A parábola do semeador

Por Reinaldo Bui | 13/04/2013 | Bíblia

Efeitos diferentes em corações diferentes

A parábola do semeador

Marcos 4.1-20

Uma mesma mensagem pode gerar diferentes reações ou respostas

Exemplo de Paulo em Atenas

Quando ouviram Paulo falar a respeito de ressurreição, alguns zombaram dele, ... e outros disseram: —Em outra ocasião queremos ouvir você falar sobre este assunto. Então Paulo foi embora dali. Mas algumas pessoas creram e se juntaram a ele. (Atos 17.32-34)

Também na Parábola do Semeador: 4 reações diferentes...

Normalmente a aplicação desta parábola é bem restrita.

A Palavra não é só o evangelho.

Em 2 Tm 3.16 vemos que ela também é útil para ensinar, repreender, corrigir, educar na justiça...

Os quatro tipos de solo que ele descreve nesta parábola podem representar quatro tipos de personalidades distintas ou quatro estágios da mesma personalidade.

O primeiro tipo: o solo à beira do caminho. (v. 4, 15)

4 E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram.

15  São estes os da beira do caminho, onde a palavra é semeada; e, enquanto a ouvem, logo vem Satanás e tira a palavra semeada neles.

Este solo estava compactado, endurecido e impermeável.

Representa aquelas pessoas que têm seu próprio caminho, que não estão abertas para algo novo, não estão dispostas a aprender.

Elas se fecham dentro do seu mundo, são orgulhosas, não conseguem abrir o leque das possibilidades, dos pensamentos.

Suas verdades são absolutas e eternas.

Seu coração é compactado como a terra da estrada. São rígidas e fechadas.

Quando põe uma coisa na cabeça, ninguém consegue faze-las mudar de ideia.

Quantas pessoas nós conhecemos que possuem estas características?

É fácil identificar? Agora pense: quantas vezes não agimos assim?

Somos turrões, teimosos, não permitimos que nos questionem.  O mundo tem que girar em torno do que pensamos. As dores e experiências difíceis deveriam funcionar como um arado.... mas não aprendemos com elas.

Só piora a situação...

Assim eram seus discípulos, assim eram os fariseus, assim somos nós...

A diferença é que os discípulos abriram seu coração.  Tinham inúmeros defeitos, mas eram pessoas simples.

O orgulho deles não tinha grandes raízes, por isso Jesus os escolheu (diferente dos fariseus).

Nem as belas sementes de amor que Jesus semeava germinam num solo compactado.

Por quê? Porque Deus não invade a alma de nenhum ser humano: Deus só trabalha no coração daqueles que lhe permitem.

Como está escrito...

Deus resiste ao soberbo mas dá graça ao humilde (Tg 4.6)

Como está o terreno do seu coração? Você consegue ser ajudado pelas pessoas que o rodeiam?

Seus erros e sofrimentos...  Qdo os reconhece devem funcionar como arado a sulcar a terra e torna-la apta para que mais sementes possam germinar?

O segundo tipo: o solo rochoso. (v. 5, 6, 16, 17)

5  Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra.

6  Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se.

16  Semelhantemente, são estes os semeados em solo rochoso, os quais, ouvindo a palavra, logo a recebem com alegria.

17  Mas eles não têm raiz em si mesmos, sendo, antes, de pouca duração; em lhes chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam.

Era melhor do que o primeiro. Encontrou condições mínimas para germinar.

Quem é representado por este tipo de solo?

Como o próprio Jesus disse, aqueles que receberam a palavra com alegria, mas um dia os problemas, perdas e perseguições... Decepcionam-se, pois creram que todas as suas orações seriam atendidas.

Perceberam que Jesus não eliminaria todos os seus problemas. Pensaram que segui-lo seria um céu sem tempestade, trabalhos sem fracassos, vida sem sofrimento...  Mas se enganaram.

Jesus nunca fez estas promessas. Prometeu, sim, força na fragilidade, refrigério nos fracassos, coragem nos momentos de desespero.

Os próprios discípulos testemunharam momentos de crise na vida de Jesus, até risco de morte. Ficaram abalados: será que é o messias? Vale a pena segui-lo?

Desanimados, muitos desistiram e o abandonaram.

Creio que todos passam por este momento depois da conversão. Uns ficam, outros caem. Nenhum de nós é um é gigante, temos a mesma natureza, somos feitos do mesmo material. Só que para alguns, um problema representa uma pequena pedra, fácil de remover, e para outros, uma montanha.

Não é fácil suportar o sol do sofrimento, mas é necessário. Fugir é covardia, enfrentá-lo demonstra coragem e fé. Mas qual é a melhor maneira de enfrentar os problemas e suportar o calor do sofrimento?

Aprofundando nossas raízes. Nas raízes de uma árvore está o segredo do seu crescimento.

Muitas vezes invejamos o crescimento dos outros, mas não atentamos para o duro caminho que este percorreu.  Observamos só o resultado, mas não olhamos para a determinação, paciência, perseverança, humildade, abnegação, coragem, simplicidade...

Vivemos numa cultura que se preocupa apenas com resultados imediatos e não se interessa em cultivar raízes. Agindo assim, não pense que encontrará água nos dias mais secos e quentes. Secará.

Uma planta que vence as rochas e atinge águas profundas, esta permanece.

Todos nós passaremos por dias difíceis. Pode ser uma perda, doença, expectativas não correspondidas, uma depressão, desespero, vontade de jogar a toalha...

São estes momentos que Deus utiliza para trabalhar nossas almas, aprofundar raízes internas. Os problemas e os sofrimentos são as ferramentas que Deus usa para que nós cavemos mais profundamente.

