A PEDAGOGIA AO LONGO DOS TEMPOS

Por Rosely dos Santos Ferreira | 20/07/2015 | Educação

Os textos em âmbito geral discutem a Pedagogia no contexto histórico e filosófico, bem como as mudanças ocorridas no decorrer dos tempos. Sendo assim, Gauthier e Tardif (2010) em seu texto O século XVII e o problema do método no ensino ou o nascimento da pedagogia, traz algo de novo no que se refere ao ensino, o método, isto é, a pedagogia, a fim de ajudar a ensinar ao aluno, para que este aprenda mais, mais depressa e melhor. Segundo Gauthier e Tardif alguns fatores influenciaram o aparecimento da pedagogia, sendo um dos principais fatores a reforma protestante liderada por Lutero, pois com  a ideia de que o homem deveria fazer sua própria interpretação das escrituras sagradas, surgindo assim a necessidade da alfabetização das massas populares e criação de escolas, porém a contrarreforma da igreja católica sente a necessidade de combater a expansão do protestantismo e começam a fundar as escolas jesuítas, em sequência outro fator seria o novo sentimento negativo da infância e a partir desse sentimento a igreja teria que policiar os costumes dessas crianças vistas como frágeis criaturas de Deus e que seria preciso corrigir, daí surgem os confinamentos das crianças em instituições que substituem famílias, então criam-se escolas para responder a esse novo sentimento moral pela infância, outro fator seria a preocupação com a juventude, pois muitos jovens se encontrava expostos a marginalidade, segundo o texto estudado Demia declara “que abrir uma escola é fechar uma prisão”, dessa maneira seria necessário educá-lo nos estabelecimentos de catecismo. Assim surge um questionamento da utilidade escolarização enquanto manutenção da ordem social. Partindo desse contexto acarretaria a necessidade de uma reflexão consciente e organizada de uma estrutura completa da classe, para resolver os problemas de ensino. Diante dessa situação, percebe-se que a escola pode beneficiar toda a sociedade, doutrinando e ensinando valores morais.

O método pedagógico instaurado no século XVII se difundiu com bastante fidelidade, segundo as diretivas dos fundadores. Para Gauthier e Tardif a pedagogia se constitui pouco a pouco como tradição, um código uniforme do “saber-fazer”, uma tradição pedagógica que passou a chamar de “pedagogia tradicional”.

Fazendo uma análise no texto verifica-se quais são os principais marco da pedagogia, em primeiro lugar que toda a sociedade educa, no sentido em que transmite às gerações jovens uma tradição, costumes, maneiras de fazer, e segundo lugar parte do pressuposto se todas as escolas educam, nem todas ensinam, em terceiro lugar relata que ensinar é uma coisa, mas a escola é outra, pode haver ensino, mesmo sem escola, e em quarto e último lugar aponta que o renascimento foi um momento importante na humanidade e na educação.

Garcia (2012) em seu livro Educação: visão teórica e prática pedagógica, relata que as teorias e práticas em educação devem ser resultado de reflexão em torno de experiências reais. Toda e qualquer reflexão sobre a educação inclui uma análise dos problemas e das propostas de mudança. As teorias educacionais estão comprometidas com juízos de valor que não podem ser medidos, mas sim sentidos, pode-se dizer que as pessoas aceitam certas formas de educação que têm relação direta com a percepção que as pessoas têm do mundo e das coisas que as rodeiam. Segundo Garcia, o ato de valorar, não se faz no ar, mas sim a partir de alguns envolvimentos que permitem certa visão do mundo e das pessoas nele presentes. No dia-a-dia encontram-se educadores que analisam o mérito das teorias educacionais como se elas fossem desprovidas de qualquer significado válido para explicar os problemas a que se propõem e muitos comentam “isto é teoria que não se aplica” ou até mesmo dizeres do tipo “a teoria é uma coisa a prática é outra”, não conseguimos validação científica, ficando somente no “eu acho”. Garcia argumenta que esse educador prefere a comodidade, a buscar, indagar, investigar ou até mesmo formular explicações para tal realidade, não tendo domínio quer da teoria ou da prática, ficando assim empobrecido em suas atribuições profissionais, pois teoria e prática são processos interdependentes e complementares. Para muitos, as teorias educacionais deveriam ter validade educacional, independentemente das condições de espaço e tempo, como se fosse algo que não tem necessariamente ligação com as diversas realidades existentes. A relação dialética existente entre a teoria educacional e a prática pedagógica mostra que ao dar sentido integrado à prática pedagógica percebe que as teorias nada mais fazem do que estruturar aspectos que de outra maneira perderiam seu sentido.

