A Musicalização no Processo Ensino-Aprendizagem na Educação Infantil e Séries Iniciais
Por Simone Vesper Binow | 07/04/2010 | EducaçãoUniversidade Luterana do Brasil - ULBRA
Simone Vesper Binow
Curso de Licenciatura em Pedagogia
RESUMO
Este artigo tem por objetivo apresentar a música como elemento contribuinte para o desenvolvimento da inteligência e a integração do ser. Explica como a musicalização pode contribuir na aprendizagem e analisa o papel da música na educação. Lembra também 'a Inteligência Musical, apontada por Howard Gardner, como uma das múltiplas inteligências e à capacidade que a música tem de influenciar o homem física e mentalmente, podendo contribuir para a harmonia pessoal, facilitando a integração e a inclusão sócia, principalmente na Educação Inclusiva.
INTRODUÇÃO
Como a música pode ajudar no processo de ensino-aprendizagem? Durante a idade média, a música teve um lugar destacado dentro das escolas, principalmente quando se falava em música sacra e poesia. Através dos tempos, tem sido inegável o papel da música como um dos fatores na formação do homem. Grandes autores como Howard Gardner e Vera Lúcia Bréscia relataram em suas obras a importância da música na sala de aula, não só no aspecto lúdico, mas também no aprendizado e na leitura crítica da mesma e seu conjunto.
As escolas hoje trabalham a música dentro das salas de aula, mas muitas sem considerar os aspectos emocionais em que ela pode influenciar. A música faz com que as crianças aprendam com mais facilidade e se sintam mais acolhidas no ambiente de estudo.
Com base em dados pesquisados em obras literárias consagradas, como as obras de Howard Gardner e Vera Lúcia Pessagno Bréscia, esse artigo quer apresentar em forma de pesquisa bibliográfica qualitativa o que é Música e quais são as suas principais características. Quermostrar a necessidade de encorajar as escolas a buscar na música recursos para melhorar e tornar mais prazeroso o "aprender".
O artigo abordará também o papel fundamental que a música exerce no processo de ensino-aprendizagem e os benefícios que ela pode trazer para a vida das crianças, tanto no aspecto emocional quanto no Físico. Apontará algumas questões elaboradas por Howard Gardner, sobre a Inteligência Musical e a importância da música como instrumento de Inclusão de Deficientes.
DE ONDE VEM A MÚSICA?
A música, segundo a teoria musical[2], é formada de três elementos principais. São eles o ritmo, a harmonia e a melodia. Entre esses três elementos podemos afirmar que o ritmo é a base de toda expressão musical.
Sem ritmo não há música. É o único elemento que pode existir independente dos outros dois: a harmonia e a melodia.
A harmonia, segundo elemento mais importante, é responsável pelo desenvolvimento da arte musical. Foi da harmonia de vozes humanas que surgiu a música instrumental [3].
A melodia, por sua vez, é a primeira e imediata expressão de capacidades musicais, pois se desenvolve a partir da língua, da acentuação das palavras e forma uma sucessão de notas característica que, por vezes, resulta num padrão rítmico e harmônico reconhecível.
A Música sempre esteve presente na vida das pessoas, seja por peças grandemente elaboradas, como em simples letras cantaroladas pelas crianças, ou até mesmo pela melodias dos pássaros.
A palavra música vem do grego μουσική τέχνη - musiké téchne e quer dizer Arte das Musas. Trata-se de uma combinação de sons agradáveis ao ouvido.
Algumas hipóteses são levantadas quando se fala do surgimento da música. Alguns autores defendem que ela surgiu a partir da imitação dos cantos dos pássaros, outros defendem a música como forma de confraternização religiosa, com o uso de tambores e outros instrumentos rústicos. Outros ainda acreditam que os movimentos rítmicos do corpo humano tenham originado a música.
De acordo com Bréscia (2003), em algumas civilizações antigas, como a Grécia, o ensino da música era obrigatório e há indícios que naquela época já havia pequenas orquestras. Os gregos acreditavam que determinada combinação de sons poderia até curar algumas enfermidades. Outro ponto interessante é a Bíblia. Nela encontramos diversas citações que falam da música principalmente como forma de adoração em Cultos religiosos.
Atualmente existem diversas definições para música. Mas, de um modo geral, ela é considerada ciência e arte, na medida em que as relações entre os elementos musicais são relações emocionais, matemáticas e físicas; a arte manifesta-se pela escolha dos arranjos e combinações.
INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS DE GARDNER
Para entender a importância da musicalização no ensino-aprendizagem, também é importante analisar a teoria das inteligências múltiplas de Howard Gardner. Sua teoria das inteligências múltiplas sugere que existe um conjunto de habilidades, chamadas de inteligências, e que cada pessoa as possui em grau e em combinações diferentes. Segundo Gardner (1995, p. 21): "Uma inteligência implica na capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos que são importantes num determinado ambiente ou comunidade cultural". São sete as inteligências apresentadas por Gardner: musical, corporal-cinestésica, lógico-matemática, lingüística, espacial, interpessoal e intrapessoal. Essas inteligências não têm nada a ver com herança genética e sim com o ambiente em que as pessoas são criadas e estímulos que recebem principalmente durante a infância.
A inteligência musical é caracterizada pela habilidade para reconhecer sons e ritmos, gosto em cantar ou tocar um instrumento musical. Essa inteligência pode estar relacionada também ao interesse por variados tipos de artes, como dança teatro, pintura, escultura e outras.
MUSICALIZAÇÃO: FERRAMENTA NA CONSTRUÇÃO DO SABER
A musicalização é um processo de construção do conhecimento musical, que tem como objetivo despertar e desenvolver o gosto musical, estimulando e contribuindo para a formação física e emocional do indivíduo. A música sempre deve estar interligada a outros tipos de arte, como por exemplo, a pintura, escultura, teatro e dança. A educação musical deve ser inter e multidisciplinar, assim como as técnicas pedagógicas, adaptadas a cada realidade, sem esquecer-se do conteúdo humano e social da música.
Ao falar em musicalização, um dos recursos mais eficazes para despertar o interesse da criança é o movimento associado à canção. Um exemplo é usar técnicas teatrais durante o canto. Pode-se pedir para que elas imitem um animal ou o movimento de um carro.
Em outras canções, podemos solicitar a memória e o raciocínio rápido, onde a seqüência de movimentos cobrados aumenta gradativamente, sendo necessária uma lembrança imediata do que acabou de ser dito, mas que por vezes torna-se difícil pelo acúmulo de informações.
Não podemos nos esquecer também que para a aprendizagem ser eficiente é necessário que tenhamos uma metodologia adequada para determinado público. É necessário dividir a música em partes, repetindo cada parte aprendida várias vezes, isoladamente e, em seguida, junto com as demais aprendidas.
O PAPEL DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO
A experiência com música deve acontecer antes do aprendizado do código convencional. Na música podemos perceber, sentir, imitar, criar e refletir. Ela mexe com os nossos sentidos e pode interferir no nosso modo de agir e pensar.
A música tem um papel importantíssimo no processo de formação de um indivíduo. É muito valioso que crianças tenham contato com esta arte desde pequenas, e que ela seja inserida no currículo escolar.
Muitos professores usam a música para ensinar conteúdos de geografia, história e até matemática aos seus alunos. No processo de alfabetização, isso acontece ensinando as letras, brincando com as palavras em forma de música, o que é também uma forma de chamar a atenção daqueles alunos inquietos na sala de aula.
Mas a música na educação tem muito mais importância do que isso, cientificamente comprovado, ela estimula diversas áreas do cérebro, e facilita o aprendizado. A iniciação musical é de extrema importância, e ela deve acontecer o mais cedo possível.
Desenvolver a musicalidade nas crianças com a faixa etária de 3 a 10 anos é muito importante não só para que se tornem artistas de grande talento, mas para que outras áreas do cérebro sejam estimuladas também.
De acordo com Gardner a área cerebral responsável pela música está muito próxima da área de raciocínio lógico-matemático, pois as conexões nervosas acionadas ao se executar uma obra clássica são muito próximas daquelas usadas ao se fazer uma operação aritmética ou lógica. A música é uma das ferramentas mais potentes para estimular os circuitos do cérebro. Além disso, contribui para o desenvolvimento da linguagem e da comunicação.
A música compõe o cotidiano do ser humano por sermos envolvidos emocionalmente pela letra e melodia. Ela libera em nós personagens que são carregados sem ter a consciência de que existem (inteligência intrapessoal). Fazendo uso deste poder da música sua utilização no aprendizado de novas línguas pode ser bem sucedida. A música pode ainda ser usada apenas como uma ferramenta lúdica, se levada em consideração, à hipótese de que o aprendizado ocorre como resultado de um processo sem tensão ou ansiedade. Pode-se afirmar ainda, que a música contribui para aumentar a qualidade da relação entre professor e aluno (inteligência interpessoal).
O uso apropriado da música como ferramenta didático-pedagógica oferece aos alunos a oportunidade de integração das quatro habilidades da língua: ouvir, falar, ler e escrever, bem como permite a revisão de vocabulário e estruturas gramaticais, pois retratam a língua no seu contexto real (inteligência lingüística). Além disso, permite aos alunos a discussão dos aspectos lingüísticos e culturais da língua encontrados na letra.
