A PERSONIFICAÇÃO DA CASA DE USHER

Francisco Ricardo Da Costa Azevedo[1]

Edgar Allan Poe (1809-1849) nasceu em 19 de Janeiro de 1809 em Boston. Escritor consagrado de contos, poemas e artigos científicos. Dentre seus contos de maior sucesso estão The black cat e William Wilson. Seus poemas mais conhecidos são The Raven e Annabelle.

Outro conto Poeano de grande relevância é o conto The fall of the house of Usher, que traz uma narrativa onde percebemos a personificação da casa de Usher, atribuindo-a características e sentimentos de seu morador, Rodrick Usher.  

No conto temos a presença de um narrador homodiegético, que narra a estória em primeira pessoa. Podemos ainda chama-lo de narrador-testemunha. O tempo presente na narrativa é cronológico. O narrador discorre sobre os fatos estranhos ocorridos durante sua estadia na casa de seu amigo de infância Rodrick Usher.

Começando pelo título “A queda da casa de Usher” e após a leitura do conto, notamos que há um direcionamento que aponta para uma relação entre a casa e os seus donos, Rodrick e Lady Madeline. Os moradores da casa são os últimos descendentes da família Usher, com a morte de ambos a casa também se destrói. Podemos perceber que o título anuncia, de certa forma, o final do conto. 

Segundo Pontieri (2001, pág.96) A visão que o narrador-testemunha tem, já na primeira cena, da melancolica e semi-arruinada casa onde vivem os irmãos Rodrick e Madeline, aponta o parentesco entre o edifício e seus habitantes.

Logo no início do conto o narrador-testemunha descreve sentimentos provocados em seu interior ao avistar a casa, I know not how it was – but, with the first glimpse of the building, a sense of insufferable gloom pervaded my spirit (POE, 1985, pág 138) mais a frente ele também relata, there was an iciness a sinking, a sicking of the heart (POE, 1985, pág 138).

Todos os sentimentos experimentados pelo narrador-testemunha ao observar a casa no início do conto também fazem uma relação com os sentimentos do personagem Rodrick, como nos diz Pontieri (2001, pág. 97) “Porque abriga alguém cuja característica principal é a tristeza, a casa se apresenta da mesma forma, como a melancólica casa de Usher”.

Outro aspecto que podemos observar ainda no início do conto é a descrição da estrutura casa,

I looked upon the scene before me – upon the mere house, and the simple landscape features of the domain – upon the bleak walls – upon the vacant eye like Windows – upon a few White trunks of decayed trees with na utter depression of soul which I can compare to no earthly sensation more properly than to the afterdream of the reveller upon opium. (POE, 1985, pág. 138).

Vemos que o narrador-testemunha descreve a casa como se estivesse descrevendo características humanas ou, melhor dizendo, características físicas de seu amigo Rodrick, que está passando por uma doença.  

Humanizada por janelas “como olhos vazios” ela se contamina por seu morador do mesmo modo que o contamina. Uma fina rede de fungos recobre-a como teia de aranha, da mesma forma como os cabelos de Rodrick (POTIERI, 2001, pág. 97).

Podemos notar que os objetos presentes na casa também provocam sentimentos no narrador I felt that I breathed na atmosphere of sorrow. An air of stern, deep, and irredeemable gloom hung over and pervaded all (POE, 1985, pág. 142). A partir disso percebemos que os objetos presentes na casa também possuem uma relação com os moradores, pois o personagem Rodrick é caracterizado como alguém de aparência triste.

Baudrillard (2000, pág 22) diz que cada cômodo e cada móvel designam uma função na narrativa e “a casa inteira a integração das relações pessoais no grupo semifechado da família”.

No final do conto com a morte de Rodrick e Madeline, a casa acaba caindo, como afirma o título. Podemos perceber mais uma ligação entre a casa e o dono. Quando a geração de Usher acaba e não há mais ninguém da família para viver no local, a casa se desmorona e extingue-se juntamente com os Usher.

Podemos então dizer a casa representa de forma simbólica o seu morador, sobretudo Rodrick Usher. Eles apresentam uma ligação que faz com que um seja o reflexo do outro. O movimento de aproximação entre a casa e o morador se dá por dupla via: ela, ostentando traços de um ser vivo; ele, cujos cabelos em forma de arabesco sugerem que sua figura seja algo distante do aspecto humano. (PONTIERI, 2001, pág. 97).

A casa de Usher se personifica quando lhe é atribuída as características de seu morador Rodrick. Características físicas como janelas que parecem “olhos vazios” e cabelos como “fina teia de algas”, que também são características do personagem. E também através de sentimentos como tristeza, angústia e depressão que são transmitidos tanto por Rodrick Usher quanto pela casa.

REFERÊNCIAS

BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. Trad. Zulmira R. Tavares. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2000.

POE, Edgard Allan. “The Fall of the House of Usher”. In: POE, Edgard Allan. Selected Writings. Harmordsworth, Penguin, 1985. 

PONTIERI, Regina. Formas históricas do conto: Poe e Tchékhov. In: Bosi, Viviane, et alii (orgs.). Ficções: Leitores e Leituras. Cotia – SP: Ateliê Editorial, 2001.   (Estudos Literários, 10). p. 91-111.

 

 

 

 

[1] Acadêmico do Curso de Letras do 6º período.