A luta dos pais de hoje é contra o mundo

Por sebastião maciel costa | 02/07/2019 | Educação

A luta dos pais de hoje é contra o mundo

            O Brasil, espaço gigantesco de possibilidades, dispõe de uma série de lendas e histórias que são o conteúdo de um legado que faz do Brasil, a terra das possibilidades. Na Educação há esse entendimento: a riqueza da literatura brasileira monta um mosaico que nos assegura um leque de oportunidade para se rever ações, atos e atitudes que possam nos levar a melhor termo em quaisquer projetos, em quaisquer programas. E por que se hesita anto em buscar caminhos seguros para as nossas crianças que estão sendo objetos de especulações, experimentos e tentativas que podem, ou não, vir a ser favoráveis ao bem-estar das futuras gerações.

        Um outro dia, se propagava que o futuro do mundo viria a ser a tecnologia, que a infância é a base da juventude e esta a geração do porvir em conhecimento, progresso e garantias sociais. Hoje, num reflexo do que se sabe e numa projeção do que teremos no futuro, se questionam o que acontecerá cm as maiores profissões da atualidade, que carreiras serão promissoras ou garantidas para as próximas gerações, se os robôs resolvem questões complexas em tempo recorde, se as doenças surgem como mágica e são curadas por raio laser, ou descargas elétricas... se o digital influencer  pululam os pórticos das atuais academias, se os youtubers ganham mais fama e prestígio que as carreiras tradicionais, se o bitcoin, na sua virtualidade impõe regras, normas e comportamento no mercado financeiro, tudo isso junto indica que é preciso reagir, é preciso definir o que somos, o que fazemos , o que queremos que o futuro  seja. Nesse emaranhado de possiblidades e hipóteses, vale uma analogia com uma lenda que vem lá da  Região Sudoeste do Brasil,  A porca dos sete leitões: “Conta a lenda que uma Baronesa praticava muitas maldades contra seus escravos. Esses, cansados de tanta crueldade, resolveram tomar uma atitude.  Um feiticeiro que existia dentre os escravos, revoltado com suas injustiças da sua dama, lançou um feitiço sobre a mesma que foi transformada em porca e seus sete filhos foram transformados em porquinhos. Segundo dizem, a sina deles seria andar fuçando com o focinho no chão à procura de um anel enterrado, quando encontrassem esse anel, quebrariam o feitiço e voltariam a ser o que eram”.

        A família de hoje, eu ainda mantém o controle sobre sua prole, enfrenta, de fato uma luta insana contra o mundo, contra a modernidade que veio trazendo, em si, conquistas e dados novos que nos colocam à frente do nosso próprio tempo. Novidades que nos conduzem a uma reflexão sobre as nossas potencialidades em dar conta de tantos eixos que se movem ao nosso redor, como se fossem leis determinantes de um novo tempo. Tempo que mudou com as pessoas que mudaram com o tempo.

        O controle que essa família ainda exerce está limitado ao controle que o mundo exerce sobre os seres humanos, dentre os quais, os filhos que hão de conviver, enfrentar, suportar e superar limites em um mondo onde os valores que reinam resultam de outros quadros familiares com menos “controle” sobre suas crias. E elas crescem, avançam, atropelam, aprendem, do seu jeito, que valores familiares são massa falida em sua própria existência, que o respeito pelo outro é coisa do passado, que a sua vontade é a ordem do dia e, quaisquer outros que pensem de modo diferente, serão considerados ultrapassados, superados, vencidos, aposentáveis. E assim ocorre, a criança que cresceu vivendo limites, rigores, verdades, terá que aprender a conviver com um mundo onde ordem e limites são partes soltas de uma ficção que vai distante, como distante estão os seus pais e educadores. “...a sina deles seria andar fuçando com o focinho no chão à procura de um anel enterrado.”

