A MULHER OPERÁRIA: A contribuição feminina na imprensa anarquista no início do século XX

Por Denise Ferreira | 05/08/2014 | Sociedade

INTRODUÇÃO

O Brasil no início do século XX participava dos primeiros anos da República. Um momento marcado por inúmeras transformações atingindo os diversos segmentos da sociedade como o econômico, social, político, religioso entre outros. Um período em que a sociedade estava fundamentada no autoritarismo e no conservadorismo. Neste cenário faziam parte operários, mulheres e crianças trabalhando de modo exaustivo. O pensamento anarquista surgiu no Brasil no momento de formação e expansão do movimento operário e os acompanhou no decorrer deste embate. Desse modo, os anarquistas contribuíram de forma particular para a formação de um pensamento operário. Esse período em que se situa o campo de estudo é importante para se pensar na formação da sociedade brasileira. A repressão vivida pela imprensa era a mesma dos trabalhadores, violentados, deportados, e agredidos das mais variadas formas. Nesse momento segmentos da elite procuravam tornar o Brasil moderno, sobretudo, um ambiente urbano com características próprias dos centros de industrialização. Esse ambiente se constituiu de modo rápido e o aceleramento desse crescimento acarretou em problemas sociais, políticos e econômicos.

Havia insatisfação dos operários pelas péssimas condições de trabalho com doze, quatorze e até dezesseis horas por dia num ambiente insalubre com maus tratos, castigos corporais e baixíssimos salários. A condição da mulher e da criança na fábrica era ainda pior. O modo de vida extremamente desgastante do trabalhador refletia na luta em busca de melhores condições de vida. Esses e outros fatores foram o estopim para a organização dos trabalhadores, incluindo a criação de uma imprensa própria, tendo como fundamento expressar um pensamento crítico expondo suas idéias, denunciando os males e as injustiças sociais da época. Os operários se organizavam de diferentes maneiras: associações, sindicatos, ligas e entre outros. O desejo desses trabalhadores estava no combate à violência, à exploração e ao domínio por parte da política vigente.  Eles eram os responsáveis por todo processo de organização, confecção e distribuição do jornal. Foram vários os nomes que se destacaram nestes jornais na luta contra o domínio e a exploração.

Além dos jornais os operários se destacavam com seus trabalhos através de panfletos, revistas, congressos e conferências. Foram nesses registros que os operários deixaram suas contribuições. Nesse artigo a proposta foi analisar e refletir sobre a contribuição da figura feminina e a sua atuação na imprensa operária. Uma vez que, refletir sobre as preocupações e os debates dessas mulheres na imprensa operária anarquista nos ajuda a compreender como elas se colocavam diante das questões sociais da sua época. São varias as contribuições femininas entre diversos nomes cito a mineira Maria Lacerda de Moura como uma das que mais contribuiu com o Jornal A Plebe. Esse jornal atou entre 1917 até fins dos anos 50 contribuiu bastante com a classe operária sendo reeditado por diversas vezes. Foi mensal, quinzenal e chegou a ser diário. Sua repercussão foi intensa dentro e fora do Brasil, sendo considerado um importante instrumento para a propagação do pensamento operário e na organização dos trabalhadores.

Essa pesquisa foi realizada a partir da análise e sistematização de jornais, revistas, opúsculos e livros publicados pela imprensa anarquista. A leitura aderiu aspectos criteriosos obedecendo a ordem cronológica das edições da mais antiga para a mais recente. Esse foi o momento para situar o contexto e os aspectos sociais do recorte temporal. Em seguida foi feita uma compilação dos artigos do jornal A Plebe que tinha como tema e assinatura a figura feminina. Para isso, foram analisados ao todo quarenta e oito artigos. Sendo esses selecionados da seguinte forma: vinte sete artigos assinados por mulheres, dez artigos assinados por homens e por fim doze sem autoria entre eles com pseudônimo. Feita tal seleção, partimos para análise minuciosa dos temas abordados em cada artigo, estabelecendo uma relação e um diálogo entre os pensamentos.

Os artigos analisados fazem parte de um acervo de documentos históricos retirados desse jornal que foi considerado um dos mais relevantes para o pensamento anarquista. Esse jornal foi fotografado pelo orientador da pesquisa nos arquivos públicos de São Paulo e depois gravado em CD. Com o auxilio dessas imagens foram analisados os artigos e a contribuição da figura feminina nesse período. O registro desses experimentos libertários apresentou um pensamento crítico e intempestivo. Dentre as várias contribuições podemos citar a participação de alguns nomes importantes na época como: Edgar Leuenroth, Maria Lacerda de Moura, Rodolfo Felipe, Isa Ruti, Florentino de Carvalho, e Isabel Silva, entre outros. Portanto, quais eram os temas tratados pela figura feminina nessa época? De que forma a mulher aparece nesses artigos? Quais eram as maiores preocupações dessas mulheres? Essas foram algumas das questões que nortearam a análise e escrita desse trabalho.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para melhor situarmos o tema e a pesquisa partiremos para a apreciação da literatura especializada. Portanto, o período mencionado da pesquisa esteve atravessado pela crescente industrialização que afetava todos os segmentos da sociedade. Neste contexto adverso surgia à figura do operário. Em conseqüência aumentava a insatisfação pelas péssimas condições de trabalho. Os grandes conglomerados urbanos de São Paulo e Rio de Janeiro abarcavam o maior número de operários. Nessas condições os trabalhadores uniam-se a fim de propagar as contrariedades do contexto vigente. A necessidade de uma imprensa própria surge nesse momento como um instrumento para expressar desejos e pensamentos (FERREIRA, 1978). 

A necessidade de unir forças para o combate às péssimas condições de vida tornava-se cada vez mais evidente. Nas literaturas acadêmicas de modo freqüente aparecem definições, relatos sobre o movimento operário, suas movimentações, greves e entre outros. Mas, a preocupação desse trabalho é com a contribuição dos anarquistas para a propagação desse pensamento. Refletir sobre o impulso proporcionado pela vertente anarquista junto ao movimento operário. O anarquismo contribuiu com a expansão das movimentações operárias. Essa união resultou na criação de uma imprensa própria para divulgar um pensamento crítico e significativo para a época (RODRIGUES, 1997). Esses operários tinham outros meios para expressar suas concepções. Assim, faço referência as produções libertárias ou bibliografias libertárias. As literaturas libertárias tiveram uma significativa relevância por registrarem movimentos, questões sociais e políticas referentes a época e a luta desses operários (GONÇALVES, 2001).

Quando falamos no surgimento de uma imprensa é importante levarmos em consideração alguns aspectos importantes que marcam as diferenças entre uma imprensa operária anarquista do início do século XX e o jornal contemporâneo. Faremos algumas ressalvas que marcam as diferenças. Questões relacionadas as informações, conteúdo, títulos, citações, ou seja, os aspectos que marcam a constituição de um jornal marcam as diferenças.  Mediante essas questões é importante analisar cada detalhe do jornal como, a apresentação de uma noticia, a forma e o sentido como as imagens e a noticia e propagada (MOUILLAND, 2002).

Um jornal deve possuir um aglomerado de conhecimento proporcionando ao leitor um vasto conhecimento. O jornal operário anarquista possui essas perspectivas de apresentar uma infinidade de assuntos e informações. A importância de uma imprensa preocupada em apresentar as variedades sociais, e que não esteja vinculada a segmentos da sociedade, ou seja, a serviço das instituições sociais. Essa era um postura adotada pelo jornal aqui analisado. Um jornal que abordou as dimensões da vida social numa ampla discussão apresentando diversidades de pensamentos e questões sociais (NASCIMENTO, 2006).

