A LITERATURA DE CORDEL: resgate de memoriais e cultura popular como recurso de aprendizagem na sala de aula

Por Josemary Ferreira Costa | 25/07/2019 | Educação

A LITERATURA DE CORDEL:resgate de memoriais e cultura popular como recurso de aprendizagem na sala de aula

Josemary Ferreira Costa[1]

WaldaCleres Arruda Aguiar[2]

RESUMO

A literatura de cordel é abordada nesse trabalhobibliográfico de cunho qualitativo, tendo em vista o resgate de memorias e cultura popular que pode ser realizada dentro da sala de aula, de forma lúdica e prazerosa, tendo em vista que esse é um espaço de construção de saberes. Objetiva-se instigar o uso da literatura cordelista na sala de aula tendo em vista vincular os conhecimentos de vivencias de seus alunos às produções textuais, e por outro lado promover o acesso a informações sobre as produções textuais realizadas pelos cordelistas. Considera-se interessante conhecer o processo histórico e os principais expoentes cordelistas, assim como o resgate das memórias da história do povo nordestino e brasileiro. Destaca-se que nesse artigo buscou-se estudar a literatura de cordelapoiada em estudiosos como: Melo (2016) buscando seus relatos históricos sobre a literatura objeto de estudo; Silva, Hoffmann e Esteban (2006) que trabalham a aprendizagem significativa na sala de aula; RAMOS (2009) que busca ressaltar as histórias contadas em quadrinhos; Alano (2012) buscou reavivar a memória do Patativa do Assaré, em suas publicações, entre outros estudiosos que ressaltam a literatura de cordel como metodologia na sala de aula.  Busca apoio nos PCNs (Brasil, 1998) para pontuar a importância do uso dos livretos cordelistas na educação. Finaliza-se com as considerações finais reafirmando-se a importância da utilização de metodologias e práticas educativas que revitalizem o interesse do aluno e suas construções significativas na sala de aula.

 

1 INTRODUÇÃO

A sala de aula é um espaço de construções de saberes e edificação da identidade profissional. Nesse espaço é possível o professor utilizar sua linha de pensamento pedagógico para promover o resgate da cultura adormecida pela sociedade.

O estudo que aqui se delineia tem como objetivo instigar sobre a importância da literatura de cordel como forma de alavancar o desenvolvimento educacional, partindo do pressuposto que uma manifestação artística popular representa uma realidade social. Sendo assim torna-se pertinente despertar o interesse do aluno pela história de sua terra trabalhando com a literatura.

Nos últimos anos, tendo em vista o surgimento de novas tecnologia e aalavancada recebidas como contribuição das redes sociais,  surgiram novos métodos, metodologias e técnicas de ensino visando melhorar as práticas educativas em sala de aula e imprimir mais qualidade no ensino. Sabe-se que as tecnologias sempre contribuíram para o crescimento das práticas pedagógicas, sejam elas contemporâneas ou tradicionais. O uso da linguagem alternativa e novas formas de aplicação dos conteúdos se propagada a partir das ações do educador e estas devem se revestir com uma nova roupagem para restabelecer uma aprendizagem significativa.

Destaca-se que a literatura de cordel surge como linguagem alternativa para favorecer o desenvolvimento do ensino na sala de aula, tendo em vista que leva o estudante a despertar sua criatividade na produção do texto, na oralidade e, ainda, oportuniza o desenvolvimento do pensamento critico de forma espontânea, principalmente pelos seus contextos acerca da realidade social política e econômica.

Utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo, pois a proposta desse estudo é mostrar de forma dialética, descritiva e interpretativa, o desenvolvimento da literatura de cordel dentro de sua singularidade, imprimido respeito às tradições da cultura popular nordestina. Trata-se, portanto, de um estudo de tipologia descritiva na interpretação das informações coletadas. Utilizam-se livros, revistas, artigos e outras fontes que venham fundamentar esse estudo.

Não se pretende analisar, mas refletir sobre a importância da literatura de cordel, quando utilizada na sala de aula para a construção de novos saberes. Sendo assim esse estudo possui relevância cientifica, pois buscamostrar que o uso da literatura na sala de aula, dar mais significância as aulas além de despertaro estudante para o conhecimento da cultura popular.

