A nostalgia das pandorgas

Por ANGELO DE SOUZA | 07/06/2017 | Crônicas

Introdução

Naqueles dias mais acizentados quando as folhas das árvores começam a cair, o frio e os ventos começam a castigar, era comum ver meninos e meninas, com os lábios queimados, encasacados correndo em direção do topo do rua com as pandorgas atravessadas nas costas como um arco de flecha ou com a guia  enrolada nas maos, levantando para ouvir os roncadores.

Também conhecida pelos nomes de barrilete, quadrado, pipa, papagaio,  ou outro nome dependendo da região ou País, elas são conhecidas como o símbolo das brincadeiras infantis. Na realidade são a essência de ser criança, todos, dos seis anos, sete ou menos, outros mais crescidos, com quatorze ou mais e aqueles bem crescidinhos que incluem até o vovô, já soltaram pandorgas. Elas são confeccionadas de varetas de taquara, papel colorido,  cola de farinha de trigo e para o rabo, cordão grosso. As mais bonitas são aquelas feitas com papel encerado.

A pandorga é um excelente oficio, pois exige muito da criançada, desde encontrar um  papel bem  colorido, um taquaral ou bambusal, preparar a cola e reunir os amigos. A boa confecção é responsável pela sua manutenção no ar, o seu peso,  o tamanho do rabo, os roncadores, e inclusive se ela será uma assassina  ou uma exibicionista. Os garotos aprendem a cooperarem entre si, distribuindo as tarefas, uns providenciam as varetas, outros a cola, outros o cordao e o papel e etc. A necessidade de deixar o espaço utilizado limpo, após o seu uso também e uma forma de consciência coletiva.

A época certa para empinar pandorgas é variável, pois depende das condições do tempo, que deve envolver ventos e ausência de chuvas. Na região Sul, por exemplo, os meses de setembro e outubro são escolhidos para essa brincadeira, por ventar com mais frequência e quase não chover. Mas o que aconteceu com elas, foram extintas ou condenadas como era o desejo de uma parcela da população que as consideravam, nos meus tempos de  garoto, um perigo eminente.

HIstória

A história das pipas datam de muitos séculos e se confundem com a própria história da civilização, sendo utilizada como brinquedo, instrumento de defesa, arma, objeto artístico e de ornamentação. Acredito que seja dificil definir quem empinou a primeira pipa, mas  como tudo, deve ter começado quando o homem primitivo se deu conta de sua limitação diante da capacidade de voar dos pássaros.

Sabe-se que por volta do ano 1200 a. c. na China, eram utilizadas como dispositivo de sinalização militar. Os movimentos e as cores das pipas eram mensagens transmitidas à distância entre destacamentos militares. Ao longo da história tiveram uma importância fundamental, em 1250, o inglês Bacon, escreveu um longo estudo sobre as asas acionadas por pedais, tendo como base experiências realizadas com pipas. Leonardo Da Vinci, em 1496, fez projetos teóricos com nada menos que 150 máquinas voadoras, também baseados na potencialidade das pipas.

No brasil elas chegaram com os colonizadores portugueses por volta de 1596 que, por sua vez, as conheceram através de suas viagens ao Oriente. Um fato pouco conhecido na História deu-se no Quilombo dos Palmares, quando sentinelas avançadas anunciavam por meio de pipas quando algum perigo se aproximava - mais uma prova de que a pipa era conhecida na África há muito mais tempo, pois os negros já a cultuavam como oferenda.

No século 18, época das grandes descobertas, o brasileiro Bartolomeu de Gusmão mostrou os projetos de sua aeronave Passarola ao rei de Portugal, graças a estudos conseguidos através das pipas. Na Grã-Bretanha, em 1749, Alexandre Wilson empinou um série de seis pipas presas em uma mesma linha (trem), cada qual carregando um termômetro, conseguindo determinar as variações de temperatura, em função das diferentes altitudes. Em 1752 uma experiência de Benjamim Franklin demonstrou definitivamente a importância das pipas na história da Ciência. Prendendo uma chave ao fio da pipa, ele a empinou num dia de tempestade. Acontece que a eletricidade das nuvens foi captada pela chave e pelo fio molhado, descobrindo assim o para-raios.

George Cayley, em 1809, realizou, através das pipas, o primeiro pouso acontecido na História, experiência com fundamentos aeronáuticos que mais tarde seria utilizado pela NASA através do engenheiro americano Francis M. Rogallo com as naves Apolo, que criou assim os pára-quedas ascensionais (parawings), que permitem ainda hoje um perfeito controle ao retorno à terra das cápsulas espaciais. A Secretaria de Meteorologia dos Estados Unidos no começo do século, “soltava” papagaios equipados com instrumentos para medir a temperatura, umidade, velocidade do vento, etc.  

Santos Dumont  conseguiu voar no 14 Bis que no final das contas não deixa de ser uma sofisticada pipa com motor. Em 1894, B.F.S. Baden Pawell o irmão mais novo de Baden Pawell, o fundador do escotismo, elevou-se três metros do chão por um trem de quatro pipas hexagonais com 11 metros de envergadura cada, tornando-se o primeiro homem erguido do chão com auxílio de pipas, fato que mais tarde seria repetido em escala militar pelo exército durante a 1ª Grande Guerra Mundial.  

Em 12 de dezembro de 1921, Marconi utilizou pipas para fazer experiências com a transmissão de rádio, teste que, mais tarde, seriam utilizados por Graham Bell em seu invento, o telefone. Ainda, durante a Primeira Guerra Mundial, os japoneses usaram a pipa com meio de enviar mensagens a seus companheiros e, durante a Segunda Guerra Mundial, os alemães a utilizaram para espiar os movimentos inimigos. Na 2ª. Guerra Mundial, uma pipa em forma de águia foi empregada pelos alemães para observar a movimentação das tropas aliadas ou como alvo móvel para exercícios de tiros.

Finalizando, após elencar os dados a cima, podemos deduzir que éla é um bme muito maior do que um problema de segurança. Felizmente elas não morreram, talvez o problema de acidentes não seja uma caracteristica, mas o resultado de uma juventurde mais aguda e independente.

A realização do “Primeiro Concurso de Pandorgas”, destacado na reportagem de Shendler Siqueira, disponivel na internet como “um dos eventos mais esperados pelos munícipes e veranistas, que aconteceu em meio ao céu cinzento da praia do Cassino. O evento reuniu pessoas de todas as idades, pais, mães, avós e até crianças de colo admiraram o contraste de cores das “pandorgas”.

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