A LUDICIDADE NA AQUISIÇÃO DA LEITURA
Por Vânia Franco De Battisti | 22/02/2017 | EducaçãoVânia Franco De Battisti*
Resumo
O presente artigo faz referência à importância de trabalhar de forma lúdica com as crianças desde a educação infantil. Apresenta considerações importantes de diversos autores de destaque na área educacional, tendo como foco principal, o cuidado de debater sobre aspectos relevantes na aprendizagem, como, a necessidade do professor desenvolver atividades significativas com os seus alunos, pautadas em seus próprios interesses, sejam estes, em conformidade com a faixa etária, com aspectos culturais ou com a própria natureza social do homem, que procura interagir e criar, promovendo seu próprio desenvolvimento de forma prazerosa. O trabalho com Literatura infantil é aqui apresentado como uma porta aberta para várias atividades, assim como também, o desenvolvimento da Linguagem oral e da Espacialidade por permitirem grande incremento na formação do educando como um todo. Também são enfatizados, alguns aspectos relacionados na Alfabetização, por estar esta, muito vinculada ao início da aprendizagem como um todo.
Palavras-chave: Lúdico. Aprendizagem. Leitura.
1 INTRODUÇÃO
Jogos e brincadeiras fornecem ambiente agradável, motivador, estimulando nos alunos, a curiosidade, a observação, a intuição e a formulação de hipóteses, trazendo desenvolvimento de seu pensamento e de vocabulário, contribuindo no avanço do processo da alfabetização. A brincadeira é uma atividade natural da criança e precisa estar inserida nas atividades escolares desde a educação infantil, pois é por meio dela que o aluno preserva sua espontaneidade e expressa seus sentimentos, desejos, experiências, preconceitos, enfim seu próprio pensamento acerca das coisas, influenciado ou não pelo meio onde se encontra inserido. Nos dizeres de Kishimoto (apud Almeida, 2004), a ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, facilitando os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento. Na sua concepção, a aprendizagem na educação infantil se dá de forma intuitiva e a utilização do jogo, promove exploração e edifica a construção do conhecimento através de uma motivação interna.
Os jogos e brincadeiras sempre estiveram presentes na humanidade, embora não tivessem a conotação que têm hoje; eram vistos como fúteis e tinham como objetivo a distração e o recreio. O aparecimento do jogo e do brinquedo como fator de desenvolvimento infantil proporcionou um campo amplo de estudos e pesquisas e hoje é questão de consenso a importância do lúdico. Dentre as contribuições mais importantes destes estudos, segundo Negrine (1994, p. 41 apud Almeida, 2004), podemos destacar:
. As atividades lúdicas possibilitam fomentar a “resiliência”, pois permitem a formação do autoconceito positivo;
. As atividades lúdicas possibilitam o desenvolvimento integral da criança, já que através destas atividades a criança se desenvolve afetivamente, convive fisicamente e opera mentalmente;
. O brinquedo e o jogo são produtos de cultura e seus usos permitem a inserção da criança na sociedade;
. Brincar é uma necessidade básica assim como é a nutrição, a saúde, a habitação e a educação.
O ser humano necessita desenvolver resiliência que, em termos sociológicos, significa resistências às adversidades da vida. Em todos os aspectos da existência, é comum a ocorrência de desafios. Brincar ajuda a criança no seu desenvolvimento global, pois por meio de atividades lúdicas, a criança forma conceitos, relaciona ideias, estabelece relações lógicas, desenvolve a expressão oral e corporal, reforça habilidades sociais, reduz a agressividade, integra-se na sociedade constrói seu próprio conhecimento.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 A LUDICIDADE NA FORMAÇÃO ATUAL DO EDUCADOR
Quando se analisa a Educação, em termos gerais, percebe-se que muitos são os desafios para que esta área seja considerada geradora de avanços científicos. Se compararmos com outros setores como Medicina, Engenharia e Informática, perceberemos que nos últimos 50 anos, os avanços educacionais ocorridos não foram suficientes para reverter o processo como um todo. Este fato, nos remete à problemática da formação do educador. Os cursos de licenciatura têm recebido inúmeras críticas no que se refere à sua ineficiência, ou seja, os cursos de graduação não preparam os seus futuros educadores para atender as demandas da escola, principalmente no tocante à compreensão da criança como ser histórico-social, capaz de construir seu próprio conhecimento.
