A LÍNGUAGEM COTIDIANA E SUA INFLUÊNCIA NA PRODUÇÃO TEXTUAL DOS ALUNOS...

Por Ana Joelma Farais Guimarães | 14/02/2017 | Educação

 

 A LÍNGUAGEM COTIDIANA E SUA INFLUÊNCIA NA PRODUÇÃO TEXTUAL DOS ALUNOS

ANA JOELMA FARIAS GUIMARÃES, aluna da Universidade Nilton Lins, 6º período de letras, do ano de 2011

JEFFERSON GIL DA ROCHA SILVA, prof. MSc. e Orientador da disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso, TCC.  

 

INTRODUÇÃO 

 

Na busca em entender como a linguagem cotidiana influencia a produção textual dos alunos em sala de aula, tornou-se necessário a pesquisa sobre a língua e sua evolução, baseado em autores como Castilho (1998), Luft (2007), Marcuschi (1995), Sena (2004) e outros teóricos, que abordam o tema, pôde-se ter um esclarecimento sobre os efeitos dos linguajares, principalmente dos adolescentes, em suas atividades de escrita e como a mesma influencia suas produções textuais.

Como a língua portuguesa falada no Brasil, é uma mistura de línguas, o jovem tem um largo acervo de variações linguísticas a seu dispor e a utiliza de maneira que convém, ocasionando, um prejuízo para suas produções textuais. Mas há de se compreender que a causa esse prejuízo, é um reflexo de toda essa variedade que está a sua disposição  como: internet, grupos sociais, família, religião, cultura entre outros, pois a língua está em constante evolução, e sob a influência da movimentação dos povos e seus falares, desde o contato com várias nações vindas provenientes das grandes navegações¹. Sendo próprio de a língua evoluir, a  língua portuguesa também continua evoluindo e cada vez mais surge novas formas de expressar a mesma palavra de maneiras diferentes, a exemplo disso temos a linguagem dos internautas.  Toda essa abundância de falares leva para a produção de textos dos adolescentes muitos erros que nem sempre são corrigidos por seus educadores, fazendo-os pensar que é a maneira correta de se expressar.      

 Outra influência que o jovem está exposto é a utilização de gírias e do internetês, que utilizam para a comunicação via mídia social, incluem também abreviações e símbolos para comunicar-se com mais rapidez, criando um linguajar específico e muitas vezes incompreensível para os leitores que não estão acostumados a esse tipo de linguagem. “ As  redes sociais funcionam como agentes de inclusão digital, principalmente em áreas carentes. Percebe-se que nas lan houses de periferia, os adolescentes pedem para criar uma conta no Orkut antes mesmo de possuir um e-mail, Esses jovens podem até não saber como usar um blog, mas entendem perfeitamente a mecânica de serviços como Facebook e Orkut.” (Revista Escola,2011)

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¹ Na época das grandes navegações, Portugal conquistou inúmeras colônias e o idioma português foi influenciado pelas línguas faladas nesses lugares.

 

Nota-se que as mídias sociais estão mudando o caráter da Língua Portuguesa está surgindo uma nova linguagem nas redes sociais, essa nova linguagem está migrando para as produções textuais dos alunos em sala de aula, gerando dúvidas na hora de escrever.  Cabe ao professor a missão de resgatar a maneira correta da escrita, pois ela é imprescindível para uma vida promissora, onde a escrita ainda é um meio eficaz de comunicação. Levar o estudante a um novo contato com os livros, tirá-lo um pouco desse mundo virtual, incentivá-lo ao contato direto com a linguagem correta é uma alternativa para levar o estudante a refletir sobre sua escrita, melhorando consideravelmente suas produções textuais. 

  • A LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO ORAL

 

 Uma das primeiras definições de linguagem é de que ela é um instrumento de comunicação fundamental e informativa, que expressa o pensamento, que permite a comunicação entre as pessoas, utiliza-se de elementos como gestos, sinais, sons, símbolos e principalmente de palavras para representar conceitos de comunicação, ideias, significados e pensamentos.

