A Lógica do Neoliberalismo

Por Jorge Schemes | 02/12/2008 | Filosofia

 

A LÓGICA DO NEOLIBERALISMO



Por: Jorge Schemes


O conceito de relação precisa ser abordado e fundamentado numa perspectiva histórico-crítica. É necessário privilegiar os aspectos psicosociais, principalmente os aspectos dialéticos e críticos. São as relações que se estabelecem que definem um grupo como tal. As relações foram se estabelecendo entre as pessoas e os bens desde a ré-história, passando pela Revolução Industrial e até os nossos dias, tempo histórico marcado pela presença constante da tecnologia digital. O modo de produção capitalista é definido nas relações de dominação e exploração. Portanto, passa a ser central hoje uma relação, a relação da exclusão. Com as constantes transformações tecnológicas, a maneira de se produzir as coisas e a maneira de se executar os serviços sofreram uma transformação profunda e ainda estão mudando. Dentro deste contexto, as relações de dominação e exploração da produção capitalista sofreram uma queda, dando lugar a relação de exclusão, onde as pessoas são simplesmente excluídas do trabalho e conseqüentemente excluídas da produção.

O neoliberalismo defende a bandeira da exclusão. O desenvolvimento ocasionado pelas novas tecnologias gerou a lei da competitividade, o que pressupõe a liberdade do mercado. Todavia, a competitividade exige a exclusão. O processo é atrelado à competitividade, este é o pressuposto do neoliberalismo. Um dos resultados é o crescimento assustador da brecha entre ricos e pobres, apesar da produtividade mundial, que chega a uma média de 4.200 dólares por pessoa ao ano, o que seria suficiente para todos viverem com conforto e dignidade. Esta má distribuição de renda dá origem ao quarto mundo, o mundo dos excluídos, da extrema pobreza. Nesta política da lógica da exclusão, predomina o clima de indiferença anti-solidária, o que trona a imensa massa sobrante de seres humanos objetos descartáveis, sobrevivendo como lixo da história. O resultado é um forte senso de individualização do social e um endeusamento do individual, o que acaba criando um desemprego planejado e legitimado por teorias psicosociais. Desta maneira as pessoas são individualmente responsabilizadas por uma situação econômica adversa e injusta, onde o social não existe. A ética fica apenas na dimensão do individualismo, uma microética em detrimento da necessidade de uma macroética. Além da exclusão social há a exclusão dos saberes, onde o conhecimento científico mostra desconfiança ao conhecimento espontâneo das pessoas comuns. A idéia iluminista de que o conhecimento científico dissipa a ignorância, tem por objetivo transformar as pessoas numa multidão de cientistas. Há uma urgente necessidade de reabilitar o saber popular que está fundamentado na oralidade e na vida prática cotidiana. O menosprezo pelos saberes populares esconde uma discriminação e uma tentativa de exclusão, ou ao menos a supressão de um determinado tipo de saber. A esta atitude podemos denominar de epistemicídio. Enquanto as práticas diferentes e alternativas de conhecimentos forem excluídas da educação sistematizada, e os saberes populares forem impedidos de se legitimarem, enquanto o saber acadêmico ou institucional for hegemônico, dificilmente poder-se-á falar de uma sociedade verdadeiramente democrática e pluralista, tanto do ponto de vista político como cultural e econômico.

Esta relação de exclusão substitui as antigas relações de dominação e exploração. Na legitimação da exclusão, a vítima é o próprio excluído. Na visão neoliberal não há espaço para o social nas ações do Estado, o qual minimiza suas obrigações neste sentido, pois o ser humano é definido como indivíduo, ou alguém que é um, mas não tem nada a ver com os outros. A pessoa torna-se a única responsável pelo seu êxito ou fracasso, assim, quem vence é aprovado e aceito no sistema, e quem é vencido é excluído. Esta é a lógica que dá origem ao quarto mundo, o mundo dos excluídos. Portanto, são necessários novos caminhos que levem a propostas e atitudes novas, humanizantes e éticas que conduzam a novas relações baseadas no respeito pela diversidade e que sejam pluralistas, democráticas, inclusivas e participativas.



Bibliografia:


SAWAIA, Bader (org.). Psicologia Social: as artimanhas da exclusão – análise psicosocial e ética da desigualdade social. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.



*Jorge Schemes
Bacharel em Teologia Línguas Bíblicas (Grego e Hebraico).
Licenciado em Pedagogia: Administração Escolar e Séries Iniciais.
Licenciado em Ciências da Religião: Habilitação em Ensino Religioso.
Pós-Graduado em Interdisciplinaridade com Metodologia do Ensino Superior.
Pós-Graduado em Psicopedagogia Clínica e Institucional.
Técnico Pedagógico na GEECT – Gerência da Educação, Ciência e Tecnologia.
Professor de Filosofia da Educação na ACE – Joinville, SC.
Escritor e Palestrante.
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