Para Severino (apud Almeida, 2004), uma das formas de se repensar os cursos de formação é introduzir na base de sua estrutura curricular um novo pilar: a formação lúdica. Quanto mais o adulto vivenciar a ludicidade, maior será a chance deste profissional trabalhar de forma prazerosa. A formação lúdica se assenta em pressupostos que valorizam a criatividade, o cultivo da sensibilidade a busca da afetividade.
Somente por meio da criatividade, os profissionais da educação poderão criar condições de promover uma prática educativa com base na ludicidade. É necessário que mantenham comportamento ético e respeite seu aluno para poder compreender a sua formação prévia e a partir dela, atuar de forma a considerar a etapa de seu desenvolvimento psicológico, a cultura de seu meio social e suas diferenças individuais, preservando e até atuando em prol de uma autoestima positiva por parte do aluno, pois, esta aquisição, muito contribui para o seu desenvolvimento de forma saudável e promove cidadania.
2.2 O PAPEL DO LÚDICO NA APRENDIZAGEM
A atividade pedagógica voltada para a ludicidade conquistou o panorama educacional, pois além de permitir a percepção de características sociais, culturais e psicológicas dos educandos, contribui para que os educadores possam acompanhar e interferir de forma positiva no seu desenvolvimento. Além do mais, favorece o aprender brincando.
Ao entrar em contato com o livro em ambiente lúdico, a criança encontra, dentre outras possibilidades, um espaço grandioso para o desenvolvimento da imaginação. Para Costa (2009), o corpo é um elo de comunicação entre os seres e contribui para a expressão do pensamento. É preciso que se planeje atividades recreativas com cunho educativo, pois o desenvolvimento motor é de suma importância na infância. Paralelamente, ocorrerão o desenvolvimento cognitivo e afetivo.
O evento do uso generalizado da informática na sociedade atual, tem impactado as novas gerações, sobretudo, crianças na faixa etária de Educação infantil, ainda assim, professores devem ter em mente que a ludicidade faz parte da formação integral dos alunos.
2.3 CONTRIBUIÇÕES DE PIAGET E VYGOTSKY A RESPEITO DA APRENDIZAGEM LÚDICA
Para Piaget (apud Almeida, 2004), o jogo é essencial na vida da criança, sendo que, as mais novas, se interessam mais pelo jogo de exercício em que repete determinada situação por puro prazer, apreciando seus efeitos. Por volta dos 2-3 e 5-6 anos vão ocorrer os jogos simbólicos, posteriormente, ocorreram os jogos de regras, que considera de grande expressão e condição para o desenvolvimento infantil. Já Vygotsky (apud Almeida, 2004), considera que o desenvolvimento humano ocorre durante toda a vida, não o dividindo em fases, como Piaget. Para ele, o sujeito não é ativo nem passivo, interage com o outro. Enquanto Vygotsky fala em faz-de-conta, Piaget fala do jogo simbólico.
Parafraseando Vygotsky (apud Almeida, 2004), o brinquedo desenvolve as principais aquisições da criança, aquisições que se tornam, no futuro, seu nível básico de ação real e moral. Piaget (apud Almeida 2004), diz ser a atividade lúdica obrigatória na prática educativa, por ser a base das atividades intelectuais na criança. O educador que pretender despertar nos alunos, interesse pela leitura, pelas pesquisas e busca de conhecimento, deve pautar sua didática no lúdico.
2.4 IMPORTÂNCIA DA ARTE NA APRENDIZAGEM
A aprendizagem acontece ao mesmo tempo em que a criança se diverte, desenvolve a criatividade e amplia conhecimentos culturais. Por meio da arte, ela pode aprender através de histórias infantis, ouvidas ou lidas, também através de conteúdos apresentados pelos professores e outras experiências educacionais, a partir de seu próprio ponto de vista, muitas vezes, reconstruindo seu pensamento. É importante para as crianças, interação e manuseio de materiais como lápis, massas, giz de cera, papéis, tintas e outros, para que possam desenvolver a imaginação e a expressão daquilo que perceberam e sentiram no aprendizado escolar.
