A QUEM INTERESSA A MANUTENÇÃO DO GOVERNO DILMA?

Por Karla Tolentino | 18/04/2016 | Política

A QUEM INTERESSA A MANUTENÇÃO DO GOVERNO DILMA?

A sociedade brasileira está passando por uma crise financeira e política que só se agrava com o decorrer do tempo. No centro de tudo está o governo Dilma. As duas crises estão relacionadas diretamente ao governo que vem demonstrando incompetência para resolvê-las, além de ter sido o principal responsável por ambas.

A quem interessa a manutenção do governo Dilma? Em termos de classes sociais, todos estão perdendo. Os grandes capitalistas, com a exceção de alguns poucos que ainda lucram durante ou com a crise, estão perdendo. A crise atinge a produção industrial e todos os outros setores relacionados, bem como o setor de comércio e serviços. O consumo cai e isso prejudica aos empresários em geral. Os pequenos e médios capitalistas também perdem, sendo que a falência tende a atingir alguns. Por outro lado, a inflação e a situação financeira prejudicam intelectuais, operários, trabalhadores em geral. O desemprego em alta, por sua vez, atinge os estratos mais empobrecidos dos trabalhadores. A crise financeira prejudica a todas as classes sociais.

A crise política, por sua vez, reforça a crise financeira, o que significa que, indiretamente, prejudica a todos. A incompetência administrativa, a perda de legitimidade, as denúncias de corrupção, por sua vez, geram um clima político de descontentamento no conjunto da população e apreensão nos meios políticos, bem como disputas acaloradas pelo poder. Os agentes políticos, especialmente os principais partidos e forças políticas extrapartidárias, entram numa queda de braço que pouco contribui para a resolução das duas crises em andamento. A disputa pelo poder por parte de alguns, sendo que uns querendo mantê-lo e outros querem conquistá-lo, já se tornou obsessão e o processo de radicalização pode apenas piorar a situação política e prorrogar as medidas para inibir a crise financeira.

A ninguém interessa a manutenção das duas crises. A questão é que elas remetem ao governo Dilma, o seu principal responsável. Se a crise não interessa a ninguém, a manutenção do governo interessa a alguns. A manutenção do governo Dilma é interesse da burocracia aglutinada em torno da presidente, do Partido dos Trabalhadores e aliados e uma pequena parte da sociedade. Logo, a manutenção do governo Dilma interessa ao próprio governo e seus aliados e prejudica o país inteiro.

Aqui encontramos mais dois problemas. O discurso governista que afirma ser um “golpe” o impeachment e parte da população que acredita nisso. Sem dúvida, o discurso do golpe é apenas retórica para convencer possíveis apoiadores. Um impeachment pode até ser forçado, com base legal frágil, mas é realizado dentro da legalidade e com todo um processo que permite defesa, fiscalização, não tendo o menor sentido afirmar que se trata de golpe. O discurso governista não se sustenta e além dos interessados diretos em sua manutenção, consegue um relativo apoio de parte dos intelectuais supostamente mais “avançados”, pensando que serão prejudicados com outras políticas que atentam contra seus interesses ou então por causa de crenças políticas, tal como a ilusória separação entre “direita” e “esquerda”, e parte dos movimentos sociais que giram em torno do governo e tiram proveito disso. Entre a grande maioria dos trabalhadores, no entanto, isso não surte efeito. Para os mais radicais, o governo Dilma atacou os interesses dos trabalhadores e dos mesmos, através da repressão, lei antiterrorismo, etc., dificultando os protestos e manifestações.

Por fim, a manutenção do governo Dilma interessa a muito poucos e graças a interesses egoístas. A solução mais sensata seria a renúncia, o que não ocorrerá. E o impeachment? Nesse caso há o obstáculo burocrático, excesso de leis e procedimentos. Como muitos governistas de hoje diziam ontem, a eleição de um governo é por tempo determinado e se ele perde a legitimidade e o apoio popular, deve ser substituído ou abolido (basta recordar o “fora Sarney”, “fora Collor”, “fora FHC”). O critério fundamental, no entanto, deve ser a soberania da vontade popular, sob o risco dela se impor através da violência se não for pela forma institucional.

Por Karla Tolentino