À primeira vista?

Por Mário Paternostro | 22/05/2010 | Contos

À primeira vista?




Será que amor à primeira vista existe? A resposta pra essa pergunta quem responde é Roberto. Certa noite de verão, onde os corações ficam mais quentes e o sangue ferve junto com a estação, ele resolveu ir a um lugar onde se concentrava a juventude. Jovens adoram andar em grupos, fazer farras e acreditar que são os donos do mundo e da verdade.
Roberto logo chegou a esse local e foi se encontrar com o seu "bando", queria como os outros se mostrar e ver se "pegava" algumas gatinhas. Tomou algumas cervejas, jogou papo fora e tentou conquistar algumas meninas. Nada de anormal e nada que fizesse seu coração bater como jamais fez algum dia. Passou a noite entre cervejas e flertes mal sucedidos. Mas Roberto nunca desanimava, tinha uma auto-estima bem alta e nada conseguia lhe deixar pra baixo.
A noite ia passando e parece que Roberto voltaria para casa sem novidades, a não ser uma ressaca e um período curto de sono. Quando de repente em sua frente apareceu algo.
- Rodrigo, quem é ela? Perguntou Roberto embasbacado ao seu amigo.
- Ela quem? Eu só estou vendo a Mariza que acabou de chegar com o seu namorado? Respondeu Rodrigo.
- É ela mesma.
- A Mariza? Você não está lembrado dela?
- Eu não! Por que?
- Por que ela estudou com a gente um tempão e você nunca nem a cumprimentou.
- Não acredito!
- Pode acreditar.
Roberto parece ter despertado para algo que ele não conhecia, a atração à primeira vista, aquela que todos estão susceptíveis. Essa atração pode ser o começo de uma paixão, só depende de como vai ser alimentada. Muitos confundem admiração com atração e alimentam o coração com algo errado, fazendo-o pulsar descompassadamente, mas sem o calor de que ele necessita pra bater. O bom e velho conhecido, o amor. Roberto não se contentou só em vê-la, queria saber onde morava, qual o seu telefone, tudo, mas tudo mesmo. Então falou para Rodrigo:
- Vá lá e pergunte para ela o número do seu telefone, onde ela mora, tudo.
- Você tá doido? Ela tem namorado. Respondeu Rodrigo.
- Olha lá, ele saiu e ela está sozinha, vá lá. Insistiu Roberto.
Rodrigo não teve escolha e atendeu mesmo contrariado ao pedido do amigo.
- Mariza, tudo bem?
- Tudo, Rodrigo, como você está?
- Estou bem, você sumiu, o que houve?
- Estou estudando fora, só venho no fim do ano, para curtir as férias.
Papo ia, papo vinha e Rodrigo conseguiu o que tanto queria, as respostas para Roberto. Depois de contar o que sabia para o amigo, Rodrigo foi embora, mas Roberto continuou no local. Estava decidido a falar com Mariza. Depois de algum tempo ele encorajou-se e foi conversar com ela, pois o namorado dela havia saído para ir ao banheiro.
- Tudo bem? Tímido, ele se anunciou.
- Tudo, mas quem é você? Respondeu Mariza com desdém.
- Roberto, não lembra?
- Não! O que você quer?
- Só ver se você lembrava de mim.
- Não, não lembro! Olha, eu tenho que ir, meu namorado está me chamando.
- Tudo bem, prazer.
Ela nem se despediu direito e Roberto agora estava mesmo se entregando ao que todos chamam de amor à primeira vista. Voltou pra casa e só sonhava com aquela que tinha feito sua noite se tornar dia. Mariza virou assunto predileto e ele só pensava em conquistá-la. Com as informações que tinha recebido de Rodrigo ele foi à luta. Ligou descaradamente e tentou algumas frases, mas Mariza não lhe dava muita atenção. Roberto começou a mandar flores e tentar com poesias lhe conquistar, mas nada adiantava, ela não queria ler os poemas e as rosas em suas mãos não lhe fragilizavam. Roberto começou a freqüentar os mesmos lugares que ela, tudo para forçar um encontro. Ela não lhe dava atenção e lhe esnobava mais e mais. Ele então insistia em telefonemas, mas ela nunca estava para ele. E agora o que fazer depois de tantos foras? O coração procura estratégias e uma delas é usar a mesma arma do adversário. Roberto quis ignorá-la, mas parecia que nada fazia efeito, tudo dava errado. Quando de repente, sem mais nem menos, ela o olhou diferente. Roberto então sorriu e sentiu-se vitorioso em sua empreitada. Seus telefonemas eram atendidos, seus poemas eram lidos, suas rosas guardadas em vasos, tudo estava sendo aceito, mas... Roberto descobriu em sua luta para conquistá-la que ela não era aquilo tudo que ele queria. Ela era alta demais, tinha cabelos muito lisos, tinha uma pinta que não lhe agradava e tinha a voz muito doce. Roberto começou a ver defeitos, ou criá-los, mas por quê? Será por que conseguiu o seu objetivo e agora não tem mais sabor? Não! Roberto acabou de descobrir que à primeira vista ninguém tem defeitos, mas olhando duas, três, quatro vezes, eles começam a saltar aos olhos. O amor pode nascer sem apresentações, mas não consegue viver sem virtudes e qualidades de ambos. À primeira vista o encantamento, à segunda vista a conquista e à terceira vista, mais nada. Amor pode nascer dos olhos, mas tem que crescer no coração.