A parábola tibetana

Por Osorio de Vasconcellos | 31/08/2013 | Crônicas

Resumo : O perigo da virtualidade nas velinhas dos bolos de aniversário.  

A parábola tibetana

No escrúpulo de manipular a idade vicejam infinitas motivações. Ao contrário do que se poderia imaginar, o medo de morrer nem sempre figura entre elas.

O mais das vezes o corte de alguns algarismos visa a corrigir defeitos da aferição convencional. Para quem age assim, a idade não é uma injunção do tempo, mas uma disposição do espaço, melhor dizendo, uma informação do corpo.

De fato, mais convincente que a certidão de batismo muita vez costuma ser o capricho da natureza. Saliência onde fora lícito imaginar retração; compostura  onde coubera registrar flacidez; frescor onde pudera ocorrer debilitação.   

E assim por diante.

Diferente, bem diferente de tudo isso foi o que aconteceu  comigo no dia do meu aniversário, ocorrido a dezesseis de agosto.

Quem viu as fotos do bolo notou duas velas, uma representando o número 7, outra o número 6 . Assim “76”.

O momento era daqueles que elevam o nível da paz e da alegria do Universo. Sem embargo, notei que as duas velas – “76” – que substituíram as setenta e seis velinhas legítimas representantes de cada ano vivido por mim, conspiravam contra a dimensão real da vida, em favor da virtualidade,  tal qual aconteceu na parábola tibetana, referida por Jean Baudrillard.

Na parábola tibetana, quando os monges concluírem o registro dos três bilhões dos nomes de Deus, o mundo acaba.  Cansados, os monges contrataram técnicos da IBM que, com seus computadores, rapidamente encerraram a contagem. Resultado: quando voltam para o vale, os  técnicos veem as estrelas desaparecerem   do firmamento uma a uma.  

Não há de ser nada. No próximo ano haverá setenta e sete velinhas no bolo do meu aniversário. Eu prometo.

Na hora de apagar as velas, pulmão é o que não falta.