A Literatura no Brasil - O Romantismo

Por MONALISA LISBOA | 31/01/2010 | Literatura

O Romantismo inovou completamente e sistematicamente a poesia e o drama, substituindo por um ideal novo superado dos clássicos. No romance o Romantismo encontrou o melhor veículo para a divulgação das suas idéias, com forma narrativa moderna, surgiu como respostas à necessidade de expressão da parte do autor. Apontado como característica fundamental do Romantismo, a atitude de permanente oposição, de luta contra o que até então vigorava, e ao mesmo tempo de protesto contra as novas formas de existência permaneceu ligado às lutas políticas.

O romance Romantismo europeu apresenta uma série de características gerais, o predominante papel que exerce a personalidade do autor; a importância conferida à paixão; o amor ao exotismo; o maravilhoso; a aventura; a evocação do passado histórico; o sentimento da natureza em forma  de romance epistolar e autobiográfico. Essas características são mais evidentes e melhor exploradas nas literaturas onde o romance prolonga tradição.

Ao que se sabe, o precursor do romance no Brasil foi Lucas José de Alvarenga, que publicou a primeira novela Statira e Zoroastes. Evidentemente, o autor tinha mais propósitos políticos que literários, ao escrever essa obra. O fato é que Alvarenga publicou sua pequena novela quando nenhum outro escritor tinha adotado essa forma literária no Brasil e somente após dez anos da publicação da primeira novela é que apareceram romances e novelas de outros autores como: Pereira da Silva, Justiniano José da Rocha. Nenhum desses escritores sobreviveu como romancista, nem se dedicou ao romance como atividade literária única ou atividade principal, eram poetas, historiadores ou críticos que viam na forma narrativa a novidade digna de atenção, sobretudo pelo favor que lhe concedia um público cada vez mais interessado. Para eles sua escrita em forma de romance adaptava-se melhor ao gosto do país.

O nosso Romantismo vingou mais tarde do que no romance, mas o amadurecimento da nossa consciência nacional fora realizado em ritmo acelerado, no embate dos choques políticos e militares apesar da nossa literatura atrasada. No entanto, o que impedia a assimilação imediata e o aproveitamento dos temas dominantes do Romantismo, em síntese, os fatores que condicionaram a obra dos iniciadores do romance no Brasil, impedindo-a de elevar-se a um nível mínimo capaz de assegurar-lhe a sobrevivência.

O romance romântico europeu foi uma espécie de confissão pessoal, uma explosão da sensibilidade do indivíduo em face da sua nova circunstância histórica. No Brasil não se deu dessa forma, os escritores dessa época e a literatura são frutos de fatores mais de ordem política e cultural no sentido amplo, do que de fatores puramente literário e artístico. Pois nosso Romantismo é mais um produto de importação.

A fase definitiva do romance romântico inicia-se no Brasil com Teixeira e Sousa, o qual apresentava características que situavam em posição diferente da novela dos precursores, que dominava na obra a narrativa de personagens históricas e de ação abstrata ou localizada preferencialmente fora do Brasil.

O estudo de Teixeira e Souza é de ordem histórica as razões que aconselham estudá-los entre as principais figuras do romance romântico. Foi depois dele, e graças ao seu esforço que o romance ganhou entre nós posição mais definida, levando outros escritores a realizá-lo de modo permanente e deliberado.

Outro autor que foi importante na fase definitiva foi Joaquim Manuel de Macedo. Um romancista pertencente à categoria de escritor cuja obra literária se preocupa menos com a mensagem do que com a capacidade receptiva do leitor. O teatro, sua maior influência, era tão acentuado que muitos historiadores e críticos se inclinaram a dar maior importância ao comediógrafo do que ao romancista. O romance de caráter realista foi o que conferiu a Macedo a grande popularidade, pois suas obras  se alimentava sempre do conflito entre as românticas aspirações sentimentais das personagens e a realidade imediata.

José de Alencar foi um dos autores nacionais mais lidos em todo o país, o fato a este prestígio de caráter popular não corresponde nem mesmo ao simples interesse da grande maioria dos nossos intelectuais. Na realidade, o romancista ainda permanece assunto a explorar, apesar de sua importância fundamental no desenvolvimento da nossa literatura.

De modo geral, a crítica em relação a Alencar raramente saiu do plano do sentimento ou da consideração dos fatos da biografia, pois sua formação literária feita no amor dos clássicos e depois contemplada pela leitura cuidadosa dos românticos, não o impediria de ver mais longe do que os seus contemporâneos. Um exemplo disso foi a feitura do romance O Guarani, um romance bem feito e de sólida estrutura.

O romancista cearense dividiu o período da literatura em três fases, encaixando em cada uma delas alguma parte de sua obra. A primeira, a primitiva e a segunda de caráter histórico. Foi compreendendo isso que Artur Mota dividiu a obra de Alencar em quatro grupos: a) romance histórico o qual se inicia com a temática limitada do indianismo e evoluiu no sentido de ampliar o mundo no tempo e no espaço: b) romance da vida da cidade com objetivo captar o conflito do espírito nacional em face de influencia estrangeiras, cujo teatro era naturalmente a corte, a capital. Seus romances urbanos apresentam um levantamento da vida burguesa do século passado, mas considerável do que o levado a efeito de Machado: c) romance regionalista o que seria o deslocamento do interesse de Alencar, do geral nacional para o geral regional. O romance regionalista de Alencar, como o de Távora é Guimarães, natural desdobramento da romance histórico, feito na base da acentuação dessa tendência realista.

Bernardo Guimarães foi um romancista popular e de prestígio, este quase desaparecido, pois resistiu menos do que a popularidade e prestígio de Macedo e de Alencar. É quase certo que isso se deva menos aos assuntos dos romances do que á própria estrutura deles. Guimarães tem uma concepção primária de romance, em conseqüência da influencia dominadora que nele exerceu a literatura oral a organização de suas narrativas é sempre histórias contadas em voz alta, e mesmo em obras que poderiam ser apresentadas como exceção.

Franklin Távora fez com que a sua obra permanecesse assunto quase inexplorável pela critica moderna, porem é importante observar que entre a teoria e a prática de Távora existe evidente descompasso.

Taunay, o único que conseguiu sobreviver foi exatamente o que lhe deu nomeada e o tornou conhecido fora de Brasil. Escritor de transição entre o Romantismo e o Realismo, sua concepção do mundo tem muito de romântico, pela dominância do idealismo sentimental sobre a observação e a análise nos valores secundários da história.  

Conclui-se que os romances do Romantismo tanto o europeu quanto o brasileiro levaram ao leitor da época uma realidade idealizada, com o qual eles se identificaram.

Diferentemente do europeu, o romance romântico no Brasil demonstrou um esforço estético, uma vontade de forma, uma capacidade de elaboração artística que não encontramos em nenhum outro período.