A PRÁTICA PEDAGÓGICA DOS DOCENTES DE MATEMÁTICA COMO PROFESSORES REFLEXIVOS

Por elder cardoso fernandes silva | 02/10/2009 | Educação

AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS SEU CONTEXTO HISTÒRICO-SOCIAL E A CONSTITUIÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DOS DOCENTES DE MATEMÁTICA COMO PROFESSORES REFLEXIVOS

Elder Cardoso Fernandes Silva(PG-UEMS)

elderpba@yahoo.com.br

 

RESUMO : O presente trabalho apresenta uma análise das políticas educacionais e a constituição do sistema de educação e as conseqüentes diretrizes para a formação do professor de reflexivo de matemática. O estudo se processou por meio de um levantamento bibliográfico acerca do sistema de educação e sua pseudo-origem subsidiado por políticas educacionais capitalistas que juntos, compõem os objetos desse estudo. No resultado é nítida a ideologia neoliberalista implícita nas políticas educacionais na composição dos sistemas de ensino e consequentemente no impedimento da formação reflexiva dos docentes.

Palavras-chave: Políticas Educacionais; Sistema de Educação; Formação de Professor.

ABSTRACT:This work presents an analysis of educational policies and the establishment of the system of education and the resulting guidelines for the training of teacher's reflective of mathematics. The study is processed through a bibliographic survey on the education system and its pseudo-home subsidized by educational policies capitalists who together make up the objects of this study. As result is a clear ideology neoliberalism implicit in educational policies in the composition of education systems and thus prevented the training of teachers reflexive.

Key words: Educational Policy; System of Education; Teacher Training.

A reflexão acerca da dialética entre teoria e prática educacional, nos leva constantemente a análise das políticas educacionais que as ocasionam, consequentemente, ao que vivenciamos ao longo de nossa vida escolar, nos âmbitos discentes e docentes.

Penso ser de extrema relevância o discernimento do conceito da dialética aplicada ao ensino para que não nos satisfaça o fato superficial da simples relação entre a teoria e a prática. A dialética na educação ocorre e obtém êxito quando o conteúdo ensinado corresponde às expectativas do educando, interagindo com o mundo e com a realidade social, no instante em que os conceitos científicos orientam os espontâneos e constituem o conhecimento verídico pronto para ser utilizado na vida. O processo dialético na educação tem por princípio a mudança de paradigmas tanto no educador como no educando, ninguém sai o mesmo depois de ter aprendido ou ensinado algo.

É inevitável subordinarmos o conceito de educação por nós constituídos à prática pedagógica por repetidas vezes presenciada ao longo da vida, porém não podemos nos saciar com isso, é importante que façamos constantemente reflexões acerca do que nos foi marcado em nossas trajetórias com as mudanças atuais e o contexto histórico-político no qual estamos inseridos. Assim devemos dentro de um imediatismo necessário atrelar esses conceitos às variadas diretrizes do sistema educacional, diretrizes essas, oriundas de políticas educacionais compositoras do sistema vigente e norteadora do processo educativo.

Os direcionamentos ou os caminhos pensados para a resolução de um problema ou de uma situação problemática, constituem o conceito de política, portanto, as políticas educacionais são estratégias ou nortes para a concretização da educação ideal. O que não podemos desconsiderar são os contextos em que se dão essas políticas, pois sempre entre o problema e sua solução se esconde uma ideologia, ou seja um conjunto de interesses maiores e ligados a outros fatores muitas vezes contrapostos a solução ideal do problema.

A ideologia capitalista predominante em nossa realidade, implícita nas políticas dos sistemas de educação, culmina na proliferação da descaracterização e desfuncionalização do ensino. Descaracterização pelo fato de desconsiderar a utilidade prático-social como fator predominante no ensino e desfuncionalização por não dispor dessa característica como mecanismo conscientizador de libertação e autonomia.

Sob essa perspectiva, o discurso político educacional no que se refere aos objetivos, torna-se um tanto quanto ambíguo, por face preocupando-se com o criticismo dos educandos e por outra cumprindo as determinações dos organismos internacionais financiadores da educação, com isso, subestima-se a capacidade intelectual dos envolvidos em todo o processo.

Paulo Meksenas (1994), discorre com bastante clareza sobre os conceitos liberal e marxista de indivíduo, o que nos permite entender a supervalorização do capital em nossa sociedade e o processo de formação de nossa consciência capitalista. Com a divisão do trabalho e a ênfase nas diferenças de classes, a liberalidade atinge seu vértice máximo no crivo da particularidade.