MUSICA NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Por meio de um programa de educação musical bem estruturado e com objetivos bem definidos é possível promover o desenvolvimento físico, intelectual e afetivo da criança com necessidades especiais. Os indivíduos com algum tipo de deficiência emocional, mental ou de aprendizagem conseguem se organizar e responder bem às exigências do ambiente quando é oferecida a eles uma rotina, com exercícios familiares.
Segundo Birkenshaw-Fleming (1993) há diferentes princípios e formas e observação que podem ajudar no ensino de crianças especiais. Quanto mais conhecimento o professor tem sobre o estudante, maior é a adequação de suas propostas de ensino e maior é a sua segurança para promover o desenvolvimento dos alunos. O professor deve ser um pesquisador em busca de novas possibilidades de desenvolvimento de seus alunos e deve conhecer muito bem as limitações e dificuldades de cada um deles.
Esse conhecimento pode ser conseqüência de um processo constante de leituras específicas sobre as características dos alunos, entrevistas e conversas com pais, professores, coordenadores, diretores e outros profissionais que componham as equipes de trabalho das escolas que as crianças freqüentam. No entanto, o que parece mais importante é o conhecimento gerado por meio de uma observação profunda dos alunos e de uma interação de afeto e respeito, considerando sempre as possibilidades de cada um.
Isso pode ser oferecido com um trabalho contínuo com a música. As atividades de relaxamento são muito importantes para construir um ambiente tranqüilo de observação. Planejar alguns exercícios de relaxamento que envolva músicas lentas ou suaves no início ou no final da aula, ou ainda entre outras atividades musicais como apresentação de cantigas de roda que remetam a eles uma sensação de segurança pode diminuir consideravelmente as tensões do ambiente, tanto para os educadores quanto para os educandos.
CONCLUSÃO
Com base nos dados demonstrados durante o artigo, evidencia-se que as diversas áreas do conhecimento podem ser estimuladas com a prática da musicalização. A música é conhecida como um universo que conjuga expressão de sentimentos, idéias, valores culturais e facilita a comunicação do indivíduo consigo mesmo e com o meio em que vive. Ao atender diferentes aspectos do desenvolvimento humano: físico, mental, social, emocional e espiritual, a música pode ser considerada um agente facilitador do processo educacional. Nesse sentido faz-se necessária a sensibilização dos educadores para que se conscientizem sobre as possibilidades que música oferece para o bem-estar e o desenvolvimento dos alunos, pois ela fala diretamente ao corpo, à mente e às emoções.
A presença da música na educação auxilia a percepção, estimula a memória e a inteligência, relacionando-se ainda com habilidades lingüísticas e lógico-matemáticas ao desenvolver procedimentos que ajudam o educando a se reconhecer e a se orientar melhor no mundo.
As atividades de musicalização também favorecem a inclusão de crianças portadoras de necessidades especiais. Pelo seu caráter lúdico e de livre expressão, não apresentam pressões nem cobranças de resultados, são uma forma de aliviar e relaxar a criança, contribuindo para o envolvimento social, despertando noções de respeito e consideração pelo outro, e abrindo espaço para outras aprendizagens.
REFERÊNCIAS
BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva. São Paulo: Átomo, 2003.
GARDNER, Howard. Estruturas da mente: a Teoria das Múltiplas Inteligências. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1994. Publicado originalmente em inglês com o título: The frams of the mind: the Theory of Multiple Intelligences, em 1983.
_________________. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
LOURO, V. S. Educação musical e deficiência: propostas pedagógicas. São José dos Campos: Ed. do autor, 2006
SCHLICHTA, Consuelo Borba Duarte e TAVARES, Isis Moura. Artes Visuais e Música: Curitiba: IESDE Brasil, 2006
TOZONI REIS, Marília Freitas de Campos. Metodologia de Pesquisa: Curitiba: IESDE Brasil S.A, 2005
http://www.mec.com.br
http://www.almanaque.folha.uol.com.br/musicaoquee.html
http://www.rededuc.com/page_32.html
http://www.inep.com.br
[1] Artigo apresentado na Disciplina de Estágio Curricular IV ao Curso de Graduação em Pedagogia – Licenciatura – EAD, da Universidade Luterana do Brasil, como requisito parcial para conclusão de Curso.
[2] Teoria musical ou Teoria da Música é o nome dado a qualquer sistema ou conjunto de sistemas destinado a analisar, classificar, compor, compreender e se comunicar a respeito da música.
[3] Muitos instrumentos musicais surgiram a partir da observação da harmonia de sons realizados pelos corais.