A Rede Globo e Suas Antas e Pangarés
Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 28/10/2024 | HistóriaHá alguns anos, não lembrando se passado na emissora de sinal aberto ou num de seus acessórios, presenciei uma simplória mulher dizer que “a Globo educa”. Costumo ter pudor nas minhas reações, mas aquele foi o momento em que externei todo o meu escárnio ao deparar dita situação, de tão escabrosa e bizarra. Como, também e neste artigo, lanço meu escárnio na maior parte do povo brasileiro, eis que na sua prepotência, péssimo comportamento e postura de falsa sabedoria, mesclados a uma inexplicável arrogância futebolística (como se isso fosse algum motivo de orgulho) revela-se um dos mais estúpidos e asnos do planeta. Afinal, desde a concessão dada por Castello Branco, em 1965, nossa gente utiliza seus dois únicos neurônios funcionais para humilhar os diferentes, acreditar nos falsos Messias que lhes são apresentados e idolatrar aqueles que nada contribuem para uma melhor condição coletiva.
Não obstante, tal emissora ensina algo bem: a desonra, a traição, o vilipêndio e a felonia. Como exemplo, pesquisem sobre as relações afetuosas de Roberto Marinho com os ditadores que por vinte anos infernizaram este país. E como, numa exposição do áudio da reunião do Conselho de Segurança Nacional, em 13 de dezembro de 1968, em que foi imposto o Ato Institucional nº 05 (AI-5, concedente de poderes absolutos ao Presidente da República), o ditador Artur da Costa e Silva e o Chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) e então futuro ditador, Emílio Garrastazu Médici, são expostos pela Rede Globo. Num domingo de 1998, ao se completarem trinta anos do AI-5, um programa notívago apresentou uma montagem grotesca, com as vozes de Costa e Silva sob o som de uma sirene de polícia, e de Médici num tom sinistro, praticamente comparando-os a Hitler e Stálin (eram, sim, repressores natos, mas estiveram bem longe de criarem uma guerra mundial). Isto é, quando ambos já não estavam mais aqui a fim de serem, interesseiramente, bajulados, o senhor Roberto Marinho os escarneceu, como se não fosse próximo a eles e não tivesse desfrutado de sua presença em reuniões informais e jantares nababescos, com a obtenção de favores estatais. Costa e Silva, inclusive, violou as determinações da própria Constituição de 1967 ao legalizar um anterior empréstimo estatal a Marinho, que com ele fez com que houvesse participação estadunidense na programação, e, por consequência, influência ideológica na radiofusão, num verdadeiro atentado à soberania nacional. E a gratidão que Costa e Silva e Médici receberam de Roberto Marinho foi, como dito, a retratação que aumentava exponencialmente seus crimes (que, sim, rotineiramente ocorreram, mas não na escala atribuída). Como se o argentário não houvesse “lavado suas mãos” em relação aos crimes da ditadura, querendo apagar, para as futuras gerações, sua parcela de culpa daquele horrível período. Um ancião sem valores, que não admitia o que fez, jogando seus leais companheiros fardados no fogo da inquisição midiática. Sem honra. Sem palavra. Cínico e imoral
Tecidas essas considerações, e voltando à absurda afirmação da cidadã de que “a Globo educa”, examinemos a programação deste poço de ignorâncias. O sustentáculo do sistema em um país que tinha quase 60% da população semialfabetizada, mas 40% efetivamente alfabetizada (o sistema de educação não era universalizado, mas se revestia de eficiência, ao contrário do que hoje ocorre) deveria ser a retirada da capacidade cognitiva da minoria instruída sob o disfarce do jornalismo, que sempre alardeava a agenda do ditador de plantão. Em troca, este sucateava o mesmo modelo de ensino, a fim de fazer deste país uma massa de manipulados. Um jornalismo que nada mais fez que noticiar grandes mentiras e mínimas verdades, de um modo tosco, emburrecedor e superficial, numa miscelânea de informes sem estímulo, a fim de prender a audiência cativa. Militares e Roberto Marinho se apoiavam mutuamente. Ganhou a Rede Globo e ganharam os militares, que formaram, infelizmente, uma casta intocável até a Primeira Crise do Petróleo, em 1973-1974, quando o regime foi obrigado a se distender, entrando em decadência e entregando o Poder em 1985. Mas a Rede Globo permaneceu, e com o país retraído no número de cérebros funcionais.
Novelas imundas que impõem aberrações, como o estímulo ao sexo precoce e consequente gravidez adolescente, em meio a uma superpopulação de 215 milhões, cuja metade sobrevive em grave situação de insegurança alimentar (além disso, ainda estamos sob várias pandemias de doenças sexualmente transmissíveis, muito piores que a Covid-19, como a Aids, a Sífilis e a Hepatite C, mas a Rede Globo se autocensura em tais alertas, já que mais se importa em ser “politicamente correta”). Programação péssima de filmes, mostrando o pior da cultura dos EUA, numa simbiose em que violência e vingança convivem em constante autofagia. Bajulação irrestrita ao modo de vida dos EUA e às atrocidades que aquela República imperialista destila mundo afora (incluindo a deificação de figuras absolutamente fabricadas e falsas, como Barack Obama e Kamala Harris). A Rede Globo (criadouro de libertinas, rufiões e dependentes químicos, bem como de banditismos de todas as espécies) é incapaz de pôr na sua grade de programação um concerto de música clássica tcheca, eslovaca, polonesa, alemã, austríaca, italiana ou de outras sociedades mais civilizadas e bem menos doentias que os EUA. Nem um programa de debates há. Nada sobre História, Geografia, Astronomia e Geopolítica. Também, era de se esperar: de um povo por ela boçalizado, imbecilizado e hiperssexualizado, não haveria audiência, que se reserva, aí sim, a todo um circo de horrores dos mais absurdos, como apresentações, também financiadas com dinheiro público (a exemplo do empréstimo legalizado por Costa e Silva em favor de Roberto Marinho), de “cantores(as)” que ultrapassam todos os limites da liberdade de expressão ao exporem seus corpos tatuados e partes íntimas, no palco e ao vivo, a gerações ainda em formação.
Esta é a Rede Globo e este se tornou o povo brasileiro, formado, literalmente, de antas e pangarés. Diga-se, “educado” pela Globo.