A oralidade nas charges

Por Ediana Laís Schiavo Frey | 29/10/2022 | Educação

Charge é uma ilustração que satiriza, por meio de uma caricatura, algum acontecimento atual

A palavra é de origem francesa e significa carga, ou seja, exagera traços do caráter de alguém ou de algo para torná-lo engraçado, desenhados seguindo o estilo de caricaturas

São muito utilizadas em críticas políticas no Brasil. Para entender uma charge não precisa ser uma pessoa culta, basta ter um prévio conhecimento de mundo. Em sala de aula, a charge é um material muito interessante para os alunos e professores, pois consegue prender a atenção dos alunos. Com a charge se consegue trabalhar a oralidade, o discurso verbal e não verbal, a compreensão, a interpretação, entre outros. 

Ela pode ser usada para ensinar a língua portuguesa e línguas estrangeiras, tanto no ensino médio, quanto no superior.

PALAVRA-CHAVE: Charge; Oralidade; Comunicação; Ensino.

O que é a "Charge"?

          A charge é uma ilustração que satiriza, por meio de uma caricatura, algum acontecimento atual. São muito utilizadas em críticas políticas no Brasil. Apesar de ser confundido com cartoon (ou cartum), que é uma palavra de origem inglesa, é considerado totalmente diferente, pois ao contrário da charge, que é sempre  uma crítica que ofende e magoa, o cartoon retrata situações mais corriqueiras do dia-a-dia da sociedade.

O SURGIMENTO DAS CHARGES E SUA ABRANGÊNCIA

          A charge é uma crítica político-social onde o artista expressa graficamente sua visão sobre determinadas situações cotidianas através do humor e da sátira. Para entender uma charge não precisa ser uma pessoa culta, basta estar informado do que acontece ao seu redor. 

          Muito mais pessoas preferem ler uma charge, ela tem um alcance muito grande, por isso a charge, como desenho crítico, é temida pelos poderosos. Por isso, quando se estabelece censura em algum país, a charge é o primeiro alvo dos censores.

          As charges são elaboradas por desenhistas e podem retratar diversos temas como, por exemplo, assuntos cotidianos, política, futebol, economia, ciência, relacionamentos, artes, consumo, etc. As charges costumam ser publicadas em jornais, revistas, livros, etc. Com o desenvolvimento da Internet, apareceram vários sites especializados em apresentar charges animadas elaboradas em linguagem flash.

          As charges foram criadas no princípio do século XIX (dezenove), por pessoas opostas a governos ou críticos políticos que queriam se expressar de forma jamais apresentada, inusitada. Foram reprimidos por governos, porém ganharam grande popularidade com a população, fato que acarretou sua existência até os tempos de hoje. ”Rabaça & Barbosa (1978), em seu Dicionário de comunicação, define a caricatura como “uma forma de arte que se expressa através do desenho, da pintura, da escultura, etc., e cuja finalidade é o humor”. 

          De acordo com essa perspectiva, são subdivisões da caricatura: a charge, o cartum, o desenho de humor e a própria caricatura, tomada agora em seu conceito mais particularizado.”
Podemos comparar a caricatura com a Literatura. Na Literatura existem os gêneros romance, conto, etc.; na caricatura existe o que se costuma chamar de Portrait-charge, que são caricatura de pessoas, a charge política e o cartum. E o desenho-de-humor que, concentra o humor no próprio traço.
          Chico Caruso fez distinção entre cartum, charge e caricatura, comparando-os à fotografia. O cartum seria como uma máquina fotográfica focada no infinito; por focar uma realidade genérica sua possibilidade de compreensão é muito maior. A charge focaliza uma certa realidade, geralmente política, fazendo uma síntese. Somente os que conhecem essa realidade entendem a charge. Já a caricatura focaliza um elemento dessa determinada realidade focada pela charge.

Charge - crítica a um personagem (FHC), fato ou acontecimento político específico limitação temporal. Só quem sabe da trajetória política de FHC pode entender o “recado” da charge: a transformação do príncipe em sapo. Ao mesmo tempo, o leitor precisa reconhecer o episódio da narrativa infantil (príncipe/sapo) que foi invertido. (Imagens Fabulosas. Revista Veja)

           A charge, a caricatura e o cartum, tem em comum seus traços básicos: a visualização e o humor. O cartum faz críticas e costumes, genérico, atemporal. A charge faz crítica a um personagem, fato ou acontecimento político específico. E a caricatura faz exagero proposital nas características marcantes de um indivíduo.

