A prática pedagógica e o papel do professor

Por Patricia Regina Gueno Catapan | 13/09/2010 | Educação

O TRABALHO PEDAGÓGICO E O PAPEL DO PROFESSOR

Patrícia Regina Gueno

Sociedade Educacional de Santa Catarina ? SOCIESC

E-mail : patriciagueno@hotmail.com


RESUMO

Este artigo apresenta um estudo bibliográfico a respeito do trabalho pedagógico escolar e o papel do professor, como sujeito do processo de ensino-aprendizagem. O objetivo deste é deixar clara a função e os passos do trabalho pedagógico e como o professor contribui para o sucesso do processo educativo como um todo. A importância deste é a reflexão proporcionada sobre o trabalho pedagógico desenvolvido dentro da escola, bem como sobre os problemas e desafios enfrentados pela escola. Dessa forma pode-se questionar: quem trabalha na escola? Que tipo de trabalho é desenvolvido? Assim, a leitura deste trabalho leva o leitor a compreender o trabalho docente e o movimento histórico que o constituiu, a importância das diferentes metodologias no processo pedagógico e o papel dos agentes desse processo: o professor e o aluno.

Palavras-chave: Processo Pedagógico, Professor, Aluno, Didática, Metodologia.

1. INTRODUÇÃO

Sabe-se que, como a história do homem, da sociedade e da cultura é evolutiva, o pensamento também deve sê-lo, ou seja, deve estar constantemente superando paradigmas ultrapassados e contribuindo para o progresso da humanidade.
Neste contexto encontra-se a escola e o ambiente escolar como um todo, cujo papel é a partir daquilo que presencia e vivencia da sociedade a que está inserida, determinar suas práticas pedagógicas a quem ela quer formar e dentro de que qualidade.
É comum na escola de hoje ser desenvolvido um trabalho pedagógico com preocupação em preparar o aluno para as mudanças constantes no mundo em que vive, prepará-lo para a tomada de atitudes e para o exercício consciente de seus direitos e deveres, mas principalmente instrumentalizá-lo para o aprendizado escolar e sua, levando-o a perceber a importância desse aprendizado para sua vida cotidiana., Assim, tem-se que ter bem claro o papel do professor em elaborar aulas com planejamento e criatividade, utilizando-se de recursos variados e contextualizando o conteúdo escolar com o cotidiano vivido pelo aluno. Também é papel do professor instrumentalizar o aluno para que ele possa transformar a si, à sua realidade e as pessoas de seu entorno com o seu conhecimento. Ele não deveria sair da escola sem saber para que ele estudou. É o que pais, mercado de trabalho e a sociedade em geral esperam do papel da escola e trabalho pedagógico desenvolvido nela e dos professores.
Ao refletir sobre uma proposta de trabalho com professores e alunos percebe-se que constantemente os professores questionam sobre as evoluções sociais, os problemas pessoais e sociais do aluno e de suas famílias. Olham a comunidade em torno da escola e dos municípios e vêem as constantes transformações que a sociedade vem produzindo nestes últimos anos. E a escola? Que evoluções ela vem produzindo para acompanhar as da própria sociedade? E o professor? Qual seu papel no trabalho pedagógico frente a estas mudanças?
A proposta deste trabalho é buscar a resposta para estas questões e tornar-se assim uma grande contribuição para o leitor que pretende se posicionar frente à vida de maneira crítica e progressiva, contribuindo para a melhoria da qualidade do trabalho pedagógico desenvolvido nas escolas. Assim, a pesquisa realizada consiste em buscar na literatura apropriada e em documentos escolares, como planejamento dos professores e materiais oferecidos pela escola as respostas para a questão do papel do professor no trabalho pedagógico.

