A PRIMEIRA PEDRA
Por Geraldo Gerraro Goulart | 28/08/2010 | ReligiãoDos grupos religiosos existentes na época de Jesus Cristo os que mais se destacavam e debatiam com Ele eram os Escribas e os Fariseus. Os Escribas eram um grupo de estudiosos e escritores da lei, eles transcreviam as leis e as profecias para que pudessem ser lidas perante o povo no templo.
Os escribas também cuidavam dos pergaminhos, dos livros que continham assuntos de interesse político, religioso e social daquela época, eram muito requisitados por pessoas da alta sociedade, bem como por religiosos, que queriam informações a respeito da aplicação e interpretação da lei em vários assuntos.
A função dos escribas naquela sociedade era religiosa e política, eles tinham a função de ensinar as crianças tudo sobre o Judaísmo, e como um grupo religioso da elite da sociedade Judaica, eram também sacerdotes.
Fariseu na concepção do Judeu era o mesmo que separado, o Farisaísmo era uma seita um grupo de religiosos que se julgavam detentores de toda a sabedoria religiosa. Eram extremamente cumpridores da lei, conquistaram a admiração da maioria das pessoas, por serem demasiadamente zelosos com a lei de Moisés e dos demais profetas que os antecederam.
Os sacerdotes eram extremamente arraigados ás tradições de seus pais eram também os que mais debatiam com Jesus a respeito do cumprimento da lei os sacerdotes possuíam grande influência poder político e religioso.
Jesus costumeiramente ia ao templo e numa destas oportunidades Jesus se encontra no templo, e assentado ele ensina aos que ali sem encontram a Palavra de Deus, ao que tudo indica Jesus se encontrava na parte externa do templo onde ficavam todas as pessoas exceto os sacerdotes que tinham o serviço religioso do dia. Em seguida chegam os Escribas e os Fariseus trazendo consigo uma mulher que foi pega em adultério.
Aquela mulher conhecia os rigores da lei e sabia que se apanhada praticando adultério seria sumariamente condenada à morte por apedrejamento, entendemos que ela não estava a praticar tal ato de forma aberta para que todos vissem, mas como hoje em dia, ela estava praticando o adultério de maneira escondida.
Suponho, portanto que ela já deveria estar sendo vigiada pelos Fariseus, ou que eles armaram uma cilada para esta mulher, com o propósito final de envolver o próprio Jesus na trama que eles planejavam. Por isto, devem ter contado, provavelmente, com a cumplicidade do homem que seduziu a mulher quem sabe subornando-o para isso.
Estranho notar ainda que esta mulher não questiona em momento algum a acusação feita pelos Fariseus, e está até certo ponto, pronta a aceitar o seu destino. Todo Judeu, inclusive Jesus, estava sujeita à lei e às punições previstas na tradição judaica, punição que variava de acordo com o pecado ou crime cometido e neste caso específico a penalidade era a morte por apedrejamento.
Os Fariseus foram claros ao dizer que a lei deveria ser aplicada repetindo para Jesus simplesmente o que a lei dizia "Na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas e tu o que dizes?" quero abrir um parêntesis aqui para dizer que muito mais do que cumprir a lei, o que eles queriam realmente era apanhar Jesus em algum erro para depois condená-lo também à morte.
Ao levar àquela mulher e acusá-la perante Jesus exigindo dEle uma resposta, estavam na verdade armando uma cilada para Ele. A fúria insana e assassina daqueles homens não era dirigida apenas à mulher, mas principalmente a Jesus. Jesus Cristo era o alvo daqueles assassinos religiosos. A mulher era somente uma desculpa, um pretexto, uma isca usada na armadilha cujo objetivo era o de desmascarar, prender e matar Jesus.
Imagine esta cena, Jesus Cristo falando do amor de Deus para o povo, falando do projeto de Deus para a salvação do homem, dos propósitos de Deus em cumprir a vontade de dele em toda a humanidade, imagine Jesus falando que devemos amar uns aos outros (São Mateus 5, 44) não importa o sacrifício que tenhamos que fazer para isso e nesse exato momento chega algumas pessoas e lhe diz que um crime foi cometido, e pela lei a acusada deveria morrer, mas que eles estavam ali para saber dele, Jesus, o profeta, aquele que se dizia Filho de Deus, o que Ele achava?
