A Prisão ao Dogma Cristão na Descrição da Terra

Por Julio Cesar Souza Santos | 20/10/2016 | Sociedade

Quais Eram as Sete Artes Liberais na Idade Média? Como a Terra Era Descrita Nessa Época? Por Que os Desenhos da Terra Eram Menos Mapas de Conhecimentos do Que Dogmas Bíblicos?

 

A Europa cristã não deu continuidade ao trabalho geográficos de Ptolomeu e, em vez disso, a cristandade ortodoxa ergueu muitas barreiras contra o progresso sobre o conhecimento da Terra. Os geógrafos cristãos da Idade Média consumiram suas energias elaborando um quadro teologicamente atraente do que já era conhecido – ou supostamente conhecido. 

A Geografia não tinha lugar dentre as sete (7) artes liberais, pois ela não se ajustava nas disciplinas matemáticas (aritmética, música, geometria e astronomia) nem nas disciplinas lógicas (gramática, dialética e retórica). Durante os mil anos da Idade Média a palavra “Geografia” não teve sinônimo e ela só começou a ser usada na língua inglesa, em meados do século XVI. 

É mais fácil contar o que aconteceu do que tentar explicar como aconteceu, ou o porquê. Depois da morte de Ptolomeu, o cristianismo conquistou todo o Império Romano – e a maior parte da Europa – e instalou-se uma “amnésia erudita” que atormentou o continente do ano 300 a. C. até o ano 1300. Durante esses séculos a fé e o dogma cristãos suprimiram a útil imagem do Mundo que tinha sido tão lentamente traçada pelos antigos geógrafos. 

 

Não faltam provas de que os geógrafos medievais pensavam, pois mais de 600 Mapas do Mundo da Idade Média chegaram até nossos dias e, nos tempos anteriores à prensa de imprimir, cada um deles deve ter-se perdido. E, o mais extraordinário é que quando tais mapas eram apenas imaginários, houvesse tão pouca variação nas plantas da Terra. 

A forma comum dessas caricaturas resultou nos “mapas de roda” (ou mapas T.O.) Toda a Terra era descrita como um prato circular (um “O”) dividido por uma corrente de água em forma de “T”. O Oriente ficava no cimo, significando que “orientava” o mapa. Por cima do “T” ficava a Ásia, por baixo e à esquerda da vertical ficava a Europa e à direita a África. Já a barra que separava a Europa e a África da Ásia era o Mediterrâneo; a barra horizontal que separava a Europa e a África da Ásia eram os rios Danúbio e Nilo. O “mar oceano” cercava tudo. 

Concebidos para exprimir o que se esperava que os cristãos acreditassem, eles eram menos mapas de conhecimentos do que dogmas bíblicos, pois no centro de cada um deles ficava Jerusalém. Não havia nada de novo em colocar o lugar “mais sagrado” no centro e, por isso mesmo, também aí que os hindus colocaram a sua montanha Meru, “o centro da Terra”. 

A crença de uma montanha sagrada com variantes no Egito e na Babilônia era uma maneira de dizer que o lugar mais proeminente do planeta tinha sido o umbigo do Mundo. As cidades orientais também se colocavam no centro, pois a Babilônia, por exemplo, era o lugar onde os deuses desciam à Terra. Na tradição muçulmana, a Caaba era o ponto mais alto da Terra e a Estrela Polar mostrava que Meca ficava num ponto oposto ao centro do céu. 

Todos os povos tem querido acreditar que estão no centro, mas depois dos progressos acumulados da Geografia, era necessário um grande esforço para se ignorar a crescente massa de conhecimentos e recolher-se num mundo de fé e caricatura. O dogma cristão e a tradição bíblica impuseram outras ficções da imaginação teológica ao mapa do Mundo. Os próprios mapas se tornaram guias dos antigos da Fé. Cada lugar mencionado nas escrituras exigia uma localização e se tornava um prélio tentador para os geógrafos cristãos. 

A crença do Éden se tornou um prazer, assim como um dever. Em hebraico Éden significa “um lugar de delícias”. Deus colocou o Éden num monte tocando no círculo da órbita da Lua, para que o Paraíso ficasse em segurança e seco acima das águas do Dilúvio. A ficção ligada ao Paraíso tornou-se um gênero da literatura sagrada, do mesmo modo que a aventura espacial viria a ser uma forma de ficção científica.

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