A MULHER ROMÂNTICA EM AMOR DE PERDIÇÃO

Por Elma Santos Souza Quinto | 21/04/2010 | Literatura

A MULHER ROMÂNTICA EM AMOR DE PERDIÇÃO*

 

 

Elma Santos Souza**

Rafaela Silveira de Menezes

 

RESUMO

 

Objetiva-se no presente artigo, apresentar uma discussão a respeito da obra romântica portuguesa AMOR DE PERDIÇÃO, mas precisamente o papel da mulher no romantismo a fim de compreender a personagem Teresa de Albuquerque, e sua postura romântica diante de um amor correspondido, porém proibido, visto que o casal pertencia a famílias rivais.

 

 

PALAVRAS-CHAVE

 

Papel da mulher; romantismo; Amor de Perdição; Teresa.

 

 

“Que é o romantismo? Mais do que qualquer outro movimento estético, é impossível dizê-lo em poucas palavras, 1) porque seu contorno, extremamente irregular e movediço, abarca não raro tendências contraditórias ou contrastantes, 2) porque corresponde a muito mais do que uma revolução literária: sendo mais uma nova maneira de enfrentar os problemas da vida e do pensamento, implica uma profunda metamorfose”(...) ( MOISÉS, 2005:116).

 

 

“A mulher, entre os românticos, aparece convertida, em anjo, em figura poderosa, inatingível, capaz de mudar a vida do próprio homem.” (Idem, ibidem, 224).

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

O Romantismo surgiu como expressão literária no recém inaugurado ciclo ideológico Português no qual o país estava passando por um momento crítico de aceitação da reforma romântica, haja vista que, este novo estilo literário originou-se na Alemanha em 1825, e foi introduzido em Portugal com a publicação do poema Camões de Almeida Garret como uma espécie de biografia sentimental do poeta soldado.

 

____________________

­­* Artigo apresentado a Prof.ª Mirian, do componente curricular Aspectos da Literatura Portuguesa, do curso de Letras Vernáculas, da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus XXI, como requisito para complementação de nota.

*Acadêmicas do VI Semestre, vespertino.

Dois acontecimentos da história européia marcaram o período em que se desenvolveu o Romantismo: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Juntas, provocaram o fim do absolutismo na Europa e incentivaram a livre iniciativa, o individualismo econômico e o liberalismo político, estimulando também o nacionalismo.

 

As primeiras manifestações românticas surgiram quando alguns escritores passaram a falar da natureza e do amor num tom bem pessoal e melancólico, fazendo da literatura uma forma de desabafo sentimental.

 

O Romantismo é assim caracterizado pelo vocábulo romântico traduzindo a existência de um condimento feminino na atitude romântica, revelado pela vaidade das mulheres e, por características dele decorrentes ao culto da razão, do coração, do sentimentalismo, em que este é contraditório e leva ao desequilíbrio estético, pois o romântico acaba por senti melancolia e tristeza que conduzem ao “mal do século”.

 

Desse modo o que se pretende demonstrar neste artigo é a relação sobre o papel da mulher romântica enfatizando a personagem Teresa, exemplo de amor e determinação crendo na eternidade como a única maneira de ser feliz ao lado do amado.

 

Como suporte teórico, oito textos base nos orientará na construção do artigo: CUNHA, Helena (1999), DEL PRIORE, Mary (1997), DEL PRIORE, Mary (1989), JÚDICE, Nuno (1986), MOISÉS, Massaud (2005), MOISÉS, Massaud (2006), SAMUEL, Rogel (2002), SARAIVA, Antonio José (2008).

 

O nosso artigo está dividido em três seções: A primeira intitulada O PAPEL DA MULHER ROMÂNTICA, na qual analisaremos a figura feminina na obra supracitada numa abordagem a respeito do seu papel na sociedade da época. Na segunda seção, TERESA: A MULHER ROMÂNTICA, em que nos ateremos a personagem feminina e a sua obstinação pelo amor que versa a eternidade.