Como a bíblia afirma, eles procuravam um pretexto para acusar Jesus diante de seus sacerdotes, (São João 8, 6) mas Jesus por sua vez, conhecendo suas verdadeiras intenções abaixou-se e começou a escrever na terra.
Como insistissem, Jesus então levanta a cabeça e lança-lhes um desafio como resposta. Jesus voltando seus olhos para aqueles homens lhes faz a seguinte pergunta: quem não tiver pecado seja o primeiro a atirar a primeira pedra de repente aqueles homens ao olhar nos olhos de Jesus não conseguem esconder a sujeira de seus corações, o pecado deles se tornara patente diante de seus próprios olhos e à vista de todos os que estavam ali. Diante de Jesus suas almas são despidas da religiosidade e fica apenas a silhueta decrépita de um grupo de pecadores acusados pela própria consciência onde ecoava a seguinte frase, Quem não tiver pecado. Quem não tiver pecado. Quem não tiver pecado.
Deve ser terrível descobrir que aos olhos de Deus nós não somos maiores ou melhores que o resto dos pecadores que estão à nossa volta, deve ser horrível descobrir que não somos melhores que ninguém neste mundo, ainda que tenhamos dinheiro ou outra riqueza, mesmo que tenhamos poder sobre os outros, mesmo que pensemos ser mais inteligentes e mais capazes que as outras pessoas, isso nada importa para Deus porque somente Deus pode nos julgar e só aos olhos de Deus que nós nos parecemos como realmente somos.
Diante de Deus nós somos imperfeitos, nosso rosto é mostrado a Ele sem nenhuma máscara ou maquiagem porque Deus tudo vê. (Hebreus 4,13) E é Deus quem conta porque ele é maior que tudo e todos. Somos todos pecadores o pecado é que nos nivela, se estivermos vivendo debaixo da obediência de cristo em arrependimento, podemos ser diferentes, mas melhores que os demais de maneira alguma.
O que ocorreu ali com aqueles homens, com Jesus e aquela mulher não é muito diferente do que acontece hoje no meio dos crentes que ao menor sinal de erro por parte de algum irmão, estendem o dedo para ele e o acusam diante dos outros e diante de Deus.
O ser humano tem uma forte tendência de julgar-se isento de falhas e de erros, esta tendência é fortalecida pelo sentimento de religiosidade. Alguém pode achar-se melhor que os demais, pelo simples fato de ser muito religioso. Religiosidade é uma roupa que se usa para esconder o erro, o pecado, as falhas cometidas contra Deus e o próximo, religiosidade nunca foi sinônimo de santidade. Entre crentes não deveria haver atitudes de julgamento porque crente lê a bíblia e a bíblia ensina que isso não deve ser feito porque não cabe a nós e sim a Deus (São Tiago 4, 11.12; São Lucas 6, 37), mas freqüentemente ocorrem acusações, e estender de dedos de um contra o outro, irmãos da mesma Igreja, mesma denominação ou não, se perdem na eterna guerra de denegrir a imagem uns dos outros.
O pré ? julgamento que é o julgamento antecipado, ou seja, é responsabilizar uma pessoa culpando-a de haver cometido alguma coisa antes de possuir conhecimento ou razão sobre os fatos, faz parecer que somos pessoas ilibadas e isentas de cometer as falhas que estamos apontando nos outros ou cometer erros até piores que os deles. Se por um lado, não ter senso crítico é ruim. Por outro lado, tê-lo e extremá-lo no julgamento ao próximo é duramente nocivo porque tendemos a ser rigorosos com os erros cometidos pelos outros e complacentes com os nossos próprios erros.
Que possamos, na nossa caminhada diária, perdemos um pouco de nós e ganharmos um pouco de Deus isto nos fará com certeza mais humanos, mais humildes, mais pacientes e mais amorosos. E o amor indiscutivelmente é sempre melhor.
Geraldo Goulart ? 2004