A MIJADA NO GURI

Por Henrique Araújo | 11/09/2010 | Contos

A MIJADA NO GURI

Chega sábado. Manuel não aguenta ficar em casa. É maçante. O dia não passa. Tem a féria da semana no bolso. Dá pra sair um pouquinho. Tem medo de tomar alguma coisa, mas não tem outro divertimento.

Vai para o bar do Joaquim. Encontra alguns amigos. Começou a tomar alguma coisa de leve. Pouca coisa. Os bate papos começam e quando começam vão longe. Cada bebum quer contar uma vantagem. Dificilmente bebum sai na pior, isto só no papo, porque só vivem por baixo.

Começaram a jogar baralho. Manuel não entende nada. Joguinho mais sem graça. Os outros bebuns ensinam a ele, mas ele não quer saber deste joguinho besta.

Resolve ir andar pela zona. Quem sabe o clima ali anda melhor. Encontra o dono do bar, pessoa conhecida. Ótimo amigo. Há muito que Manuel não via este amigo.Começa então aquele bate papo mais demorado que existe. Falam dos velhos tempos, da crise do país. Por que será que ninguém fala bem do governo? E os dois descem a lenha no governo. Incompetente. O país está uma droga. Ninguém entende mais nada. São leis e mais leis que só o povo deve cumprir. O governo e as autoridades, não. Não é que os homicídios, os assaltos, os sequestros, os estupros agora são praticados pela própria polícia? Isto mesmo. E as polícias de todos os Estados.

Manuel enche a cara. Aparecem algumas mulheres quase peladas. Por que não andam nuas logo? Manuel fica com raiva disso. Aí está uma lei que o governo deveria aplicar: toda mulher no Brasil deveria andar nua. O Manuel iria gostar. Só então ele falaria bem do governo, enquanto não fosse casado, é claro. Mulher dos outros fica uma graça andar nua. A da gente, não. Não daria certo, não. Manuel ainda pensa muito em se casar.

O mundo começa a rodar para Manuel. Sente-se fraco. A bebida parece estar fazendo muito mal, tem pensado muito em largar a bebida, mas... um dia ele larga. Quem sabe no dia em que ele se casar. Beberia só no dia do casamento e depois parava de uma vez. Bebum é assim: quando tem festa, bebe para comemorar; se está triste, bebe para ficar alegre; se alegre, pra comemorar a alegria; se quente, pra esfriar; se frio, para esquentar. Há sempre um motivo para o bebum encher a cara.

Manuel não tinha vício, é lógico. Bebia lá uma vez, de vez em quando. Só de quando em quando. Se quisesse parar, pararia logo.

Manuel sente uma dor de barriga enorme. Quer ir ao banheiro. Tem que mijar toda aquela cerveja. O negócio aperta muito. Pede ao dono do bar que lhe mostre o banheiro. É no fundo da casa. Manuel entra. Sai num lugar muito escuro. Manuel já não enxerga nada mesmo. Abre a braguilha, retira o perigalho e chuááá... quando está no bem bom, a luz se acende. Não é que o Manuel estava no quarto do homem? Mas você está urinando na cabeça do meu filho, seu desgraçado.

A urina do Manuel pára imediatamente. Que apuro agora. Manuel estava urinando na cama do homem e em cima do menino que estava dormindo. Fecha a braguilha rapidamente. Sai correndo pelo fundo, pula um murinho do quintal e cai do outro lado. Pior ainda. Caiu em cima de uma fossa velha, se mela todo de merda podre e fedida. O homem está atrás dele com uma foice, mas não pula o muro. Manuel saiu rápido da fossa e se manda numa desabalada carreira. Nessa hora fica sãozinho. Vai correndo pela rua. O homem desiste. Manuel está todo cagado. Que catinga danada! Pronto.E agora? Aprontou mais uma o Manuel. Como chegar em casa? Ainda bem que está muito escuro. Vai caminhando devagar, todo molhado. Pega um atalho meio deserto e escuro. A cabeça pensando mil e uma coisa.

Manuel chega em casa. Faz como da outra vez, entra pelo fundo. Tira a roupa e toma banho. Coloca perfume no corpo inteiro pra tirar a catinga, porém merda fede muito. Aquela era pior ainda, pois a fossa estava abandonada. Foi dormir, o Manuel, muito pensativo.