A memória e a sua influência no processo de aprendizagem
Por Paula Costa | 27/01/2012 | PsicologiaResumo
O presente trabalho tem como objetivo analisar a importância da memória e objetiva desenvolver e aprofundar os conceitos inerentes à mesma, bem como as suas implicações nos processos mentais, cognitivos e percetivos no processo de acesso à informação. Neste sentido, foi realizada uma revisão da literatura, que forneceu contributos fundamentais para um referencial teórico lógico, e que localizou reflexões sobre as temáticas da psicologia cognitiva, concretamente a memória sensorial, memória a curto e memória a longo prazo e a sua influência no processo de aprendizagem.
Introdução
Neste trabalho pretende-se identificar os diferentes tipos de memória quer em termos de duração temporal quer em termos de capacidade de armazenamento de informação, e ainda identificar e hierarquizar os fatores capazes de influenciar a memória.
A memória ajuda-nos a definir quem somos, na verdade ela é essencial para a construção da identidade da pessoa. O conjunto de experiências armazenadas na mente do indivíduo e a facilidade com que se acede a elas, é vital para que possamos interpretar o que se passa à nossa volta e possamos tomar decisões.
Pretende-se ainda analisar a influência da memória no processo de aprendizagem e a interdependência da aprendizagem e da memória, uma vez que a estrutura e material a ser aprendido está em grande parte dependente do conhecimento retido na memória, ou seja daquilo que o indivíduo já sabe e é capaz de recordar. O atual conhecimento não só influencia a aprendizagem de novos conhecimentos e informações, mas também o modo como esses conhecimentos e informações são organizados, de forma a serem recuperados no futuro.
Partindo das definições dos conceitos de memória e de aprendizagem, será analisada a relação entre os dois, e em que medida um condiciona e influencia o outro. Será ainda dada especial relevância ao processo da memória na retenção de saberes durante a aprendizagem.
1 Enquadramento Teórico
A memória humana é um elemento fundamental nas tarefas de compreensão verbal e escrita, no cálculo e raciocínio. Ela representa um papel indispensável no sistema cognitivo e poderá ser considerada responsável por algumas diferenças importantes ao nível do desempenho dos sujeitos nas tarefas escolares, profissionais, do dia a dia, na execução e performance das tarefas a realizar.
A memória consiste num conjunto de procedimentos que permite ao indivíduo manipular e compreender o mundo, tendo em conta o contexto e as experiências individuais. Estes procedimentos envolvem mecanismos de codificação, retenção e recuperação. Sabe-se que a memória humana possui limitações, isto é, o indivíduo é apenas capaz de memorizar um número limitado de informações.
A memória é uma das componentes que faz parte integrante dos processos cognitivos. Para Sternberg (2000) a Psicologia Cognitiva trata do modo como as pessoas percebem, aprendem, recordam e pensam sobre a informação.
Os psicólogos cognitivos estudam as bases biológicas da cognição, as imagens mentais, a atenção, a consciência, a perceção, a memória, a linguagem, a resolução de problemas, a criatividade, a tomada de decisões, o raciocínio, as mudanças cognitivas durante o desenvolvimento ao longo da vida, a inteligência humana, a inteligência artificial e vários outros aspetos do pensamento humano.
Para uma melhor compreensão centífica da memória humana têm sido adotadas diferentes perspetivas. As perspetivas mais frequentes podem designar-se por perspetiva estrutural e a perspetiva processual. Segundo a perspetiva estrutural, a memória seria constituída por vários sistemas responsáveis pelo armazenamento e retenção da informação quer a curto prazo quer a longo prazo. De acordo com a perspetiva processual, a informação daria entrada na memória, permanecia lá durante um certo tempo e por fim seria usada.
2. Memória
Todos os dias recebemos inúmeras informações, as quais são selecionadas (de forma consciente ou não), para posteriormente serem armazenadas ou eliminadas. É ao processo de armazenamento das informações que podem ser recuperadas no futuro que designamos de memória.
O termo memória é uma ampla denominação para o elevado número de processos que formam as pontes entre o passado e o presente.
