A Multirreferencialidade aplicada à prática da educação.
Por Edjar Dias de Vasconcelos | 22/03/2013 | FilosofiaA Multirreferencialidade aplicada à prática da educação.
O que é abordagem multirreferencial em definição para entender os fenômenos sociais e, mais especificamente, ligados a processos educativos. Esta epistemologia pretende entender a teoria da complexidade, como se aplica a mesma a multirreferencialidade para o entendimento científico da análise. Edgar Morin.
O estudo de qualquer fenômeno pressupõe para sua compreensão a conjugação de várias abordagens, disciplinas diversas, de tal modo que uma ação não reduz a outra, mas leva a uma compreensão diferente daquela elaborada pelo método cartesiano.
Isso em referência a alguns aspectos, em relação a outras descartam o positivismo como Ciência do fundamento epistemológico.
O método caracteriza-se, sobretudo, pelo entendimento não particularizado, mas pela pluralidade e heterogeneidade. Nessa perspectiva a abordagem multirreferencial é tida como uma dentro de várias respostas possíveis, a uma determinada análise, no entendimento do fenômeno.
As críticas que são direcionadas aos modelos científicos estruturados a partir do racionalismo cartesiano e do positivismo de Comte e outros tipos naturais de positivismos.
A respeito das Ciências Humanas, ao procurar desenvolver o reconhecimento na busca de legitimidade como Ciências apoiando-se em paradigmas então consagrados nas Ciências Naturais.
A finalidade epistemológica, na conquista da objetividade e neutralidade é pensada em direção a um conhecimento positivo da realidade humana.
O homem torna-se objeto de conhecimento como nos aponta Foucault, existe uma cultura de identidade entre o sujeito pensante e o objeto como produto cultural. Dilthey.
Os fatos sociais são vistos como coisas, proposta de análise desenvolvida por Durkheim. Encontrar nas Ciências Naturais os meios para garantir a legitimidade científica fez com que as Ciências Humanas assumissem os pressupostos das mesmas.
Incorporando uma perspectiva epistemológica e, em consequência, o caminho metodológico, que não lhe é próprio, o que não nos possibilita explicitar os fenômenos humanos em sua profundidade e complexidade.
Além de todo esse entendimento como Foucault reflete, o homem é objeto e sujeito ao mesmo tempo, dentro da sua temporalidade histórica e da sua produção cultural, do mesmo modo pensa Dilthey e Morin.
O que é o objeto das Ciências Humanas, abordado sob diversas variáveis, a partir inicialmente das disciplinas Economia, Biologia e Filologia, que se desdobraram em várias outras disciplinas como Sociologia, Psicologia, Antropologia, História, enfim.
As diversas disciplinas que têm o humano como objeto principal, significa que o sujeito não é apenas sujeito do conhecimento, mas também objeto, mas existe desproporcionalidade nessa relação dialética do entendimento na análise.
O que de certa forma favorece para compreensão de visões parciais dos fenômenos que implicam aos estudos dos objetos, retirando deles o caráter essencialmente complexo, ao menos a relatividade desse princípio.
Edgar Morin, Teoria da Complexidade. A noção de multirreferencialidade propõe-se, portanto, defender as questões em estudos epistemológicos, com a perspectiva de estabelecer interpretação, mais complexa possível, a partir exatamente da conjugação de várias análises teóricas.
O que significa que o saber ou sua construção não é apenas o resultado de uma das variáveis seja qual for sua tendência, contrária seria tão somente produção ideológica.
Significa, com efeito, o desdobramento de novas perspectivas rumo ao caminho da teoria da complexidade. Morin.
A epistemologia da construção em nova perspectiva, o saber do conhecimento por meio de fenômenos sociais educativos. A pedagogia da multiplicidade, Morin. A emergência da noção de multirreferencialidade.
A ideia da multirreferencialidade foi elaborada por um grande pensador Jacques Ardoino, professor da Universidade de Vincennes – Paris.
Ardoino formula a ideia do conceito multirreferencial no âmbito das Ciências Humanas e, especialmente da educação, está diretamente relacionada com o reconhecimento da complexidade e da heterogeneidade que caracterizam as práticas sociais na relação pedagógica. Edgar Morin.
Em seus trabalhos elaborados, Ardoino desenvolveu o que foi denominado de modelo da inteligibilidade das organizações de sínteses, o que levou ao referido à aproximação com outras correntes na perspectiva de entender o complexo. Izabel Pertraglia.