Vamos agora nos referir a condição da mulher no Brasil no início do século XX, como um contexto marcado pelo preconceito. A condição feminina aparecia associada a temas como raça, educação, sociedade entre outros. Esses temas estavam em discussão em relação ao papel da mulher na sociedade. Pensar num debate entre esses temas e a mulher é relevante por fazer parte de um momento promissor de luta feminina. A intenção é dispor de elementos que desperte a sociedade para os preconceitos e problemas enfrentados pela mulher. Essa visão esta voltada para uma reflexão sobre as condições de submissão enfrentadas pela mulher na sociedade nessa época (HAHNER, 1978).

A mulher estava sendo abordada em algumas literaturas de modo reducionista. Autores da época atribuíam à figura feminina fragilidade a partir de uma definição da anatomia humana. Constituindo nesse sentido uma naturalização da condição de inferioridade feminina. A sociedade tendia a estabelecer na figura feminina comportamentos estereotipados, ou seja, dando a mulher uma imagem inferiorizada, como doméstica impondo restrições. A sociedade a fim de enquadrar a mulher num molde, tendo como referência os valores sociais. Literaturas que marcam o início do século XX apresentam uma imagem feminina inferiorizada. Sua única função na sociedade seria a reprodução. Uma leitura pautada nas definições da biologia na intenção de atribuir aspectos da sua estrutura orgânica a sua inferioridade. Nesse sentido aponto para a reflexão do livro de Maria Lacerda de Moura, “A mulher é uma degenerada de 1924” por fazer menção a Miguel Bombarda. Um cientista que reduz a condição feminina a sua ordem orgânica. Bombarda é preconceituoso e racista seguindo o pensamento de alguns intelectuais da época que usavam a biologia ou a ciência para reduzir os comportamentos sociais. Essas visões propõem pensar nos comportamentos estereotipados que dão à mulher (SOIHET, 1989).

Registraremos um outro momento do pensamento anarquista nesse período diz respeito a um pensamento que agrega valores como amor, afetividade e a mulher. Com uma visão libertária apresentando as principais dificuldades da sociedade no fim do século XIX. Um quadro social expresso pelo imperialismo da igreja católica e pela ignorância das massas. Dando ênfase a importância da influência da mulher para as relações sociais (BAKUNIN, 1845).  As novas formas de experimentos como a história da colônia Cecília que narra a vida de três personagens: Aníbal, Eleda e Cardias. Com essa história são pensados aspectos do amor livre, numa colônia onde são apresentadas novas concepções libertárias de amor. Trata-se, pois de um texto que expressa novas modalidades de relação de vida. A relação afetiva é apresentada com novas expectativas para a sociedade. Essas idéias são apresentadas no fim do século XIX. Desse modo, o texto aborda uma visão ampla sobre a condição feminina envolvendo, nesse contexto, diversos temas como: o amor livre, as relações familiares e entre outros. Questões que possuíam urgência para serem debatidas na sociedade (ROSSI, 2000).  

            A mulher deveria estar consciente para a luta em prol da sua independência social. A época criou uma imagem de submissão por parte da figura feminina. A imagem feminina era vista como um ser dependente do homem, essa idéia está relacionada às imposições de seu dever perante a sociedade. Os elementos que agregavam condição da mulher de submissão estavam relacionadas à ação humana, ou seja, a uma criação social. Pensar em novas concepções de vida para a figura feminina era uma preocupação das anarquistas libertarias pautadas numa libertação social. A mulher deveria adquirir novas possibilidades de experimento das diversidades da vida. O amor livre faz parte desse contexto de variedades que deveria ser compreendido como algo inerente à natureza humana (ALBERT, 1980). Nesse sentido é importante que se lute pela emancipação feminina, em prol de adquirir liberdade social. É necessário que se propague a emancipação da mulher para sua libertação de submissão numa sociedade autoritária. Os laços impostos pela sociedade o conservadorismo, tradicionalismo e autoridade devem ser negados pela sociedade a fim de libertar a figura feminina (UTOPIA, 2004).

ANALISE DAS TEMATICAS DOS ARTIGOS DO JORNAL A PLEBE

Os artigos selecionados foram divididos sistematicamente em assinados por mulheres e homens que abordam temas relacionados à mulher, além dos sem assinaturas somando ao todo vinte sete artigos femininos, dez masculinos e onze indefinidos (pseudônimo). As questões colocadas na introdução foram o ponto de partida para as devidas reflexões. Numa variedade de temas e de artigos analisados selecionamos alguns dos mais importantes para o estudo da presença feminina na imprensa operária. Os temas mais abordados entre os anarquistas foram: emancipação social feminina, condição operária, desigualdade social, definição de anarquismo, prostituição, amor livre, sociedade, religião, escola, política, entre outros. Esses foram devidamente analisados, catalogados e serão apresentados a seguir em temas.

Mulher

Os artigos analisados que possuem como tema central a “mulher” percorrem vários caminhos. Entre esses caminhos, alguns apresentam a imagem ou condição feminina como uma figura de progresso humano, fonte de criação da vida. Outros acusam sua posição como responsável pelo atraso social. Os ideais apresentados nas discussões dos artigos fazem parte de um contexto de adversidades de opiniões. A mulher aparece em algumas concepções dos artigos como um ser venerável e exclusivamente maternal e em outras visões recebe críticas, em relação a sua participação ao serviço militar e seu envolvendo com a igreja. Entre esses debates o que mais repercutiu foi à participação da mulher na guerra. A leitura feita desse embate de pensamentos apresenta um contexto com o qual os temas fazem parte de um momento de movimento social. Os temas que surgem dentro da visão geral sobre a mulher são moda, maternidade, família e militarismo. Entre os artigos femininos e os assinados por homens e os sem assinatura, todos esses apresentam um ideal humanitário. Esse ideal humanitário estaria voltado para a concepção colocar o homem e a mulher num mesmo patamar, essa seria a visão humanista expressa pela escritora.

Uma escritora de presença marcante no jornal A Plebe Isabel Cerruti expõe uma idéia fervorosa sobre a figura feminina. Tem como foco principal a crítica ao serviço militar para a mulher. Um período em que se questiona a participação feminina no militarismo. Como foi apresentado em seu artigo a participação dos homens nesse processo também deve ser recusada, pois, o militarismo faz parte de uma afronta à condição humana. De acordo com a visão de Isabel Cerruti, apresento um diálogo com o escritor Adelino de Pinho. Pois, seu ideal é constituído na mesma linha de raciocínio de Isabel Cerruti com uma crítica forte em relação ao papel da mulher no serviço militar. Os dois escritores mencionados fazem parte de um mesmo pensamento partilhando de idéias comuns, ou seja, apresentam um expressiva recusa ao serviço militar tanto para a mulher como para o homem. Pois, coloca a mulher numa perspectiva sublime e de total elevação social, diferente de um contexto agressivo como o de guerra. Então sua participação no serviço militar obrigatório não era apropriada para a postura feminina.

Então, com o concurso da mulher, nesta ultima atividade obrigatória do homem, é que se porá terino aos horrores do militarismo e não só para a mulher como também para o homem. Porque acima de todos os deveres e direitos, está o dever de conservar a vida e o direito de defendê-la. E a mulher, fonte de vida, não póde querer a morte (CERRUTI, 1934, p.03).

O diálogo entre Maria Lacerda de Moura e outro artigo sem assinatura (PARADOXOS, 1933, p. 01) que possuem uma visão semelhante no sentido de expor expectativas sobre a mulher, com as quais não se tinha debatido. O artigo sem assinatura mencionado lança críticas à função da mulher junto a igreja como responsável pelo retrocesso humano. A mulher a serviço do clero marca um momento de extrema imperfeição social. Nesse momento a educação aparece como ponto principal para a evolução social feminina. Colocando a mulher como cúmplice da igreja, servindo como intermédio entre o clero e sociedade. A visão de Maria Lacerda de Moura é despertar a mulher para pensar na sua condição de submissa junto propagada pela igreja. Propondo deslocar a mulher para se pensar nesta condição de repressão vivida pela mulher, tendo nesse sentido uma função importante na sociedade. Apresento a seguir o pensamento de Maria Lacerda de Moura em definição do papel da mulher na sociedade.                                  