          O uso da charge em sala de aula, (verbal e não verbal), permite que diversas atividades sejam realizadas, além de ser um material interessante para os alunos. Esse tipo de atividade envolve a compreensão e interpretação da charge, visando o desenvolvimento da criatividade do aluno, a partir do seu conhecimento de mundo. A utilização da charge da apoio pedagógico no processo de ensino-aprendizagem da língua portuguesa e outras línguas, nas escolas de nível fundamental e médio e superior.

LINGUAGEM NÃO-VERBAL

          O tipo de linguagem, cujo código não é a palavra, chama-se linguagem não-verbal, isto é, usam-se códigos como o desenho, a dança, os sons, os gestos, a expressão fisionômica, as cores. As pessoas não se comunicam apenas por palavras. Os movimentos faciais e corporais, os gestos, os olhares, a entoação são também importantes: são os elementos não verbais da comunicação.

          O não-verbal, cada vez mais, compartilha o espaço do verbal não só na mídia, como em todos os setores da comunicação, feita para grandes públicos e dessa forma, cresce a familiaridade desse artifício nas escolas, já que atinge um grande número de pessoas. A mídia moderna descobriu que o que se pode dizer por meio de imagens não deve ser dito por meio de palavras. Aliás, as palavras que tentam descrever uma imagem, jamais conseguem esgotá-la por completo. Sendo assim o trabalho com a charge não é só um meio pedagógico para o ensino da língua portuguesa, história ou educação física, por exemplo, mas também é um meio de integração com diversas fontes de cultura e fatores atuais.

Segundo Bakhtin:” O que caracteriza a polifonia é a oposição do autor como regente do grande coro de vozes que participam do processo dialógico. Mas esse regente é dotado de um ativismo especial, rege vozes que ele cria ou recria, mas deixa que se manifestem com autonomia e revelem no homem outro “eu para si” infinito e inacabável. Trata-se de uma “mudança radical da posição do autor em relação às pessoas representadas, que de pessoas coisificadas se transformam em individualidades.

 

RECURSOS LINGUÍSTICOS

          O vocabulário utilizado deve ser adequado às personagens. Assim, por exemplo, adolescentes usam gírias próprias de sua geração, malfeitores e personagens violentos costumam usar linguagem obscena, personagens cultas usam vocabulário selecionado e mais elaborado, crianças falam conforme sua idade.

          O uso freqüente de onomatopéias torna a narrativa mais característica e significativa. Muitas vezes, as onomatopeias são tão expressivas que chegam a se tornar visuais: ao pronunciarmos Trim! Trim!, não só ouvimos o som da campainha do telefone, mas, imediatamente, em nossa imaginação, visualizamos um aparelho telefônico. Ou nas expressões Miau!, Au-au!, Có-có-ri-có!, que são logo associadas aos animais que as produzem: o gato, o cachorro e o galo, respectivamente.

          Pausas próprias da língua falada acontecem expressas por meio de sinais de pontuação ou são representadas visualmente (um balão contém o início da fala, cuja continuação, após uma pausa, está em outro balão, desenhado imediatamente a seguir). Todos esses recursos reforçam o caráter de oralidade existente nas charges.

CONCLUSÃO

          Após conceber uma ideia para criar uma charge, e fazê-la, o produto final deve ser lido na totalidade visual, percebe-se que a imagem predomina sobre o texto. Uma imagem visual revela-se muito rica e  atrativa para os leitores, principalmente porque se serve de recursos próprios da oralidade. Leitores e autores se comunicam de maneira fácil, e cremos poder dizer que as características de oralidade, implícitas nas charges, são um dos fatores contribuídos fortemente para esse sucesso, transformando-os em meio de comunicação.

BIBLIOGRAFIAS

http://boaspiadas.blogspot.com/2007/03/o-que-e-uma-charge.html

http://www.suapesquisa.com/o_que_e/charge.htm

http://www.eca.usp.br/agaque/agaque/ano1/numero3/artigosn3_2.htm

AUTORES

EDIANA LAÍS SCHIAVO FREY[1]

ROGÉRIO HOFF[2]

 

[1] Licenciatura em Letras Língua Inglesa e Pós Graduação em Docência No Ensino Superior – Professora da Rede Municipal de Santa Rosa/Rs.

[2] Licenciatura Plena E Bacharelado em Educação Física e Pós Graduação em Orientação Escolar - Professor da Rede Municipal De Santa Rosa/Rs.

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