 

A edição que utilizamos para a elaboração deste artigo foi CASTELO BRANCO, Camilo. Amor de Perdição. Klick editora, 1997.

 

1- O PAPEL DA MULHER ROMÂNTICA

 

 

A mulher era vista pelos escritores românticos como um ser distante, que era idealizado por aquele que amava. Esta idealização era expressa nos elogios de que era objeto e na sensação de que não se era digno de merecer o amor desta mulher.
No período romântico a mulher vivia essencialmente no ambiente doméstico, ou como ajudante nos ambientes sociais, acompanhando o cavalheiro, servindo-lhe de adorno. As leituras femininas circunscreviam-se, em sua maioria, aos romances franceses, enquanto os homens aventuravam-se pela política, pela filosofia e pelas ciências em geral.

 

 

A Revolução Industrial trouxe uma série de transformações para a humanidade algumas boas e, outras ruins. Um dos aspectos negativos foi à corrida imperialista entre as potências industrializadas, tendo como conseqüência as guerras geradas pelas disputas de territórios. O aspecto positivo é que, com as guerras, a mulher passou a ser novamente uma personagem importante nas nações beligerantes, já que foi a partir deste acontecimento que elas começaram a conquistar o seu lugar no mercado de trabalho, mas esta luta não foi fácil e necessitaram de alguns séculos à frente para que isso tornasse uma realidade circunstancial.

 

 

 

“É dentro dessa conturbada atmosfera que se deve compreender o aparecimento do romantismo, expressão literária do recém-inaugurado ciclo ideológico. Enquadrado em momento tão crítico para a história de Portugal, entende-se porque a aceitação da reforma romântica não foi pronta nem calorosa: só a acalmia trazida pela Regeneração permitirá o florescimento do ideário romântico entre os letrados portugueses.” (MOISÉS, Massaud. 2005:112)

 

 

Neste período, a obra intitulada Amor de Perdição surge como forma de representar esta nova fase da literatura portuguesa podendo ser considerada como a obra-prima do chamado Ultra- Romantismo. Nesta novela Camiliana passional e exemplar pela temática, o escritor Camilo Castelo Branco levou as ultimas conseqüências a ideia de submeter à vida aos ditames do sentimento. A obra trata do amor impossível e discute a oposição entre a emoção e os limites impostos pela sociedade à realização dos ideais românticos. Na história o mesmo amor que redime resulta em morte.

 

 Considerando que Camilo Castelo Branco escreveu a história em Portugal do século XIX e que a obra pertence ao Romantismo Português é importante salientar a existência de uma característica predominante para a época e que vem reforçar o papel da mulher na sociedade deste tempo. Atentemo-nos para a idealização da mulher que na obra estudada é emoldurada por Teresa.

 

 

 

A mulher é indissociavelmente ligada ao conhecimento de amor ocupando um lugar de destaque. De certo modo, ela foi uma testemunha da dualidade romântica. Ora a mulher era representada com graciosidade e delicadeza, em harmonia com os princípios árcades, ora sob o signo de um amor que parece ignorar a ordem racional, aproximando-se do romantismo. Nesse sentido, o sentimento amoroso vincula-se quase sempre ao sofrimento, oriundo da indiferença da mulher amada ou do ciúme que ela desperta.

 

Almeida Garret afirma que os sofrimentos e as privações são características da índole feminina, haja vista, para um sentimento mais fino, apurado e sensível que transcende a literariedade no mais delicado objeto artístico.

 

A mulher camiliana é fundamentalmente representada por sua ambigüidade, essa maneira de lidar no conceito que Castelo Branco tinha de felicidade amorosa. Ele entendia que os períodos felizes causariam de maneira inevitável a consciência de sua fugacidade, fazendo com que fossem vividos em duas circunstâncias; o hoje, em que se tem a posse da mulher amada, e posteriormente, o momento em que a separação seria fatal. Salientamos também que o caráter excepcional da personagem evidencia indiscutivelmente ao perfil feminino romântico.

