A PRÁTICA DOCENTE: UM ESPAÇO DE INTER-RELAÇÕES

Por Jesualda da Silva Kropiwiec | 31/10/2017 | Educação

O professor em relação a sua prática escolar determina ou é determinado por ela. O seu modo de agir e de ser, recebe influência na sua prática escolar, ou seja, é na relação da troca entre professor e o meio que trabalha, em diferentes momentos históricos e realidades diferentes, que irão determinar sua prática. A esse respeito Cunha (1989) analisa que:

[...] sabe-se que o professor não ensina no vazio, em situações hipoteticamente semelhantes. O ensino é sempre situado, com alunos reais em situações definidas. E nesta definição interferem os fatores internos da escola, assim como as questões sociais mais amplas que identificam uma cultura e um momento histórico-político. Com isso quero dizer da não neutralidade pedagógica e caracterizar o ensino como um ato socialmente localizado (CUNHA 1989, p.24-25).

                  O professor que analisa sua prática vai perceber que ela muda conforme as necessidades da sociedade ao longo do tempo. Nesta perspectiva, o conhecimento do seu papel e da sua realidade e que vão favorecer a sua conduta para prática de formar alunos pensantes e a partir daí mudarem a sua realidade social.  Freire (1996), que observa:

O professor que pensa certo deixa transparecer aos educandos que uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo, como seres históricos, é a capacidade de, intervir no mundo conhecer o mundo. Mas históricos como nós, o nosso conhecimento do mundo tem historicidade. Ao produzir o conhecimento novo supera outro que antes foi novo e se fez velho e se “dispõe”a ser ultrapassado por outro amanhã(FREIRE, 1996,p.28).

                  A professora Izabel Cunha (1989) alega que, para uma nova concepção existente entre o sujeito socialmente situado e o conhecimento é preciso que aprender não é estar em atitude contemplativa ou absorvente frente aos dados culturais da sociedade e sim estar envolvido na interpretação e solução de dados. Para uma melhor compreensão Paulo Freire comenta que, por isso é que na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica tem que ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática. O seu “distanciamento” epistemológico da prática enquanto objeto de análise deve dela “aproximá-lo ao máximo.

                  Sendo assim, a maneira em que o professor relaciona valores individuais, valores sociais como ele expressa a sua relação com o aluno em sala de aula e como ele objetiva essas questões na prática pedagógica, são fatores essenciais para definir sua formação. Pois a vida cotidiana do professor envolve uma participação coletiva é está em interação e comunicação com os outros e seus valores e significados são compartilhados assim como ele compartilha os dos outros. Neste sentido Cunha aponta que:

O tempo que se encontra na realidade diária é contínuo e finito. Ele existiu antes da pessoa e continuará a existir depois. Isto significa que seus projetos estão condicionados a um tempo e este fato interfere no seu cotidiano. É dentro da estrutura temporal que a vida cotidiana conserva seu sinal de realidade (CUNHA, 1989, p.37).

                  Nesta perspectiva do tempo, o professor nasceu em uma determinada época e circunstâncias que vão construir seu modo de ser e pensar assim como o modo de agir, que vai ser influenciados por suas experiências de vida. E são essas experiências vividas que irão determinar seu comportamento cotidiano. Cunha(1989) afirma que o conhecimento do professor é construído no seu próprio cotidiano, mas ele não é fruto só da vida escolar. Ele provém também de outros âmbitos e, muitas vezes, exclui de sua prática elementos que pertencem ao domínio escolar. E completa dizendo que

A participação em movimentos sociais, religiosos, sindicais e comunitários pode ter mais influências no cotidiano do professor que a própria formação docente que recebeu academicamente. Há uma heterogeneidade na vida cotidiana do professor manifesta pelas incongruências, saberes e práticas contraditórias e ações aparentemente inconseqüentes (CUNHA 1989, p.39).

                  A escola como uma instituição social determina a seus integrantes o modelo que se espera deles. Entretanto a instituição social é determina pelo conjunto de expectativas da sociedade. Nesta perspectiva, existe entre professor e aluno um jogo de relacionamentos, diante do desempenho de cada um, e é na sala de aula que isso fica em evidencia. Sobre isso Cunha comenta:

Há um certo consenso sobre o comportamento que se espera de um aluno e o mesmo acontece com relação ao professor. Isto significa dizer que parte da relação professor-aluno já é predeterminada socialmente. O modelo de sociedade define o modelo de escola e nele está contida a ideologia (CUNHA,1989, p. 65).

                  A prática educativa constitui uma fonte permanentes de questões e conflitos, pois sendo a sala de aula um lugar heterogêneo, é fonte de conflitos. Sendo assim, podemos encará-los também como oportunidades de crescimento e amadurecimento intelectual e emocional tanto para alunos como professor.

                  Tardif comenta que quando se trata de seres humanos um componente emocional manifesta-se. Ele afirma que:

Quando se ensina certos alunos parecem simpáticos, outros não.Com certos grupos, caminha perfeitamente bem; com outros , tudo fica bloqueado. Uma boa parte do trabalho docente e de cunho afetivo, emocional. Baseia-se em emoções, em afetos, na capacidade não somente de pensar nos alunos, mas igualmente de perceber e de sentir suas emoções, seus temores, suas alegrias, seus próprios bloqueios afetivos (TARDIF, 2002, p. 130).

                  Embasados nas teorias que estudamos podemos definir algumas características desejáveis do que é ser um bom professor. Não estamos aqui querendo idealizar um professor, mas falar de características que formam professores que embora enfrentando problemas, conseguem fazer seu trabalho com os saberes que possuem e trabalham com afetividade com os alunos, não esperando assim aluno ideal, mas sabendo que trabalham com os alunos que recebem sem discriminação.  Ter respeito com sua profissão e condições de trabalho apresentadas não reclamando do ambiente em que trabalha. Ter o compromisso com sua formação, estudando sempre e tendo um engajamento político. Saber que seu trabalho é muito importante com para comunidade tendo consciência do seu valor. Saber se relacionar com seus colegas, tendo solidariedade para quem precisa de sua ajuda e saber intervir em conflitos                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       tendo uma atitude justa. Sabemos que não existe professor ideal, mas sim professores que aspiram a ser excelentes no que fazem.

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