A arte na educação, constitui uma ferramenta de suma importância, pois permite apropriação de diversas outras linguagens, por exemplo, plástica, musical, corporal, visual e dramática. A criança passa a conhecer arte, fazendo arte. Assim, amplia seus conhecimentos, vivencia muito mais aquilo que lhe foi comunicado, aprendendo com mais eficiência e de forma mais prazerosa, pois a arte se pauta no lúdico.
A criação deve ser estimulada desde tenra idade, pois, ao criar artisticamente, a criança organiza seu pensamento acerca do que lhe está sendo ensinado, desenvolve e estética e encontra satisfação, pois, a arte remete ao prazer e à liberdade. O professor deve utilizar o livro infantil para criar com os alunos, dramatizações, danças, cantorias e brincadeiras. Aproximar Leitura e Arte é um procedimento ímpar na conquista de uma educação de qualidade. O livro deve se tornar um elemento lúdico na alfabetização e na aprendizagem em geral, pois dele emergem inúmeras possibilidades do desenvolvimento de interesses pela busca de conhecimentos.
Para Ostetto (2007, p. 35-36), “não é mesmo novidade dizermos que é pelas diferentes experiências com/no mundo sensível que a criança vai se apropriando de formas mais complexas de ver e ler esse mesmo mundo sentido”. A arte pode proporcionar experiências com cores, formas, imagens, ritmos e oferecer aos alunos possibilidades de releituras importantes, inclusive do seu meio cultural e do seu mundo interior. O livro infantil é um material escrito que permite a fantasia, o faz-de-conta, atuando a favor do desenvolvimento artístico da criança, por isso atrai a atenção do infante.
Barbosa (1994, p. 133) enfatiza o livro como:
...um instrumento básico de instrução e leitura, um meio de acesso à cultura e aquisição de experiências. A escola, por sua vez, deve oportunizar o acesso a diferentes gêneros literários. Além disso, é preciso levar o aluno a fazer uso do ler e do escrever.
O livro é realmente, um dos materiais didáticos mais importante no desenvolvimento da Leitura e Escrita, sendo o mais conhecido e seu uso na escola é primordial nas etapas iniciais da aprendizagem. Neste sentido, professores devem utilizá-lo para iniciar os alunos no hábito da leitura.
Segundo Soares (2010), o termo “letramento” surgiu para designar a função de apresentar ao educando o conjunto de diferentes textos que circulam na sociedade, importando em uma prática social da leitura e escrita no cotidiano. É importante ressaltar ainda que existem diferentes níveis de letramento pois cada aluno traz a sua bagagem de conhecimento e nem todos têm acesso a livros, revistas, jornais e informações por meios digitais. Muitas vezes, os alunos nem mesmo sabem a importância da leitura. É urgente a busca de caminhos que possam promover a formação do aluno leitor, pois o Brasil figura entre os países onde se lê muito pouco, cabendo em boa parte, à escola e ao professor a missão de estimular o gosto pela Leitura.
O professor, mediador por excelência, deve ser o gestor da sala de aula e nesta perspectiva, fazer com que a leitura seja vista pelos alunos como atividade prazerosa. Precisa ler para as crianças, ler com elas, saber ouvir. Fazer do livro o princípio da brincadeira, de onde emergem formas de interpretações diversas. Para Abromovick (1993), a criança deve ouvir muitas histórias para se tornar um leitor e compreender o mundo que a cerca. A criança, ao entrar em contato com o livro encontra inúmeras oportunidades lúdicas.
Dramatizações, jogos, desenhos, modelagens, músicas, vídeos, enfim, toda uma gama de possibilidades afinadas com o ideário infantil. A alfabetização deve ser trabalhada com base na ludicidade porque quando as crianças brincam com a sonoridade das palavras reconhecem as diferenças das letras, manuseiam livros infantis e ouvem histórias, estão se preparando para ler, formular conceitos, ampliar a linguagem e gradativamente produzir textos. Através de jogos de descoberta percebem todo o universo cultural que a cerca.