 

2 UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA DA LITERATURA DE CORDEL

            Quando se aborda aliteratura de cordel, logo se visualiza que ela se define como uma poesia popular elaborada por pessoas simples, que se caracteriza pela composição de pequenos textos que são escritos por pessoas simples e se apresentam em folhetos e como divulgação são vendida por preços simbólicos em praças e feiras das cidades nordestinas.Para vendê-los, os pequenos comerciantes costumam pendurar os livretos em cordões, daí a origem do nome “cordel”.

A História revela que no século XVI, em pleno período do Renascimento,quando a necessidade de conhecimento se intensificou e surgiram vários anseios em busca do saber, a literatura de cordel passou a ser valorizada. Em Portugal, durante o século XVII,sua comercialização passou a ser comum, sendo um comércio realizado pelas pessoas cegas, que durante o dia ficavam em praças, feiras, ruas, ou mesmo em romarias, passando a receber a nomenclatura de “literatura de cego”. Essas folhas avulsas se tornaram interessantes pelo seu conteúdo, pois continham registros rudimentares de fatos históricos, poesias, cenas de teatro.

A literatura de cordel teve início no século XVI, quando o Renascimento passou a popularizar a impressão dos relatos que pela tradição eram feitos oralmente pelos trovadores. A tradição desse tipo de publicação vem da Europa. No século XVIII esse tipo de literatura já era comum, e os portugueses a chamavam de literatura de cego, pois em 1789, Dom João V criou uma lei em que era permitido à Irmandade dos homens cegos de Lisboa negociar esse tipo de publicação. No início, a literatura de cordel também tinha peças de teatro, como as que Gil Vicente escrevia. Esta literatura foi introduzida no Brasil pelos portugueses desde o início da colonização. (MELO, 2016, p.02)

 

Conta a história abordada por Melo (2016) que as folhas volantes portuguesas tiveram como antecessora, a “littèrature de colportage”, caracterizado pela impressão de pequenos“libretos” que haviam surgido na França no século XVI.Os livretos se caracterizam pela impressão rudimentar, pois apresentavam uma qualidade inferior, sendo utilizado um papel na cor cinza e azul. Além disso,revelavam em seu texto os velhos romances, cantigas, vidas edificantes e fatos históricos. A literatura de cordel foi divulgada em toda a Europa e dessa forma, a literatura de cordel se expandiu e foi levada para o continente americano pelos descobridores espanhóis e portugueses.

 

2.1 A Literatura de cordel no Brasil

            Pesquisas revelam que a literatura de cordel chegou ao Brasil no início da colonização, que em sua marca no século XVIII, foi trazida pelos colonizadores portugueses. Assim, essa literatura e gradativamente foi se tornando popular. Segundo Melo (2016) existe registro que foi o cantador Silvino Pirauá que trouxe para o país e divulgou em suas cantigas que agradava ao publico. Também existe registro que foi a dupla: Leandro Gomes de Barros e Francisco Chagas Batista que transportou essa literatura por todo o nordeste e país. No entanto, oque se sabe é que, a maioria dos autores da literatura de cordel eram também cantores de prosa sertaneja, pois faziam improvisos de versos, cantando repentes, e em suas andanças pelo sertão não deixavam de propagar a literatura de cordel.

Ao chegar ao Brasil, a literatura de cordel, instalou-se no sertão da Bahia, e de Pernambuco, assim como foi divulgada em outros estados do nordeste, fazendo grande sucesso, pois conquistou grande publico, pela leitura agradável e histórias interessantes. Como se verifica nos escritos de Melo (2016) essa literatura encontrou a terra fértil, pois se vivia em plena época de colonização e o povo estava interessado em conhecer mais os fatos históricos, as pequenas historias romancista e os versos literários. Nos anos de 1750 apareceram os primeiros poetas cordelistas, em suas produções narradasem versoscontava fatos históricos para a sociedade, tendo em vista que a maior parte da população não sabia ler. O interessante é que por ser a maioria da população analfabeta, costumavam ouvir e decorar as histórias contadas pelos prosadores. Muitas vezes as histórias cantadas eram acompanhadas pelo som da viola, o que despertava o maior interesse do povo que parava para escutar os cantadores.

Os poetas que escrevem sobre a literatura de cordel demonstram uma percepção maior sobre a realidade que vivem, processando as informações que filtram do ambiente.Por essa razão, se tornam repórter de seus relatos, utilizando uma linguagem simples para a escrita e para leitura, e demonstram sua própria maneira de ver a realidade.