Garcia (2002, p.173) defende que, pensamento e expressão são interdependentes, tanto é certo que as palavras são o revestimento das idéias e que, sem elas, é praticamente impossível pensar, compartilhando este pensamento com Schaff (2002, p.163) que diz “... Não há pensar a não ser em termos de linguagem” e completando com o pensamento de Beneviste (2002, p.64) que cita “A forma linguística é, pois, não apenas a condição de transmissibilidade do pensamento, mas também, acima de tudo, a condição de realização do pensamento”.

Segundo Saussure (2006, p. 29) o signo linguístico é uma entidade composta de dois elementos interdependentes: - O significante que é o testemunho que os sentidos dão ao som material e que constitui o componente material; E o Significado que é o componente intelectual, a ideia. Tanto o significante quanto o significado são imagens mentais, não reais, e as palavras pronunciadas são apenas manifestações do signo linguístico, mas não o próprio signo, pois este só tem existência na mente.

 A linguagem oral está a serviço da comunicação entre os membros de uma comunidade, e vem frequentemente adaptando-se ao sistema linguístico², pois a língua é aberta, dinâmica e flexível. Garcia (2002, p.173) assim se pronuncia:

 

Todo indivíduo medianamente culto dispõe de quatro tipos de vocabulários: o da língua falada ou coloquial, o da língua escrita, o de leitura e o do simples contato com o outro. Os incultos ou analfabetos conhecem certamente apenas o primeiro.

 

             Silva (2006, p. 146), diz que o ser humano necessita da comunicação oral par a convivência em sociedade, pois a linguagem é essencial para a inclusão do indivíduo na mesma, constituindo o homem como sujeito, viabilizando a relação entre as pessoas, permitindo o retorno sobre si, como a individualidade distinta e a comunicação entre os homens.

Através da linguagem o homem pode transmitir informações, partilhar conhecimentos, adquiridos no decorrer da vida, permitindo que ele componha um número interminável de palavras, que relacionadas e combinadas, tornam a estrutura de uma frase, possibilitando assim a comunicação verbal, onde incluímos entrevistas, debates, seminários e depoimentos, sendo utilizados de maneira natural e cotidiana. A enciclopédia Barsa (2005, p.10) tem a seguinte versão sobre a linguagem verbal:

 

A linguagem verbal é o sistema de comunicação mais perfeito e flexível, é essencialmente o ato pelo qual um indivíduo estabelece um contato com o outro com a finalidade de transmitir-lhe uma informação, produz-se graças à emissão de sons articulados, gera mensagens e torna a capacidade comunicativa do ser humano praticamente ilimitada.

 

 Piaget (1923) relacionava o pensamento à linguagem e realizava experiências com crianças antes que elas desenvolvessem a linguagem para

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² As línguas orais são sistemas regidos por regras. O mesmo acontece com as línguas de sinais, conforme referenciado por Stokoe (1960).

 demonstrar que linguagem e pensamento são atividades estreitamente ligadas, e que uma está a serviço da outra.

A linguagem humana possui algumas características fundamentais como: Ela é verbal e produzida através da emissão de sons articulados; permite a troca de mensagens ou diálogos; substitue por meio de signos linguísticos, elementos da realidade, sentimentos próprios, acontecimentos da vida real que podem ser transmitidos sem nenhum tipo de limitação temporal ou espacial. Outro método de comunicação oral que faz parte da vida cotidiana é a conversação, Levinson (1989, p. 269) relata o seguinte:

 

 

 A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas nem pela anunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal realizada através da enunciação ou enunciações.

 

 A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua, isto é a conversação, ato este que também faz parte da vida cotidiana de todos os seres humanos. A conversação segundo Levinson (1989, p.271) é uma das primeiras formas de linguagem que estamos expostos é também a única que nunca abandonaremos, pois apesar de toda tecnologia, com as conversas via email, msn, face bock, blogs, a conversação ainda é o meio pelo qual o indivíduo se expressa no meio social, se relaciona com outras  pessoas e procura conseguir seus propósitos. O autor ressalta ainda:

 

 

Consideremos conversação o tipo de fala predominante com que estamos familiarizados, no qual dois ou mais participantes se alternam livremente ao falar e que costumam ter lugar fora de instituições específicas como serviços religiosos, tribunais, aulas e outros similares. 