2. O TRABALHO PEDAGÓGICO

Compreender o trabalho pedagógico requer entender o movimento histórico em que se constituiu. Produz-se conhecimento em nossas relações de trabalho no plano individual e coletivo, contudo, nem sempre se tem consciência desse fato. O sistema educativo sofre influência das transformações através dos tempos.
Analisando a história da humanidade percebe-se que, com o desgaste do sistema feudal e o advento da Revolução Industrial, surgem novas formas de organização da vida social. Se antes o trabalhador tinha controle sobre seu trabalho (predominava a forma artesanal de produção, na qual o artesão detinha a posse da mão-de-obra e das matérias-primas necessárias à produção), nesse período de industrialização, o trabalhador passa a ter somente sua mão-de-obra, transformada em mercadoria, pois submete-se aos ritmos impostos pela maquinaria, aos fluxos planificados de produção e às normas de produtividade impostas pelos dirigentes. Ele passou, pois da independência que possuía na economia de subsistência para a dependência imposta pelo capitalismo. Esses ritmos impostos pelo novo modo de produção acarretaram perda da qualidade de vida, principalmente para o trabalhador rural, que com a expropriação de seus bens de produção, vem para a zona urbana e se submete a esse processo produtivo. (FREIRE, p.23, 2004)
Segundo MASETTO (p.25, 1998), "todas essas mudanças provocaram o surgimento de duas novas classes sociais: a dos proprietários da matéria-prima, das máquinas e do capital, denominada burguesia e a dos trabalhadores assalariados, denominada proletariado." Contudo este sistema de produção não se manteria sozinho, havia a necessidade de se reproduzir estas relações de produção de forma não conflitiva.
Nesse contexto era preciso inventar, a manutenção desse outro modelo que, exigia-se minimamente uma instrução que viabilizasse o manuseio das máquinas e a própria disseminação ideológica do sistema capitalista. E assim criaram-se escolas onde não existiam e onde os filhos dos trabalhadores pudessem ser submetidos às relações sociais do processo de produção capitalista.
No período pré-industrial o clero era responsável pela educação de determinados grupos de pessoas, já que a escola ainda não atendia os filhos dos trabalhadores. Contudo com a expansão do capitalismo e a ampliação da oferta escolar, a igreja não consegue atender à demanda e decide preparar pessoas leigas para assumir tal missão, porém com a exigência de que elas permanecessem fiéis aos dogmas da igreja, evento este que contribuiu fortemente para disseminar a idéia de docência como sacerdócio. Em contraposição a concepção religiosa que os jesuítas propagavam, a influência das idéias iluministas e a implantação do liberalismo provocam conflitos e revelam as contradições existentes entre essa visão sacerdotal e a visão profissional da docência. (FREIRE, p. 45, 2004) É nesse contexto que o trabalho docente vem se configurando, ora sofrendo influências do processo de proletarização, no qual o professor passa a não ter controle sobre seu fazer pedagógico, ora se afirmando como profissão, embora por trás dessa concepção um forte controle do Estado se instalasse sobre a organização do sistema de ensino (que se torna público) e sobre o currículo, materializando a heteronomia do professor em relação ao exercício docente desenvolvido na escola. Diante desse quadro fica evidente o constante processo de proletarização vivido pelos educadores e sua influência direta na organização do trabalho escolar. (MASETO, p.47, 1998)
Essa influência se traduz na concepção de currículo que é disseminado no sistema público de ensino, no controle dos programas e projetos, na organização dos tempos e espaços escolares, na desqualificação profissional do corpo docente, na inacessibilidade dos bens culturais, na hierarquização das relações de poder e formas de impedir a construção da autonomia profissional.
Assim, sabendo que a escola é o lugar para a socialização do saber sistematizado, lugar da cultura erudita, mas também da cultura popular, então como se organiza o trabalho na escola?
