A “MULHER GAÚCHA” COMO TEMA ANUAL DO MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAÚCHO 2019: UMA REFLEXÃO

Por Henrique Pereira Lima | 18/07/2019 | Sociedade

A “MULHER GAÚCHA” COMO TEMA ANUAL DO MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAÚCHO 2019: UMA REFLEXÃO

APRESENTAÇÃO:

Durante o 67º Congresso Tradicionalista Gaúcho, realizado na cidade de São Borja – RS, nos dias 12 e 13 de janeiro de 2019, o tradicionalismo rio-grandense elegeu como tema anual para sua atuação, “Mulher Gaúcha – 70 anos de Inclusão no Tradicionalismo Gaúcho Organizado, suas conquistas e participações”, de autoria da tradicionalista e Conselheira Benemérita do 35 CTG de Porto Alegre (1º RT), Márcia Cristina Borges da Silva .

O tema anual, como ocorre desde 1994, quando da aprovação da proposição “Objetivo Anual” no 39º Congresso Tradicionalista, define (por votação de propostas) uma temática prioritária (não exclusiva, nem limitada ao período indicado) de relevância social e cultural, a ser promovida por todas as entidades tradicionalistas rio-grandenses durante o ano de sua vigência. 

No ano de 2019, a relevância social e cultural deste dispositivo se fez presente novamente de modo contundente, devido a emergência das temáticas apresentadas, pertinentes à sociedade como um todo: valorização do trabalhador rural, questões étnico-raciais, questões de gênero, o uso racional das tecnologias de comunicação e informação (TCI) e, por fim, o legado do folclorista Paixão Cortes em seu esforço por resgatar, preservar e divulgar o patrimônio sociocultural ancestral da sociedade gaúcha. Assim, os temas apresentados à apreciação do colegiado no Congresso, foram:

O Rio Grande do Sul com suas belezas naturais, sua arte e Tradição [...] retirado de votação pelo proponente. 
Duas propostas relacionadas à tecnologia e tradicionalismo (O uso das tecnologias em prol do tradicionalismo / MTG no mundo digital: Tecnologia como ferramenta de integração e difusão de nossa Tradição, Cultura e Valores) [que] foram juntadas, recebendo 20 votos. [...]
Com Paixão e por Paixão, na busca do resgate e valorização de nossos antepassados: 109.
Mulher Gaúcha – 70 anos de Inclusão no Tradicionalismo Gaúcho Organizado, suas conquistas e participações: 139.
Todo gaúcho vem do campo – O homem do campo como substância basilar da sociedade gaúcha: 117.
A negritude na construção sociocultural gaúcha: Uma referência a trajetória e situação do negro no Rio Grande do Sul: 50.  

Estes assuntos deram tom à discussão acerca da ação tradicionalista para o ano de 2019. Há implícita nas temáticas apresentadas, uma espécie de tomada de consciência e responsabilidade social, algo que não é nem pontual nem novo no tradicionalismo, mas sim, uma conduta reflexiva em marcha na dimensão filosófica do tradicionalismo. Ou seja: suas formulações e defesas podem ser consideradas sintomáticas de um processo em curso no próprio movimento: a estreita ligação entre a instituição e seus valores com as demandas sociais mais amplas, questões estas, às vezes, até mesmo de envergadura universal. [...] 

A Carta de Princípios do Movimento Tradicionalismo Gaúcho   ao preconizar em seu Artigo 1º, que é um dos objetivos do tradicionalismo e dos tradicionalistas “auxiliar o Estado na solução dos seus problemas fundamentais e na conquista do bem coletivo”   já apontava em  1961,  a relevância, senão obrigação do tradicionalismo, em se fazer promotor (não apenas expectador) dos processos sociais da comunidade rio-grandense, auxiliando-o e a sua população, devendo, ainda, em sua atuação, “facilitar e cooperar com a evolução e o progresso, buscando a harmonia social [...]” . A busca pelo bem coletivo sugere, dessa forma, o envolvimento dos tradicionalistas com as questões prementes da sociedade. Isto, pois, o bem coletivo consiste em “um estado (condição) de bem-estar social”, condição que se manifesta e é promovida através de diferentes dimensões, como a cultural e social por exemplo. 

Uma reflexão um pouco mais ampliada acerca deste tema descortina um senso de “responsabilidade social”. A sociedade humana ao mesmo tempo em que promove meios que visam a sobrevivência da espécie frente ao mundo natural, cria tensões e disputas no exercício do poder (seja um poder simbólico ou prático), entre os indivíduos, classes, segmentos, etc. Como um dos resultados deste ambiente psicossocial, surgem e se multiplicam as violações a direitos fundamentais. E, aí reside uma questão: a quem cabe valorizar o que (ou quem) não é valorizado? Ou então: a quem cabe defender o que (ou quem) é agredido, ofendido e desrespeitado? Assim como as perguntas são muitas, as respostas também o são. Mas podemos ponderar que, nesse sentido, não é necessário uma pessoa passar forme, para se indignar com o desperdício de alimentos, e lutar pela seguridade alimentar de sua comunidade; ou ser vítima de racismo para se solidarizar com quem o sofre, e se esforçar em seu combate. 

Trazendo a realidade de conflito e disparidade social, que marca profundamente não apenas o Rio Grande do Sul, mas o Brasil, para dentro das preocupações do Tradicionalismo Gaúcho, percebe-se o grau de inserção e até mesmo a pertinência do tradicionalismo, para o qual, a realidade social contemporânea é levada em consideração para a compreensão de sua dimensão cultural e na promoção das ações desta natureza.

O que diferencia o tradicionalista dos demais cidadãos em sua prática diária, é que as ferramentas pelas quais o  tradicionalista intervém na realidade social, além daquelas comuns a todo individuo preocupado com seu semelhante, também serão as ferramentas da cultura e das artes tradicionais gaúchas, e a filosofia do Movimento Tradicionalista Gaúcho. 

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