A pergunta sobre o sentido da existência humana segundo Juan Alfaro

Por Jorge Ribeiro de Sousa | 18/12/2017 | Filosofia

Introdução

Neste trabalho pretendemos fazer uma análise da questão do sentido e do sentido da questão, assim como também da pergunta sobre o ser e da estrutura metafisica do sujeito humano.

Temos presente que a pergunta sobre o sentido da existência revela a importância do raciocínio filosófico a respeito do conhecimento da mesma pessoa e de Deus. O homem pode conhecer o sentido de sua mesma vida por meio de raciocínios naturais, desde que sejam coerentes e bem fundamentados.

Por que escolhemos Juan Alfaro e essa temática para ser o objeto de estudo do nosso trabalho conclusivo? Porque os textos de Alfaro que analisamos aqui correspondem ao nosso propósito, quer dizer, ele coloca o “perguntar” como ponto de partida e como metodologia para poder se chegar ao centro de todas as questões filosóficas e teológicas: a pergunta que nos guia é a pergunta sobre o sentido da vida.

E ainda porque ao interrogar-se sobre o sentido da existência Alfaro reconhece que esse questionar-se seja o mais amplo e original ponto de partida para se chegar à via da experiência transcendental, isto é, quando a pessoa se pergunta sobre si mesma e o sentido do seu existir ela reconhece a sua incompletez, mas também da  sua capacidade de ir além do meramente oferecido e dado. O que Alfaro infere nesses textos coincide com o nosso projeto: que no processo de compreensão das mesmas exigências de sentido que existe dentro de cada pessoa, essa se reconhece, realiza-se como tal e se abre à possibilidade de uma resposta que possa satisfazer a sua busca.

Tudo porque o pensamento de Alfaro, seguindo a matriz do pensamento cristão contemporâneo busca encontrar no pensamento atual o que a grande tradição cristã tem conservado, ou seja, a pergunta pelo sentido da vida. Esse diálogo que acontece ao mesmo tempo com a tradição e com a contemporaneidade permite perceber que colocando a “pergunta última” se pode chegar a outras perguntas que oferecem um valor e um significado à existência.

O que se pretende é chegar à pergunta sobre o sentido da vida como pergunta que leve a pessoa a reconhecer em si mesma a necessidade de se transcender, ou seja, aqui se pretende construir um pensamento que, aprofundando sobre as interrogações mais exigentes e radicais da estrutura humana, possa-se chegar à pergunta sobre a necessidade de um Absoluto, de Deus na vida da pessoa; essa perspectiva quer levar a pessoa a reconhecer que ela é questão para si mesma e que a sua abertura ao Divino seja algo natural, fruto das suas mesmas inquietações e interrogações sinceras sobre o sentido da  sua mesma existência.

A questão do sentido e o sentido da questão

O nosso autor diz que a pergunta sobre o sentido da existência é necessária para superar as ambiguidades e as imprecisões do mesmo perguntar humano sobre o sentido, pois essa mesma pergunta começa já da ambiguidade da linguagem, porque o homem fala segundo o seu pensamento.

O nosso autor diz não ser casual a palavra “questão” que ele associa a sentido, por isso mesmo ele repete para dar relevo, dado que para ele se trata principalmente de analisar a mesma questão, ou seja, de buscar a sua origem e sua significação, assim como de determinar seu significado e sua formulação.

O texto de Alfaro que nos fazer entender que a questão do homem sobre si mesmo precede a pergunta sobre a validade e os caracteres dessa mesma questão diz:

“La <> impone por si misma la pregunta ulterior sobre el <>. La radicalidad de ese proceso reflexivo es una exigencia legitima del espíritu critico del pensamiento moderno, que pone en cuestión ante todo las cuestiones mismas, porque en ellas se anticipan ya y se configuran las posibles respuestas”.

 

O texto nos quer afirmar que a origem da questão do homem sobre si mesmo está na experiência mais profunda e própria do mesmo homem, a saber, a consciência reflexiva de si mesmo, onde cada pessoa vive indivisivelmente como o “experimentador” e o “experimentado”.  Ele diz, portanto, que a reflexão explícita que se percebe na pergunta “quem sou eu?”, surge pela auto-presença da pessoa a si mesma e de nenhuma outra pessoa. Assim sendo, em todo ato de pensar, de decidir e de realizar algo a pessoa se dá conta de sua insubstituível existência pessoal: essa é uma certeza vivencial inegável da própria identidade da pessoa. O nosso autor prossegue afirmando que essa mesma pessoa é chamada a se fazer continuamente, porque nunca realizada completamente em si e, por isso mesmo, essa pessoa se coloca como a própria questão.

O nossa autor ainda coloca em cheque que a questão do sentido da vida implica dois aspectos, tais como a inteligibilidade da vida e o seu valor. Porque para ele o sentido da questão mesma aponta para um auto-fundamento, que encontra em si mesma a razão de sua postulação e fundamentação ontológicas. A questão do sentido e o sentido da questão leva a encontrar as razões da questão situada na sua mesma formulação.

Disso infere que segundo o nosso autor se segue uma ulterior pergunta, isto é, se é o homem que busca a pergunta ou a pergunta em questão que se impõe ao homem, dado que ele quer saber se o homem nessa medida é aquele que questiona ou é o questionado; o que vem a significar que é preciso saber se a questão pelo sentido é apriorística, que o homem é interpelado por ela ou se ele é o ser questionado pela questão que ele é para si mesmo. E partindo dessa dedução Alfaro explica que isso acontece porque a existência humana se dá em referência a algo que vai além de si mesma e que não encontra em si a resposta final da questão que a estrutura. E é dessa alocução dedutiva que o texto joga com os termos “dar sentido” e “ter sentido”, para significar que o homem busca conferir sentido a sua vida, mas um sentido que é já expresso no fundamento da mesma pergunta que está além das circunscrições intramundanas do homem.  

Dessa maneira, o homem não pode recusar de se conhecer e de saber os seus porquês, do seu sentido e da questão do seu sentido, por isso, se o homem quiser viver de maneira consciente e coerente, deve buscar o “porque” e o “para que” de sua mesma existência. Por que somente o homem é questão para si mesmo, e, por isso, carrega consigo a questão do ser, dado que somente ele tem a experiência de seu próprio ser e do nada de si mesmo. E Alfaro esclarece que não se trata da questão da essência constitutiva do homem, mas da questão de sua mesma existência concreta, ou seja, trata-se das possibilidades abertas à decisão livre do homem e do futuro de sua esperança.

Toda essa problematização do sentido da questão e da questão do sentido leva o nosso autor a afirmar que essa é uma realidade radical e, que o colocar da pergunta exige uma resposta que seja exauriente, pois não é evidente, porque é uma pergunta que empenha não somente a inteligência, mas também a liberdade e porque a questão do sentido final tem uma caráter totalizador, pois afeta as funções mais especificas da atividade humana e sua condição de imutabilidade e de imanência.

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