A mulher, apaixonada, exaltada, emotiva, domesticada até o servilismo – é a intermediaria entre o padre e a sociedade, entre a Igreja e a criança, e a sua missão consiste em estar a serviço da ignorancia, do crime, da superstição, do fanatismo, da intolerancia obstinada a irredutível, e, por fim, prestar-se a esmolér, a mendigar, para encher os cofres fortes da Igreja, toda poderosa, mascarada de pobreza e humildade (MOURA, 1934, p.07).

Emancipação social feminina

Num período de intensos conflitos sociais, o tema sobre emancipação feminina está presente nas discussões dos escritores. Uns escritores aparecem em apoio e outros em contrapartida se colocam contra. De acordo com essas condições apresento o posicionamento de alguns desses escritores. O pensamento de Maria Beijo, analisado apresenta aposição da igreja contraria a emancipação social feminina. Seu artigo apresenta a dificuldade que se tem de emancipar a mulher, pois, a educação religiosa é um dos fatores que a tornam submissa. Sua posição está focalizada na denúncia às normas de submissão atribuída as mulheres impostas pelos ditames da igreja. Desse modo, apresenta a educação como um fator preponderante para emancipar a mulher. Coloca-se numa posição de denúncia na intenção de despertar as mentalidades sociais. A idéia é apresentar como a igreja tem a função de propagar preconceitos. Para a emancipação social feminina é preciso que a mulher desperte de sua condição de submissa na sociedade.               

Mulheres que formais ao homem: despertai das trevas, abri os olhos á luz por meio de instrução: para que não constitua a nossa ignorância a causa de nossos males, é necessário compreender que todos os nossos atos têem eco aqui e não no futuro (...): fazei todo o possível para que este vale de lagrimas seja convertido em um paraíso (BEIJO, 1933, p.02).

Já alguns dos artigos sem assinatura como o intitulado “Paradoxos Femininos (Pela emancipação da mulher)” foram apresentadas questões relacionadas ao papel da mulher na sociedade. A descrição que ela faz da mulher, são expressões de uma mulher conservadora, tradicional e fútil. A definição feita pelo escritor da mulher mostra a mulher como uma figura que não pode pensar na sua emancipação.  Nesse sentido o escritor apresenta a mulher, quando está relacionada à moda, ela busca a modernização. Já no campo das idéias está relacionada ao conservadorismo e tradicionalistas. Com essa visão o artigo apresenta a idéia de que a mulher não quer emanciapar-se.

Ao contrario dum sêr progressivo, encontramos uma criatura retrógrada, apegada a tudo que é tradicional, arcaico, antiquado, desusado, constituído a base e formando os alicerces de todas as erronias, de todas as crenças mais absoletas e irracionais, de todas as religiões mentirosas, fantásticas e atemorizadoras, por excelência. E se isto não for verdade, respondam-nos. Quem mantém de pé os templos, as igrejas, as capelas? – A mulher (PARADOXOS, 1933, p.01).

Dos artigos assinadas por homens destaca-se o de Miguel Castellano (CASTELLANO, 1934, p.02) com um artigo curto, mas que apresenta uma ampla visão sobre a emancipação feminina. Seu pensamento expõe a mulher num patamar de reverência, a mãe, esposa, e filha. Já o artigo de Noedul coloca uma visão geral da condição subalterna da mulher e proclama nesse sentido a necessidade da emancipação social feminina. Para ele, a emancipação feminina é algo de urgência para a sociedade. Faço referência ao pensamento de Pedro Motta que também segue a mesma linha de raciocínio dos mencionados. Mas, com uma perspectiva diferente, pois aborda a libertação do gênero humano. Seu pensamento está pautado numa libertação para ambos os sexos. Nessa libertação o escritor menciona as péssimas condições de vida do operário escravizado. Outra colocação importante para a emancipação da mulher seria livrá-la da condição de opressão, e os homens dos preconceitos sociais. O texto remete a necessidade de uma emancipação para o presente, uma urgência. Para o escritor a mulher é uma figura de extrema importância na sociedade. Seus argumentos estão pautados na participação de todos para essa conquista feminina. Assim, o escritor chama a atenção de todos inclusive dos colegas do jornal para atuarem em prol da libertação feminina. Segundo suas colocações a idéia é que não basta apenas falar, questionar é preciso apoiar a mulher nesta luta social:

E’ urgente, pois, praticamos entre o nosso meio e emancipação da mulher, emancipando, educando, e ensinando as nossas irmãs, as nossas filhas a defenderem, a propagarem a se esforçarem no terreno da lucta e da ação, pela sua emancipação da mulher em geral (MOTTA, 1927, p. 04).

Condição da mulher proletária

A condição da mulher operária aparece envolvendo outros temas. Nessa discussão são apresentadas questões relacionadas ao cotidiano da mulher operária. Os artigos assinados por Isabel Cerruti (CERRUTI, 1934, p. 03), Ondina Fernandes (FERNANDES, 1934, p. 03), Pedro Motta são os de destaque nesta abordagem. Os escritores citados abordam a condição e a posição social da operária na família e na sociedade. Os artigos assinados por mulheres possuem uma posição significativa, pois apresentam o cotidiano dessas operárias. Focaliza a mulher operária como personagem principal na luta social. A partir da luta da operária a mulher poderia alcançar sua emancipação social. A importância da operária está pautada no vigor da luta social, as modificações sociais estariam na condição de revolução dessas mulheres.

Já os artigos assinados por homens têm destaque principal, o pensamento de Pedro Motta que chama a atenção para a prática da libertação da mulher operária. O importante papel da mulher operária como figura de libertação e luta para o progresso da humanidade. Menciona a importância da grande camada operária por fazer parte de um grande número nesse momento. Propõe a libertação do gênero chamando a atenção da sociedade para esse objetivo social a libertação feminina das opressões.

E’ urgente, pois, praticarmos entre o nosso meio e emancipação da mulher, emancipando, educando, e ensinando as nossas irmãs, as nossas filha a defenderem, a propagarem a se esforçarem no terreno da lucta e da acção, pela sua emancipação, pela emancipação da mulher em geral. Isto de desejar pouco ou nada significa no exemplo dado no seio daquellas que pertencem ao numero dos que formam a nossa família (MOTTA, 1927, p.04).       

Outro artigo o qual destaco neste momento é o de Ondina Fernandes. Com um pensamento sucinto a escritora expõe à importância da figura feminina dando ênfase a mulher operária na sociedade. Essa atribuição dada à mulher operária esta pautada na opressão, a nas péssimas condições de vida da mulher nas fábricas. Propondo despertar a mulher para sair da condição de escravizada. Apresenta uma reflexão em relação à prisão da mulher nas fábricas e na sociedade. A mulher aparece com um importante papel para a sociedade atribui-lhe a responsabilidade do progresso humano na luta social. A escritora apresenta ainda a necessidade da libertação da mulher em função do bem da humanidade. Chama principalmente a mulher operária a pensar nessas condições.

A nos as mulheres, principalmente as jovens operárias, cabe nos um papel importantíssimo nessa contenda cuja vitória podemos e devemos decidir. Para isso devemos imitar os homens, trocando idéias, organizando-nos e tornando-nos enfim, capacitadas para o nosso papel de mulheres proletárias, que aspirem a uma sociedade onde o amor, a justiça e a fraternidade sejam os verdadeiros soberanos (FERNANDES, 1934, p. 03).