 

Utiliza-se a fala como instrumento de comunicação oral e dela vêm todas as formas de expressar o pensando sendo utilizado pela humanidade desde os primórdios tempos para a interação entre as pessoas, pois a comunicação oral só se realiza plenamente se houver o diálogo, ou seja, a conversação que é a interação plena entre os seres humanos.

 

  • O FALAR E SUA DIVERSIDADE

 

O próprio da língua é evoluir, sendo um processo natural das línguas vivas, decorrentes da constante renovação da vida social esse movimento denomina-se variação linguística. Segundo a enciclopédia Barsa (2005), atualmente treze línguas são faladas por mais da metade do mundo, sendo que ocorre uma distribuição linguística em dois níveis: um internacional e comum que facilita o intercâmbio entre a humanidade e outro mais individualizado que é a nossa língua materna que facilita nossa vida cotidiana. Silva (2006, p. 146) declara que:

Apesar das aproximações de programação compartilhada pela televisão, pelas redes de ligações de internet, pelos cabos telefônicos e pelas ondas por satélites, os caipiras, os cariocas, os mineiros, os soteropolitanos, os capixabas, os gaúchos, os candangos etc, continuam distinguindo-se uns dos outros pelos seus falares.

 

Segundo a enciclopédia Barsa (2005, p.7) desde o Renascimento que existe uma aspiração pela universalidade da língua, o que causou apenas temas de discussões frequente entre estudiosos da língua e suas variações. Comenius, humanista theco tentou essa universalização para que facilitasse a comunicação entre os seres humanos, ele utilizaria o latim como língua universal, mas esse seu feito coincidiu com o declínio do latim na comunicação Ocidental. Steiner (2006, p.22), em seu livro Gramática da criação, registrou o seguinte:

A antropologia e a etnolinguística estão cogitando da existência provável não só de um pequeno número de linguagens nodais das quais todas as outras línguas subsequentes derivariam, mas inclusive de uma Ur-Spache, a língua primal que a linguística positivista e a história cultural já haviam rejeitado como um fantasma. 

 

 Os séculos passaram e as diversidades de línguas continuaram surgindo, mas os linguistas tentaram incansavelmente universalizar a língua, foram mais de quinhentas tentativas, mas de todas essas tentativas, apenas o esperanto foi a língua que obteve mais êxito, sendo falada por mais de 750.000 pessoas.

Assim como existiu e existem as variações linguísticas no mundo, no Brasil não deixa de ser diferente, pois nossa língua também vive em constante evolução e adaptação, a exemplo disso temos a nossa língua portuguesa que é resultado da transformação do latim falado na faixa ocidental da península ibérica. Oliveira (1957, p. 216) documenta o seguinte:

 

Como é incontestavelmente a língua um falo social, bem mais sólida e inquebrantável se torna a argamassa social, cada dia a língua Portuguesa, ligada para sempre à história trepidamente e acidentada da prática brasileira.

 

Dentro de nossa língua mãe existem também as variações, no Brasil ocorreu a necessidade da comunicação com os indígenas, os catequistas adotaram uma língua geral, ou a língua franca, para ter êxito em sua comunicação com as tribos indígenas, essa língua era baseada no tupi, e foi amplamente difundida entre os colonizadores. Na visão de Havy (1989, p.94) ocorreu que:

Os colonos de origem portuguesa falam o português europeu, mas evidentemente com traços específicos que acentuam no decorrer do tempo. As populações de origem indígena, africana ou mestiça aprendem o português, mas manejam-no de uma forma imperfeita. Ao lado do português existe a língua geral, que é o tupi, principal língua indígena das regiões costeiras, mas um tupi simplificado, gramaticalizado pelos jesuítas.

 

Com achegada dos africanos no Brasil ocorreu também o interesse, por parte deles, em conhecer e falar o português para integrarem-se a sociedade, mas o processo de aceleração do aportuguesamento estabeleceu-se com a vinda da família real para o Brasil. Toda essa diversidade de culturas e línguas deu ao Brasil modalidades diferentes de línguas, mas que podem identificar-se numa língua só, a língua portuguesa, e toda essa diversidade não põe em risco sua unidade. Sobre essa abordagem, Viaro (2006, p. 294) declara que:

 

Tão importante quanto as palavras tupi são as de origem africana que entraram para o léxico do português, principalmente na variante brasileira. Na África, muitos locais, convivem ao lado do português e das línguas africanas nativas, vários tipos de falares crioulos, verdadeiras línguas derivadas do português ou com grande quantidade de léxico português.