Há dificuldades e problemas na educação de nosso país. Pode-se dizer que há uma grande dívida do Estado Brasileiro em relação a isso. Isso é um fato, um fato histórico e secular. Vale ressaltar que esse tema nasce desde o período da colonização por Portugal, que não assumiu a Educação da colônia, mas delegou-a aos padres jesuítas e a função de pensar a Educação Brasileira, durante quase três séculos esteve sob a tutela da Igreja Católica. (MASETTO, p. 64, 1998)
Segundo CORDEIRO (p.25, 2007) "nesse período os jesuítas foram os principais educadores. No contexto de uma sociedade de economia agrário-exportadora-dependente, explorada pela Metrópole, a educação não era considerada um valor social importante. A tarefa educativa estava voltada para a catequese e instrução dos indígenas, mas para a elite colonial outro tipo de educação era oferecido. O plano de Educação era consubstanciado no Ratio Studiorum, cujo ideal era a formação do homem universal, humanista e cristão. A educação se preocupava com o ensino humanista de cultura geral, enciclopédico e alheio à realidade da vida de colônia.
Percebe-se assim que a natureza do trabalho pedagógico era de ênfase na memória, no decoreba. O papel do professor era o de verificar se o aluno retinha os conhecimentos exigidos pelos livros. Não havia uma preocupação com aprendizagem, a criticidade, a criatividade, esses aspectos não foram privilegiados durante um bom tempo. (FREIRE, p.37, 2004)
E como é o trabalho pedagógico hoje?
De acordo com FREIRE (p.42, 2004) "ninguém educa ninguém, as pessoas se educam em comunhão." Mas como acontece essa comunhão? O que acontece quando se educa? São esses questionamentos que fundamentam o exercício de pensar sobre a educação, sobre a experiência que os educadores vivenciam nessa relação com o aluno, nessa relação entre o ensinar e o aprender e na mediação entre aluno e conhecimento.
Hoje a aprendizagem vem inserida no bojo dos debates acadêmicos e entra na escola pela porta da frente. Aprender deixa de ser apenas um significado singular e assume uma vertente plural. "Ao contrário da memorização privilegiada ao longo dos séculos, a aprendizagem assume um status de ser ressignificada, de ser construída sobre o aprender a ser, aprender a viver junto, aprender a conhecer e aprender a fazer." (DELORS, p.32, 1996 )
Todas as ações e experiências vividas pelo professor são partes da organização do trabalho pedagógico. Nesse mesmo caminho MASETTO (p.183, 1998) afirma que "a expressão do fazer pedagógico comporta vários significados, entre eles está o trabalho realizado por toda a escola." Nesse sentido, refletir a própria prática implica o fazer pedagógico como resultado da interação do professor com seus alunos, em sala de aula e em outros espaços e é nesse contexto que este fazer torna-se uma ação de toda a escola, num ato de cooperação mútua, tendo em vista o compromisso ético da comunidade educativa para o sucesso dos alunos.
Desta forma, o processo de organização do trabalho pedagógico implica dentre outras as seguintes providências:
- implementar a proposta curricular da escola de acordo com as políticas educacionais vigentes;
- elaborar projetos de intervenção para a melhoria do processo educativo sem distanciar-se da realidade vivida;
- planejar o ensino e acompanhar o trabalho pedagógico como conjunto desenvolvido pela escola e não apenas pelo professor;
- discutir o planejamento quanto à seleção de conteúdos e transposição didática em consonância com os objetivos expressos no Projeto Político Pedagógico;
- planejar em conjunto com o coletivo da escola a intervenção aos problemas levantados em conselho de classe e pelo conselho escolar;
- levantar e discutir coletivamente os dados do aproveitamento escolar;
- seleção de recursos didáticos para mediar o ensino e a aprendizagem dos conteúdos escolares significativos;
- participar da organização e atualização do acervo de livros e periódicos;
- construir projetos;
- identificar e planejar o atendimento às dificuldades de aprendizagem;
- decidir a escolha e aquisição de materiais e equipamentos de uso didático-pedagógico;
- organizar encontros de estudo para reflexão e aprofundamento de temas relativos ao trabalho pedagógico da escola.


