A Reforma do Ensino Médio proposta em 2016 e 2017:Uma reflexão
Por Sergio Honorio | 04/11/2021 | EducaçãoA Reforma do Ensino Médio proposta em 2016 e 2017 contribui para a formação de um cidadão crítico e atuante na sociedade?
Introdução A Reforma do Ensino Médio proposta em 2016 e 2017 tem de acordo com a Lei 13.415, a reforma curricular tem como objetivo tornar o currículo mais flexível, dessa forma, melhor atender os interesses dos alunos do Ensino Médio. Apóia se, para tal, em duas justificativas: 1) a baixa qualidade do Ensino Médio ofertado no país; 2) a necessidade de torná-lo atrativo aos alunos, em face dos índices de abandono e de reprovação. Em estudo para a Unicef, Volpi (2014) evidencia que os adolescentes por ele pesquisados apontaram como causas do abandono escolar, além das questões curriculares, a violência familiar, a gravidez na adolescência, a ausência de diálogo entre docentes, discentes e gestores e a violência na escola. Os principais pontos da Reforma do Novo Ensino Médio, como é chamado pelo Governo Federal, são a flexibilização do currículo, que permite ao aluno direcionar seus estudos à área de maior interesse, e a aproximação com o mercado de trabalho. Segundo Ana Júlia Ribeiro, 16 anos, secundarista que comoveu o país com discurso na Assembleia Legislativa do Paraná, no dia 31 de outubro de 2016, é contra a reforma que, em sua opinião, não irá resolver os verdadeiros problemas da educação básica. “ Não acho que ela atende as expectativas e as reivindicações dos estudantes. Vejo que ela só tem uma olhar voltado para o mercado de trabalho e não para uma formação cidadã do estudante.”
A questão do currículo, no que tange à falta de disciplinas que promovam a reflexão e a formação crítica do estudante, o Governo afirma novamente que “A proposta prevê que serão obrigatórios os estudos e práticas de filosofia, sociologia, educação física e artes no ensino médio” (NOVO, 2017, texto digital).
Desenvolvimento
Segundo Dayrell e Carrano (2014) o jovem é uma classe que virá à ser adulto, isto é, uma fase de transição entre infância e o período adulto, por esse motivo, tende-se a ver essa classe como irresponsável, fontes de problemas, e por isso, ainda sofrem preconceitos midiáticos. O jovem ainda precisa de um adulto como regulador de suas ações, e para isso a escola vem com um papel fundamental para essa regulação do irresponsável. Ao meu ver, a transição da fase adolescente para adulto é um período de contrastes e formação de opiniões para esses jovens e segundo a legislação brasileira, através Estatuto da Criança e do Adolescente, estabelece ainda uma faixa etária para menores de idade — dos 12 anos completos aos 18 anos, período durante o qual a pessoa nessa faixa de idade (legalmente considerada "adolescente"), se cometer um crime pode receber medidas socioeducativas, inclusive de restrição da liberdade através de apreensão (1). Sendo assim necessária uma formação com estimulo a auto critica, buscar uma visão de bem estar em sociedade, mas para isso o jovem precisa ter o preparo com formação critica para se engajar como um cidadão produtivo, com opinião própria a respeito dos desequilíbrios e dos contextos sociais. Na verdade, os jovens entendem o que desejam para o futuro no decorrer do ensino médio. A reportagem do El País sobre o discurso da aluna Ana Júlia “A quem a escola pertence? ”, questionou ela logo de cara, lembrando que o ‘rolo compressor’ das reformas vai chegar a seus filhos e netos. “A reforma na educação é prioritária, mas precisa ser debatida, conversada”, defendeu ela na tribuna. (ROSSI, 2016). Isso demonstra o senso critico do jovem estudante sendo construído em relação a sua formação escolar no presente e para as gerações futuras.
Outro aluno questiona: O aluno Francisco Franco denuncia em entrevista A gente está vendo aí o governo cortar verbas das universidades federais e de programas que ajudam os estudantes de periferia a entrarem na universidade, como o Prouni. Aí, se você dificulta o acesso à universidade e coloca no ensino médio o ensino técnico, que é pra dizer que o aluno vai sair de lá com uma profissão, você está praticamente escolhendo quem vai continuar estudando na universidade. (…) Nós vamos ter muita mão de obra barata, com muita gente tendo diploma de ensino técnico, e isso só serve pra beneficiar as empresas. (…) A gente tem críticas ao ensino atual, mas colocar o ensino técnico como solução é estimular o conhecimento massificado, que não serve nem pra formar uma opinião crítica do aluno sobre o mundo do conhecimento (SAMPAIO apud FRANCO, 2016). Segundo o pedagogo Alexandre Varela na entrevista diz: Sou de uma geração que teve ensino profissionalizante e tenho muitos amigos que tiveram que fazer o terceiro ano pela segunda vez porque não conseguiam entrar na universidade. Eles estavam preparados pra uma determinada demanda de mercado, mas não pra isso. (SAMPAIO apud VARELA, 2016)
Não há duvidas que o jovem tem sua opinião formada em relação as mudanças no ensino médio publico, que se voltam para a produção técnica de mão de obra, deixando o preparo da faculdade bem inferior ao ensino particular. Existem outros pontos para que as autoridades, especialistas e pais deveriam debater. Dados alarmantes sobre a educação atual, no qual demonstram um elevado número de jovens fora da escola. De acordo com a justificativa, 58% dos jovens entre 15 e 17 anos estão em idades certas, isto é, somente 58% estão com a idade e o período correto nas escolas (Brasil, 2016b).
