A Lógica e o Criador
Por Luiz Silva | 03/07/2009 | FilosofiaDesde os primórdios, até hoje em dia, existem debates calorosos entre teístas e não teístas com relação a existência ou não de um Deus, Energia, Força, Consciência criadora.
Para os teístas, independentemente de sua religião, a existência de uma divindade por trás do ato criativo - aqui entenda-se ato criativo como criação do universo - é um fato que a nossa própria existência evidencia. Já os não teístas, baseados essencialmente nas filosofias de Popper e Bacon, onde a lógica e o empirismo (verificação ou refutação) são encarados como as únicas ferramentas de "julgamento" do método científico, argumentam que não existem evidências a favor da existência de um ser consciente, orquestrador e condutor da criação e do desenvolvimento do universo. Alguns afirmam que, na realidade, esta ausência de evidência éuma evidência de não existência deste ser criador.
Um dos argumentos mais utilizados pelos não teístas neste debate é o Princípio da Parcimônia, mais conhecido como "A Navalha de Occam" : "entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem" . Este princípio lógico afirma que as entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade. Então, caso um mesmo evento ou fenômeno encontre explicação em duas teorias ou modelos distintos, a teoria ou modelo mais simples – com menos elementos – provavelmente é o correto.
Tal afirmação se deve ao fato de que, ao multiplicarmos as entidades desnecessariamente, a probabilidade desta multiplicação gerar algum erro no modelo aumenta, em função do aumento de variáveis que explicam o seu comportamento.
Assim, ao transportar este argumento para o debate envolvendo a existência de um criador do universo, os não teístas argumentam que, pelo fato douniverso poder ser explicado com base em lógica e leis físicas "cegas" (sem intenção), admitindo-se que as lacunas existentes nas teorias atuais serão devidamente preenchidas por teorias futuras, então, ao considerarmos um criador para este mesmo universo, estaremos incluindo uma entidade desnecessária, haja vista que a lógica e as leis da física (atuais e futuras) são e serão suficientes para explicarmos a origem e o desenvolvimento do universo. Dessa forma, concluem que é mais provável que não exista criador para o nosso universo.
Porém, pode-se fazer um exercício interessante : observando e estudando o nosso universo, pode-se assumirque nosso universo é um universo lógico. Assim, se existe um criador paraeste universo lógico, devemos assumir que este criador é responsável, também, pela própria lógica do nosso universo e por suas leis "cegas".
Dessa forma, mesmo que nosso universo tenha sido criado por um ser superior, a ciência, que está fundamentada no empirismo e na lógica, encontrará, sempre, explicações lógicas, em leis que serão, corretamente ou não, consideradas cegas , para todo evento ou fenômeno que ocorrer neste universo.
Assim, ao incluirmos um ser criador neste modelo, estaremos, caso utilizemos a"A Navalha de Occam", incluindo uma entidade desnecessária, visto que o modelo sem esta entidade, baseado na lógica e em forças "cegas", explica, de forma igual, os fenômenos observados.
Então, termos como conseqüência da criação de um universo lógico, por parte de um criador, que a própria lógica deste universo irá ocultar, para seus seres vivientes, as evidências deste possível criador, sendo então, a alegada ausência de evidência de um criador, uma mera conseqüência da criação, por parte de um ser superior,de um universo lógico.
Com isso, temos que a Navalha de Occam não nos serve como ferramenta neste caso, pois o problema de inferirmos a probabilidade de estarmos certos ou errados, com relação a existência ou não de um criador para um universo lógico seria, na realidade, um problema indecidível.
Pobre criador, relegado ao esquecimento, pela lógica de sua própria criação.