A mulher fatal

Por ivan Ferreira Sampaio | 05/02/2015 | Crônicas

Crônica

A mulher fatal

Ivan Sampaio

Já há algum tempo, tínhamos abordado o assunto. Não é fácil falar dela. Entretanto, aproveitando sua presença que sentou em uma mesa em frente da nossa, ficou impossível não vê-la, admira-la e critica-la. Atiramos nossas pedras contra seus modos e sua altivez, sem, no entanto, tirar nossos olhos dela.

O burburinho da churrascaria saudava a sua presença, a dama estava com um vestido colado ao corpo sinuoso, mostrando que apesar de ser uma mulher amadurecida, possuía uns dotes de uma adolescente, traída apenas pelos excessos que extrapolaram seus cuidados com o talhe. Os seios graúdos e muito rijos, apesar de soltos sob o vestido de meia, mostravam a todos que a naturalidade deu espaço à ciência e por consequência, nos veio a duvida sobre toda a esplêndida forma de seu corpo que apesar de ser visível a aplicação de silicone nas mamas e talvez lipoaspirações, ainda assim não resistiam suspeitas de que era uma bonita mulher, e mais que isso, emanava espiritualidade, juventude no sorriso e carisma que a tornava incapaz de não ser notada.  Mas era realmente a mulher fatal, são muito comuns na noitada, nos shoppings, fazem tudo para conquistar atenção, seja no andar, nos modos ou nas roupas bem distantes de serem discretas e comportadas... Ainda assim, são bem cuidadas e esforçadas em manter-se luminosas ante os olhos mais curiosos. Por certo não admite o marido dormir em paz, deixando-o sempre desconfiado de possuir um jardim florido em sua cabeça. Sua suspeita surgiu por ter testemunhado tantos assédios e olhares ousados. Essa mulher ali ao seu lado não se permitia ficar a sombra de ninguém, ela ali dava o ritmo na conversa de roda.  Seu noivo, com cara de funcionário publico ou bancário, com os olhos cansados e o semblante abatido e, com as costas arqueadas que apesar de jovem, denunciava o desmazelo e o descuido com o corpo, ficava ali apenas dando amem as suas considerações e marcando e contendo os olhares mais atrevidos de seus concorrentes, sem, entretanto deixar de demonstrar que não passava apenas de um detalhe com pouca significância, afinal o alvo de tanta atenção estava ao seu lado...

- É meu amigo... Não é fácil acompanhar o ritmo dessa mulher! Disse minha noiva.

- Por que você diz isso amor? Perguntei.

- Respondeu: Tu não tá vendo que ela está acabando com esse cara?

- Na cama? Perguntei.

- kkkkk, claro que não! Pensando bem (...) quem sabe...

- Também no Bolso!!!! Completou. Ela colocou uma coleira nesse boboca e sabe mais o que... Deve trabalhar como um desgraçado para fazer suas vontades, suas cirurgias, suas butiques, shoppings, almoços...

- Será que ela foi ao Ver-O-Peso visitar aquela senhora que vende cremes pra segurar macho?

- Que?

- Olha, passou no Faustão...

- Você assiste a esse programa? Não acredito?

- Escutei em um restaurante, RS. Ele mostrou uma mulher que vende uns cremes que não dão errado, deixa o homem apaixonado. Será que foi isso que ela fez com esse desgraçado?

- Não Doutor Ivan, foi outra coisa, que deixa o homem doido.

- hummm. Tudo bem entendi.

-Então amor, que tal comprar esse vestido que a Srta estava usando?

-Nunca! Eu não sou puta! Aliás, só se for em casa, só pra você....

- He, He, He...

E a mulher fatal, sem dar cartaz à conta que o garçom trouxe, continuou a falar de moda, viagens... E foi embora... Que triste tudo ficou...