A prática docente e as barreiras, a partir de variáveis, que interferem em sala de aula.

Por DEMÉTRIUS AUGUSTUS GONÇALVES | 30/11/2011 | Educação

Introdução

 

Muitas instituições de ensino ainda estão convictas que ensinar é uma atividade pautada na simples e pura transferência de saberes que, normalmente e rotineiramente, se procura de quem sabe (docente) para quem não detém, ainda, determinado conhecimento (discente). Pautados neste paradigma educacional e em rígidos princípios, não há espaço para o desenvolvimento crítico daqueles que estão sentados nos bancos escolares e acadêmicos. Ou seja, o discente se apresenta em seu estabelecimento de ensino já estando traçado, pelos professores, aquilo que os alunos deverão abstrair, e que julgam ser o de mais essencial e imprescindível no processo ensino aprendizagem.

Não há dúvidas de que a escola/universidade exerça valoroso e importante função na socialização, construção de valores, complementação da formação do caráter do indivíduo, que deveria se iniciar, e ter seus alicerces, no seio familiar. Este papel, desempenhado pelas instituições de ensino, tem como objetivo maior um preparo do cidadão e do futuro profissional para os embates que irá enfrentar, que são das mais diferentes ordens. Daí a necessidade destas instituições incentivarem seus alunos a buscarem respostas para seus próprios questionamentos, sendo capazes de analisar fatos, idéias pré-formatadas com as novas que lhe são apresentadas.

 

O professor em sua prática docente e as dificuldades que surgem

 

O contexto onde está inserido o sistema de educação se baseia na mera retransmissão mecanicista de conhecimentos e na fragmentação das informações. Estas impõem ao aluno um armazenamento de dados, com pouca relevância para o saber, constituindo obstáculos que configurarão em potenciais confusões mentais, incapacitando o raciocínio lógico e criativo do aluno perante fatos e vicissitudes do cotidiano.

Percebe-se que o aluno não é sujeito ativo no processo de obtenção de seu conhecimento. Neste atual sistema, o aluno é sujeito passivo, quando não é objeto durante validações de “teorias”, cujo foco não é o discente em si, nem o processo ensino-aprendizagem, mas os interesses alheios. Por outro lado, há a figura do aluno imediatista e pouco interessado numa formação acadêmica que o coloque em situação de igualdade, ou até mesmo, de destaque na concorrência pela vindoura inserção do mercado de trabalho. Adotam uma postura de almejar tão somente o diploma ao final do curso, reivindicando o certificado sob a consistente “alegação” de que são assíduos pagadores das mensalidades, esquecendo-se, portanto, de o serem nas freqüências e participações de atividades propostas.

Com um sistema alicerçado em crenças e valores que urgentemente necessita ser repensado, atualmente há um corpo discente que, em sua maioria, preocupa-se com a certificação em detrimento da obtenção e construção do conhecimento. Associado a este quadro, existe, também, a influência dos conceitos capitalistas que fazem da educação um mero produto; do aluno um simples cliente; do professor um eficiente malabarista que nega as suas convicções; e por fim, das instituições de ensino corretoras que oferecem seus serviços e produtos, usando como expediente a “barganha”, visando um crescimento de seu alunado. Contudo, educação não se enquadra como bem material nem como serviço, e por isso jamais alavancará em qualidade e excelência por meio de artifícios e instrumentos comuns ao mercantilismo.

 

Expectativas Geradas no docente quanto à inteligência do discente

 

O processo ensino-aprendizagem é gradativo e constante. Logicamente que nos primeiros anos escolares usam-se ferramentas mais simples para, com o decorrer dos anos e associado ao grau de abstração e compreensão do aluno, partir para situações onde são apresentadas aos discentes circunstâncias mais complexas.

Assim, quando o docente inicia o processo de planejamento para uma classe de alunos, ele estará pressupondo que deverá estar incorporada e compreendida uma gama de conhecimentos adquiridos outrora. Estes conhecimentos constituem um elo da corrente que será juntado ao seguinte, permitindo um prosseguimento lógico, gradativo e essencial à continuidade do processo, o qual será tão consistente quanto for cada elo da corrente. Entretanto, a realidade que se apresenta nas salas de aula não é esta. Não são raras as oportunidades em que o professorado não obtém êxito no cumprimento do programa proposto para a turma que leciona, que muito provavelmente não é o mais adequado, por se ver diante da necessidade de recapitular conteúdos pertencentes às séries anteriores, uma vez que não foram devidamente abstraídos, configurando um quadro desalentador.

 

Professor, alunos e comunicação

 

Fato é que o professor tem grande importância no processo ensino-aprendizagem. Ao contrário do que se costuma testemunhar, o professor não deve ser apenas um “orador” ou “contador” de estórias ou histórias diante de sua classe.