A memória é o processo cognitivo que compreende a retenção e a recuperação da informação. É um sistema aberto em que a informação é adquirida (aquisição e codificação), armazenada (retenção), podendo depois ser recuperada ou evocada (recordação). Lembrar implica um processo ativo de reconstrução das informações e estímulos anteriormente adquiridos, codificados e armazenados.
De acordo com Albuquerque (2001), para caraterizar o conceito memória, podemos orientar-nos por três perspetivas diferentes. No início a memória foi referida como uma representação interna do que foi aprendido, sendo neste caso, autobiográfica, uma vez que estaria referenciada no episódio de processamento. De seguida a memória é considera como um processo que conduz à recordação. Pode ser então definida como o conjunto dos processos de codificação, retenção e recuperação da informação. Na última perspetiva, a memória consiste na sua interpretação como uma estrutura, permitindo assim, a distinção em memória sensorial, memória de curto prazo e memória de longo prazo.
2.1 Definição do Conceito
Segundo Sternberg (2000) a memória é o meio pelo qual se recorre às suas experiências passadas, a fim de usar essa informação no presente.
A Memória é a capacidade de adquirir, armazenar e recuperar as informações disponíveis. Para Lent (2001), há uma sequência de eventos nos processos mnemónicos, o primeiro é a aquisição da informação, segue-se o armazenamento e por último a recuperação da informação através da recordação.
2.2 Fases da Memória
A memória ocupa um lugar central entre as temáticas que são estudadas no âmbito da Psicologia Cognitiva. A sua definição revela-se difícil, devido à sua abordagem ter sido perspetivada de acordo com duas correntes diferentes e por vezes antagónicas: a perspetiva estruturalista (memória sensorial, memória de curto prazo e memória de longo prazo) e a perspetiva processual (diz respeito às atividades mentais que executamos tendo em vista a codificação, retenção e recuperação da informação da memória).
A conceção estruturalista mais estudada, mostra-nos que há várias memórias, que diferem entre si e encontram-se na unicidade e interdependência de funcionamento.
A prespetiva orientada pelos processos, tem ajudado a compreender que as estratégias usadas em qualquer das fases do processo mnésico: aquisição, retenção e recuperação da informação, são fundamentais e interdependentes, ou seja a utilização de uma estratégia numa das fases, condiciona o desempenho otimizado se não estiver presente na noutra fase.
Sternberg (2000), descreve que os psicólogos cognitivos identificaram três operações comuns da memória: codificação, armazenamento e recuperação.
- Aquisição: antes de recordar temos de aprender, sem aprendizagem não há memória. A aprendizagem pode ocorrer de diferentes formas e depende da atenção que dámos ao evento ou acontecimento. Através da atenção, ignoramos os estímulos que não têm interesse para nós e retemos os que consideramos importantes, mas para os conservar é necessário a sua codificação. A codificação diz respeito à forma como um item de informação é colocado na memória.
- Retenção ou Armazenamento: é a capacidade de reter e conservar as informações, e serão utilizadas sempre que necessário. A retenção pode permanecer por períodos mais ou menos longos. Para que seja recordada, a experiência codificada tem de deixar algum registo no sistema nervoso (traço mnésico), este tem de ser armazenado de forma permanente para permitir a sua utilização futura. A retenção é uma condição necessária para a recuperação pois não se recorda o que não se sabe.
- Recuperação ou Ativação: quando se torna necessário as informações são ativadas e recuperadas, para as utilizar na experiência presente. É o momento em que o indivíduo tenta lembrar-se dos conteúdos que armazenou anteriormente. Uma das formas de recuperar as informações armazenadas é através da recordação, que diz respeito aos nossos esforços para produzir informação a partir da memória, em resposta a um determinado estímulo. Os processos de recordação são responsáveis pelo acesso à informação retida na memória e incluem, entre outros, processos explícitos ou diretos como a evocação e reconhecimento e processos implícitos ou indiretos como a reaprendizagem e ativação (priming).
A memória é um fator importante na aprendizagem, ela significa a aquisição, a formação e a conservação de informações. No fundo gravamos o que aprendemos e lembramos o que gravamos.
É graças à memória que podemos identificar e categorizar sons, sinais, gostos e sensações, reter e manipular informações adquiridas durante a nossa existência...