A MULHER NO TRÁFICO DE DROGAS: DESMITIFICAÇÃO DO PAPEL DE VÍTIMA...

Por Fernanda Silva Santos | 03/04/2013 | Sociedade

UFRB - UNIVERSIDADE DO RECÔNCAVO DA BAHIA

Centro de Ciências da Saúde – CCS

BACHARELADO EM PSICOLOGIA 

A MULHER NO TRÁFICO DE DROGAS: DESMITIFICAÇÃO DO PAPEL DE VÍTIMA DA FIGURA FEMININA NO SUBMUNDO DO CRIME 

SANTO ANTÔNIO DE JESUS - BA

Julho 2011

CAROLINA DE ANDRADE

CAROLINA LOPES

FERNANDA SILVA

FLÁVIA VITÓRIA

RAFAEL MAGALHÃES

A MULHER NO TRÁFICO DE DROGAS: DESMITIFICAÇÃO DO PAPEL DE VÍTIMA DA FIGURA FEMININA NO SUBMUNDO DO CRIME 

Projeto solicitado e apresentado a disciplina de Antropologia do Curso de Graduação em Psicologia, 1º semestre do Centro de Ciências da Saúde – CCS da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB, orientado pela docente Osmundo Pinho. 

SANTO ANTÔNIO DE JESUS - BA

Julho 2011

A mulher no tráfico de drogas: desmistificação do papel de vítima da figura feminina no submundo do crime 

OBJETIVOS

  • Identificar os papéis femininos no tráfico de drogas e suas camuflagens no mundo do crime.
  • Apresentar os motivos sócio-históricos e culturais e ambientais que impulsionaram as mulheres a participarem do tráfico.
  • Analisar o posicionamento reverso da mulher na sociedade atual no tráfico. 

TEMA

As drogas são substâncias químicas, naturais ou sintéticas, que provocam alterações psíquicas e físicas a quem as consome e leva à dependência física e psicológica. Seu tráfico é considerado crime de acordo com a lei 11.343, de 23 de agosto de 2006, no capítulo II, art.33, que define como crime: importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor a venda, oferecer, fornecer, ter em deposito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. O tráfico de drogas sempre foi visto como uma atividade tipicamente masculina tendo em vista a associação da figura do homem ao tráfico de drogas. Porém, atualmente, há uma inserção da mulher, tida como sexo frágil, havendo uma desmistificação da vitimização da sua figura.

Considerando a importância e o significado do tema, a variável que comporta os conhecimentos requeridos e as dificuldades metodológicas envolvidas, o presente trabalho discorre sobre o papel da mulher, sua inserção, função e visibilidade no tráfico de drogas. Retratando suas atividades rotineiras, sendo chefe ou intermediária de tal crime e apresentando seu lado afetivo, feminista ou mesmo como necessidade financeira para o fato de fazerem parte deste mundo.

A idéia central tem relevância pessoal da equipe e utiliza como base para maiores pesquisas o artigo de Souza, K.J. (2008): A pouca visibilidade da mulher no tráfico de drogas e a dissertação de mestrado de Maria Juruena de Moura: Porta fechada, vida dilacerada – mulher, tráfico de drogas e prisão: estudo realizado no presídio feminino do Ceará.

METODOLOGIA

A pesquisa foi desenvolvida com base na discurssão teórico-conceitual, que procura expor a figura e o papel da mulher dentro do tráfico de drogas. Foi priorizada no trabalho a pesquisa bibliográfica, embasada em autores brasileiros, abrangendo o tema tráfico de drogas, a mulher e suas relações. Foram pesquisados e analisados artigos científicos no banco de dados do Scielo (Scientific Electronic Library Online/ www.scielo.br) e teses de conclusão de curso no Google Acadêmico (www.google.com), além de levantamentos de dados em vídeos no Youtube (www.youtube.com). Na estratégia de busca foram utilizadas as seguintes palavras-chave: mulher e tráfico de drogas. A partir dessas palavras-chaves foram encontradas duas teses e quatro artigos relacionados com o tema, sendo que apenas uma tese e um artigo foram selecionados para leitura prévia e embasamento teórico, já que as demais fontes tratavam a mulher como vítima da violência e não incluía sua participação na criminalidade. 

RESULTADOS

O tráfico de drogas converte-se não apenas na mais relevante atividade delituosa do crime organizado, mas também uma das suas principais fontes de rendimento, constituindo o segundo negócio mais rentável do mundo - ficando apenas atrás do tráfico de armas - o que gera lucros rápidos e riscos controlados para os seus autores.