Segundo Silva, Hoffmann e Esteban (2006, p. 20)

Quando percebemos que o fundamental é levar os alunos das séries iniciais, a construir e compreender textos (orais e escritos), agindo de forma critica e criativa na sociedade, precisamos, então, garantir o tempo necessário para desenvolver tais capacidades e definir os conhecimentos essenciais para que tal competência se desenvolva.

 

Cabe ao educador estar com sua atenção voltada para o ritmo do aluno e a forma como ele entende o que lhe é passado e diante disso buscar instrumentos pedagógicos que lhe possibilite a aprendizagem significativa. A literatura de cordel por ter uma linguagem simples e interessante pode ajudar no processo de aprendizagem da criança, que ao ler se sente envolvido pela história contada em versos. Os textos dessa literatura são envolventes pois os cordelistas conseguem mostrar seus contentamento e descontentamentos, suas alegrias e suas tristezas. Conseguem também, reavivar na memoria da sociedade fatos históricos ocorridos e parecem adormecidos, como a história de Lampião, de João Grilo, falar sobre histórias de amor, despertando o interesse dos sonhadores, em quadrinhos que são rimados revelando o gênero textual, que leva o leitor a se identificar com o texto escrito ou cantado.

Quadrinhos são quadrinhos. E, como tais, gozam de uma linguagem autônoma, que usa mecanismos próprios para representar os elementos narrativos. Há muitos pontos comuns com a literatura, evidentemente. Assim como há também com o cinema, o teatro e tantas outras linguagens. (RAMOS, 2009, p.17).

 

Atualmente,o Nordeste brasileiroéa região brasileira, onde essa literatura é mais divulgada, podendo ainda, se encontrar essesfolhetos sendo vendidos nas ruas e praças em lonas ou em malas estendidas nas feiras populares. Também ainda é possível encontra-los pendurados em cordões, como nos séculos passados. Pode-se perceber que muitos escritores brasileiros comoJoão Cabral de Melo, Ariano Suassuna, José Lins do Rego e Guimarães Rosa, também apresentam um estilo literário com raízes nos cordéis, o que ajudou muito na divulgação das histórias do sertão nordestino.

 

  1. Principais características da literatura de cordel

A literatura de cordel apresenta algumas características que ilustra a divulgação dogênero, uma delas segundo Melo (2016) é descrita por xilogravuras; possuem forte ligação com a cultura regional, fortificando a continuidade do folclore brasileiro; trata-se de uma publicação de maior acesso econômico, pois é barato, sendo possível a aquisição por algumas pessoas menos abastada financeiramente, e com isso incentiva a leitura; os textos são escritos em forma de romance, com descrição dos personagens, narrativa de monologo, suplicas, preces etc.

Segundo Silva, Hoffmann e Esteban (2006, p. 20)

Hoje, em decorrência das mudanças provocadas pelo estudo da linguagem, observamos necessidades de avaliar melhor se os alunos conseguem agir linguisticamente, ou seja, se eles estão ampliando as capacidades de compreender e de produzir textosorais e escritos, dentre outros objetivosmenos centrais.

 

As histórias de cordel trazem um ponto central, uma situação problema que só é resolvida pela inteligência, com isso, estimula o raciocínio lógico constituindo-se forte aliado na aprendizagem, podendo ser utilizado por educadores para explorar a leitura e incentivar o aluno na produção textual. Também,se pode citar que no que concerne a comunicação Hoch (2002) esclarece que o diálogo concede lugar ao texto escrito tornando a leitura torna-se agradável, pois conta uma história e traz um herói que sofre de paixão e não consegue ficar com seu amor devido a proibição dos pais, sendo que no final da história o herói vence seus problemas e fica com sua amada

 

2.3 Alguns dos principais autores cordelistas

            Na literatura de cordel ressalta-se que muitos autores se destacaram, pelo seu nível revelador de inteligência, demonstrando em seus escritos a esperteza, a capacidade de envolvimento e a destreza para resolver a problemática que cada poesia representa, pois elas se constituem de casos, fatos contados, cujos textos precisam se organizar coerentemente. Entres esses autores encontram-se alguns que serão elencados nesse artigo:

  1.  Patativa do Assaré: elegida pelos brasileiros admiradores da arte nordestina, como uma das figuras que se destacam pela sua inigalável importância no que se refere à literatura de cordel. Esclarece-se que“Patativa do Assaré” é o nome artístico de Antônio Gonçalves da Silva. O nome deve-se ao fato de que o poeta nasceu em Assaré no Ceará no ano de 1909, e por gostar de cantar suas cantigas seu Antônio assumiu tal nomenclatura, pela qual ficou conhecido em todo país. “Patativa do Assaré” faleceu no ano de 2002, tendo seu legado histórico marcado sua existência. Esse poeta dedicou sua vida a literatura popular, seus poemas tinha uma linguagem simples, além de poeta, era compositor e improvisador, não considerava cordelista. Alano (2012) ressalta que o poeta teve uma infância difícil, pois viveu num sitio com seus pais que trabalhavam na terra, e de lá, tiravam seu sustento.Quando perdeu o pai tinha 8 anos de idade passando a trabalhar na roça. Foi uma das principais figuras que se apresentou na literatura de cordel e se sobressaiu na música nordestina durante o século XX.  Assim Alano (2012, p 34), ressalta as palavras do Patativa do Assaré:

Eu Antonio Gonçalves da Silva filho de Pedro Gonçalves e de Maria Pereira da Silva, nasci aqui a 5 de março de 1909, no sítio denominado serra de Santana, que distra três léguas da cidade de Assaré. Com idade de doze anos frequentei uma escola muito atrasada, na qual passei quatro meses. Porém sem interromper muito o trabalho de agricultor.

Sai da escola lendo o segundo livro de Felisberto de Carvalho e daquele tempo para cá não frequentei mais escola nenhuma. Com 16 anos de idade, comprei um viola e comecei a cantar de improviso, pois naquele tempo eu já improvisava, glosando os motes que os interessados me apresentavam. Nunca quis fazer profissão de minha musa, sempre tenho cantado, glosando e recitando, quando alguém me convida para esse fim.

ANTÔNIO GONÇALVES DA SILVA, Patativa do Assaré. (http://blog.teatrodope.com.br/2007/07/06/autobiografia-de-patativa-do-assare/).

 

O “Patativa do Assaré” foi criado ouvindo música e sempre gostou de criar seus repentes usando a viola, que era sua companheira. Suas obras traziam o mundo roceiro, que demonstrava a tristeza e descontentamento em relação às mudanças que ocorriam com a modernidade, mostrava seu descontentamento com a marginalização da sociedade, com a repressão e com a pobreza através dos seus repentes, pois sempre abordava os valores, e ideais de uma sociedade mis acolhedora. Entre as obras de sua publicação esta o livro publicado em 1978 “Canta lá que eu canto Cá”.

O poeta conquistou muitos prêmios e ficou reconhecido nacionalmente, recebendo títulos e homenagens, foi condecorado cinco vezes como “Doutor Honoris Causa” em quatro universidades. O poeta sempre viveu em sua cidade no Cariri, interior do Ceará. Portador de excelente memoria seus poemas eram guardados na memoria e quando precisava os recitava. Do seu casamento com Belinha nasceram nove filhos, morreu em 2002 na mesma cidade, da qual recebe o nome.

Patativa durante sua vida tomou consciência do poder da voz e revela isso em seus versos e prosas:

O bem do nosso progresso

Quero o apoio do congresso

Sobre uma reforma agraria

Que venha por sua vez

Libertar o camponês

Da situação precária

(eu quero).    Patativa de Assaré/ Antônio Gonçalves da Silva. (1978)

 

Uma de suas maiores preocupações estava relacionada com o futuro das gerações que ainda iam nascer, com os rumos que tomariam a sociedade que vivia em meio a corrupção e a miséria, defendia a educação como indispensável para melhoria da qualidade de vida da sociedade.

 

É por meio da leitura

Que poderá a criatura

Na vida desenvolver

O livro companheiro

Mais fiel e verdadeiro

Que nos ajuda a vencer

   Patativa de Assaré/ Antônio Gonçalves da Silva (1978)

 

Os pensamentos de Patativa do Assaré ainda estão vivos na memoria da sociedade e seus versos e prosas ainda são motivos para outros poetas e romancistas trazerem a baila os problemas sociais e educacionais.

