A Origem Das Paineiras, Das Quaresmeiras E Do Ipê Amarelo
Por Marcelo Cardoso | 14/04/2008 | SociedadeConsta que corria o ano de 1566 e que por várias vezes tamoios e portugueses já haviam se enfrentado esporadicamente e em pequenos grupos. Mas a tensão aumentava a cada dia e os índios tamoios de Paquetá já articulavam o grande combate entre os dois povos, o que acabou ocorrendo de fato no dia 13 de julho daquele ano. Esse episódio ficou conhecido na História como a guerra das canoas, que se desenrolou ao redor de Paquetá e que dizimou toda a tribo tamoio que vivia na Ilha.
E dizem que os tamoios, já prevendo essa derrota e a extinção da sua tribo, providenciaram com antecedência um grande ritual religioso em que invocaram os espíritos dos seus ancestrais para que, de alguma forma, ficasse marcado para sempre que o chão e a Natureza desta ilha das muitas pacas era território deles, e a eles pertencia.
Não há concordância em relação ao local em que tal rito ocorreu: - se na Imbuca, ou na Lagoa Grande. Em cada um desses locais havia uma taba da tribo de Paquetá, e cada uma delas era dirigida por um cacique, ou morubixaba, além do Pajé, que era o mesmo para as duas aldeias. Eram pois três chefes: dois temporais e um espiritual. E foi em torno deles que ficou estabelecido o sinal para marcar a posse indígena de Paquetá. Ficou combinado que os espíritos dos ancestrais usariam para marcar esse fato, as mesmas cores que cada um dos três morubixabas costumava usar nos seus cocares e nos seus colares. O da Imbuca preferia o amarelo das penas dos bem-te-vis... O da Lagoa Grande preferia as flores azuis das bromélias que enfeitavam as margens dessa grande lagoa... E o Pajé andava sempre ornamentado com vários colares de conchas cor-de-rosa, que existiam em quantidade nas praias de Paquetá.
E os mais antigos contam que foi depois da guerra das canoas - quando morreram todos os índios de Paquetá e os seus três morubixabas – que começaram a aparecer por aqui, na nossa mata atlântica, essas três grandes árvores ornamentais: o Ipê amarelo, que floresce principalmente na Imbuca, as quaresmeiras, que enfeitam de roxo as nossas encostas, e as paineiras da curva do vento, que sempre enfeitam Paquetá com as suas grandes flores cor-de-rosa... Dizem que elas simbolizam aqueles três grandes chefes tamoios...
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5. A CURVA DO VENTO
D izem que isso aconteceu num tempo muito distante, quando Paquetá ainda era habitada pelos índios tamoios... Tudo começou com um pedido de Ipecu aca mirá ( o pato da cabeça vermelha ), um índio valente que costumava pescar nas praias da Imbuca, e do seu companheiro Potiguaraçu ( o grande comedor de camarão ), que preferia caçar nas margens da Lagoa Grande, ao Norte da nossa Ilha.
Eles acharam que o calor estava muito grande e resolveram pedir a Tupã que, para melhorar, mudasse o Sol de lugar... Eles imaginavam que se o Sol nascesse no Norte, pelo lado do Catimbáu, ou então no Sul, pelo lado da Ilha das Folhas, certamente não faria tanto calor, e foram então pedir a ajuda de Arimatauan, o feiticeiro da tribo, para que ele fosse o intermediário deles junto a Tupã...
Armaram uma grande fogueira na Itanhangá e ofereceram a Tupã muitos peixes e muita caça, enquanto Arimatauan, fumando o seu cachimbo especial e dançando em círculos, consultava Tupã...
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E não demorou muito para chegar a resposta... Tupã ponderou que o Sol não iluminava e aquecia só Paquetá e que por isso não podia mudar o Sol de lugar, mas prometeu uma outra solução que, como disse, seria bastante justa, pois daria uma opção para todos os membros da tribo... Diariamente ele mandaria os anjos do céu soprarem uma brisa refrescante sobre Paquetá, mas para não desagradar a ninguém, porque nem todos gostam de brisa, marcaria também um lugar para limite do vento... Quem o quisesse, bastaria ultrapassar esse ponto, e caso contrário, era só não passar dali ... E foi assim que surgiu "a curva do vento ", bem em frente à Ilha dos Lobos... e desde então, todas as tardes, para amenizar o calor, Tupã manda soprar uma brisa que refresca Paquetá desde a "curva do vento" até o final da Ribeira e desse modo, mesmo sem mudar o Sol de lugar, atendeu ao pedido de Ipecu aca mirá e de Potiguaraçu, os dois índios tamoios da "Ilha das muitas pacas"...