A Palavra em Ockham
Por Bruno Azevedo | 23/12/2010 | FilosofiaA palavra, se torna símbolo que é utilizado de forma repetida, para fixar-se, tornar-se "conhecimento.
Na visão de Willian de Ockham, não existe uma verdade, apenas a repetição que se fixa, como se o dito conhecimento, fosse resultado dessa repetição de palavras, um fator causal deste continuísmo semiótico.
As ditas "palavras", tornam-se ação, assumem conotação de sujeito na oração que se forma, significante e significado, aos moldes de Sausurre a posteriori.
Ockham observa estas palavras (sujeitos), compostas de duas classes: completas e incompletas.
As "completas", seriam as que não pedem acréscimo para seu entendimento, como é o caso de um substantivo, promove o sentido em si. Você diz a palavra mesa, por exemplo, e logo vem à mente aquela representação do objeto, além do hermetismo contido em sua formalização contextual. Explicitando o sentido hermético, podemos citar um outro subtantivo semelhante que se aplica ao sentido de Ockham, como é o caso da cadeira, que não poderia ser chamada de mesa, pois a apreensão cognitiva da mesma, de forma quase instantânea, será introjetada em uma contextualização que estruturá semanticamente cada um dos "sujeitos completos" mencionados.
Entretanto, a variabilidade, ou dinâmica linguística, possibilita analogias que de forma associativa, criam uma estratégia de contextualizar duas formas completas distintas apartir de uma espécie de contradição fenomenológica, onde podemos ressaltar o objeto citado correlacionando-o ao seu não-objeto, ou seja, a outra palavra completa que assumiria o ideal performático do primeiro. Assim, temos o caso da cadeira desconfortável que para ressaltar sua desqualificação, poderia ser comprada a uma mesa.
A segunda classe de palavras, as "incompletas", são as que necessitam de um predicado, dentre os exemplos que poderíamos mencionar, a palavra história serve nosso propósito, possuindo uma abrangência que não poderia ser qualificada em si, necessitando um sentido gregário. As palavras incompletas comporiam aquilo que concebemos enquanto "ciência", por possuírem a parcialidade que decompõe o sentido absolutizante, fugindo a generalismos que encerram um sentido pré-formatado, como fomentando a lógica das possibilidades, das incompletudes, facultando ao homem a busca pelo complemento, a não saciedade pelo sentido advindo manifesto.
A medida que os singificados agregam-se ao significante, facultam-no um sentido, atribuindo conteúdo em uma amálgama necessária de um processo semântico. Concomitante a isso, percebe-se que as palavras incompletas possuem o não-sentido enquanto sentido das mesmas, necessitando lacunas para que sejam preenchidas e possam criar certa "socialização" linguística, facultando à gramática uma versatilidade que em determinados momentos a desestrutura, necessitando uma quase "aritmética gramatical" para recomposição estrutural de si.
Em meio a abrangência predical adquirida, torna-se tênue a linha divisória entre o sentido que objetivara e as diversas formas advindas da predicação, o que nos remeteria a solução de Ockham, apelidada de "navalha de ockham", onde opta entre duas variantes, pela mais simples, a que conduza a uma análise comedida e inequívoca.
Através destes hiatos produzidos pelas palavras incompletas, assim como tantos outros gerados também pelas completas, se fôssemos esmiuçá-las desde composições espaço-temporais ou supra corpóreas, formalizaremos uma hermenêutica embrionária.
Por fim, temos a palavra instrumentalizando uma racionalização advinda de um processo epistemológico, possibilitando através de suas formas uma manifestação concretizada de um plano abstrato a priori, ou encerrando o abstrato por materializá-lo, facultando-nos também possibilidades advindas deste referencial manifesto, assim como as predicações que as incompletudes permitiram-nos conceber.
Referência Bibliográfica:
OCKHAM, Willian de. Noção do Conhecimento ou Ciência. São Paulo: Abril, 1985.