 

  1. João Martins de Athayde: Nascido em 1880 em Cachoeira de Cebolas, no município de Ingá do Bacamarte, na Paraíba.Segundo escritos de Gaspar (2009) o poeta passou parte de sua vida trabalhando como mascate, andando pelos estados do norte e nordeste, fez cursos de enfermagem durante o tempo que viveu em Recife, tornou-se o maior editor da literatura de cordel quando comprou o projeto editorial de Leandro Gomes de Barros, observando o êxito dos folhetos que revelavam lutas e humor, logo investiu nesse tipo de produção, usando algumas vezes personagens reais e outras vezes fictícios. Em 1950 vendeu a gráfica para José Bernardo da Silva, que passou a editar toda a produção. Athayde dedicou-se aos versos, prosas e filmes de sucesso, entre os quais está “O conde de monte cristo”, uma das mais famosas produções. Suas produções foram motivo de elogios por parte de Mario de Andrade.

Segundo Gaspar (2009, p. 02)

Seu primeiro folheto de cordel, O preto e o branco apurando qualidade, que alcançou grande sucesso de vendas, foi escrito, em 1908, e impresso na Tipografia Moderna. A partir daí, começou a vender folhetos de sua autoria e de outros em feiras e mercados do Recife.

Entre seus sucessos está o registro de romances e recebendo votos para Príncipe dos Poetas Brasileiros. Sendo um desbravador da literatura de cordel seus folhetos se espalharam pelo Brasil todos, ficando seu nome conhecido e respeitado.

  1. João Melchíades Ferreira da Silva: nascido em 1869, na cidade de Bananeiras, no Paraíba, perdeu os pais ainda criança, aos 8 anos e foi alfabetizado pelo beato Antônio Simão que era católico e ensinava crianças. Alistou-se no exercito para servir a pátria aos 19 anos, foi promovido a sargento e combateu na guerra de Canudos em 1827, participou da campanha de defesa de território entre Brasil e Bolívia. Após reformado do exército voltou para Paraíba e casou-se, tornando-se cantor e poeta popular, produziu o poema “A guerra dos canudos” em literatura de cordel.
  2. Arievaldo Viana Lima: o cordelista nasceu em 1967 em Quixeramobim, no Ceará, tornou-se poeta popular e radialista.  Em 1980, já morando em Canidé iniciou suas atividades culturais através dos poemas e das carges. Assim ele produziu o livro “Acorda cordel na sala de aula”, e, seu trabalho buscou despertar interesse dos educadores para o uso da literatura de cordel na sala de aula, por essa razão, utiliza-se de técnicas metodológicas para facilitar a aprendizagem, pois contém ferramenta didática, especialmente para a alfabetização. Observa-se que seu trabalho foi o pioneiro a pensar na educação, pois tinha na lembrança o tempo que viveu na casa de Ouro Preto, onde passou sua infância. Lá as crianças aprendiam ler através dos folhetos de cordel. Sabe-se da riqueza que é a literatura de cordel, pelos acontecimentos históricos, pelas características de seus livretos ilustrados e versados, carregam importante instrumento de aprendizagem e, se utilizados em sala de aula, provocam o despertar do interesse de estudantes. Brasil (1998) reafirma a importância de uma aprendizagem significativa e a utilização de livretos cordelista proporciona o interesse.

Schmidt e Garcia (2005) reiteram que a sala de aula pode se transformar na oficina do saber, na qual o diálogo de forma contextualizada pode proporcionar grandes progressos na aprendizagem da leitura, da matemática, da história, geografia e ciência, e ainda esses folhetos podem produzir um conhecimento muito maior sobre as políticas sociais do país.

  1. Leandro Gomes de Barros: nasceu na Paraíba em 1865, no município de Pombal,viveu com o tio que o adotou, mudando-se com a família para a Vila do Teixeira, e lá iniciou seus trabalhos cordelistas, pois conheceu muitos poetas da literatura de cordel.Depoisse mudou para Pernambuco onde intensificou seu trabalho, se tornando dono de uma pequena gráfica, seus folhetos se espalharam pelo sertão nordestino.
  2. José Costa Leite: nasceu no Paraíba em 1927, não frequentou escola, aprendeu a ler nos folhetos de literatura de cordel, em 1938 foi para Pernambuco, onde fixou residência. Trabalho na terra em sua infância e fez os primeiros folhetos, ainda muito novo, aos 20 anos. Autor de poemas como: Eduardo e Alzira; Discussão de José Costa com Miguel Vicente.

 

  1. A LITERATURA DE CORDEL NA EDUCAÇÃO

A pesquisa sobre a literatura de cordel indica sua similaridade e que é muito rica em seu contexto poético e sua linguagem alternativa se constitui nas praticas educativo um recurso metodológico que pode ser utilizado com sucesso na sala de aula. Portanto, ressalta-se a importância do uso dessa literatura com dinamismo pelos educadores que podem desenvolver atividades usando a ludicidade, tornando o ambiente prazeroso.

