A raiva contida

Por Bia Tannuri | 10/11/2011 | Crônicas

Até nos seres mais pacatos, aparentemente inertes, pode-se observar momentos de pura fúria com seus “monstros internos” se materializando para atingir o primeiro, coitado, que estiver pela frente. Começa como uma onda que cresce e torna-se gigante passando por cima de tudo e de todos sem discriminação e após algum tempo vai perdendo força voltando ao estado de inércia anterior. Mas o estrago deixado é grande e por muitas vezes irrecuperável. 

O que será que liga o botão dentro de um ser o fazendo liberar sentimentos capazes de torná-lo outro irreconhecível até para ele próprio? Incapacidade de ter autocontrole ou ter controle demais? 

Parece que funciona como uma caixa em que tudo se guarda de bom e mau, misturado e sem distinção até que a capacidade de armazenagem chega ao limite e sem mais nem menos ela explode sem nenhum motivo justificável para o tamanho do grau de estilhaços que é capaz de produzir.

 A raiva é um extravasar do que não se pode suportar, é um grito, um botar para fora, mas sem domínio da força com que se coloca, é irracional, é demoníaca e destruidora para quem a dissemina, ela fere a alma de quem a sente. 

 A raiva causa uma sensação de embriaguez ao seu condutor que pode sair a atropelar como se dirigindo um carro desgovernado estivesse, pois está a guiar o sentimento do querer atingir sem razão e sem por que, porque a raiva não tem razão por mais razão que possa ter.

 O controle do descontrole de pensar que tudo deve ser absorvido e guardado gera o descompasso do suportar que ao ponto de transbordar chega quando não mais pode suportar.

 As emoções dominam a quem a elas se entrega... Mas há como a elas não se entregar? És capaz de por elas não se deixar dominar? Será possível resistir ao canto inebriante do fervor do desequilíbrio liberado pela ira que entorpece o sentido da coerência?

 A raiva corrói e destroça a quem a ela carrega. E para pesar de seu possuidor, não causa dano algum ao ser que por ele é mirado para receber seus efeitos, a não ser ele próprio que vai deixando amargar a alma pelo fel que dela desprende até o ponto de “empretecer” e minguar no apagar da solidão no meio dos muitos que a carregam e solitários se sentem e permanecem.

 Ela bate, maltrata a quem pensa que com ela está a atingir a quem nem sequer sabe que por ele há tal sentimento.

A raiva só tem um lado e somente a esse pode alcançar e ferir.

 

Bia Tannuri

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09-11-2011