O trabalho com diversos gêneros textuais torna-se importante no sentido de apontar para os alunos as diversas modalidades de comunicação em nossa sociedade. O ato de ler passa a ser visto como fundamental para o convívio entre as pessoas. O educador que lê com entusiasmo, desenvolve nos alunos o gosto pela leitura, contribuindo assim, para o aumento da capacidade de exploração e análise do mundo em que vivemos. Quando trabalha de forma criativa, o professor desperta o interesse pelo mistério e pelo sonho, aguçando a curiosidade e a imaginação dos ouvintes, além disso, fortalecendo a compreensão dos textos.
Muitos dos problemas relacionados à alfabetização e à aprendizagem são decorrentes de falhas ocorridas nos processos iniciais de ensino. O aluno não sabe interpretar o que lê e nem mesmo compreender anunciados de exercícios das diversas disciplinas, sobretudo, da Matemática. O professor/alfabetizador deve contar com a Literatura para promover o desenvolvimento da atenção e do senso crítico. E é na Educação Infantil que este tem maiores possibilidades de provocar encantamento pela Leitura e Interpretação. Compreender o sentido de uma história infantil é antes de tudo, se divertir, ser criança. A escola, representada pela sala de aula, torna-se a grande responsável pela formação de leitores assíduos e de alunos que valorizam a pesquisa e o conhecimento.
2.5 A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL NA APRENDIZAGEM
A Leitura, dinâmica por natureza, possibilita ao indivíduo ter acesso ao conhecimento do passado, a participação no contexto sociocultural do presente e à transformação do futuro. Na educação infantil, há desenvolvimento de capacidades e habilidades necessárias à leitura e aprendizagem, pois é onde ocorre o florescer da linguagem oral, a construção e compreensão dos símbolos e o estabelecimento de relação entre imagem e as palavras. Tudo o que possa tornar a Literatura atrativa, concorre verdadeiramente para o processo de alfabetização. Sons, ritmos, suspense e brincadeiras devem estar presentes no cenário da sala de aula e da escola num todo. Livros com muitas imagens coloridas, gravuras em alto relevo, rimas, textos que permitem encenações e atividades interativas e lúdicas. O importante é despertar nos futuros leitores, a atenção e interesse. Os textos devem ao mesmo tempo, servir de instrumento de integração e de reflexão da realidade. Recursos com o “Canto de Leitura” e a “Hora da Leitura” são excelentes procedimentos didáticos. Ao ser entrevistada, Emília Ferreiro (In Nova Escola, junho/ julho de 2013, p. 30), vê nas “Bibliotecas de sala de aula”, experiência de grande impacto na educação mexicana de crianças de 04 a 05 anos.
É importante que os conteúdos pertençam ao universo infantil e que a contação de histórias seja realizada com entusiasmo. A criança passa a ter prazer em manipular os livros e em recontar o que ouviu, favorecendo a sua própria construção de aprendizagem. Ao contar histórias, o professor propicia contato com a linguagem escrita padrão, além de aumentar o vocabulário do aluno, já que muitas palavras não são conhecidas das mesmas. Ele resgata o lúdico na aprendizagem; ao narrar uma história o educador, promove o desenvolvimento de estratégias de processamento da linguagem, importante na alfabetização e na aprendizagem posterior dos educandos.
2.6 OS CONTOS DA LITERATURA INFANTIL CLÁSSICA
Os contos de fada, de princesas, bruxas e outras personagens míticos costumam atrair as crianças pelo seu poder de gerar suspense, raiva, medo e várias emoções. Para Jesualdo (apud Costa, 2009), este é um gênero de literatura que potencializa a imaginação criadora e o senso estético que precisam de estimulação do meio para que se desenvolvam, despertando interesse por aspectos de sua realidade e do mundo que a rodeia.
A magia dos contos infantis clássicos trazem elementos que encantam as crianças, além de despertar emoções, identificações com personagens e compreensão de problemas atemporais da natureza humana, fazendo-as perceber aspectos sociais comuns em épocas diferentes. Além disso, impressionam pela riqueza de detalhes e por enfocar fantasias próprias da infância.
Para Brito, (2010, s/p) no conto maravilhoso, “o leitor é transportado para um mundo onde tudo é possível: (...). Essa é a magia da fantasia”. Através desse mundo fantástico, as crianças se comprazem, se identificando com personagens e situações, vivenciando conflitos e revelando seus próprios sentimentos oferecendo ao professor, possibilidades de conhecer as emoções das crianças, trabalhar conceitos e preconceitos, ajudando-os na convivência social.