Exploração dos operários

A primeira leitura a ser mencionada dessa apresentação é a escritora Isabel Cerruti, por retratar a condição do operário no período de 1927. Sua visão está pautada na libertação social do operário na fábrica, propondo á sociedade pensar nas condições oferecidas para a igualdade humana. Com críticas ao desenvolvimento da indústria a escritora propõe pensar que a exploração do homem pelo homem é uma criação social. Pois, aponta para a naturalização, estabelecida na sociedade das hierarquias sociais. A sociedade como um todo deve refletir sobre a condição de exploração do operário. Remete a natureza como condição favorável a todos os seres. Desse modo, a escritora nega qualquer condição de exploração e domínio, propondo pensar na idéia de igualdade sem superiores.

Oh não camaradas, povo trabalhador, espezinhado e sofredor, ponderae, reflecti sobre essas palavras: nenhum homem é superior a outro homem. Ao nascer, somos todos iguais! Ao morrer somos defeitos pelos vermes – na transformação da vida embora! (CERRUTI, 1927, p.01).

Além do posicionamento de Isabel Cerruti, há a contribuição de um artigo sem assinatura cujo titulo é “Fala a mulher proletária”, expressa um pensamento de libertação do indivíduo das opressões sociais. Tenciona questões relativas à condição passiva da sociedade para as condições exaustivas da vida operária. A contribuição deste artigo está situada no despertar do operário para a luta contra a opressão. Uma libertação da condição de escravo dos maus tratos. Esse é um despertar presente no artigo, propor a emancipação do operário. “Quando soar o clarim da Revolução Social, reunamos nossas energias em defesa da liberdade, e teremos, assim, cumprido um dever sagrado pelo amor da humanidade escravisada!” (SILVA, 1934, p.03).

Sufrágio universal

A mulher desde muito tempo esteve em busca de sua emancipação visando à conquista dos direitos políticos e sociais. É importante mencionar o contexto dessa discussão sobre o voto feminino que estava em pauta em 1932, ano do voto para mulher. Neste contexto o voto feminino foi um tema debatido. A conseqüência seria o questionamento em relação ao papel do voto se teria realmente um significado importante para a mulher ou estaria a serviços de interesses particulares. Nessa discussão apresento análise de um artigo sem assinatura de título o “voto feminino” e percebi que são colocados problemas relacionados ao preconceito da mulher exercer o voto. No primeiro momento o escritor expõe sua idéia de modo moralista e cômico, ao pensar nas conseqüências desgastantes para a figura feminina quando o candidato vai pedir-lhe o voto. Neste contexto o artigo acena para o constrangimento do marido ao ver um homem saindo da sua casa. Assim, Apresenta o voto como um pedido galanteador do candidato, causando constrangimento ao marido. Sua intenção é atribuir ao voto um papel banal, que não condizia à emancipação social feminina. O sufrágio não seria uma conquista social, pois, estaria vinculado aos interesses políticos que a mulher ajudaria a propagar com seu voto. Para o escritor o voto feminino seria obra da farsa burguesia, usando a mulher para propagar essas condições.

Até que fim. O desejo de algumas feministas mais irrequietas, viu-se tornado lei extensiva a todas as brasileiras de maioridade. Não sei a extensão e o acolhimento que a inovação encontraria nos arrais femininos. Mas, as senhoras, o que conseguiriam, certamente, foi massadas, dores de cabeça, aborrecimentos equívocos; enfim, lenha p’ra se queimarem, como se costuma dizer (O VOTO, 1933, p.02).

Nos artigos de Maria Lacerda de Moura são apresentados fatores relevantes sobre o direito do voto feminino. Sua posição crítica em relação ao voto sugeriu questionamentos a serem analisados. Seu questionamento está relacionado a despertar a mulher para pensar que o voto não é uma conquista social. Pois, trata-se de uma conquista para outros interesses, e não o de contribuir com a libertação social. A luta feminina, segundo a escritora, está muito mais além do sufrágio. Essa conquista não transmite a verdadeira emancipação da mulher. Essa é uma questão posta nesse artigo, pois a intenção é problematizar se esse direito será importante para a emancipação feminina. Apresentando as condições subalternas da mulher na sociedade, propondo uma reflexão nesse sentido. Para a autora o sufrágio deve ser analisado pela sociedade. Propondo pensar nessa conquista como uma expressão de interesses particulares. A escritora argumenta na intenção de despertar a figura feminina a pensar nos interesses dessa conquista.

E a mulher não percebe a silada e se alista nas fileiras dos reacionários de todos os séculos. E vai votar, quando a representação parlamentar é circo de cavalinhos e o sufrágio universal, uma mentira (MOURA, 1933, p.04).

Virgindade

O tema referente à sexualidade no geral remete a questionamentos e preconceitos. Devido ao fato do período em questão, está pautado num momento conservador, autoritário e patriarcal. Essa temática causou polêmica na sociedade, pois estava sendo abordado por homens e mulheres. Uma época marcada pelo catolicismo extremado, e em contrapartida surgia o pensamento anarquista com uma visão contraria as concepções repressivas da sociedade. Para a discussão desse tema apresento a posição de Campos de Carvalho, com um vasto conhecimento da fisiologia humana. No artigo o escritor busca através dos conhecimentos da anatomia humana explicar o sentido do rompimento do hímen. Muitas vezes o hímen não existe na mulher. O escritor faz uma contextualização histórica sobre questões culturais em relação à virgindade. Campos de Carvalho apresenta questões para uma reflexão em relação ao papel da virgindade na sociedade. Primeiro a definição anatômica que aparece sem nenhum sentido social. Depois o papel moral que é atribuído ao aspecto da “Virgem”.

Um artigo que merece atenção com idéias ricas e um pensamento intenso sistemático. O escritor cita Pierre Vachet no seu livro “Conhecimento da Vida Sexual”. Com essa base teórica, o escritor problematiza a questão da importância da virgindade na sociedade. A intenção parte de explicar a partir da anatomia humana que a virgindade é uma questão de importância social, cultural e religiosa. Demonstra também como os homens reduzem a mulher a uma perspectiva econômica. A virgindade passa a ser um trunfo a ser comercializado pelos maridos.  São muitos os preconceitos em relação ao assunto. Principalmente se tratando de leitores de um momento crucial como 1934. Um momento em que em a sociedade brasileira estavam pautados no preconceito, baseados no conservadorismo católico. Esses dogmas atribuíam à virgindade um reflexo de pureza.

- o hímen não póde ter nenhum valor moral, porque é uma membrana extremamente variável e que, ás vezes mesmo, não existe. Quando existe essa membrana vaginal, ela póde tomar os mais diversos aspectos: - é semi-lunar, tem a fórma de um anel, apresenta a fórma de ferradura, é labial, etc. Algumas vezes, o hymen não existe. Não poucas vezes foi constatada por cientistas a ausência da malsinada membrana, em recém-nascidas que, certamente, não haviam tido relações sexuais com qualquer homem. (CARVALHO, 1934, p.02).

Prostituição

O tema prostituição foi um tema marcante no início do século XX. O jornal “A Plebe” mostra alguns artigos de escritores que abordam essa temática com suas particularidades. A prostituição causa grande impacto social, e merece ser discutido. Pretendo dialogar neste momento e apresentar as posições mais marcantes para o jornal. Para uma apresentação concisa desse tema enfatizo o pensamento de Walter com o artigo o “Fenômeno da Prostituição”. Seu pensamento se estrutura numa crítica em relação ao posicionamento das pessoas com a questão da prostituição. Esse mal de acordo com o pensamento do escritor é fruto da sociedade, esse aspecto deve ser pensado. A intenção do escritor neste artigo é mostrar ao leitor como a prostituição é um fenômeno econômico. A mulher neste contexto é apresentada como a vítima do contexto social excessivamente econômico. São fatores que a própria sociedade sofre e que precisa compreender, segundo o escritor, o fenômeno da prostituição como um mal social. Não pode então ser atribuído ou confundido como libertinagem feminina ou preguiça, mas está mais relacionada à necessidade. O que deve ser refletido pela sociedade antes de acusar a mulher. 