"Se para os liberais, a individualidade se reduz à particularidade, para os marxistas a individualidade se opõe à particularidade, pois o indivíduo e sua individualidade se produzem na ação consciente da realização pessoal em sintonia com a realização dos interesses do outro". (MEKSENAS, p.25)

A continuidade do processo educativo descompassado com a realidade social está intimamente ligada à formação dos educadores, que há décadas sofre influências políticas e ideológicas afins de boicote a intelectualidade e o criticismo. A descentralização do ensino superior e a conseqüente expansão da privatização do ensino superior decorrem na oferta muito grande de cursos superiores com baixa qualidade, visando interesses apenas individuais dos donos das faculdades, comprometendo a formação qualitativa da população impedimento a instrução dos desfavorecidos economicamente e subsidiando a continuidade das diferenças sociais existentes.

As teorias/conceitos fundamentais para a prática docente não são entendidos como necessários na formação dos docentes, a aprendizagem que deveria ser o foco torna-se irrelevante e essa realidade incide tanto na prática dos professores no nível superior quanto na prática dos professores da educação básica, e consequentemente na composição dos sistemas de ensino.

Acerca dos sistemas de ensino e sua organização, é conhecido o fato de que esse se compõe em esferas diferentes, o que Paulo Nathanael Pereira de Souza (2007) denominou de Macro-Educação, constituída pelas instituições mantenedoras como a União, os Estados e o Distrito Federal, os Municípios e o conjunto de leis formuladas pelo Legislativo e a Micro-Educação, composta pelas unidades escolares dos variados níveis de ensino e suas governadorias internas.

Antes de mais nada, é mister lembrar que entre nós um sistema de ensino é uma entidade jurídico-institucional, que se organiza segundo as esferas de poder que compõe a federação político-administrativa do Brasil. (SOUZA,1991, p. 31)

É interessante também destacar o que o mesmo defende acerca dos sistemas de ensino e como o conceito se constituiu depois da Ditadura Militar no Brasil:

"E o próprio aparelho do poder político no período militar se autodenominou sistema, o que veio a comprometer ainda mais a palavra, dando-lhe conotação tecnocrática capaz de minar-lhe a eficácia semântica. È por isso que sistema para muitos no Brasil passou a ser sinônimo de cousa indesejável e padeceu da mesma corrosão que atingiu o regime político de exceção, a partir dos anos 80." (SOUZA,1991, p. 38)

Saviani em seu texto A Materialidade da Ação Pedagógica, publicado em seu livro Pedagogia Histórico-Crítica, propõe uma reflexão acerca da materialidade da escola e coloca como um dos requisitos fundamentais para a concretização do ideal de materialidade, a constituição de um sistema de ensino, que ainda é inexistente em nosso país apesar da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases em 1996. O conceito de sistema que se origina no raciocínio de Saviani, é o de que os órgãos e regimentos se organizem de fato e em prol do desenvolvimento da educação e se assegurem que os recursos destinados a educação sejam destinados a mesma. A criação de mecanismos que assegurem o não desvio de verbas é crucial para a efetivação de um sistema de educação eficaz.

As diretrizes das políticas educacionais dirigidas para o professor de matemática não se diferencia das outras áreas do conhecimento. A consciência capitalista de valorização do capital, a ênfase na particularidade como forma de realização pessoal e o conceito de educação oriundo dessa ideologia comprometem também a formação do professor de matemática, que ainda com mais intensidade se limita a reproduzir conceitos e axiomas matemáticos como se fossem estáticos e imutáveis, como se não tivessem sido constituídos historicamente, desvinculando-se do todo social. Segundo Ubiratan D'Ambrosio:

"A educação para a cidadania, que é um dos grandes objetivos da educação de hoje, exige uma "apreciação" do conhecimento moderno, impregnado de ciência e tecnologia. Assim, o papel do professor de matemática é particularmente importante para ajudar o aluno nessa apreciação, assim como para destacar alguns dos importantes princípios éticos a ela associados". (D'AMBROSIO, 2001, p. 87)

Ser professor de matemática ou de qualquer outra área do conhecimento, no contexto atual, incide em mediar e facilitar um aprendizado com máximo de funcionalidade social, pensando o currículo como uma fonte infindável de subsídios para promover a dialética entre saber espontâneo e o saber sistematizado. O ato da constituição do currículo é portanto o momento no qual o professor explora o contexto social do aprendiz e percebe os caminhos para a efetivação da aprendizagem.

Referências Bibliográficas

AZEVEDO, Janete M. Lins de. A Educação como Política Pública. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2001.

D'AMBROSIO, Ubiratan. Educação Matemática: Da teoria à prática. 8. ed. Campinas, SP: Editora Papirus, 2001.

LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. 19. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2003.

MACHADO, Silvia Dias Alcântara. Educação Matemática: uma introdução. 2. ed. São Paulo: Editora EDUC, 2002.

MEKSENAS, Paulo. Sociologia, Filosofia e Educação. São Paulo: Edições Loyola, 1994.

MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1986.

PIMENTA, Selma Garrido. Docência para o Ensino Superior/Léa das Graças Camargos Anastasiou.1. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2002.

SAVIANI. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 9. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2005b.

SOUZA, Paulo Nathanael Pereira de. Estrutura e Funcionamento do Ensino Superior Brasileiro.1.ed. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1991.