2.7 A EVOLUÇÃO DA LINGUAGEM COMO PRE-REQUISITO DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
QUADRO 1: PARA O SISTEMA DOS CONSELHOS FEDERAL E REGIONAIS DE FONOAUDIOLOGIA, A CRIANÇA EVOLUI FONOLOGICAMENTE DENTRO DA SEGUINTE SEQUÊNCIA:
1 a 3 meses |
- presta atenção aos sons e se acalma com a voz da mãe. Chora, faz alguns sons, dá gargalhadas. Observa o rosto, sorri quando alguém fala com ele. |
4 a 6 meses |
- procura de onde vem o som. Grita, faz alguns sons como se estivesse conversando e imita sua voz. |
7 a 11meses |
- encontra de qual lado vem o som. Faz alguns sons. Repete palavras. Bate palmas, aponta o que quer, acena. |
12 meses |
- começa a falar as primeiras palavras. Imita a ação de outra pessoa. |
18 meses |
- pede as coisas usando uma palavra. Já sabe falar umas 20 palavras. |
2 anos |
- consegue dizer frases curtas com duas palavras. Já sabe falar umas 200 palavras. |
3 anos |
- é possível entender tudo o que ele fala, mas às vezes ele conjuga errado. Conhece cores. |
4 anos |
- inventa histórias. Compreende regras de jogos simples. |
5 anos |
- forma frases completas, fala corretamente. |
6 anos |
- aprende a ler e escrever. |
Fonte: Boone, Daniel & Plante, Elane. Comunicação humana e seus distúrbios. Ed Artes Médicas, 1984: Bee, Hellen. A criança em desenvolvimento. Ed. Artes Médicas, 1996.; Frankenburg, W. K. e cols. Manual de aplicação de teste Denver II, 1992.
De acordo com o quadro acima, a criança evolui de uma forma mais simples até uma forma mais elaborada. É importante respeitar cada fase e planejar atividades coerentes com a idade da criança.
Vale ressaltar que este quadro representa a evolução conforme a idade de um modo geral. Sempre ocorrerão diferenças individuais devido a fatores diversos, sejam eles, hereditários ou do próprio meio cultural da criança. A própria história de vida pode trazer particularidades. Cabe aos educadores, estarem sempre atentos e procurem se informar e procurar ajuda se necessário pois existem distúrbios do desenvolvimento da linguagem oral e escrita que podem ser atenuados com práticas educativas corretas.
2.8 DESENVOLVIMENTO DA ESPACIALIDADE COMO PRÉ-REQUISITO COGNITIVO
A desenvoltura espacial também precisa estar vinculada nas atividades e brincadeiras e a escola na atualidade, deve incorporá-la no cotidiano escolar. Segundo o estudo, crianças na faixa etária de educação infantil, apresentam maior facilidade para desenvolver atividades diversas, após terem vivenciado primeiro com o corpo, desta forma, o jogo favorece o desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor, podendo, o professor, utilizar dessa estratégia, para promover o interesse pela leitura e aprendizagem. O quadro abaixo aponta algumas brincadeiras infantis e seus benefícios.
QUADRO 2: BRINCADEIRAS E DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Jogo |
Capacidade motor e inteligência |
Socialização |
Aspectos lúdicos e criativos |
Amarelinha |
Equilíbrio, coordenação motora e lateralidade. Raciocínio para calcular a distância para jogar a pedrinha. |
Desenvolve o prazer e a satisfação. |
Estimula a criatividade na hora de elaborar a brincadeira e adaptar os símbolos de cada quadrado. |
Bambolê |
Equilíbrio e flexibilidade. |
Desenvolve prazer e satisfação. |
Estimula a criatividade na hora de inventar novas formas de usar o material no corpo. |
Elástico e corda |
Equilíbrio, coordenação motora e lateralidade. |
Favorece o trabalho em equipe. |
Sentimento de alegria e prazer por cada etapa do jogo. Criatividade na hora de escolher as músicas cantadas na hora de pular. |
Ioiô |
Coordenação motora e equilíbrio. |
Quando jogado com mais de uma pessoa, incentiva o clima saudável de competição. |
Prazer em conseguir manobras diferentes. |
Pião |
Noção de espaço, tempo e lateralidade. Ajuda na elaboração mental de manobras. |
Sentimento de desafio e conquista. |
Cada jogada gera uma expectativa e a criança precisa usar a criatividade para jogá-lo de maneiras diferentes. |
Pipa |
Noção de espaço, tempo e lateralidade. |
Contato com os amigos. |
Satisfação de ver a pipa no ar e estímulo da criatividade na hora de escolher o material, cores e formas na hora de confeccioná-la. |
Fonte: www.gazetadopovo.com.br
Segundo o quadro acima, através de atividades recreativas, são desenvolvidos aspectos cognitivos importantíssimos. Muitas são as brincadeiras que podem ser utilizadas pelos educadores e que vão trazer benefícios na aprendizagem. Essas atividades podem e devem estar inseridas nas práticas didáticas. O professor precisa conhecê-las para utilizá-las e deve fazê-lo de acordo com as particularidades de seus alunos e que estejam em sintonia com as fases de desenvolvimento.