Para Pinto ( 2003, p. 42)

A criança é que dá vida ao brinquedo e pode transformar, como num conto de fadas, uma abóbora numa carruagem, uma vassoura num veloz cavalo; uma panela vira um chapéu ...e muitas vezes, basta saber da existência do brinquedo para apropriar-se dele e usá-lo: tocar violão, tirar fotografia sem ter máquina ou atirar de um revolver imaginário.

Todas essas fantasias destacadas na citação são cultivadas num espaço chamado de transicional, pois se encontra entre a imaginação e a realidade, e nesse espaço se estabelece o jogo de faz de conta, no qual a criança é livre para criar, fantasiar e brincar. Sendo assim ao utilizar a literatura de cordel o educador pode levar a criança a viver de forma simbólica os fatos históricos relatados nos versos de cordel, e, assim, o profissional pode mediar o desenvolvimento da linguagem oral e escrita.

O desenvolvimento da linguagem oral e escrita exige raciocínio lógico para a organização do som e da forma. Sendo assim a literatura de cordel pode instrumentalizar o exercício de oralidade de forma prazerosa, pois se constitui em uma poesia de gênero literário que explora a leitura. Daí partindo da linguagem oral o educador pode remanejar a prática dos fonemas que rimam e tem relação entre si. Explorando a escrita de estrofes e estudando o significado de cada palavra, para torna-la significante para o aluno.

O ensino da língua portuguesa ocorre em função do reconhecimento e aplicação de normas e regras ortográficas e o dialeto utilizado na literatura de cordel torna viável o desenvolvimento da competência linguística. Segundo Brasil (1998) os Parametros Curriculares Nacionais (PCNs) o desenvolvimento da linguagem requer recursos metodológicos que estimulem sua pratica de forma dinâmica e prazerosa, sendo assim a literatura de cordel pode ser um recursos bem utilizado para a aprendizagem da leitura e da escrita.

O estudo do gênero literário cordelista proporciona aos estudantes novas perspectiva de aprendizagem. Tendo em vista as novas concepções de língua ao longo do tempo influencia diretamente na prática pedagógica na sala de aula, e se, atrelado ao objetivo do planejamento o professor pode utilizá-lo para desenvolver competências comunicativas do aluno. Alano (2012) concorda que o uso desse gênero contribui para tornar o leitor mais falante, pois ajuda na expressão.

Brasil (1998) é claro ao colaborar com os temas transversais nos conteúdos escolares, essa inserção contribui para ampliar o horizonte linguístico do aluno fazendo com que ele compreenda a complexidade da realidade que vive. Para isso, torna-se imprescindível incluir no contexto de sala de aula questões sociais para discussão posterior a leitura, a inclusão de temáticas variadas sobre ética, direito humanos, o ambiente entre outros favorece a aprendizagem significativa e motiva o estudante a ter mobilidade na busca por conhecimentos além da sala de aula.

Atualmente, busca-se pela formação do sujeito capaz de transforma-se e transformar o mundo que vive. Tornar-se um leitor critico, exige dele uma compreensão maior de mundo. “Para fazer florescer o leitor critico, é preciso alçar a leitura à condição de instrumento de conscientização capaz de aguçar a criticidade do aprendiz, habilitando-o a compreender a contradição existente na sociedade”. (Lima, 1995, p. 36). Isso faz com que a literatura de cordel se transforme num instrumento pedagógicoque pode explorar a realidade vivenciada pelo estudante, e, ao mesmo tempo, busque desenvolver habilidades e competências linguísticas.

A partir do desenvolvimento de estudos linguísticos o sujeito passa por transformações e alterações na forma de compreender e falar sobre o texto. Isso engloba mais do que palavras atingem a imagem que o sujeito elabora sobre o objeto de estudo. Sendo assim surgirão textos dentro da diversidade de linguagem que vivencia, podendo a imagem (linguagem não-verbal) ser transformada em texto critico. “O leitor de cordel é estimulado a imaginar as situações, não tem as imagens prontas como livros infantis.” (Viana, 2006, p. 2). Dessa forma pode-se dizer que a xilogravura pode ser um forte aliado na sala de aula, no trabalho com leitura critica. “Ler, compreender, interpretar, criticar sua literatura é um exercício de cidadania, através do qual, estética – histórica – socialmente, ele pode interferir na sociedade, como sujeito critico e criador”. (LIMA, 1995, p. 36).

