A LINGUAGEM POÉTICA

Por Luciano Machado | 21/07/2011 | Literatura

A LINGUAGEM POÉTICA

A primeira das formas de comunicação foi a gestual. Depois vieram os sons, a princípio desconexos, depois interligados ou combinados entre si para significar alguma coisa.
A linguagem poética, através da articulação de sons concatenados, foi uma das primeiras manifestações ou tentativas da arte de se comunicar, de modo oral ou escrito.

Os primeiros poetas da humanidade eram analfabetos e comunicavam o seu pensamento oralmente.

E a obra dos grandes historiadores nos chegou originalmente através da linguagem poética ou em versos.

São exemplos os poemas do poeta e historiador grego Homero: Ilíada e Odisséia; e Eneida, do poeta latino Virgílio, denominados poemas épicos.

Mas existem outros, como Os Lusíadas, do português Luis de Camões; O Paraíso Perdido, do inglês John Milton; A Divina Comédia, do italiano Dante Alighiere; Fausto, do alemão Johan Wolfgang von Goethe; as diversas obras em verso do poeta inglês William de Shakespeare e de outros poetas.

A Poesia é a manifestação em verso do pensamento humano.

O que é Verso?

Poderíamos dizer que verso é a unidade poética. É cada uma das linhas de uma estrofe. E pode se constituir de apenas uma palavra e um monossílabo:

Ei ...

E a partir daí temos versos de duas, três, quatro, etc. palavras ou sílabas.

Exemplos:

Amar (uma palavra, duas sílabas) ? Verso monóstico e dissílabo
É querer (duas palavras e três sílabas) -- Verso dístico e trissílabo
É agradar! (duas palavras e quatro sílabas) -- Verso dístico e quatrissilábico e assim por diante. E a reunião destes três versos numa estrofe toma o nome de TERCETO.

Depois do terceto, temos o quarteto, o quinteto, o sexteto, etc.

Estrofe é um conjunto de versos. Pode ser de um, de dois, três, etc., até dez. Mais de dez é estrofe irregular.

Entre os tipos de poesia temos: o Hai-kai, de origem japonesa, de três versos, contendo originalmente o primeiro e o último 5 sílabas, e o segundo sete.

Eis um exemplo:

TRIGAL MADURO
ONDULA AO VENTO ...
O CORVO ESPERA. (Eugênia Tabosa)

A quadra. Poesia de uma única estrofe de quatro versos.

O soneto. Poesia breve, formada de dois quartetos e dois tercetos.

A Ode. Poesia longa, de muitas estrofes de diferentes tamanhos.

O poema épico ou epopéia, a balada, a comédia e a tragédia. Que narram uma história em versos.

Ritmo. Rima. Metro.

Ritmo é a cadência do verso.

Rima é a concordância fonética ou sonora entre um verso e outro.

Metro é a medida do verso, que se deve manter entre um verso e outro dentro da estrofe, feita através da contagem das sílabas.

Sílaba poética não é o mesmo que a sílaba comum.

Uma sílaba poética pode englobar mais de uma sílaba comum.

Conforme o número de sílabas poéticas que contêm, os versos podem ser monossilábicos, dissilábicos, trissilábicos, quatrissilábicos, pentassilábicos, hexassilábicos, heptassilábico, etc., até o de doze sílabas denominado dodecassilábico ou Alexandrino. Uma curiosidade: O nome do poeta OLAVO BRÁS MARTINS DOS GUIMARÃES BILAC é um verso alexandrino ou de doze sílabas. Os versos de mais de doze sílabas são denominados ?bárbaros?.

Modernamente, fugindo às regras tradicionais, temos o que se chama de verso livre, aquele que não obedece ao metro e contém o número de sílabas que o autor quiser.

Versos Brancos. É a poesia sem rima. Porém, mesmo sem rima, deve conservar a beleza da cadência ou do ritmo.

Prosa poética. É a prosa que possua uma cadência ou ritmo entre suas palavras ou períodos.

Exemplos de poesias:

AMAR O PERDIDO
DEIXA CONFUNDIDO
ESTE CORAÇÃO.

NADA PODE O OLVIDO
CONTRA O SEM SENTIDO
APELO DO NÃO.

AS COISAS TANGÍVEIS
TORNAM-SE INSENSÍVEIS
Á PALMA DA MÃO.

MAS AS COISAS FINDAS
MUITO MAIS QUE LINDAS
ESSAS FICARÃO.

(MEMÓRIA - De Carlos Drummond de Andrade).

MEU POEMA NÃO TEM MAIS NOME
NEM PARENTE ALGUM
VIVE NO SUBÚRBIO DE UMA TERNURA ABANDONADA
INSACIADO ESPREITA O VULTO DE UMA NOVA PAIXÃO.
DESENHADO ESTÁ
NO PARAPEITO DE TUA EMOÇÃO MORNA
DO TEU OLHAR GASTO
ELE FILMA A TRAJETÓRIA DE UM NOVO VERBO
MINERADOR GARIMPA
JAZIDAS DA LINGUAGEM NOVA
INSURRETO SEDUZ
PALAVRAS QUE FALEM DA TUA SENSUALIDADE
PROSCRITO MORA
NOS NINHOS ÚMIDOS DA MANHÃ QUE TE ACORDA NUA
MEU POEMA NÃO TEM MAIS NOME
HOJE
É INQUILINO SEM CONTRATO NO BLOCO DAS ORAÇÕES.

(O POEMA SEM NOME -- de Élvio Vargas).


NA MANHÃ LUMINOSA
UMA BORBOLETA AMARELA VOA, VOA
TÃO BELA, TÃO LEVE ...
VOA AQUI, VOA ALI.
BEIJA A AREIA,
A GRAMA,
O CHÃO,
A FLOR ...
É UM RECADO VIVO
QUE DIZ :
A VIDA É UM HINO DE AMOR!

(A BORBOLETA AMARELA ? de Enar Britos de Souza).


HOUVE TEMPO PLANTEI FLORES
E FICARAM NA LEMBRANÇA,
FLORES BELAS, ORVALHADAS.
DA JANELA DO JARDIM
ELA VIA ALUMIADAS
DE ESTRELAS E LUAR
AQUELAS ROSAS PERFUMADAS.

HOJE PASSO NA CALÇADA
NA HORA QUE PASSAR
A JANELA ESTÁ FECHADA
O JARDIM ABANDONADO
E SEM AS FLORES PLANTADAS.

(FLORES ? de João Luiz Urdapilleta Sanches)

A ?linguagem poética? está presente em todas as manifestações do espírito, visuais, gestuais, orais ou escritas que contenham sentimento, lirismo, emoção, ritmo, musicalidade, melodia, beleza e harmonia, ou pelo menos algum destes elementos.

Luciano Machado