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Por Paiva Netto | 27/01/2009 | ReligiãoPaiva Netto
Em 21 de janeiro, celebrou-se o Dia Mundial da Religião. Na Folha de S.Paulo,
década de 1980, arguido por um leitor, ponderei que não vejo Religião como
ringues de luta livre, nos quais as muitas crenças se violentam no ataque ou na
defesa de princípios, ou de Deus, que é Amor e que, por isso, não pode aprovar
manifestações de ódio em Seu Santo Nome nem precisa da defesa raivosa de quem
quer que seja.
Alziro Zarur (1914-1979) dizia que "o maior criminoso do mundo é aquele
que prega o ódio em nome de Deus".
Compreendo Religião como Solidariedade, respeito à Vida, iluminação do Espírito, que todos somos. Só posso entendê-la como algo dinâmico, vivo, pragmático, altruisticamente realizador, que abre caminhos de luz nas almas e que, por essa razão, deve estar na vanguarda ética. Não a entenderia, se não atuasse também de modo sensato na transformação das realidades tristes que ainda atormentam os povos. Esses, cada vez mais, andam necessitados de Deus, que é antídoto para os males espirituais e morais, por consequência os sociais, incluídos o imobilismo, o sectarismo e a intolerância degeneradores, que obscurecem o Espírito das multidões. (...) E, de maneira alguma, deve-se excluir os ateus de qualquer providência que venha beneficiar o mundo.
Religião é para tornar o Ser Humano melhor, integrando-o no seu Criador, pelo exercício da Fraternidade e da Justiça entre as Suas criaturas. Com apurado senso de oportunidade, preconiza o Profeta Maomé, no Corão Sagrado: "Cremos no que nos foi revelado e no que vos foi revelado. Nosso Deus e vosso Deus é o mesmo. A Ele nos submetemos".
Deus, Sabedoria e Entendimento
O Pai Celestial é fonte inesgotável de sabedoria e entendimento, quando não analisado sob forma estereotipada ou caricaturada. Vêm-me à lembrança estas palavras de Santa Teresa d'Ávila (1515-1582): "Procuremos sempre olhar as virtudes e as coisas boas que virmos nos outros e tapar-lhes os defeitos com os nossos grandes pecados".
Tudo evolui. Ontem se afirmava que a Terra seria o centro do Universo. Por que então as crenças teriam de parar no tempo? Pelo contrário, Religião, quando sinônimo de misericórdia, tem de iluminar harmoniosamente os demais extratos do pensamento. Bem a propósito, esta meditação do nada menos que cético Voltaire (1694-1778): "A tolerância é tão necessária na política como na religião. Só o orgulho é intolerante". (...)
Para amainar a frieza de coração
Cabe ainda recordar esta máxima abrangente de Zarur: "Religião, Filosofia, Ciência e Política são quatro aspectos da mesma Verdade, que é Deus".
Ora, querer conservar esses ramos do saber universal confinados em departamentos estanques, ou em preconceituoso conflito, tem sido a origem de muitos males que nos afligem, em especial tratando-se de Religião, entendida no mais alto sentido. É principalmente de sua área que deve provir o espírito solidário, que, se às demais faltando, resulta na frieza de sentimentos a qual vem caracterizando as relações humanas, mormente nestes últimos tempos. (...)
O melhor altar para a veneração do Criador são Suas criaturas. Torna-se urgente que a Humanidade tenha humanidade.
José de Paiva Netto — Jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@uol.com.br — www.boavontade.com