A imagem estimula o pensamento, a imaginação vagueia e atinge o nível do raciocínio, que é utilizado na resolução dos problemas, à medida que o estudante é conduzido a associar a literatura de cordel a uma temática planejada pelo educador anteriormente e levada para discussão na sala de aula. A atitude critica, surge a partir do estímulo recebido, através do recurso utilizado pelo profissional. Segundo Piaget; Inhelder (1993) ao conduzir o aluno à reflexão, o educador provoca seus mecanismos mentais funcionais e leva-o a problematizar, traçar estratégias e reformular conceitos antes considerados certos, isso proporciona um novo estado, o de equilíbrio e, em seguida de adaptação. E a cada adaptação o sujeito aprende a elaborar novos conceitos sobre o conhecimento adquirido.

O recurso didático pode fazer diferença na sala de aula se for bem utilizado pelo professor, daí a importância do planejamento. Vasconcellos (2008) afirma ser importante que antes de o professor chegar à sala de aula, deve se planejar, para atribuir significado ao recurso. A literatura de cordel pode ser um instrumentodinâmico, pois se apresenta dentro da ludicidade defendida pelos PCNs (Brasil, 1998), uma vez que se constitui de rimas, musicalidade, que exige envolvimento do leitor. “Temos observado que em toda classe Essa inserção do aluno no há sempre dois ou três alunos que têm vocação para poesia popular. Inclusive gente que trabalha com o rape descobriu um parentesco com o cordel.” (VIANA, 2006, p.03).

            Alguns professores relatam que conforme suas experiências na sala de aula, utilizando a literatura de cordel, observaram que, esse recurso enriquece o conteúdo, provocando interesse na participação de leituras e na elaboração de novos textos rimados. Assim o professor pode fazer com sua prática pedagógica melhore e promova o ensino de qualidade, no qual o aluno é o construtor do seu conhecimento.

Muitas vezes os professores solicitam que seus alunos façam uma parodia utilizando determinado conteúdo. Essa ação treina-os para a elaboração de pequenos poemas que facilitam a aprendizagem do conteúdo estimado. Os cordéis sempre se estruturam em criar uma situação que mereça destaque e aguce a inteligência do leitor e a educação nas ultimas décadas tem alçado voos bem alto em busca de metodologias inovadoras que promova um ensino de qualidade.

Interessante, no contexto da infância e da adolescência, na convivência com a malvadez dos poderosos, com a fragilidade que precisa virar a força dos dominados, que o tempo fundante do SESI, cheio de "soldaduras" e "ligaduras” de velhas e puras “adivinhações” a que meu novo saber emergindo de forma crítica deu sentido, eu "li” a razão de ser ou algumas delas, as tramas de livros já escritos e que eu não lera ainda e de livros que ainda seriam escritos e que viriam a iluminar a memória viva que me marcava. Marx, Lukács, Fromm, Gramsci, Fanon, Memmi, Sartre, Kosik, Agnes Heller, M. Ponty, Simone Weill, Arendt, Marcuse... (FREIRE, 1992, p.10).

 

Os cordéis revelam fatos históricos, dramas vividos e eternizam a cultura popular, e, quando se aborda a cultura, se afirma nos apontamentos de Freire (1992) que aborda a cultura como toda produção realizada pelo ser humano, sendo ela fundamental para a educação, pois somente através da cultura o ser humano toma consciência de seu mundo e de sua história.

Por muitos anos os folhetos de cordel funcionavam com jornal para o povo que os comprava nas feiras, pois sempre traziam notícias de forma literária. Na sala de aula eles podem contribuir como recurso pedagógico, tendo em vista a diversidade de seu conteúdo e o próprio formato que o caracteriza. Além de estimular os conhecimentos da realidade, a literatura de cordel pode ajudar a preservar as memórias do povo e a cultura popular, e ainda, o professor alfabetizador a trabalhar o tempo, pois os versos vem ritmados e possuem linguagem simples e fácil de ser entendida.