 

 

Ocorre que apesar de toda essa diversidade linguística existentes no Brasil, há uma só língua base a Língua Portuguesa, é nela que os brasileiros se baseiam para falar e expressar o pensamento e conviver em sociedade.

Toda essa liberdade de comunicação não impede que o sujeito conheça a norma culta, pois com esse conhecimento, de certa forma, se sentirá mais seguro para utilizar a língua segundo os padrões estabelecidos pelos bons escritores. Há certas situações que exigem do falante uma adaptação específica da língua, e a mesma oferece grande variedade de registros, de acordo com o grau de formalidade da situação ou do discurso. Quanto maior for o conhecimento que um indivíduo tenha da língua, maior será sua adaptação ao meio social. Saussure (2006), diz que a linguística ocupa-se dos fenômenos da expressão verbal e sua ligação com imaginário, ou seja, aquilo que a palavra nos reporta, sendo assim, quando se fala, se pensa em algo e isso trás uma imagem, que  liga ao mundo real, ocorrendo que, muitas vezes, essa imaginação leva o falar erroneamente de algumas palavras, mas para os linguistas qualquer expressão, mesmo que deturpada, é válida quando pode ser compreendido, o que diverge parcialmente da teoria gramatical. 

 

  • A LINGUAGEM UTILIZADA NO COTIDIANO DO ADOLESCENTE

 

Nos dias de hoje os adolescentes ganhou espaço, situação esta que era muito diferente na década de 50, onde os mais jovens eram convidados a se retirar da sala quando os pais recebiam visita, e eles não podiam participar das conversas. Na atualidade crianças de 8 a 12 anos denominam-se pré-adolescentes³ rejeitam produtos,

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³· É uma das etapas do desenvolvimento humano caracterizada por anteceder a entrada na adolescência. Nesse período da vida as crianças passam a ter mais responsabilidades (deveres), ao mesmo tempo em que passam a querer e exigir mais respeito de outras pessoas, particularmente dos adultos.

 

infantis são bem informadas, dão grande importância à turma ou tribo; ditam moda e buscam sempre o novo.  Toda essa juventude influencia muito na sua vida escolar assim como na sua linguagem cotidiana, onde incluíram novas expressões, para determinar sua época. Silva (2006, p. 1954) destaca que:

 

Quando palavras já conhecidas são mobilizadas pelos falantes num emprego que soa como novidade, o resultado também é o estigma alicerçado pelo preconceito. É o que vemos com a palavra “tipo” e a expressão “tipo assim’, as quais surgem, no panorama, vinculadas aos jovens, e logo são rotuladas de gírias. 

 

 

 

Feito um levantamento do uso da linguagem dos adolescentes, deparou-se com linguajar de neologismos, que eles estão introduzindo no cotidiano escolar. Expressões estas como: catar – namorar, da hora – coisa boa, irada – coisa boa, boiola – rapaz afeminado,   mané – pessoa  boba,   mano – colega, nóia – drogado,

 

registrando – olhando, sangue bom – pessoa boa, treta – mal feito, viajar na maionese – falar algo que não faz sentido, e muitas outras infinidades de palavras novas que vão se tornando cotidianas e adicionadas a nossa comunicação cotidiana sem ser percebida.

Em contrapartida, a proliferação dessa linguagem se dá devido a utilização das redes sociais, pois a internet contribui muito para que ocorra o neologismo, as gírias e as abreviações de algumas palavras. A pressa em escrever textos, responder as mensagens ou qualquer outra forma comunicação via mídia social, faz com que utilizem essa maneira rápida de comunicação. Na visão de Bolter (1991, p.140):

 

A escritura eletrônica dá nova vida à tecnologias marginais do passado. Ela compartilha com a tabuinha de cera a capacidade de mudar rapidamente. Com a máquina de escrever compartilha com o teclado, sua seleção de elementos alfabéticos e sua uniformidade mecânica. O computador pode servir de foto copiadora, de agenda, de calendário ou de máquina de teletipos. De fato, é difícil pensar em uma tecnologia marginal na história da escrita que o computador não possa imitar.  