Durante os primeiros anos de vida, o movimento faz parte do desenvolvimento. As crianças precisam explorar o espaço físico e aperfeiçoar sua inteligência motora. Enquanto fortalece ossos e músculos, os alunos trocam experiências e conhecimentos, aprendem sobre regras. Toda atividade recreativa traz benefícios como, melhorias na concentração, coordenação motora e disciplina, afetando o desempenho escolar e aprimorando o desenvolvimento integral do educando.
Segundo Lopes (2006), por meio das brincadeiras, as crianças podem desenvolver capacidades importantes como a atenção, a imitação, a memória e a imaginação, exercícios cognitivos, importantes para a alfabetização.
O educador precisa ter em mente que para brincar, a criança precisa de um ambiente rico e diversificado, principalmente em se tratando de atividades lúdicas. É necessário que elementos culturais estejam sempre presentes, pois, estão em fase de executarem leituras de mundo, importantes na sua formação. A criança se empenha nas brincadeiras tão seriamente quanto o faz para aprender a andar, a falar, a brincar de amarelinha, de roda, etc. sendo estas situações, substituídas por outras, que podem ser, jogos ou atividades mais diretamente ligadas à alfabetização. Com criatividade, o professor poderá planejar brincadeiras envolvendo elementos essenciais na prática da leitura, como, personagens de livros ou da realidade das crianças, personagens folclóricos, nomes dos alunos, imagens, palavras, letras, tudo de acordo com a faixa etária e com a realidade de seus alunos.
O período da alfabetização é uma parte de um processo maior, o de formar cidadãos. Várias atividades extraclasse poderão ser planejadas, como por exemplo, visita à feiras locais, parques ecológicos, museus etc. Atividades variadas agregam valor às atividades educativas da escola.
2.9 CONTRIBUIÇÕES DE HENRY WALLON
Segundo Dourado e Prandini (2001), o pensamento de Wallon preconiza que o desenvolvimento das dimensões motora e afetiva precedem o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Neste sentido, a inteligência surge após a afetividade e depende do desenvolvimento motor. A cognição é apenas parte do processo de formação integral do ser humano. O desenvolvimento do “eu” precisa integrar os aspectos afetivos, motores e o cognitivo, sendo o meio social o que vai alavancar este desenvolvimento. Toda atividade motora tem reações afetivas e cognitivas e toda atividade mental tem efeitos sobre os aspectos afetivos e motores do indivíduo.
Para os referidos autores, a emoção, na visão de Wallon, precede o desenvolvimento cognitivo e reflete na dimensão física do ser humano, precisando estar bem equilibrada nos educandos para que ocorra a aprendizagem. É neste sentido que se faz necessário ao educador, conhecer os aspectos emocionais de seus alunos, usando-os a favor de sua formação. É comum, por exemplo, crianças dos anos iniciais da educação infantil, chorarem no período de adaptação por estarem longe de pessoas de seu convívio. Através de um bom acolhimento e por se sentirem mais seguras na escola, dominam o medo (emoção) e interagem bem melhor no novo contexto, dando início ao seu processo de aprendizagem.
2.10 A ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
A alfabetização nesta etapa, muitas vezes acontece sem que a criança perceba. O despertar das potencialidades deve ser feito de forma lúdica e interdisciplinar, ou seja, através de outras áreas disciplinares, como psicomotricidade, natureza e sociedade, matemática.