Como você tem encarado os problemas e as dificuldades da sua vida? Dá crédito a Satanás e entra na dele (murmura, reclama, pragueja) ... Ou encara como oportunidades que Deus coloca para seu crescimento e fortalecimento?

Tem abrigado (ou cultivado) pedras no seu coração? Amargura, rancor, mágoa, murmuração, descontentamento, etc...

O terceiro tipo: o solo com espinhos. (v. 7, 18, 19)

7  Outra parte caiu entre os espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram, e não deu fruto.

18  Os outros, os semeados entre os espinhos, são os que ouvem a palavra,

19  mas os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as demais ambições, concorrendo, sufocam a palavra, ficando ela infrutífera.

Melhor do que vimos até agora. O solo é adequado. As sementes germinaram, criaram raízes, encontraram um excelente clima para crescer. Os problemas e o sofrimento não conseguiram destruí-las.

Mas, junto com estas, apareceram pequenas gramíneas que a princípio não aparentavam nenhum risco.

Havia espaço para todas as plantas. Poderiam conviver perfeitamente juntas. Logo os meses se passaram... e o previsível aconteceu. Os espinhos cresceram muito mais do que aquela planta. A competição foi desonesta! Competiam pelos nutrientes, oxigênio, água, sol. Abafaram seu desenvolvimento natural. Elas tinham raízes, porte, mas não frutificaram e, por fim, desapareceram.

Que tipo de pessoa este solo representa?

Representa pessoas que conhecem a palavra, são profundas, sensatas, permitiram o crescimento das sementes do amor, do perdão, da sabedoria e da solidariedade. Elas suportaram as incompreensões, as pressões, as dificuldades externas. Dia a dia tornaram-se fortes para vencer os seus problemas... mas não estavam preparadas para suportar as atrações do mundo: Estas cresciam sutilmente à sua volta.

Jesus disse que estes espinhos representam  as preocupações, ansiedade, ambições, fascinação por riquezas. Há inúmeros tipos de riquezas que fascinam o ser humano: dinheiro, admiração, fama, reconhecimento, ser maior do que os outros, ...

Quem não tem preocupações? Quem não se perturba com as incertezas do futuro? Quem não tem ambições na vida?

Algumas preocupações são legítimas. O problema é quando elas nos controlam, roubam nossa tranquilidade e nossa capacidade de decidir. Quem não tem o cuidado de "capinar" diariamente o seu terreno, ao longo da vida, passa a ser uma pessoa amarga e não consegue entender por que é infeliz, solitária e vive com medo do amanhã. Embora tenha todos os motivos para sorrir (tem sucesso, dinheiro, prestígio), não consegue ser feliz.

Por quê? Porque não limpou as ervas daninhas do seu interior.

Você tem capinado sua horta diariamente? Tem cuidado das principais plantas da sua vida? Tem permitido que a Palavra frutifique em sua alma ou tem permitido todo tipo de mato à sua volta abafe o que é mais importante?

O último tipo de solo: a boa terra. (v. 8, 20)

8  Outra, enfim, caiu em boa terra e deu fruto, que vingou e cresceu, produzindo a trinta, a sessenta e a cem por um.

20  Os que foram semeados em boa terra são aqueles que ouvem a palavra e a recebem, frutificando a trinta, a sessenta e a cem por um.

Chegamos à boa terra. O solo que Jesus procura para semear e cultivar a sua Palavra.

Este coração representado pela boa terra foi o que removeu as pedras, arou o terreno, limpou os espinhos, alcançou raízes profundas e encontra-se num clima favorável para frutificar com abundância. Estes não são movidos apenas pelo entusiasmo das boas novas, nem por um apelo emocional e nem por algum interesse, mas pelo desejo desesperado de aprender e de mudar.

Este grupo de pessoas não era o mais culto, inteligente, puro, ético, religioso, ...  São complicados, tem enormes defeitos, fracassaram inúmeras vezes, são considerados inferiores e sem significância na sociedade. Mas superam seus conflitos, e valor ao que realmente importava: abrir seu coração ao Semeador Jesus e aplicar sua palavra dentro de si mesmos.

Alguns erram feio como Pedro, mas percebem seus erros, tem coragem de reconhecer suas limitações, de se esvaziar e de aprender com as próprias falhas. Não tem medo de chorar e de começar tudo de novo.

São pessoas assim que Deus procura.

Os discípulos aprenderam que para seguir Jesus não bastava admira-lo. Não bastava simplesmente reconhecer que Ele era o Cristo, o Filho do Deus Vivo. Segui-lo exigia um preço: reconhecer suas próprias misérias, enfrentar o egoísmo, o individualismo, o orgulho, o medo que nos contamina e nos paralisa.

É preciso aprender a amar incondicionalmente, a oferecer a outra face e não desistir de si e de ninguém, por maior que sejam as falhas e fracassos...

Passado um ano, os discípulos apresentavam reações agressivas e egoístas. No segundo ano, ainda competiam e queriam ser um maior que o outro. No terceiro ano, o individualismo ainda reinava. E no final da sua jornada, no momento da cruz, o medo dominou todos eles.

Mas Jesus estava tranquilo, pois confiava que as sementes plantadas logo germinariam.

Para Jesus, nenhum solo era inútil ou imprestável. Uma prostituta poderia ser lapidada e ter mais destaque que um fariseu. Um coletor de impostos poderia ser transformado acima de qualquer moralista e religioso.

Podiam lhe esbofetear e cuspir na cara, mas ele respondia com perdão. Jamais alguém acreditou tanto no ser humano.  Nunca alguém entendeu tanto os becos dos nossos sentimentos e desejou transformar a nossa vida num jardim para o mundo.

4 vezes neste contexto: ouça, escute, preste atenção, quem tem...

Ouça: Que tipo de solo você representa?

 Baseado num texto do livro Análise da Inteligência de Cristo de Augusto Cury