A NOSSA RUA DO OUVIDOR É O BECCO DO COTOVELO
Por Jose Wilamy Carneiro Vasconcelos | 24/09/2018 | CrônicasOs momentos e a época marcam para sempre a História. Assim é re-construída a História. Ademais não podemos deixar de lado uma memória vivida e bem aproveitada. Assim é um lugarzinho na Zona Norte do estado do Ceará, na querida e heráldica Sobral com o Becco do Cotovelo.
Marcado pela História, é assunto pra dar e vender. Escritos em pergaminhos, em contos, piadas improvisadas, cordéis, nas estrofes e versos de um poema, nos livros de escritores cearenses e de escritores internacionais. Fato a comentar do maior e mais comentado aglomerado de pessoas numa localidade do semiárido nordestino: “A Vila Distinta e Real de Sobral”.
Prosa, fofoca, assuntos financeiros, bebedeira, Política, encontros noturnos, desamores, intrigas, palestras, citações, difamações, tesouradas. É um corredor cultural. Tudo o que se imagina corre pelo labirinto dessa pequena ruela que tem um formato e anatomia do corpo humano (Um Cotovelo). Dizem os mais atrevidos, afoitos e atenados na estória que antes mesmo de chegar aos ouvidos e cunho do conhecimento, os relatos já bateram com a língua nos dentes, linguajá predominante por aqui. ´
É uma mera semelhança à famosa Rua do Ouvidor da Cidade maravilhosa; O Rio de Janeiro. Resumido basicamente naquela estreita rua onde se encontrava toda intelectualidade carioca. Dos monarquistas, dos republicanos, dos grandes jornais e principais livrarias e editoras. A Rua do Ouvidor como reminiscência dos movimentados cafés, bares, vida boêmia, dos grupos literários, das guloseimas quentinhas, dos empresários esbanjando riquezas, das mademoiselles vestidas de grinalda e chapéus europeus com seu imponente guarda-sol e leque requintado.
A Ouvidor do abolicionista José do Patrocínio e seu amigo Olavo Bilac, de Gonçalves Dias, Lima Barreto, do Barão de Mauá, Duque de Caxias, de Rui Barbosa e muitos outros filhos ilustres, dos filhos nômades, anônimos em geral. Das tendências econômicas, sociais, religiosas e simpatizantes políticos.
Tudo isso, uma mera semelhança têm o nosso Becco. Da abolicionista Maria Tomásia, da visita do Conde D’eu, dos fidalgos portugueses, do vice-cônsul americano, dos cientistas europeus quando aqui estiveram na Relatividade de Einstein, do francês Paul, citado no livro de Luzia-Homem, do capitão Antônio Rodrigues Magalhães, do Capitão José de Xerez Uchoa, do Capitão Ignácio Gomes Parente, do Barão de Sobral. Na política; o Presidente da Província Senador Pe. José Martiniano de Alencar e Senador dos bois (Senador do Império Francisco de Paula Pessoa), Coronel Francisco Joaquim de Sousa Campelo, do Presidente Castelo Branco. Do sobralense Visconde de Sabóia (Médico de D. Pedro II e diretor da Faculdade de Medicina do Rio). O maior benfeitor Dom José, D. Jerônimo Tomé, dos escritores José de Alencar, de Domingos Olímpio, pioneiro no romance regionaista-naturalista. Do Jornalista Deolino Barreto. Das histórias contadas por Lustosa da Costa.
Por aqui no semiárido, no século XVIII, no primeiro núcleo da povoação de Caiçara, na malha urbana da Igreja da Matriz da Caiçara, duas ruas faziam o que chamamos de bifurcação entre o Becco; Rua Nova e Rua Velha. Uma capela foi construída por negros em 1777 e em torno desta capela ergueram suas moradias. Era comum culto cristão por homens brancos nessa época. Fato que ocorreu a construção da tal capela dos pretinhos; qual ficou chamada de Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretinhos.
Ali, apareceram após a criação da Igreja do Rosário, a Rua Velha do Rosário, hoje Rua Coronel José Sabóia, esquina com o Beco do Januário (Tenente Antônio Januário Linhares) que seguia ao matadouro da cidade, interligando a Rua da Gangorra, onde se encontrava escravo na lida diária. E a então Rua Nova do Rosário (Rua do Campelo-1816), atualmente Ernesto Deocleciano. Entre as duas principais ruas, fazia ligação entre ambas um beco, determinando a área da malha urbana, de forma geométrica como um triângulo no desenho da cidade. Esta ligação entre as duas ruas passou a ser chamada mais tarde de Becco do Cotovelo. O Becco virou atração da cidade já completando sua hegemonia e vivacidade. Anteriormente um mero percurso ladeado por fundos correspondentes dos casarios da época, passou a um “Ponto de Atração”, de encontro, da cultura, dos bares e cafezinhos quentinhos, lotéricas, livrarias, palestras, lançamento de livros, dos “Poetas do Becco”, dos boêmios e de toda cidade e da Zona Norte.
O tempo não passou para o indumentário ponto de atração da cidade. Foram-se os filhos da época; apareceram filhos da atualidade. Mudaram-se as prosas, veio à tecnologia, a globalização, e tudo aparenta do mesmo jeito, apenas a parte física com uma e outra roupagem, como um despir e troca de peças, descolorindo e enfatizando o autor da hora. Cafeteria, lotéricas, livrarias, banca de jornal, fofoqueiros, boêmios amoladores de tesouras, alfaiates, cabelereiros. Grupo de poetas ao encontro nos dias de sábado, cultura; prosa, poesia, cordéis. E um anfiteatro (pequeno palco), improvisado para palestrantes, escritores, políticos.
O Becco do Cotovelo é sim a veracidade, um espelho, um retrato e semelhança, a fotocópia, o logotipo, enquanto ao tocante das aventuras, das fofocas, anedotas, espontaneidade do poeta, da extravagância e simpatia do povo brasileiro com relação da Rua do Ouvidor da Cidade Maravilhosa.