De acordo com Franco (2008) em seu livro Pedagogia como ciência da Educação, a pedagogia é reconhecida em suas origens como ciência da educação, ciência da arte educativa e como arte. Para Franco essa triplicidade conceitual carrega definições do campo de conhecimento dessa ciência, desde a origem do termo até a estruturação de seu campo científico. Porém ao longo dessa leitura a autora evidencia em sua escrita que a pedagogia é uma ciência formativa que deve ser utilizada como instrumento político de emancipação humana. Nos capítulos Franco faz um levantamento histórico que vai revelando os caminhos que a Pedagogia percorreu até a sua consolidação como ciência da educação.

A Pedagogia, como ciência da educação agiu como mediadora de tensões e de conflitos, procurando estabelecer novas propostas, organizar novas formas de pensar e fazer educação buscou a participação de todas as classes sociais, valorizou o mestre e sua prática, esteve na escola e na sociedade, na instrução e nas novas manifestações culturais, não abriu mão de se preocupar com a emancipação e os direitos dos oprimidos. Esse modo de fazer pedagogia está centrado nas especificidades, na mediação entre crítica e reflexão, entre o individual e o político.

Libâneo (2010) no livro Educação na era do conhecimento em rede e transdisciplinaridade, comenta que a Pedagogia está à disposição e deve ter uma formação de acordo com cada tempo, espaço e projeto de sociedade pretendida. Pensar e atuar no campo da educação, enquanto atividade social prática de humanização das pessoas, implica responsabilidade social e ética de dizer não apenas o porquê fazer, mas o quê e como fazer. Isso envolve uma tomada de posição pela pedagogia.

As teorias modernas da educação em nossos dias apresentam-se sob várias versões, desde as concepções tradicionais às mais avançadas, formando distintos entendimentos sobre as formas de conhecimento, sem renunciar a ideia de criação de uma sociedade racional.

Porém, é necessário buscar meios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das práticas sociais que a modernidade fragmentou, por meio do princípio da integração, onde os saberes eliminem as fronteiras e comunique-se entre si.

Para Libâneo a questão central da pedagogia é a formação humana, envolvendo o destino das pessoas a partir de seus processos de desenvolvimento e aprendizagem. A educação escolar lida com o conhecimento enquanto constituinte das condições de liberdade intelectual e política. Não existe forma de compreender o real, fazer crítica política das instituições e relações de poder, sem passar por processos de desenvolvimento cognitivo através da internalização de conceitos, teorias, habilidade e valores.

Portanto, diante do que foi exposto, vale ressaltar que a educação, bem como a qualidade do ensino, contribui para ajudar aos alunos a aprender a pensar teoricamente e a dominar as ações mentais conectadas com os conteúdos, partindo desse pressuposto esses alunos irão adquirir procedimentos lógicos pelos quais se chega aos conceitos e ao desenvolvimento cognitivo.

Referências

FRANCO, Maria Amélia Santoro. Pedagogia como ciência da educação. 2ª ed. São Paulo. Cortez. 2008. Cap. I e II.

GAUTHIER, Clemont. “O século XVII e o problema do método no ensino ou o nascimento da pedagogia”. In: / A pedagogia: teorias e práticas da antiguidade aos nossos dias. /Clemont Gauthier e Maurice Tardif. Petrópolis: Vozes. 2010. p.121-148.

LIBÂNEO, J.C e SANTOS, Akiko (orgs). Educação na era do conhecimento em rede e transdisciplinaridade. 3ªed. Campinas-SP: Alínea. 2010.

Walter E. Garcia. Educação: visão teórica e prática pedagógica. Brasília-DF: Líber Livro. 2012. p. 199-220.