sucessivamente em cada um dos seus esquemas de ação, como por exemplo, sacudir, esfregar, balançar, como se se tratasse de os compreender pelo uso. Ao longo destes dois anos, e a nível da ação, ela vai construir algumas noções fundamentais para o desenvolvimento ulterior, entre as quais se destacam a de objeto permanente e a causalidade.
Segundo Piaget, a melhor maneira de se compreender o conceito de objeto na criança desta idade é observar o seu comportamento quando um objeto desaparece ou é escondido.
Paralelamente a criança objetiva a noção prática de causalidade. Por exemplo quando puxa o cordão de um brinquedo pendurado sobre o berço apercebe-se com agrado das oscilações que provocou. Esta acção que está ligada à atividade do seu próprio corpo, vai ser generalizada, permitindo-lhe agir sobre objectos, mesmo à distância.
Trata-se de uma causalidade egocêntrica, ligada à ação própria, caracterizada pela ausência de relações objetivas entre o meio (uso da ação corporal ) e o fim a atingir (brinquedo afastado da criança).
Estas condutas mostram que a criança nesta idade é já capaz de reconhecer relações objetivas de causalidade, na medida em que se serve de meios apropriados para alcançar os seus fins.
As noções de objecto permanente e de causalidade não são conceitos abstractos, dado que se situam a nível da acção e não da representação. São antes categorias práticas ou esquemas de ação.
Por volta do ano e meio, a criança começa a pensar. Para Piaget, o pensamento está intimamente ligado a esquemas motores e ao conceito de objectos e das suas características. Imita também acontecimentos que vê desenrolarem-se à sua volta. No final do estádio sensório-motor desenvolvem-se outras estruturas cognitivas, a criança começa a distinguir o eu de tudo o resto que a rodeia e adquire as noções de espaço e de tempo. É também neste período que a criança começa a falar.
O Estágio Pré-Operatório - prolonga-se aproximadamente dos dois anos aos seis e caracteriza-se pelo rápido desenvolvimento da linguagem e da função simbólica. Quando brinca, a criança pode por exemplo, usar duas peças de "lego" para representar duas pessoas. E é nessa altura que começa a classificar e a ordenar os objectos bem como a contar. O momento em que a criança substitui a ação pela sua representação, isto é, em que se serve de símbolos, marca o início do pensamento.
O uso da linguagem permite-lhe ainda uma troca de informações com os outros. Dado o egocentrismo por parte da criança o diálogo é praticamente inexistente. Mesmo quando brinca em conjunto com outras crianças, verifica-se que cada uma fala para si sem se interessar com as respostas dos outros. A este propósito, devemos falar de monólogo colectivo em vez de conversa ou diálogo.
Os trabalhos de Piaget revelam com clareza que a representação do mundo feita por uma criança difere da do adulto. Nos primeiros anos do estádio pré-operatório a criança não entenderá a noção de conservação: dois recipientes iguais contendo o mesmo volume de água são reconhecidos pela criança como tendo o mesmo volume de água, se no entanto se deitar o líquido de um dos recipientes para uma proveta alta e estreita, a criança, nesta fase etária, dirá que a proveta contém mais água por o nível da água é mais alto, ainda não entendeu que um objecto conserva as suas propriedades originais ( noção de conservação).
Porém a capacidade de perceber a conservação em todos os aspectos não aconteceu simultaneamente. Por exemplo, a conservação de número ou de volume não ocorre na mesma idade.
Estágio das Operações Concretas - este estádio prolonga-se aproximadamente dos sete aos onze anos. No início do mesmo, por volta dos sete anos ou oito, a equilibração entre a assimilação e a acomodação torna-se mais estável. O fim deste estádio marca a transição da infância para a puberdade.
Durante este estádio surge a capacidade de se efetuarem análises lógicas, dá-se um aumento da empatia com os sentimentos e atitudes dos outros (ultrapassagem do egocentrismo) e começa a haver compreensão de relações causa-efeito mais complexas. É também neste estádio que se dá o salto no desenvolvimento da capacidade de uso do pensamento simbólico.
CONCLUSÃO
O trabalho de Piaget tem influenciado amplamente a prática do professor no ambiente escolar. Compreender como ocorre os estágios poderá ajudar o professor a compreender e desenvolver suas atividades, adequando a cada período e cada etapa do aluno.
REFERÊNCIAS
PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
Ramozzi-Chiarotino, Z., Psicologia e Epistemologia Genética de Jean Piaget, Editora Pedagógica e Universitária, São Paulo, 1988.