O autor menciona a mulher operária na prostituição por acreditar num meio mais acessível para melhorar de vida. Chama a atenção do leitor para esse fato de que a prostituição só é procurada pelas mulheres que sofrem e possuem vida humilde. Outro fato importante é da proposta do escritor em mostrar como alguns escritores tentam camuflar o verdadeiro sentido da prostituição. Esses escritores tentam defender o regime querendo dar sentido a causa da prostituição. De modo preconceituoso os cientistas a serviço da elite construíam essas idéias. Muitos desses atribuem tal comportamento ao aspecto biológico ou a preguiça e a incapacidade de trabalhar. A mulher vítima da opressão social e econômica.

Só dando a mulher de hoje meios mais fáceis de ganhar o seu pão honestamente, é que a sociedade pode evitar que ela pareça na lama dos lupanares. Só numa sociedade em que, economicamente livre, a mulher, se ache em tudo igualada ao homem, é que prostituição será realmente sinônimo de imoralidade (WALTER, 1935, p.02).

Greve

Um tema que deve ser apresentado neste contexto de críticas e adversidades é o da greve. Os artigos enfatizam a participação feminina de modo ativo nas greves e nas reivindicações. Os artigos selecionados apresentam uma posição á favor da classe operária, tendo como objetivo principal incentivar os movimentos grevistas. A posição de Isabel Cerruti neste momento de repressão em que o Brasil está situado no nacionalismo extremado. Sua crítica está pautada na função da força militar em reprimir o movimento grevista. Dando ênfase à importância do movimento operário, por fazerem parte de uma grande camada de pessoas e que podem impor as más condições sociais de vida. Propondo despertar o operário para a luta política, na busca de melhores condições de vida. Nesse sentido menciona a função do soldado, como humilhante por fazer parte das representações das elites dominantes.

Em face dos acontecimentos há pouco desenrolados, senti um mixto de indignação e piedade. De indignação, principalmente, pela maneira despótica com que aqueles que entendem ser os senhores do mundo tentaram suffocar o movimento de justiça em que se lançaram os operários (CERRUTI, 1927, p.01).

Amor

Este tema que deve ser mencionado por ter um momento específico no vários artigos analisados, tanto os assinados por homens como os assinados por mulheres e também os sem assinatura. Os artigos femininos possuem um posicionamento que demonstra uma concepção nobre e sensível sobre o amor. Já os artigos masculinos apresentam uma perspectiva na qual o amor faz parte da natureza do indivíduo. Os posicionamentos desses escritores divergem em alguns momentos. Entre as escritoras que abordam a temática estão: Isabel Cerruti, Matilde Soares e Maria Lacerda de Moura. A concepção de amor para essas mulheres está fundamentada na importância da condição humana. De acordo com as palavras de Maria Lacerda de Moura, em resumo sua visão expressa a plenitude do amor para os seres.

Conhecer-me. Realizar-me. Resistir ao mal com o bem. Não cooperar com a civilização da ciência sem consciência. Renascer de mim mesma através do “individualismo da vontade de Harmonia”. Para aprender a amar. Por que: Só para amar foi feita a Vida. (MOURA, 1933, p. 02).

Um artigo com o qual pretendo dialogar neste momento é com o de Matilde Soares. A escritora possui um pensamento contundente e de grande contribuição à imprensa operária anarquista.  Sua perspectiva está fundamentada na crítica ao serviço militar que afeta a condição humana. O nacionalismo excessivo como é apresentado no artigo afeta a real condição da existência humana. A expressão mais importante do amor está na concepção humana de valorização da vida. E amar ao próximo é um ato que está acima das expectativas do patriotismo do estado. Segundo a escritora, o amor é a mais sublime condição da vida do homem. De acordo com essas idéias cito uma passagem do artigo de Matilde Soares, que define sua participação na imprensa operária.

Nunca supusera que aquela boquinha que lhe sugara o seio iria entoar hinos patrióticos, de ódio e vingança: aquela carninhas rosadas que afagara com tanto amor, iriam servir de pasto ao canhão; aquelas mãozinhas carinhosas iriam empunhar armas assassinas...Que devia á pátria para dar-lhe a vida? Não seria mais nobre e patriótica amando seus irmãos do que assassinando-os. (SOARES, 1933, p. 01).

            Já os artigos masculinos assinados por: Pinho, Noedul e Ângelo Vizzotto, apresentaram a condição humana relacionada ao amor. Um artigo com o qual devo de dialogar é o de Adelino de Pinho cujo pensamento refere-se à mulher como ser que deve ser apreciado pelo amor e não está a serviço das instituições sociais. Sua posição está pautada na elevação feminina em relação ao amor. A mulher aparece no seu artigo como um ser frágil e que a sua existência deve esta voltada para aspectos da afetividade. A mulher como um símbolo do mais elevado sentido do amor, sua condição é a de amar.

A mulher só deve sentar praça no batalhão do amor ao ser ferido pela flecha do cupido. Pois há mulheres e, pelo visto também homens, que querem trocar esta missão de amor, de bondade e de benegnidade pelo gládio de marte e transformar as flores da vida, em junos carrancudas ferozes que só cheiram e respiram sangue e pólvora (PINHO, 1933, p. 03).   

Dando continuidade ao diálogo sobre o amor, faço menção de modo particular ao amor livre. Esse tema teve um espaço característico nas discussões dos escritores. Falar de amor livre requer questionamentos, pois, trata-se de uma temática que causou impacto, pensando então no início do século XX, num contexto bastante adverso. Uma sociedade pautada no autoritarismo, onde a mulher aparece como própria do lar, presa às regalias do homem, detida aos prazeres do marido, sua posição tida como reduzida à família. Uma sociedade conservadora autoritária e repleta de preconceitos. A mulher então passiva a todos esses fatos depende financeiramente do homem. São essas e outras condições que os artigos debatem no jornal analisado.

A principio apresento o posicionamento de Isabel Cerruti em relação ao amor livre. Esse tema foi proposto à escritora que apresenta a questão econômica como fator principal neste debate. Seu posicionamento está pautado na idéia de que primeiro emancipar-se economicamente para depois pensar em amor livre. É preciso a conquista financeira para depois poder experimentar novas concepções do amor. Segundo a escritora não há possibilidade de viver um Amor livre, quando essa está “algemada” a uma sociedade que busca a sobrevivência. Segundo Isabel Cerruti, primeiro a mulher deve conquistar a independência econômica, para depois pensar na sua liberdade.

Por isso, deixemo-nos de utopia, senhores, vamos, antes á conquista do pão para a igualdade econômica de todos os seres. Só então, depois disso, a mulher poderá amar livremente, quando e como o queria, estabelecendo a exaltação da moral, para a sublime do amor, grandeza do gênero humano e efetivação da felicidade: cria das vidas humanas e inspirando a perfeição e a beleza da vida (CERRUTI, 1934, p.03).

Os diálogos dos artigos assinados por homens divergem apresentando suas particularidades. A visão de Lucas Másculo está fundamentada na crítica em relação ao sentido do amor livre no artigo de Isabel Cerruti e Amílcar. Apresento o pensamento do escritor Lucas Másculo constitui como numa crítica a imagem da mulher, interpretada por ele, como uma figura frágil às tentações e aos D’ Juans da vida. Desse modo, acredita que a condição do amor livre afeta o comportamento da mulher causando prejuízo acarretando males a sociedade.  Já a posição de Amílcar é combater os depoimentos críticos feitos por Lucas Másculo a seu artigo. Ao apoiar o amor livre Amílca define os seres humanos como livres. Coloca-se como mal interpretado. Ao falar de Amor livre o escritor chama a atenção para algo que não está associado à libertinagem ou prostituição. Mas, que a mulher deve ser libertada de uma sociedade autoritária e conservadora. Para ele a mulher que s liberta economicamente deve viver um amor livre. A idéia do escritor está fundamentada na seguinte perspectiva:

Camarada Lucas, eu também tenho filhas. Entendo que maior desgraça que pode acontecer a uma mulher, é vender-se, por dinheiro ou por casamento. Por isto é que idealiso as mulheres educadas, fortes e que trabalhem, para não precisarem dos pais nem dos maridos, para assim poderem ser livres (AMILCAR, 1934, p.02).

