A nossa iluminada Florença

Por josé maria couto moreira | 11/03/2016 | Crônicas

A já quase vetusta Redentora dos idos de 64 cometeu inúmeros equívocos, até violências, condutas, aliás, correntes também em regimes democráticos. Um acerto, todavia, lhe é de reconhecer. Oriunda da sensibilidade dos militares que sacramentavam os atos institucionais, a iniciativa de nomear prefeitos para as cidades históricas, que representam, cada uma, um capítulo de nossa história, foi medida que só concorreu para a preservação destes santuários. A semente plantada por Rodrigo Melo Franco germinou rapidamente, e há cinqüenta anos o regime de exceção não apenas aderiu ao propósito de resguardar o passado, mas proporcionou-lhe ferramenta importante na escolha de nomes comprometidos com a bandeira do patrimônio histórico para gerir os sítios pelos quais nos ufanamos.
Ouro Preto é a sede da nacionalidade. Ali nasceu Tiradentes, o mártir da independência, e a cidade testemunhou a presença dos colonizadores em sua evolução urbana. Aleijadinho, aquele anjo que cinzelava nas sombras, assombrou o mundo com sua criação barroca, espalhada nos nichos de nossas catedrais e em praças da região. Este acervo exuberante não poderia estar à mercê de simpatias ou idiossincrasias de seus eleitores, arriscando-se a cidade à voluntarismos que não se encontram com o espírito reinante de manutenção de nosso patrimônio histórico, que encerra não apenas as construções de época, o conjunto de ruelas e vilas, os monumentos, as igrejas, o casario, os chafarizes, mas, até principalmente, a alma de Minas. Felizmente, Ouro Preto não sedia lamentos em sua gerência administrativa. Pela terceira vez, dirige a cidade um humanista e dinâmico operador de nosso patrimônio, que merece citação nominal por inteiro, o ex-ministro interino da Cultura e ex-presidente do IPHAN, Angelo Oswaldo de Araújo Santos, homem de expressivos serviços prestados à causa de nosso patrimônio e à cultura mineira. Informado do espírito europeu, adquirido por longa permanência em estudos na França, não haveria entre nós outra indicação senão a dele para gerir a nossa Florença, também capital de combatentes venturosos e artistas seculares.
Além de suas iniciativas constantes de vigilância e preservação daquele verdadeiro museu a céu aberto, Ângelo recuperou e inseriu como dos prazerosos passeios pela cidade o do Horto dos Contos, situado na área do jardim botânico setecentista, como assim também fez com o Parque da Cachoeira das Andorinhas, o que trouxe lazer e esporte para os ouropretanos, porém, com o objetivo precioso de proteção das nascentes do Rio das Velhas. O Paço da Misericórdia - a antiga Santa Casa - cede espaço para o artesanato e as artes em geral, no mesmo passo que edifica o terminal Barão de Camargo, obra há muito reclamada pela população. A imponente sede da municipalidade e outros próprios municipais também foram objeto de restauração, e outras ações pontuais na educação e na saúde completam o êxito administrativo do segundo mandato de Angelo Oswaldo.
Louvemos: a nossa Ouro Preto continuará iluminada por mais três anos.

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