Existe nessa fase escolar o periodo de desenvolvimento no jovem, como a percepção de si mesmo no mundo. A autoimagem real (como eu sou) e a autoimagem ideal (como eu gostaria de ser) são vistas cada vez mais como diferentes e essa percepção segundo autores como Higgins (1987) descreveu três tipos de "si mesmo" - o si mesmo real, o si mesmo ideal (como a pessoa gostaria de ser) e o si mesmo como deveria ser (que representa a identificação da pessoa com determinadas obrigações e tarefas apresentadas pelo ambiente social). O ambiente social tem, ele mesmo (ou melhor, a pessoas que dele fazem parte), uma imagem de como o indivíduo é e de como ele deveria ser (expectativas). O aumento da complexidade na compreensão de si mesmo expõem o adolescente assim a diferentes tipos de discrepância. Esses jovens não aceitam a imposição de autoridades a dizer como deve ser a educação e o preparo escolar deles. No meu ponto de vista, quando fui estagiário de licenciatura em biologia na escola E.E José Poli, Itupeva, SP. Eu vi nos jovens dificuldades em compreender conceitos de biologia, porque não tiveram base nas fases que antecedem o ensino médio, visto que o ensino publico em geral já vem defasado a muitos anos. Assim, como futuro educador, tenho preocupação com a formação precária dos alunos e vejo no ensino técnico uma escapada para cobrir essa fraqueza no ensino básico jogando para a ilusão de dar uma profissão ao aluno. Vejo também que os alunos do ensino médio percebem isso no decorrer dos seus estudos, geralmente no segundo ano ao terceiro, já existe uma opinião formada sobre a mera formação de mão de obra barata, vejo ainda, mais nos alunos de classe média, que desejam fazer uma faculdade, uma critica social e política bem formada em relação a essa mudança no ensino médio.
Considerações Finais No meu ponto de vista como futuro professor, no contexto do ensino médio, percebo que a mudança do ensino médio e suas discussões na sociedade levaram os jovens a observar a situação do ensino publico e seu futuro como estudante universitário. A própria mudança e os acontecimentos que a envolve, desenvolveu o senso crítico do jovem estudante e sim existe a preocupação desses jovens com sua formação para idade adulta como cidadãos críticos e não como simples mão de obra técnica barata para atender aos interesses de empresários. Os jovens de forma geral querem ter uma profissão técnica, mas sem perder o objetivo de se preparar para uma universidade e poder disputar vaga com outros estudantes de escolas publicas e particulares.
Referências
VOLPI, M. 10 desafios do ensino médio no Brasil: para garantir o direito de aprender de adolescentes de 15 a 17 anos. Coordenação Mário Volpi, Maria de Salete Silva e Júlia Ribeiro]. Brasília: Unicef, 2014.
NOVO Ensino Médio – Dúvidas. MEC, [S.l.], 2017. Disponível em: . Acesso em: 14 jul. 2017.
MARTINS, Lígia Martins. O desenvolvimento do psiquismo e a educação escolar: contribuições à luz da psicologia histórico-cultural e da pedagogia histórico-crítica. Campinas, SP: Autores Associados, 2013.
ROSSI, Marina. Ana Júlia e o Emotivo discurso Que Explica os Protestos Nas Escolas Ocupadas: Estudante pede em discurso para que alunos sejam ouvidos sobre reformas na Educação. 2016. Disponível em: . Acesso em: 23 jun. 2017.
SAMPAIO, Cristiane. “Essa reforma é uma imposição”, diz estudante sobre reformulação do ensino médio: Governo Temer propõe jornada integral e direcionamento da educação de segundo grau. 2016. Disponível em: . Acesso em: 23 jun. 2017.
BRASIL. Medida Provisória nº 746, de 22 de agosto de 2016b. Brasília
Higgins (1987). "Self.discrepancy: A theory relating self and affect". Psychological Review, 94, pp. 319-340