A preocupação

Por Diego Rosinha | 03/03/2010 | Crônicas

Estou preocupado. Pois o acaso está me deixando. Antes flertava com o perigo, com a emoção. Agora está me deixando aqui com todas as conveniências e rotinas entedianes do dia-a-dia.
Eu sei quem vou comer, os filmes que vou ver, os livros que vou ler e as matérias que escreverei e serão barradas no editor por "serem polêmicasdemais", "honestasdemais".
O acaso está me deixando. Eu até o entendo. Quando parei de beber todos os dias e passei a me entupir de drogas legalizadas pela gloriosa indústria farmacêutica, eu sabia do risco que estava correndo... sabia que poderia perder o meu melhor companheiro. O acaso.
Está me deixando, aqui com um vinho chileno e com o olho eletrônico sugando minhas energias vitais com todo o lixo cultural possível. O acaso está ali na porta, dando adeus, com seus dedos sensíveis e esguios. O acaso não quer saber das normalidades e da covardia, quer mais, muito mais....
Ele me confidenciou, tímido, que sempre gostou de mim, mas que agora precisa alçar outros voos, encontrar algum suicida em potencial. Ele precisava encontrar alguém com mais sangue e menos racionalidade para encostar-se. Continuará dandos seus tapas nos automóveis e os rodando para não bater de frente nos muros da existência.
O acaso está me abandonando. Ele me diz, baixinho, que torce por mim. Torce pelo encontro. O acaso está me deixando. Está me largando no ar, mas estou pesado demais para voar. Ele não entende e está ali na porta com lágrimas nos olhos. O acaso vai me deixar. Chegou a hora de aprender a caminhar com as próprias pernas.

Um adeus ao Acaso e que ele sempre me proteja na hora certa.