Definição anarquista

A definição de um anarquista esteve presente nas diversas temáticas abordadas. Os temas com os quais estabelecem relações sobre a definição do anarquista são: amor livre, condição da mulher operária, prostituição, virgindade direito a vida, militarismo, determinismo econômico, religião e entre outros. Os artigos ao se deterem nestas temáticas tomavam posição de anarquista. Para melhor situar o debate cito Isabel Cerruti com um pensamento significativo em contribuição ao jornal operário.  Nas suas discussões Amor livre, vida, economia, religião, sociedade, política, e entre outros. Sua posição é de grande expressão de uma vida anárquica. Tida na condição de mulher que muito contribuiu para o pensamento operário suas idéias são apresentadas de modo voraz e inquietante.

A ênfase nesse momento da temática em questão está no seu artigo “Direito á vida” que vai defender a luta pela vida, apresentando a função do anarquista neste contexto social. Nesta constante luta pela vida a escritora define as concepções de existência humana segundo um anarquista. Nesse sentido faz críticas em relação a condição de vida exaustiva humana. Menciona o trabalho nas fábricas como uma construção social que vem sendo naturalizado pela sociedade. A posição de um anarquista está fundamentada no direito de igualdade entre os seres, o direito a vida, liberdade, a um contexto sem soberanos. Umas das finalidades almejadas pelos anarquistas seria impulso a luta social. Encerro a contribuição feminina da escritora com as seguintes palavras do seu artigo. “Pão e amor para todos! São as finalidades soberbas do ideal anarchista. Avante povo trabalhador, espezinhado e soffredor! Avante para a anarchia!” (CERRUTI, 1927, p.03).

  Dando contribuição a esse diálogo faço referência aos artigos sem assinaturas. Esses também possuem um posicionamento de grande significância. Os temas dos artigos sem assinaturas são diversificados. Apresentam denúncias das opressões sociais na intenção de deslocar os indivíduos. São abordadas questões relacionadas aos operários que só produzem e não usufrui desse trabalho. Além de mencionar o clero como um dos fatos de opressão da vida social.  Neste contexto com o qual o artigo pretende dialogar. Trata-se de um artigo com uma perspectiva política de grande contribuição ao pensamento operário e anarquista. Desse modo, cito a posição de um anarquista, nesse processo de conflitos sociais e humanos. O posicionamento do artigo é definir um momento de expressão de um anarquista fervoroso que denúncia os problemas da sociedade. A intenção é chamar o leitor a compreender os problemas da sociedade vigente com uma posição essencialmente anarquista.

E’ seriamente sensibilizada que lhes escrevo, sem siquer me dirigir a determinada pessoa. Para que? Os anarquistas não distingue indivíduos. Falam ao povo, falam para quem os quiser ouvir... Falam sem receio, porque exalam, nas suas expressões, honestidade leal e simples e porque sentem em seu peito amor aos semelhantes, nessa demonstração pura do bem estar para todas, sem egoísmo.O anarquista proclama a solidariedade, a paz, a felicidade. E é como anarquista que falo: falo a todos (UMA, 1934, p. 01).

Ainda nesta temática apresento a contribuição do pensamento social de mais um anarquista. Cito a contribuição de Amílcar com seu artigo que trata da condição feminina. O tema em questão foi amor livre, como foi mencionado anteriormente com essa discussão o escritor marca sua posição libertária. Seu propósito está situado numa vida anárquica, mesmo estando postos a uma vida onde o capitalismo reina. Um outro artigo que deve ser mencionado, pois aborda uma visão de grande relevância é o de Celestino Lall. Seu pensamento está estruturado na intenção de expor aspectos negativos que tornam a mulher submissa na sociedade. Cita os principais entraves para a emancipação feminina, e apresenta sua posição de anarquista. Entre esses entraves está a igreja, a educação, o preconceito, conservadorismo, a economia e entre outros. É neste momento que o escritor fala da concepção sobre anarquista propondo pesar num despertar da sociedade. A fim de contribuírem com a emancipação da mulher. Nesse sentido define-se nas seguintes palavras:

Cabe a nós anarquistas amantes da liberdade e da justiça reabilitar a mulher tão oprimida pelas leis tirânicas e pela sociedade perversa. Ergamos, pois, a mulher ao mesmo nível social intelectual e moral do homem livre. Consideremo-la, não como automática procreadora de filhos, nem como instrumento de passatempo e apetites sensuais; não como escrava submissa dentro e fóra de casa, mas como, nossa companheira, com iguais direitos e deveres iguais (LALL, 1935, p.03).

Igualdade e Desigualdade

As concepções sobre igualdade entre os seres expressa pensamentos diversos. Cada escritor vai expor sua visão em relação ao tema. Essas concepções estão fundamentadas em vários pensamentos que tem como ponto chave expor as concepções de igualdade sendo social ou de gênero. Entre os escritores que tratam desse assunto cito: Isabel Cerruti, Maria Beijo, Carmem Silva e entre outras. Todas as mulheres citadas possuem um pensamento forte e combativo. Em relação aos questionamentos e embates a mulher tem uma participação especial no combate aos problemas sociais. O pensamento de Isabel Cerruti é inquietável. Sua visão forma uma explosão de indignação. Faz duras críticas a quem não compreende a concepção de igualdade. Pois para escritora a igualdade que almeja não é a economia. Mas a igualdade do direito de trabalhar e poder usufruir do trabalho. Sua posição é tentar despertar a sociedade para pensar que se deve lutar pela igualdade que é um problema social. A sua idéia no artigo é problematizar a naturalização que se faz da miséria.

Porque o que nos pregamos e queremos que de pronto se estabeleça entre os homens, não é a igualdade econômica, entenda-se bem. A igualdade no direito de trabalhar e no direito de usufruir o produto do trabalho. A igualdade de consumir, de comer, de viver (...) Iguais na necessidade de comer, igual na necessidade de viver, essas são as igualdades que nós os “indisciplinados” preconizamos e nos esforçamos por estabelecer entre os homens, mal grado todos os óbices e sofismas com que queriam usurpar a verdade (CERRUTI, 1933, p. 05).         

Dando continuidade, apresento o posicionamento dos escritores em relação à desigualdade social e de gênero. São artigos que apresentam contrariedades de pensamentos. Numa linha de raciocínio que apresenta aspectos importantes sobre desigualdade social. Cito Isabel Cerruti, que define a desigualdade como um aspecto ligado aos problemas econômicos. São fatores que afetam a sociedade e propagam a desigualdade social. Desse modo, a Isabel Cerruti distingue sua visão em relação a conseqüente desigualdade social. Ao colocar fatos que ocorrem e que acirram a desigualdade entre os seres. Seus pensamentos estão fundamentados nas seguintes idéias:

E isso – note bem s. ver – não se dá só aqui no Brasil, mas em todo universo. Os acontecimentos ahi estão para attestar; - guerra, peste e fome, - E’ chegando o fim do mundo ... “em que se pregam absurdos contra a ordem natural das coisas... e da riqueza social que está dividida de fórma a produzir a desigualdade de bens entre os homens que correm para o trabalho, e os que gostam nas... tavernas (CERRUTI, 1917, p.02).

