A perspectiva sociointeracionista em conversas de WhatsApp...

Por Raíssa Torres Machado | 04/11/2016 | Educação

A perspectiva sociointeracionista em conversas de WhatsApp: como um gênero escrito pode apresentar marcas de oralidade

Raíssa Torres Machado [1]

RESUMO:

O presente trabalho propõe uma análise de uma conversa realizada no aplicativo Whatsapp, a partir de um breve estudo sobre gênero, segundo Marcuschi (2008), seguido de sua caracterização e, de um estudo sobre as diferentes perspectivas que abordam a relação, ou não, entre fala e escrita. O objetivo visado é comprovação de que um gênero textual (específico) escrito possui as marcas de oralidade.

 

  1. Introdução

É possível afirmar hoje, que a internet nos cerca de informações de uma forma supreendentemente acentuada. Nessa rede, podemos enumerar uma centena de endereços virtuais que são acessados por milhares de pessoas. Entre esses, existem ferramentas de busca de todos os gêneros, como Youtube, Google, Bing, entre outros. Ademais, estão inclusas as redes sociais, meios nos quais existe uma conexão entre as pessoas, permitindo a comunicação e vários tipos de relações interpessoais, como por exemplo: o Twitter, o Instagram, o Snapchat e o Facebook, sendo essa a mais utilizada em todo mundo. O WhatsApp enquadra-se nesse meio. De acordo com a definição disponível no website da rede social, o Whatsapp é um “aplicativo de mensagens multiplataforma que permite trocar mensagens pelo celular sem pagar por SMS”. Segundo o G1, em uma reportagem publicada 27 de fevereiro de 2015, “o WhatsApp é o quarto aplicativo da internet móvel mais utilizado no Brasil”. Já em outra matéria, publicada em 04 de setembro de 2015, o jornal online afirma que o programa informático chegou a “900 milhões de usuários ativos em todo mundo”. Imaginando que seu acesso aumentou desde a publicação, presumimos então que sua colocação tenha aumentado significativamente até a finalização deste artigo.

Tendo consciência do grande número de usuários que acessam a ferramenta diariamente, nos propomos a analisar, no presente trabalho, algumas características presentes no gênero WhatsApp, para tentarmos mostrar a reconfiguração a teorias e dinâmicas interacionais, observando as marcas de oralidade em um gênero maioritariamente escrito, através da análise de um corpus textual, uma conversa real entre dois interlocutores na plataforma anteriormente mencionada.

  • A ferramenta: WhatsApp

            O aplicativo WhatsApp Messenger permite aos seus usuários a troca de mensagens instantâneas, desde que estejam conectados à internet (wi-fi, 3G, 4G). Segundo seu próprio website, a rede social tem como objetivo facilitar o contato entre amigos. Para isso, além das mensagens diretas[2], a ferramenta permite a criação de grupos, para a interação entre mais pessoas. Para aderir, o indivíduo deve possuir um smartphone que haja um sistema operacional[2], a ferramenta permite a criação de grupos, para a interação entre mais pessoas. Para aderir, o indivíduo deve possuir um smartphone que haja um sistema operacional[3] que permita a instalação. Após a instalação, é criada uma conta a partir de um número de telefone e o nome do usuário. A multiplataforma permite aos utilizadores, além de mensagens de texto, o envio de mensagens de áudio, imagens, fotos, vídeos e agora, em sua última atualização significativa, quem possui o aplicativo pode realizar ligações. Recentemente a ferramenta foi disponibilizada para computadores, o WhatsApp Web, mas funciona apenas como uma extensão da conta WhatsApp do aparelho celular, ambos dispositivos estão sincronizados. Entende-se, então, que existe a necessidade de um smartphone para aceder à plataforma. Nesse sentido, o smartphone/celular é o principal suporte que permite o acesso à multiplataforma.

  1. Revisão teórica

    • O gênero WhatsApp

Para analisarmos o corpus aqui proposto, acreditamos na necessidade de classificação do aplicativo. Segundo nosso julgamento, o WhatsApp é um novo gênero textual. Para comprovar essa teoria nos apoiaremos em um capítulo da obra “Produção textual, análise de gêneros e compreensão”, de Luiz Antônio Marcuschi, que está acerca da nossa proposta e se inspira em Bakhtin quando nos apresenta sua abordagem. O autor aborda a importância e critérios de classificação subjacentes à organização interna dos gêneros textuais.

Segundo Marcuschi (2008), a comunicação só é possível a partir de um gênero textual, ou seja, o mesmo refere-se a textos materializados em uma situação comunicativa corriqueira, estão presentes em nosso dia-a-dia. Eles são bastante estáveis, e apresentam em si “padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnica” (Ibid, p. 155) sejam escritos ou orais. Durante sua produção podemos fazer escolhas não tão livres (sejam elas, léxicas, semânticas, sintáticas, do ponto de vista da formalidade, que devem ter alguma relação com o texto eleito), mas os gêneros textuais não são estruturas concretas e rígidas, eles sofrem variações, apesar das “escolhas” anteriormente mencionadas.