 

 

3-TERESA: A MULHER ROMÂNTICA

 

 

 

 

 

Adolescente de 15 anos, bonita e bem nascida. Aparentemente frágil, porém, com forte caráter, ela contraria seu pai em nome do seu amor. Portanto a coragem, que caracteriza as heroínas, rompe com os desígnios da sociedade e de sua família em defesa dos seus sentimentos.

 

A personagem Teresa, é vista como a heroína romântica, pois apesar de frágil ela opõe-se firmemente ao destino que a família quer para ela, mas se vê obrigada a cumprir as ordens do pai, o dominador Tadeu de Albuquerque. Obstinada e apaixonada, luta para não se casar com o primo Baltasar Coutinho e troca cartas com Simão, na tentativa de acalmar a chama da paixão. Marginalizada e enclausurada num convento, reflete a fé na justiça divina e as injustiças cometidas em função dos preconceitos da época, que se interpunham entre ela e a felicidade que não se realiza. Por isso, a única certeza de que Teresa tem é que só será feliz com Simão Botelho na eternidade em que não haverá ninguém que a impeça de viver esse amor.

 

Diante de inúmeras características, para Cândida Vilares Gancho esse tipo de personagem é denominado de personagem redondo, por possuir uma variedade de características (física, psicológica, social e etc.).

 

As cartas trocadas entre os apaixonados protagonistas, inseridas no livro, são um importante recurso retórico que intensifica o teor passional e dramático da história. Trazendo emoções e confissões de Simão e Teresa, os textos se transformam também em narradores. Amor de Perdição é, portanto, uma obra que possui múltiplos narradores. Deve-se destacar também o pessoalismo do narrador-autor, que volta e meia interfere para julgar ou ponderar, mostrando comoção ou indignação. Mas sem se alongar demais nas suas digressões a ponto de prejudicar a ação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Com este estudo, tornou-se possível fazermos uma análise mais profunda a respeito da obra Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco. Este não se restringe apenas a própria obra, pois ao lançarmos um olhar retrospectivo sobre sua produção literária, constatamos que sua “mulher romântica” refere-se aos fatos sociais intrínsecos à realidade distinta. Ou seja, as mulheres camilianas eram idealizadas e deusas intocáveis, às vezes pelo sentimento do amor e outras pelo sentimento divino.

Assim tentar analisar um texto é uma das maneiras mais ousadas de desmistificar o universo alheio. Sim, porque o texto não é um produto estático, está sempre em transformação. Percebemos ainda por meio da obra camiliana que as partes são tão importantes quanto o todo, já que nos permite aos poucos entender as ideologias que, permeiam as estruturas textuais.

Por meio deste, estudamos o universo feminino e seus papéis ao logo dos séculos sendo uma maneira de percebermos o quanto o mundo evoluiu, juntamente com a possibilidade de uma transformação democrática. Visto que, a mulher ao longo do tempo conquistou o seu espaço no meio social, político e cultural, porque não tiveram medo de insistir, de serem queimadas vivas, ou condenadas pela inquisição. Hoje a mulher está neste patamar porque um dia ousou e deixou-se ousar pelo desejo de conquista e liberdade.

 

 

 

 

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

 

CUNHA, H. P. (Org.). Desafiando o cânone: aspectos da literatura de autoria feminina na prosa e na poesia (anos 70/80). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1999.

 

MOISÉS, Massaud. Preliminares. In:_ A Literatura Portuguesa através dos textos. 30 ed. São Paulo: Cultrix, 2006, p.251-261.

 

MOISÉS, Massaud. Romantismo. In:_ A Literatura Portuguesa. 33ed. São Paulo: Cultrix, 2005, p. 111-134.

 

 

SAMUEL, Rogel. A crítica feminina. In:_ Novo Manual da Teoria Literária. 2 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2002, p. 142-149.

 

SARAIVA, Antonio José. Romantismo. In:_ História da Literatura Portuguesa. 17 ed. Porto: Porto Editora, 2008, p. 654-670.