Religião e o papel da Igreja

O papel da igreja nos fins do século XIX e início do XX foram marcantes para a constituição da sociedade brasileira. A educação religiosa causou inúmeros conflitos sociais para a sociedade. Principalmente para a mulher numa condição submissa por preconceitos impostos pela sociedade. Os operários foram vítimas da educação religiosa que os orientavam a obediência. Foram séculos de escravização do homem junto à igreja. Nos artigos femininos a religião serve como a propagação de uma doutrina de submissão.

Os operários estão sujeitos às imposições dos soberanos. E o papel da igreja é o de reforçar essa condição de submissão. Tudo em nome da religião, até a destruição do próximo. Um artigo com o qual apresento seu pensamento, cujo título “O fascismo, filho dileto da igreja e do capital” de Maria Lacerda de Moura. Seu pensamento está constituído numa crítica ao papel da religião. Não só a mulher exercendo um papel de intermédio. A submissão da mulher é um fato de interesse da igreja. Como pode ser mencionado o cristianismo que prevalecia neste período em debate.  A relação entre a igreja e o capital são temas discutidos e propalados em diversas fontes de comunicação da época.

A ofensiva do cléro é, pois, motivada pelo tropél do caminhar do genero humano, num ciclo de evolução em que, na arena social se postam dois exércitos – para a Cruzada definitiva entre o principio de Autoridade e o direito humano á Liberdade. Em todos os tempos – psicólogos astutos e vorazes, a sua arma foi a mulher e a escola (MOURA, 1934, p. 07).

O artigo sem assinatura deve ser mencionado por apresentar um pensamento importante sobre a temática. Trata-se de um artigo que faz críticas a posição feminina junto à igreja, cujo título “Paradoxos Femininos (Pela Emancipação da mulher)”. A função desse artigo é expor problemas em que a mulher enfrentados na sociedade. A figura da mulher é atribuída os retrocessos da vida sociais da vida humana. De acordo com o artigo percebe a visão de um despertar da mulher para tais condições na sociedade.

Quem mantém de pé os templos, as igrejas, as capelas? – A mulher. Quem fornece dinheiro aos padres de qualquer hierarquia para que os mesmos se mantenham e sustentem e desenvolvam a obra de fanatismo, de catequização e de embrutecimento humano? – A mulher. Quem manda os filhos, as crianças aos templos e as escolas religiosas para que estes, iludidos pelas doutrinas bíblicas e pelas mentiras sacerdotais, nunca mais se libertem dessas crenças estultas e ajudem a manter de pé está sociedade mentirosa e exploradora? – A mulher (PARADOXOS, 1933, p.01).

Outro artigo assinado por um homem que expõe a figura da mulher em relação ao seu vinculo com a igreja. Que neste contexto cita o papel da igreja na idéia de incutir valores de submissão à mulher. O artigo de Celestino Lall apresenta a opressão de vida imposta à mulher que desde muitos séculos sofre com a opressão social. Neste contexto cita o papel da igreja na submissão feminina. Veja como o escritor se coloca ao falar do papel da igreja na vida feminina:

A igreja decretou a sua inferioridade, estigmatizando-a como mãe, ao estabelecer a virgindade como estado superior por excelência, fazendo-a descer ao nível dos animais irracionais quando, no concilio de Macon, lhe negava alma. Por três votos, a mulher não foi excluída do nível dos seres dotados de capacidade de raciocínio (LALL, 1935, p.03).

O Militarismo

O serviço militar no início do século XX foi um tema debatido no meio operário. O serviço militar obrigatório para o homem já estava declarado. A discussão neste momento era o serviço obrigatório para a mulher. A intenção de implantar essa lei para a mulher causou conflitos e embates. Entre os nomes deste debate cito: Isabel Cerruti, Carmem Silva, Matilde Soares, Pinho, entre outros. O serviço militar obrigatório para a mulher é alvo de críticas e de discussões. os artigos femininos deixam transparecer essa opinião. O artigo de Matilde Soares narra à condição de uma mãe ao ver seu filho ir para a guerra. Neste artigo são questionados valores como o nacionalismo acima da própria vida onde impera o ódio ao próximo. Sua crítica está pautada na destruição dos seres através das guerras em nome da pátria.

Oh ! Defender a pátria! Cumprir um dever! Eram palavras ôcas com que a corja de políticos sedentos de poder atiravam para a carnificina proletários honestos. E, ela, bem o sabia; se no entanto, cruzasse os braços, deixaria ir o seu filho como orelha mansa para o matadouro. Não! Nunca! (SOARES, 1933, p. 01).

Já outro artigo que deve ser mencionado é o da escritora Isabel Cerruti ao lançar sua critica ao serviço militar. Fala de uma ciência a serviço da destruição humana, e ainda crítica o serviço militar obrigatório para a mulher. Apresenta a mulher como um ser incompatível com ao serviço militar. Acrescentando assim que o serviço militar deve ser negado também para o homem. Sua crítica se constitui em negar o militarismo para ambos os sexos. A mulher vista como símbolo de amor, criadora da vida e fora do militarismo. A figura feminina está associada à vida. Esse tipo de obrigação deve ser rejeitado pelo homem também.

Sendo assim, não é justo tanto sofrimento para julgar a mulher incompatível com o serviço militar. O militarismo deve ser reprovado para a mulher, mas de igual para igual modo deve ser reprovado para o homem. Não concordamos com a exclusividade egoísta de sentir o horror do militarismo para a mulher mantendo o intangível para o homem (CERRUTI, 1934, p. 03).

Por fim neste debate cito o pensamento de Pinho que faz uma apologia ao artigo de Maria Lacerda de MouraServiço Obrigatório Para Mulher? Recuso-me! Denuncio!”. Neste texto Maria Lacerda de Moura, expõe criticas a participação feminina no serviço militar. Seu pensamento atribui ao militarismo, à ciência aspectos reducionistas para a condição humana. Devido a isso apresenta uma total recusa a participação feminina ao serviço militar. Assim, Pinho faz referencia ao seu pensamento ratificando a posição da escritora Maria Lacerda de Moura. Pinho apresenta ao leitor do jornal “A Plebe”, sua leitura de Maria Lacerda de Moura apontando a importância do seu pensamento para a sociedade.

A Editorial < A Sementeira > iniciou a sua atividade com o presente trabalho de D. Maria Lacerda de Moura, escritora como resposta e protesto contra aqueles que querem obrigar as mulheres a inscreverem se como soldados e a prestar serviços grátis ao estado. Tem razão a ilustre aurora. Para obra de morte e de abominio, a que os homens exercem já chega e sobra. A lembrança das mulheres sentarem praça só ao diabo ou a espíritos cerebrinos e em vilegiatura de paradoxos poderia lembrar. A mulher só deve sentar praça no batalhão do amor ao ser ferida pela seta de cupido (PINHO, 1933, p.01).  

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A imprensa operária no início do século XX exerceu um importante papel na sociedade. No Brasil em meio a tantos outros o jornal A Plebe foi talvez jornal operário anarquista que mais contribuiu e atuou entre (1917-1950). Este jornal deixou grande contribuição ao movimento operário. O estudo desse jornal foi importante por ter apresentado os conflitos e embates sociais da época. Analisar um jornal não é tarefa fácil, principalmente num período de autoritarismo como foi o inicio do século XX no Brasil. Nesse momento eram adotadas medidas de repressão aos meios de comunicação que estivessem contra a política vigente. Devido a isso, os jornais anarquistas eram fechados e as pessoas que faziam parte deles eram perseguidos presos e até deportados. Por isso propagar um pensamento divergente da época não era tarefa fácil.

O pensamento anarquista presente nas discussões dos artigos teve grande participação e contribuição no desenvolvimento do movimento operário. A expressão maior dos anarquistas estava sendo propagada em escolas, conferências, livros, na imprensa entre outros A escolha do Jornal A Plebe, foi devido a sua importância no período em questão. Como já havíamos mencionados foram analisados vinte e sete artigos femininos, dez masculinos e onze indefinidos (pseudônimos). Abordamos a participação feminina na imprensa através dos temas das assinaturas e das contribuições que tinham como objetivo final a discussão sobre a mulher.