Tradicionalmente o tráfico de drogas é visto na sociedade como uma atividade predominantemente masculina, o que torna os homens mais vulneráveis e expostos a fiscalização. Deste modo foi buscada uma alternativa para burlar essa estereotipagem inserindo a mulher nesse espaço, por não serem tão visíveis em relação à criminalidade.

Socialmente há um forte processo de vitimização da mulher tida como um ser deificado, imagem e semelhança de Maria, sendo educada para o âmbito privado (cuidando do lar e dos filhos), construído nos moldes da sociedade patriarcal. Tais características as rotulam como sexo frágil, incapazes de transgredir os padrões sociais e cometer atos violentos.  

Na virada do século XX, os teóricos atribuíam a violência feminina às influências dos estados fisiológicos pelos quais a mulher passaria na vida: a puberdade, a menstruação, a menopausa e o parto - ou seja, às influências relacionadas à sexualidade e à maternidade. (Soares & Ilgenfritz, 2002)

Sendo assim, os crimes caracterizados como femininos neste século eram: o infanticídio, o aborto e a prostituição. Quando no final do século XX e inicio do XXI os crimes saem do âmbito privado e partem para o público, perdendo a conotação de crimes relacionados à maternidade.

Entre 1988 e 1999/2000 a maior causa de aprisionamento de mulheres era devido ao tráfico de drogas (Soares e Ingefritz, 2002, pag. 90). Essa inserção feminina no mundo das atividades ilícitas pode ser relacionada a diversos fatores, como: influências de companheiros, desemprego ou baixos salários (comparado ao dos homens), dinheiro fácil e status. 

Foi realizada em 2007 uma entrevista com detentas do Sistema Penitenciário Feminino de Salvador, que continham 178 mulheres presas, respondendo por crimes em que a maior parte delas eram acusadas e condenadas por envolvimento no tráfico de drogas. Foram selecionadas sete entrevistadas que possuíam entre 23 e 43 anos, maioria solteira e com mais de um filho e poucas chegaram a completar o ensino fundamental. Ainda na entrevista, cinco afirmaram ser influenciadas por parceiros ou amigos homens para entrarem no tráfico de drogas e duas cumprem pena por tráfico internacional.

A maioria dessas mulheres são presas por desempenhar funções subalternas na escala hierárquica do tráfico: “bucha” (pessoa que é presa por estar presente na cena em que são efetuadas outras prisões) , consumidoras, “mula” ou “avião” (transportadoras da droga), vapor (que negocia pequenas quantidades no varejo), cúmplice ou “assistente/fogueteira”.  Porém, ainda há uma baixa condescendência em relação à condenação das mulheres, o que também não exclui a possibilidade de atualmente exercer uma maior prática como abastacedora/distribuidora, traficante, gerente, dona-de-boca-de-fumo e caixa/contabilidade.

Enfim, as pesquisas bibliográficas realizadas constataram que apesar dos homens fazerem parte, em maior proporção, do crime, não se exclui as mulheres como autoras das posições de destaque da marginalidade, principalmente no tráfico de drogas. É importante que se comece uma desnaturalização dessa imagem da mulher vítima para que assim, existam políticas públicas voltadas, especificamente, para esse tipo de temática.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAPISTRANICO, Simônica; SOUZA, Deise; SENA, Suleima. Mulheres do tráfico. Vídeo. 2007. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=LRMfCQOVNxU.  06:54 min. Son. Color. Acesso em: 30 de junho de 2011 

MISCIASCI, Elizabeth. Mulheres no narcotráfico. Disponível na internet: http://www.eunanet.net/beth/news/topicos/mulher_narcotrafico.htm. Acesso em: 05 de julho de 2011.

MOURA, Maria Juruena. Porta fechada, vida dilacerada – mulher, tráfico de drogas e prisão: estudo realizado no presídio feminino do Ceará. 2005. Dissertação (Mestrado em Políticas Públicas e Sociedade) - Universidade Estadual do Ceará. 2005

NOVAES, Elizabete David. Uma reflexão teórico-sociológica acerca da inserção da mulher na criminalidade. Revista Sociologia Jurídica.

SOUZA, Kátia Ovídia José de. A pouca visibilidade da mulher brasileira no tráfico de drogas. Maringá, São Paulo. Vol. 14, nº4. Oct./Dec. 2009