A Maldição
Por Sandra Oliveira | 29/03/2010 | ContosAmelia era uma mulher muito conhecida na cidade em que vivia,uma cidade pequena no interior de São Paulo.Trabalhava de empregada domestica para um casal de idosos há alguns anos,desde que ficara viúva e com uma filha pequena para criar.
Ela e o marido já estavam com mais de dez anos de casados e não tinham mais esperança de ter filhos quando de repente nasceu Rosa .Linda como uma flor,saudável e esperta,era o tesouro dos pais.
Joaquim trabalhava numa fabrica de ferramentas agrícolas nos arredores da cidade,Amélia cuidava da casa e de Rosinha,mas ela também tinha uma atividade que já não é mais tão conhecida,principalmente nas grandes cidades,era uma benzedeira.Essa atividade lhe rendeu a fama e o respeito do povo da região,pois diziam que ela curava todos os males, alem de confortar moralmente quem a procurasse e não raro que ela providenciasse entre os amigos, toda espécie de ajuda material á quem necessitasse.
Conhecia ervas para quase tudo e orações poderosas também,curava até mesmo os animais doentes.
Tudo corria bem até Rosinha completar dois anos,foi nessa época que Joaquim sofreu um enfarto fulminante,deixando Amélia e Rosinha sozinhas no mundo, até que um casal de idosos da cidade, que tinham por Amélia e sua família,um grande apreço,ao saberem das dificuldades pelas quais Amélia e a filha estavam passando,ofereceram á elas uma oportunidade de viverem em paz e com dignidade.
A sofrida,mas esperançosa mulher,trabalharia na casa de D.Graça,ajudando-a nos afazeres domésticos,que para ela,devido á idade avançada,era bem sofrido,por outro lado Amélia e Rosinha,morariam na mesma casa que o casal,desde que Amélia não deixasse de ajudar o povo que a procurava em busca de suas orações e chás.
Os anos foram passando e aos dez anos de idade Rosinha fazia juz ao nome,era linda, meiga,doce e gentil,e na casa de D.Graça e Sr.Francisco tudo era alegria,mãe efilha eram mais do que amigas do casal,tratavam-se e respeitavam-se como uma única família.
Um dia Rosinha estava demorando demais para voltar da escola,e Amélia,que já havia acordado com um mau pressentimento,saiu em busca da filha.Ao anoitecer,era bem grande o numero de pessoas que estavam nas ruas e nas matas que cercavam a cidade na esperança de encontrar a menina,mas em vão.Quando amanheceu todos voltaram á busca e antes do meio dia chegar, foi descoberto seu paradeiro,tinha sido encontrada nas margens de um riacho na mata,morta violentamente. A tristeza e o desespero de Amélia comoveu á todos,ninguém podia aceitar que existisse no mundo gente tão ruim á ponto de fazer com aquela criança uma maldade daquelas, a menina tinha sido violentada e espancada antes de morrer lentamente sozinha.
A policia não poupou tempo e nem esforços em suas investigações,todos na cidade tinham tomado aquele assassinato como uma coisa pessoal,uma questão de honra,mais do que de justiça.
Não faltava quem fosse oferecer consolo,palavras de força e coragem para Amélia,que parecia ter envelhecido cinqüenta anos naquela semana.Ela não comia,não dormia e mal falava,simplesmente agradecia aqueles que a procuravam tentando aliviar sua dor.Porem a transformação sofrida por Amélia não era só física, a sua alma tinha ficado negra,amarga e endurecida.
Quando,depois de uma semana de investigação ,conseguiram prender o assassino,quase toda população da cidade se reuniu na porta da pequena delegacia com intenção de fazerem justiça com as próprias mãos.O delegado com muito custo conseguiu conter os ânimos, até que Amélia se aproximou do homem, e olhando de uma maneira profunda para os olhos do bandido,lançou-lhe uma maldição.
Ninguém acreditava na frieza daquela mulher,que até uma semana atrás era a bondade em pessoa,os que ouviram suas palavras custavam á acreditar que aquela boca que só se abria para espalhar o amor,a bondade,o sorriso,a compreensão,a coragem,a fé,pudesse proferir uma maldição tão pesada,tão cheia de ódio.Alguns chegaram á se arrepiar quando a ouviram dizer:- Que todas as forças do inferno,todos os demônios do universo,que toda maldade do mundo,tomem conta de sua miserável vida daqui para frente,que nunca mais tenha um minuto de sono,nem de paz,que ande sempre olhando para trás e para os lados, com medo das forças malignas que agora o acompanham,que seu corpo sinta dores,até que implore pela morte,que as mãos que tiraram a vida de minha filhinha caiam negras e apodrecidas antes que o resto de seu corpo se desfaça da mesma maneira.Dito isto,virou as costas e saiu .
Era vista de vez em quando pela região,vagando como uma maltrapilha demente,falava sozinha como se estivesse na companhia de alguém,que junto com ela esperava pela noticia da morte do assassino do jeito que ela havia desejado na maldição,e vez por outra era vista por perto da cadeia onde ele cumpria sua pena, dizendo coisas que só ela entendia,novas maldições,talvez.
Esse por sua vez,na prisão,sofreu toda espécie de humilhação,castigos e violência por parte dos outros detentos,que tinham como regra,punir ,dos modos mais crueis,aqueles que maltratavam crianças.
Sete anos após essa tragédia,de dor e sofrimento para Amélia,a benzedeira,chegou até a cidade,mais precisamente ao padre da única igreja da cidade, a noticia da morte do bandido,e coube ao padre levar a noticia até ela. Todos ali passaram á ter medo daquela mulher,embora tivessem a esperança de que ela voltasse á ser como era antes do acontecido. Ficaram sabendo que ele havia morrido de uma doença que muitos julgavam extinta,a lepra,a doença que faz a sua vitima perder partes do corpo,mas para aquele homem,ela veio acompanhada de uma outra doença,que o medico da prisão não soube identificar,mas que causava ao homem muitas dores.
Não foi difícil para o padre encontra-la,e ao lhe dar a noticia o padre percebeu uma mudança muito estranha na fisionomia da mulher,as cores voltaram ao seu rosto,um sorriso brilhante inundou a rua onde estavam,pois Amélia se recusava á entrar em qualquer igreja.Seu corpo agora parecia mais forte,saudável,rijo,aquela mulher parecia uma fonte que emanava energia e que tomava conta de tudo em volta.O padre ficou sem ação por uns instantes,não sabia o que esperar,até que uma forte ventania sacudiu tudo em volta e fez com que Amélia lançasse um grito absurdamente apavorante e caísse morta,com uma expressão de profunda paz no seu semblante.