Estudar um período como esse no Brasil nos dispõe um vasto conhecimento acerca de uma contribuição para os debates sobre gênero e para as ciências humanas de modo geral. Em particular focalizamos a contribuição feminina e as suas particularidades temáticas. A mulher neste momento tinha como referência a submissão e a vida domestica. Com a difusão da industrialização a mulher ocuparia um outro espaço que seria o da fábrica e conseqüentemente seria esta agora operária. A importância deste estudo está situada na significativa contribuição da figura feminina num ambiente sócio político de hostilidades, repressões e limitações como foi o Brasil no início do século XX.  Mesmo diante dessas dificuldades foi possível perceber a vasta contribuição deixada por mulheres anarquistas na constituição do pensamento da sociedade brasileira.

Sobre a construção do pensamento feminino encontramos a participação dos artigos de Isabel Cerruti, Matilde Soares, Carmem Silva, Isabel Silva, Ondina Fernandes, Maria Beijo, e Maria Lacerda de Moura. Dos artigos assinados por homens com a temática sobre a figura feminina vimos: Pedro Motta Lucas Másculo, Walter, Pedro Motta, Pinho, Campos de Carvalho, Miguel Castellano, Celestino Lall entre outros. Ainda os artigos sem assinatura. Todos os artigos apresentados abordam temas fortes e chocantes que causavam impactos no modo como eram abordados.

Os autores também operários apresentaram um diálogo com as principais correntes da época como o catolicismo, conservadorismo e autoritarismo da política institucional. O diálogo desses escritores com essas correntes estava presente nas principais críticas ao nacionalismo, a religião e a própria sociedade. de um modo geral denunciavam os males da sociedade. Esses libertários tentava deslocar o leitor para a perceber as dificuldades da sua condição de existência na sociedade e no trabalho. Propondo, nesse sentido, despertar a sociedade para uma luta contra os ditames de uma política autoritária.

Os artigos assinados por homens que tinham como tema a figura feminina apontaram os principais problemas enfrentados pela mesma na época. Eram problemas relacionados a emancipação feminina, a maternidade, a virgindade, ao serviço militar para a mulher, ao voto, a prostituição, o amor livre, a igreja, a economia entre outros. Os artigos tratavam de uma reflexão em relação a contribuição da mulher para o progresso da humanidade. Com esse argumento, os escritores apresentavam a necessidade e a urgência em libertar a mulher dos entraves impostos pela sociedade. A emancipação feminina seria um fato para toda a sociedade. Pedro Motta demonstra a importância da libertação feminina. Outro aspecto que deve ser mencionado ainda neste artigo é a necessidade de uma libertação do gênero humano. Uma libertação que pudesse alcançar não apenas as mulheres, mas também os homens de seus preconceitos.

Os artigos sem assinatura apresentaram indignação e possuíam um posicionamento divergente dos demais artigos assinados por mulheres e homens. A diferença percebida estaria no modo como esses escritores sem identificação atavam os segmentos autoritários da sociedade. Dos artigos analisados que não possuiam assinaturas cito Paradoxos Femininos (Pela Emancipação Feminina). Esse artigo fez uma forte crítica a mulher a serviço a igreja, com um tom de provocar a mulher a perceber os principais problemas enfrentados pela mesma na sociedade. A intenção do escritor era deslocar as mentalidades a fim de despertá-la para a emancipação.

Já os artigos assinados por mulheres apresentaram uma preocupação com os problemas que afetava a sociedade de um modo geral, propondo um pensamento que pudesse alcançar todo o gênero humano. Não delimitando seu pensamento apenas a conquistas femininas, mas apresentando discussões sobre o papel do homem na sociedade. O posicionamento das escritoras operárias oferece um debate com os principais temas relacionados a mulher na sociedade vigente. Então, temas como o sufrágio universal, amor livre, serviço militar obrigatório para mulher, a condição da mulher operária, educação, religião, guerra, ciência, higiene, anatomia eram alguns dos debates das escritoras. Uma escritora bastante mencionada foi Isabel Cerruti, suas colocações apresentam uma visão humanista envolvendo o homem e a mulher. Em seu artigo sobre o serviço militar feminino expressou um posicionamento de negação a participação do homem e da mulher neste serviço, assim como Maria Lacerda de Moura também recusou.

O pensamento expresso nos artigos demonstra que os escritores estavam atentos para as questões sociais da época. De um modo geral, os principais temas abordados nos artigos foram a condição da mulher operária, o cotidiano dos operários nas fábricas, a emancipação feminina, greve, a mulher, a virgindade, a maternidade, a prostituição, o amor livre, o sufrágio, a igreja, a religião, a família, o nacionalismo, a natureza, a guerra, a ciência, as injustiças sociais.

Neste embates os artigos apresentaram um diálogo com os diversos campos de saberes como: anatomia, biologia, economia, sociologia, pedagogia, antropologia, história. Como exemplo citamos Isabel Cerruti por fornecer um vasto conhecimento político e social nos seus artigos. Ainda o pensamento de Campos de Carvalho com sua contribuição sobre a virgindade feminina e seus efeitos na sociedade, partindo de elementos como a anatomia humana para explicar o valor nulo do hímen. Desse modo, os escritores apresentaram um caldeamento de fatos que inter-relacionados aos fatos presentes na época causavam questionamentos na época.

Os escritores centravam suas críticas nas instituições que aprisionavam a mulher: a igreja, a família o Estado e o próprio homem. Nessas críticas encontram-se subsídios para situar os principais preconceitos sobre a mulher. Elementos como a maternidade, a fragilidade genética, o voto, são algumas das discussões que excluem o papel da mulher. O posicionamento feminino aparece com um ideal humanitário na intenção de igualar homem e mulher. A idéia é colocar a mulher e o homem como seres humanos, independente do gênero. Esse seria o tipo de feminismo posto nos artigos das escritoras.

O jornal A Plebe apresentou um diferencial por ser uma imprensa composta de modo coletivo.   A participação dos operários ao apresentar seus ideais e ainda fazerem parte da construção do jornal como um todo apresenta a peculiaridade dessa imprensa. Pensando na definição do jornal contemporâneo feita por Maurice Mouillaud (PORTO, 2002), ao apresentar da forma ao sentido do conteúdo expresso na imprensa. Pude perceber aspectos relevantes no jornal operário analisado como a data do acontecimento. Pois, trata-se de um jornal que marca uma visão histórica sem excluir o fato passado. É como se fosse encadeando os fatos para expressar um pensamento. Um outro aspecto é que se trata de um jornal no qual a coletividade poderia dialogar com os fatos ocorridos na sociedade. Ao pensar nessas especificidades encontradas no jornal operário, menciono a importante contribuição desses pensamentos para a formação da sociedade brasileira.

Sem me perder da abordagem sobre a participação feminina, é evidente a contribuição da mulher na imprensa operária. Sendo ela intelectual, operária, mãe ou filha apresentou um pensamento inquietante e forte para a época. Sua participação se configurou numa constante denúncia aos ditames da época. Estando nesse sentido contra os laços tradicionais de um período autoritário e patriarcal. A imprensa operária esteve marcada pela contribuição da figura feminina. No momento culminante de efervescência em que a mulher estava buscando sua emancipação.

 Com esse estudo apresentado sobre a contribuição da reflexão feminina em relação ao seu contexto de vida, acreditamos poder contribuir com outras pesquisas preocupadas com as questões femininas e suas contribuições a uma época no Brasil. Tendo como fundamental preocupação a participação feminina junto à imprensa operária e à sociedade. O contexto social de repressão vivido pela mulher demonstra sua resistência e preocupação com as questões que ainda hoje fazem parte da condição social da mulher na sociedade.

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