2.1 OS AGENTES DO PROCESSO PEDAGÓGICO
De acordo com MASETTO (p.32, 1998) "o processo de aprendizagem realiza-se por meio do relacionamento interpessoal muito forte entre o aluno e o professor, aluno e aluno, professor e professor, enfim, entre toda a comunidade escolar."
Segundo CORDEIRO (p.56, 2007)
Ao falarmos em processo de ensino aprendizagem, pode ocorrer de adotarmos uma descrição idealizada, que tende a considerar isoladamente os atores sociais envolvidos sem se dar conta do aspecto fundamental que da sentido ao que acontece em sala de aula, permitindo que o trabalho docente seja realizado e que a aprendizagem aconteça.

Em relação à dimensão pessoal, ou seja, os vínculos entre professor e aluno, muda o como ensinar e portanto, os padrões de relações pedagógicas. Assim, fica provado pela ciência que a presença de um forte caráter de afetividade pode funcionar, em certos casos, na direção de uma relação pedagógica mais livre e democrática. Assim, em relação à dimensão humana, a sala de aula mais adaptada às metodologias renovadoras ou às práticas construtivistas é aquela onde não há lugares pré-determinados e que todos trabalham em equipes, nos cantos da sala outras mesas com estantes e materiais de trabalho, nas paredes cartazes e trabalhos dos alunos, fotografias, mapas, colegas. O professor tem função secundária, acompanhando e registrando o que cada um faz.
Quanto à relação cognitiva que tem relação com o saber, o ensino e a aprendizagem, pode-se dizer que ela acontece numa maneira triádica, isto é, entre professor, alunos e conhecimento. (CORDEIRO, p. 62, 2007)
Assim, fica claro que o principal objetivo da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens criativos, inventores, responsáveis e comprometidos com o futuro não só de si mesmo, mas dos outros, sejam animais, plantas ou o próprio planeta. Educação é transformação.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a realização deste estudo e das leituras realizadas durante o curso, pode-se concluir que aprender e ensinar somente são possíveis pela intervenção do outro. São atividades que se desenvolvem por meio de uma relação. No caso do saber, ela é ao mesmo tempo relação consigo próprio, com o outro e com o mundo, na medida em que ajudam a construir a identidade do sujeito.
Também fica claro que a trajetória história do conceito de educação nos leva a perceber que ela está intimamente ligada com as questões políticas que ditam a forma do trabalho pedagógico como mantenedor da ideologia do momento.
Como percebe-se a profissão em questão não é bem remunerada e nem dotada de grande status ou de reconhecimento pessoal e muitas pessoas ainda assim optam pela docência. Portanto, cabe ao professor refletir e tentar responder: por que ele vai para a escola? Será que eu gostaria de ser aluno de mim mesmo? O bom professor deve estar em constante questionamento sobre suas ações profissionais para reavaliá-las e atualizá-las de acordo com a realidade local.
Somente com a reflexão sobre seu próprio papel é que os docentes poderão melhor entender o que acontece nas escolas em que trabalham e poderão atuar no sentido de instaurar outras modalidades de relação com o saber. A relação pedagógica transforma estudantes em alunos, mediante a estrutura da conversa entre eles e o professor, ao surgir perguntas, respostas e retorno que é dado a cada um.
Por meio dessas reflexões entende-se por fim, que o trabalho docente dá significado à discussão sobre essa atuação no mundo em que vivemos e no qual o professor deve situar sua atividade pedagógica como uma ação antes de tudo política. As normas educativas, os padrões e o próprio planejamento da escola originam-se da necessidade de uma organização da vida, cujo objetivo é alcançar a realização dos homens de bem comum.

REFERÊNCIAS
CORDEIRO, J. Didática. São Paulo, Scipione, 2007.
DELORS, J. Educação: um Tesouro a descobrir. São Paulo. FTD, 1996.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. São Paulo, Ática, 2004.
MASETTO, M. Didática: a aula como centro. São Paulo. FTD, 1998.


ABSTRACT

This work presents a bibliographic study about the pedagogical activities and the role of teacher and student in educational work, as subjects of the teaching-learning. The objective of this study is to clarify the role of each member school (teacher and student), the function and the steps of the pedagogical work and how each contributes to the success of the educational process as a whole. The importance of this work is provided to reflect on the pedagogical work carried out within the school, a reflection on the problems and challenges faced by the school. Thus, one may wonder: who works in school? What kind of work is developed? Thus, reading this work leads the reader to understand the teaching and the historical movement that made him the importance of the different methodologies in the educational process and the role of agents of this process: the teacher and student.

Keywords: Case Teaching, Professor, Student, Curriculum, Methodology