            Para A criança que traz no seu histórico a presença firme  de uma família que soube formar, sua capacidade de enfrentamento é bem maior, para a criança que teve na palavra NÃO, a resposta para seus caprichos pensará melhor antes de enfiar-se por veredas incertas, em questões suspeitas, em tarefas de sacrifício tanto quanto sair por aí, fuçando o chão à procura de um elo que o reúna novamente às suas raízes, à sua base, à sua família. Por que a própria “porca” enquanto mãe dos pequenos porquinhos não foi a responsável pela busca do anel perdido? Por que os pais não poderão responder pelos seus filhos diante dos seus próprios desafios e enfrentamentos? Por que nem sempre quando precisamos de ajuda, os nossos pais, professores ,formadores, orientadores estão juntos ou pelo menos ao alcance  das nossas mãos? Há de se responder com uma máxima:” não dependa dos outros, pois na hora da maior necessidade até a nossa sombra nos abandona, na escuridão”

            Onde estão sendo formados os adultos do amanhã, para que dependam menos do destino, da sorte, do acaso, das circunstâncias? A porca, como qualquer “baronesa” matrona da família deveria ter ensinado aos seus pequenos filhos, os melhores caminhos, as melhores lições, as melhores saídas, os melhores horários, os melhores livros, as melhores carreiras, as melhores escolas, os melhores professores, assim, seus pequenos filhotes estariam em bons lastros para o futuro.

            Voltando à lenda, a “maldade” da baronesa seria  o saldo do que ela acumulou em seu histórico de vida, teria sido ela vítima de uma situação em que sua família, na sua formação falhara em agir com firmeza e justiça, e ela teria sido a herdeira do desmando, de pais que não foram devidamente formados para formar? A esta altura, pouco importa se ela era perversa por índole, ou por formação. O fato é que seu perfil, de pessoa incapaz de ver o outro, de respeitar o espaço de cada um, foi levada ao castigo de ver-se transformada em porca e, ainda por cima, vê seus sete filhotes sendo obrigados a descobrir por si mesmos, o seu próprio destino. Qual o pai que pretende para o seu filho o caminho da dúvida, da desesperança e da derrota?

            Ora, a escola que os pequenos filhos da baronesa era bem posta, formada por circunstâncias que indicavam para os pequenos que todos os ventos eram favoráveis àquela família, e o eram. Afinal, dispunham de riquezas e patrimônio que incluíam os escravos, objeto de seu infortúnio no amanhã. Na escola que elas aprenderam, valia a vontade dos poderosos. Ali, o outro era visto como massa de manobra, como peças que são manuseadas ao bel prazer de seus manipuladores. A vida prática e moderna é assim também: os poderosos fazem as leis, bancam as despesas, definem os direitos, anulam o que possa vir de encontro aos seus propósitos. E o mais grave: em todos os níveis sociais e econômicos. Diante desse quadro, salvam-se aqueles que tiverem em seu histórico, as melhores oportunidades, os melhores exemplos, as melhores lições, para melhor se colocarem diante da vida. Na outra vertente, vêm aqueles que já nasceram precisando de maiores ajudas em termos de atendimento a necessidades e condições especiais que seriam perfeitamente solucionados, caso os seus pais tivessem tido as necessárias condições para lhes dar uma formação adequada para enfrentarem o mundo como pessoas bem formadas, inteligente sócio-emocionalmente capazes de dar respostas a quaisquer questionamentos e problemas que a modernidade tecnológicas venha a propor.

            O desafio está posto: encontrar fundamentos que funcionem com saídas para que as crianças de hoje não precisem ignorar os avanços em seu favor, pelo contrário, estejam aptas a viverem o seu momento mas sem, necessariamente, abrir mão daquele conhecimento que faz parte do seu histórico de vida, de sua história de formação, da formação de sua família, como raízes para melhor sustento dos desafios  dos tempos de hoje.

            A família precisa manter sob o seu comando o controle de ações que envolvam a formação dos seus membros. Que sejam buscadas as escolas, as igrejas, as instituições que secularmente representaram os propósitos de uma sociedade justa, ordeira e fiel aos princípios morais e éticos de que tanto se necessita hoje e sempre. Que sejamos “porquinhos” fuçando em busca de um anel ou de um elo perdido entre o passado e o futuro, mas que o façamos com coerência, respeito, criticidade, metodologia e testemunho, demonstrando que o que nos ensinaram foi aprendido e o que aprendemos será reproduzido por meio de atitudes que são competências.

  • Sebastião Maciel Costa
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