Na sala de aula o professor deve adotar uma postura perante seus alunos de forma a instigá-los a curiosidade pelo conhecimento que está às portas. Dentro deste contexto, o professor deve esmerar-se para romper aquela ideologia/paradigma de que somente ele é o detentor do conhecimento, e que estando num tablado tal fato por si só já ratificaria a sua condição de detentos e transmissor de conteúdos. Na verdade o professor deve exercer o papel de intermediador, instrumento e mediador nesse processo que objetiva a construção do conhecimento com a ativa participação dos alunos, tirando-os da condição passiva e cômoda de ouvintes e assistentes para interagirem com todos que estão em sala de aula.

Trata-se de manter uma atmosfera de busca incessante pelo conhecimento de forma que exista consciência da necessidade de se renovar e reciclar. Assim, aluno e professor buscariam, juntos, o saber, rompendo com práticas e posturas instrucionais que impregnam a educação. Estas aulas expositivas devem restar superadas!

Docentes e discentes são partes integrantes de um todo, onde os primeiros, pela experiência acumulada, irão interagir com estes, estimulando-os, despertando-os o desejo pelo aprender a aprender.

Por fim, o docente perante o discente deve ser o provocador, instigando à comunicação e ao saber. Ou seja, deve se portar como “um engenheiro” que dá condições propícias a interação e participação de todos.

 

Interação entre os participantes

 

A interação dos participantes é conseqüência direta da capacidade que o docente possui de levantar questões intrigantes que irão mover toda a classe a um debate ou discussão dirigida. Esta permitirá uma permutabilidade entre as percepções dos partícipes, culminando no aprimoramento da capacidade de reorganizar idéias, pontos de vista e, em última instância, na construção de um saber crítico em detrimento daquele que é automatizado e mecânico.

A sala de aula deve possuir condições que propiciem a gênese de alunos interativos, que saibam articular emissão-recepção no processo de construção do conhecimento

 

Habilidades cognitivas e afetivas

 

A aprendizagem pode ser encarada, por muitos, como um processo estritamente técnico, tal como: decorar fórmulas matemáticas, realizar fixamentos de textos, artigos e livros. Mas é necessário ir além da simples retenção gradativa e constante da informação.

 É importante, pois, a associação do binômio informação e aplicação. Se um deles for ausente ou deficiente, o aluno não se tornará independente e autônomo e assim, não terá condições de gerir a si mesmo, uma vez que ao deparar-se com situações e fatos que “fogem” ao modelo repetitivo, a ele apresentado no ambiente escolar e acadêmico, não será capaz de processar a informação, tornando-se refém de compreensões, análises e avaliações de outrem.

Aprender é estar receptivo às dúvidas e incertezas e ansioso pela busca incansável de respostas. Estar realmente disposto a aprender é romper com valores arcaicos e superados que norteavam a obsessão pelas respostas definitivas e inquestionáveis.

Aprender é estar apto a rever e organizar valores que outrora eram prioritários, mas que na concepção construtivista surgem como conseqüência da reflexão crítica e da percepção sobre o que é de fato ensino-aprendizagem. É adotar um comportamento que caracterizará atitudes pautadas em preocupação e desejo de busca por respostas às dúvidas e questionamentos que são levantados no ambiente universitário. Não se trata apenas de atitudes comportamentais e/ou emocionais que traduzem o desejo angustiante de se obter o diploma. É muito mais que isto! É o prazer pelo saber.

 

Conclusão

 

Aprender um conteúdo não é apenas dominá-lo, mas trata-se de relacionar-se com ele, o transformado em algo novo pela vida que nele depositamos.

Aprender a aprender é de fato imprescindível na era da transmissão desenfreada da informação. Significa a condição de estar em busca de, é um estado de espírito que se caracteriza pela condição de inquietação, insatisfação, que são pré-condições de aprendizado efetivo.

 

Referências bibliográficas

 

BOEIRA, Sérgio Luís. Aprender com a cabeça e com o coração. [S.l.: s.n.].

DEMO, Pedro. Introdução. In: ______. Conhecer e aprender: sabedoria dos limites e desafios. Porto Alegre: ArtMed, 2000. p. 9-12.

 

DIMENSÕES do conhecimento nas perspectivas dos professores. [S.l.: s.n.].

 

RONCA, Antônio Carlos Caruso; ESCOBAR, Virgínia Ferreira. Adaptação ao grau de desenvolvimento do aluno. In:______. Técnicas pedagógicas: domesticação ou desafio à participação? 5 ed. Petrópolis: Vozes, 1986. p. 99-106.

 

SANTOS, Moises Lucas dos. Poética, Diálogo e Razão. [S.l.: s.n.].

 

SILVA, Ezequiel Theodoro da. Mal-formado ou mal-informado. In:_____. Os (des)caminhos da escola: traumatismos educacionais. 4ª ed. Cortez: São Paulo, 1992. p.23-27.

 

TEIXEIRA, Anísio. Notas para a história da educação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, v.37, n.85, jan./mar. 1962