O brincar é uma atividade que permite contribuir no desenvolvimento cognitivo. Cabe ao educador usar de sua criatividade e criar um ambiente que reúna elementos motivacionais onde a criança possa estabelecer vínculos, interagindo a favor da construção de seus conhecimentos.
Para Brito (2010):
Por meio de brinquedos, as crianças trabalham os significados, criando associações com o que imaginam com esses objetos (qualquer objeto ou brinquedo), representando possibilidades de reflexão da realidade. A escola pode e deve se utilizar da imitação e a leitura promoverá potencialização da aprendizagem se for conciliada a essas atividades (s/p).
Estimular o desenvolvimento cognitivo dos alunos é a tarefa mais importante de uma sala de aula. Tudo que for desafiador e possível de ser realizado propiciará um processo de ensino e aprendizagem muito mais harmonioso, por ser mais produtivo. A evolução da leitura e da escrita, tendência natural, expressiva e criativa da criança, pode ser facilitada pelo educador por meio de atividades, que servirão de apoio ao desenvolvimento da linguagem falada e ao processo de aquisição da linguagem escrita. Jogar e brincar são atividades que, se bem orientadas contribuirão para o processo de aquisição de novos conhecimentos.
A criança realmente precisa estar em contato com as formas de comunicação existentes na sociedade. A realidade de nosso país, muitas vezes não favorece as experiências com o mundo letrado às crianças de nível social mais baixo e neste sentido, a escola precisa ampará-la e promover este contato, mesmo porque, este direito está garantido em lei. Conhecer bem os alunos, suas necessidades e particularidades faz parte do trabalho do professor, pois muitas vezes, precisa dar mais atenção a alguns alunos em determinados aspectos.
3 CONCLUSÃO
A ludicidade deve estar sempre inserida nas práticas educativas, sejam elas nas fases iniciais ou finais do processo educacional, principalmente no período da alfabetização. Ao analisar diversos autores, conclui-se que as atividades lúdicas oferecem grande suporte na aquisição da leitura e no desenvolvimento do seu hábito, promovendo aprendizagens significativas, que vão de encontro aos interesses dos alunos e às necessidades de sua realidade social. Neste sentido, os educadores devem procurar conhecer seus alunos de forma individualizada, mas sempre considerar também o meio social ao qual pertencem. Além disso, devem receber formação acadêmica que lhes garanta compreender e planejar atividades que sejam prazerosas e relevantes aos educandos.
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRAMOVICK, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 3ª edição. São Paulo: Scipione, 1993.
ALMEIDA, M.T.P. Jogos divertidos e brinquedos criativos. Petrópolis: Vozes, 2004.
BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e Leitura. 2ª edição. São Paulo: Cortez, 1994.
BRITO, Danielle Santos de. A importância da leitura na formação social do indivíduo. Revela – periódico de divulgação científica da FALS – Ano IV – Nº VIII – Jun/2010.
COSTA, Marta Morais da. Literatura, leitura a aprendizagem. 2ª edição. Editora IEDES, 2009.
DOURADO, Ione Collado P.; PRANDINI, Regina Célia A. R. Henry Wallon: Psicologia e Educação. Disponível em 24reuniao.anped.org.br/T2071149960279.doc>2001.
LOPES, Vanessa Gomes. Linguagem do corpo e movimento: Curitiba: PR: FAEL, 2006.
OSTETTO, Luciana E. Entre a prosa e a poesia: fazeres, saberes e conhecimento na educação infantil. In: Pilotto, Silva Sell Duarte (org.). Linguagens da arte na infância. Joinville- SC: UNIVILLE, 2007, (p. 29 – 45).
SOARES, Magda. Alfabetização: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1988.
VICHESSI, Beatriz; PELLEGRINI, Denise. Grandes Diálogos: Emília Ferrero e Telma Weisz. Nova Escola. Editora Abril, ano XXVIII, nº 263, pág. 28 a 30, jun./jul, 2013.
* Mestranda em “Ciências da Educação” pela Facultad de Ciencias Sociales Interamericanas. Professora do curso de Pedagogia da Faculdade Vasconcelos & Souza.