Vejamos agora o exemplo da rede social abordada no trabalho, analisando sua sequencia tipológica. Lembrando que, segundo o autor base utilizado no presente artigo: “Quando dominamos um gênero textual, não dominados uma forma linguística e sim uma forma de realizar linguisticamente objetivos específicos em situações particulares” (p. 154). Entende-se, então, que para a noção de um gênero é necessário os critérios relacionados à sociocomunicação, pensaremos quais são seus propósitos comunicativos e como ele está inserido em nossa sociedade, claro, sem desconsiderar características do âmbito físico de sua utilização.

O WhatsApp como gênero textual, trata-se de um evento maioritariamente escrito em nossa rotina, apesar de possuir muito mais presença da oralidade – mas isso será discutido em outro tópico do texto –, que devido ao grande crescimento, já virou uma prática bastante usual em nossa cultura e é reconhecida por grande maioria da população. Em seu corpo, caracteriza-se como um diálogo mediado por um smatphone, sem a presença física dos falantes ou teclantes[4].

Mais uma vez segundo Marcuschi (2008), para darmos nomes aos gêneros devemos considerar seis critérios, que são: forma estrutural, proposito comunicativo, conteúdo, meio de transmissão, papeis dos interlocutores e contexto situacional. E vários desses critérios podem atuar em conjunto, como por exemplo: na multiplataforma analisa, temos o meio de transmissão (ato de whatsapear), o contexto situacional (conversação), entre outros.

Outra característica bem específica do WhatsApp é o que Marcuschi chama de suporte do gênero. O suporte é um objeto que permite com que o gênero circule na sociedade e ele influencia na natureza do gênero suportado. Por exemplo, um telefonema não será um telefonema caso não exista um aparelho telefônico, para mediar a comunicação. Definiremos da seguinte maneira:

DEFINIÇÃO DE SUPORTE: entendemos aqui como suporte de um gênero um locus físico ou virtual com o formato específico que serve de base ou ambiente de fixação do gênero materializado como texto. Pode-se dizer que suporte de um gênero é uma superfície física em formato específico que suporta, fixa e mostra um texto. Essa ideia comporta três aspectos: (a) Suporte é um lugar (físico ou virtual); (b) Suporte tem formato específico; (c) Suporte serve para fixar e mostrar o texto. (...) Com (a) supõe-se que o suporte deve ser algo real (pode ter realidade virtual como no caso do suporte representado pela internet). Essa materialidade é incontornável e não pode ser prescindida. Com (b) admite-se que os suportes não são informes nem uniformes, mas sempre aparecem em algum formato específico (...) Com (c) admite-se que a função básica do suporte é fixar o texto e assim torna-lo acessível para fins comunicativos. (MASCUSCHI, 2008, p. 174-175)

Levando em consideração o WhatsApp pode-se estabelecer para o gênero esta cadeia[5]:

Whatsapp (gênero)  smartphone (suporte) -> teclado do smartphone (material da escrita) -> internet (serviço de transporte)

 

Conclui-se que o suporte do gênero WhatsApp é o smatphone que possua algumas características específicas. O aparelho deve possuir conexão com a internet, um sistema operacional compatível com o aplicativo. É ele o modo que faz com que o gênero textual socialize.

  • As especificidades do WhatsApp

Como já mencionado, o WhatsApp permite a troca de mensagens instantaneamente por smarthphones. Até aí, existem outras redes sociais que também possuem essa função. A multiplataforma se diferencia, então, por permitir em sua comunicação, de maneira eficiente e rápida, outras por meio de cinco recursos, que podem ser usados simultaneamente que interferem diretamente em como fluirá a conversação. São elas:

  • Uso de emojis[6] como representação de emoções. Apesar de outros aplicativos oferecerem esse recurso, o WhatsApp possui mais de mil emojis . Devido a sua grande utilização, recentemente ganharam uma versão na qual o mesmo emoji corresponde a varias etnias, cabe a pessoa selecionar qual prefere utilizar.
  • Ligações: as ligações via WhatsApp, assim como a troca de mensagens, acontecem online. Geralmente elas permitem uma conversação mais prática, e são mais utilizadas quando a conversação é longa, ou urgente.
  • Uso de vídeos: quase nunca utilizados estritamente para conversação, eles são mais frequentes como uma forma de “distração”, ou como uma maneira de iniciar alguma conversa. Mas, em sua maioria, por se tratarem de vídeos virais (empalharem-se rapidamente em todas as redes), apresentam discursos e expressões dos vídeos são agregadas ao vocabulário dos usuários, tornando-se, assim, um conhecimento comum para a maioria dos usufrutuários; e, em consequência aparecem com grande frequência nas conversas, não necessitando uma contextualização, por se tratar de um conhecimento compartilhado por quase toda pessoa que utiliza a multiplataforma.
  • Imagens e fotos: ambas são utilizadas da mesma forma dos emojis. Sendo essas imagens “virais”[7] ou fotos realizadas durante a conversação. Esse recurso, no meu pensamento, pode ser considerado uma referência recuperável (marca de oralidade).

[...]

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