Algumas escolas já adotaram como uso do recurso,a literatura de cordel, com estimulo do Governo Federal que comprou vários títulos adotando os cordéis na sala de aula. Assim é possível encontrar escolas que trabalham a literatura clássica de cordel como, Dom Quixote e Macbeth. Os professores que trabalham com cordéis sentem-se satisfeitos com os resultados. No entanto em algumas cidades brasileiras, essas produções são escassas, mesmo em algumas cidades do nordeste quase não é possível mais encontrar essas obras. Alguns autores buscam resgatar essa literatura tendo em vista sua aplicabilidade na sala de aula, uma vez que os PCNs (Brasil, 1998) formulam a aprendizagem significativa como veiculo de humanização e inclusão da pessoa no mundo social.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) pontuado por Brasil (1998) se refere ainda, ao ensino interdisciplinar tendo em vista a formação da cidadania, nesse caso o aluno passa a ser o protagonista de sua aprendizagem, construindo sua própria identidade cidadã. Sendo assim a literatura de cordel cria possibilidades ao aluno de terem contato com a variedade linguística e com os diversos gêneros textuais que se aplicados de forma correta, bem planejada pelo professor vai promover a aprendizagem.

É fato que, a literatura de cordel pode ser inserida no contexto de sala de aula, desde que seja planejada para alcançar objetivos direcionados a aquisição de conhecimentos pertinentes aos conteúdos curriculares. Caso contrário, corre-se o risco de cair somente em momento de entretenimento. Cabe, portanto ao professor se instrumentalizar e realizar uma aula significativa sem perder o rumo da ludicidade. Observa-se que a cultura popular se reaviva dentro da literatura de cordel e pode beneficiar milhões de pessoas que precisam aprender determinado conteúdo e, que sentem dificuldade, sendo esse recurso auxiliar indispensável no resgate afetivo, precisa ser utilizado.

 

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensar no uso da literatura de cordel na sala de aula como um instrumento de aprendizagem leva a uma necessidade de ampliar os conhecimentos sobre o assunto. Sabe-se da importância do professor reinventar-se todos os dias para reformular seus métodos e técnicas tendo em vista o desenvolvimento da aprendizagem significativa.

As metodologias desenvolvidas pelo educador precisam ter consistências teóricas metodológicas de maneira que alcancem os objetivos que se propõe. No entanto, é preciso que o profissional esteja atento para que seus métodos não caiam na rotina e os alunos percam o interesse.

Sendo de caráter popular significativo, a literatura de cordel surge na sala de aula para valorizar a cultura ecomo linguagem alternativa, que traduz a importância da produção textual estimulando a leitura e a compreensão do texto,podendo ser conduzida pela mediação do professor de forma lúdica para construção de saberes essenciais na sala de aula,

            É preciso que se reveja as metodologias de leituras utilizadas de forma mecânica e leve a consistência da compreensão e interpretação textual, para isso o uso da literatura cordelista tem sua singularidade pelo caráter de ludicidade que representa em seus versos, além do respeito as transmissões histórica cultural que se estabelece no diálogo das narrativas apresentadas

A literatura de cordel consiste em uma poesia de caráter popular, que originalmente, se realizava pela linguagem oral e/ou escrita, e, após alguns anos foi se transformando em pequenos textos escritos em rimas que são impressos em folhetos. Se utilizado na sala de aula, pode-se apresentar de diversas formas, para isto basta à criatividade do professor em mediar o processo de aprendizagem, dentro do processo pedagógico. Isto significa que o profissional deve possibilitar o desenvolvimento de trabalhos pedagógicos e oportunizar a construção laborativas a respeito do assunto em pauta, visando expandir para a interdisciplinaridade, juntando componentes curriculares ou áreas de conhecimentos diferentes com objetivo de construção do conhecimento conjunto.

Destaca-se que, a interdisciplinaridade aqui abordada, não restringe apenas a junção de saberes de componentes curriculares, mas se faz através da prática educativa que visa abordar conhecimentos que nascem da realidade social e que faz parte da vida do aluno, tendo em vista trazer para sala de aulas temáticas que fazem parte do cotidiano do aluno.

 

 

REFERÊNCIA

 

ALANO, Vanessa da Silva. escrita/escritura: um prazeroso caminho de conquista além da sala de aula. (Monografia) Tubarão – Universidade Santa Santa Catarina, 2012. Site consultado: http://www.uniedu.sed.sc.gov.br/wp-content/uploads/2014/01/Vanessa-da-Silva-Alano.pdf. Data da consulta: 01/05/216

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[1]Docente graduada em Pedagogia com especialização em Psicopedagogia, Educação Especial e Neuropsicologia. Mestra e Doutora em Ciência da Educação.

[2] Docente Graduada em Letras

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