Os denominados intelectuais vinculados ao que é conhecido pela historiografia, como movimento das análises, com esse objetivo ele mesmo comenta em referência à defesa do paradigma proposto.
Se existem efetivamente ligações, parentesco, que não é questão de negar entre a abordagem multirreferencial e a análise institucional, é porque essas problemáticas encontravam-se, na época, no ar e porque alguns pesquisadores em Ciências humanas cujas formações múltiplas e experiências sociais e políticas respectivas guardavam relações entre si, estavam trabalhando ao mesmo tempo, paralelamente e de acordo, já que se conheciam muito bem e se encontravam frequentemente. (ARDOINO, 1998, p. 44).
No momento na Universidade de Vincennes, Ardoino faz parte de uma equipe de analistas institucionais. De acordo com ele, essa equipe de analistas institucionais que iniciou a pesquisa nessa linha de intervenção era composta por diversos pensadores entre eles: Michel Lobrot, Georges Lapassade, René Lourau, Remi Hess e por ele mesmo.
De acordo com Ardoino a análise instrumental institucional é o caminho necessário à introdução para aquilo que ele denomina da análise multirreferencial, sendo que o grande objetivo é permitir certa elucidação daquilo que não foi dito pelo próprio texto.
O que não é de certa maneira perceptível, o que não é referencial, encontra-se ressonância na teoria da complexidade de Morin e na epistemologia do saber em Foucault: o que é a Ciência fabricada na famosa obra do grande teórico da epistemologia, Alan Charmers.
O que é encontrado no texto às vezes é um movimento difuso, implícito de certo modo nas práticas teóricas sociais, através das quais o grande teórico, Ardoino, no desenvolvimento de sua análise, diversa na defesa da multirreferencialidade.
“Determina-se, obviamente, como um paradigma de inteligibilidade específico ao campo em referência para análise, o que ficou conhecido posteriormente como análise institucional multirreferencial, ou plural.” (ARDOINO, 1998, p. 43).
Resta então entender, ao que refere ao autor, Ardoino, em uma das suas referências naturalmente precedente, aborda a multirreferencialidade como procedimento adequado à compreensão do objeto como fenômeno da complexidade.
O que podemos dizer a respeito dessa análise de caráter extremamente complexo da prática social, Foucault, e, naturalmente das práticas educativas, Morin, a complexidade leva para os professores e suas práticas pedagógicas e suas inferências no cotidiano na sala de aula.
Muitas dificuldades, não só em referência às práticas, o que é muito natural, mas epistemologicamente em relação ao paradigma da complexidade, Morin.
Em um primeiro instante a abordagem é multirreferencial, caracteriza-se como procedimento, mais complexo possível, o que determina o paradigma de Ardoino, a volta necessária às questões epistemológicas de nuanças derivativas de diversas linhas de análises. A dialética do método.
Isto caracteriza a procura em descobrir as origens dos conceitos utilizados, embasando em diversos aspectos, campos do conhecimento especializado, conferindo as devidas proposições sociológicas da teoria do conhecimento condicionado. Dilthey.
O saber não é tão somente uma patente de acordo com Foucault, mas diversidades de compreensões, Morin. A postura do entendimento epistemológico de Ardoino nessa linha de análise, procura condizer com a pluralidade dos fenômenos, do lugar epistemológico da busca, para um sistema explicativo unitário realizado pelas Ciências humanas.
“Mas que necessitam de explicações, ou de olhares, ou de óticas, de perspectivas plurais para dar conta um pouco melhor, ou um pouco menos mal, da complexidade dos objetos.” (ARDOINO, 1998 d). Exatamente o que pensa Morin, do mesmo modo, a professora Izabel Petraglia.
Nesse sentido, a “análise multirreferencial das situações das práticas dos fenômenos e dos fatos educativos se propõe explicitamente a uma leitura plural de tais objetos, sob diferentes ângulos e em função de sistemas de referências distintas, os quais não podem reduzir-se uns aos outros.
É mais que uma posição metodológica, “trata-se de uma decisão epistemológica.” (ARDOINO, 1995, p. 7). O que deve ser refletido diariamente pela prática do desenvolvimento da teoria do conhecimento a respeito do saber diferenciado em suas ondulações da teoria da complexidade. Nada pode ser entendido apenas por um único ângulo.
Revisora: Laura Maria Fernandes da Silva.
Edjar Dias de Vasconcelos.
Valter Pedro Batista.