 

Outro exemplo disso é a utilização de símbolos na comunicação, os emoticons, que ocorrem na comunicação eletrônica como, o email, o msn, o torpedo, e para marcar sua diferença, incluem um linguajar específico e muitas vezes incompreensível para os leitores, eis aqui alguns exemplos disso: J sorriso, :-* beijo, :-D gargalhada, L  triste, ;-) piscar, :-P mostrando a língua, :-> sorriso maldoso, :-)= fumante, [ ] abraço, B-) usando óculos. Eis a opinião de Xavier e Santos:

 

Constata-se na prática linguajara das salas de bate-papo, os chamados chats, o emprego intenso de emoticons e figuras, algumas delas até com recurso de animação, a fim de se obter um ritmo conversacional mais próximo do diálogo cotidiano. O mesmo já ocorre com os fóruns virtuais e os e-mails, nos quais se usam menos expressões indicadoras de emoção poucas figuras e mais enunciados verbais. 

 

 

 Entre essa novidades está também as abreviações, estas sim, que corriqueiramente, encontram-se instaladas em suas produções textuais,  prejudicando a linguagem que deve ser utilizada para suas atividades escolares  a  norma culta da Língua Portuguesa. Como exemplos de abreviações utilizadas pelos jovens temos: bjs – beijos, vc – você, adc – adiciona, rsrs – riso, kkk – gargalhada, p/ - para, pq – porque, ñ – não, c/ - com, mto – muito, kra – cara, kza – casa, kbç – cabeça,qdo – quando,  e etc.

 Todo esse linguajar comumente, utilizados em diários virtuais, escritos por adolescentes vem desse mundo tecnológico,  assim,  vão incluindo  em sua rotina  e proliferando para suas tribos  em seus blogs, tornando-se muitas vazes uma língua que só eles entendem,  passando como se a norma culta da linguagem e da escrita, fosse ultrapassada, e só os professores e os mais velhos que a utilizassem.

Segundo a Revista Escola (2009, p.42) as mídias sociais estão mudando o caráter da Língua Portuguesa, está surgindo uma nova língua falada nas redes sociais, essa nova linguagem migra para as produções textuais dos alunos em sala de aula. Estudiosos alertam que a internet, altera o funcionamento do cérebro, transformando, principalmente, os jovens em leitores mais raros e com menor capacidade de pensamento crítico, está se tornando raridade ver um jovem com livro nas mãos, quando necessitam de leitura, para trabalhos escolares, recorrem logo a internet, lá encontram tudo resumido, da maneira que eles gostam, fácil e rápido.

 

4 A INFLUÊNCIA DA LINGUAGEM COTIDIANA NAS PRODUÇÕES TEXTUAIS DOS ADOLESCENTES

           

            Embora o ensino da língua falada esteja previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) há mais de uma década, essa prática está longe de ser prioridade. Ela é confundida com atividades de leitura em voz alta e conversas informais que não preparam o aluno para os contextos de comunicação, pois a língua oral está organizada em três gêneros (entrevistas, debates, seminários) e o empenho do professor é mais voltado para o gênero escrito, assim como não há um texto escrito sem propósito comunicativo, tampouco existe uma só maneira de falar. 

            Segundo Castilho (1998) alunos que não têm uma boa linguagem oral não sabem ler com entendimento logo, suas produções textuais são deficientes, o que reflete no resultado escolar, pois a língua portuguesa é a base de todas as disciplinas, ler e compreender é essencial para a elaboração de um texto escrito ou até mesmo de uma resposta de uma prova de história, por exemplo, sendo que todas repostas subjetivas são textos redigidos pelos alunos, tendo este um bom vocabulário, consequentemente sua resposta será proveitosa.

 A maioria dos alunos do 9º do ensino fundamental trazem como herança muitos vícios de linguagem, abreviações, o internetez e gírias nunca corrigidos, falam sem concordância, trocam o e pelo i, como em vez de escreverem de escrevem di, não utilizam a conjugação verbal corretamente, trocam as terminações do verbo am pelo ão, como em vez de escreverem partiram, escrevem partirão, entre outras infinidades de neologismos  que eles estão incluindo no seu cotidiano escolar.

Para Sena (2004), a linguagem é uma forma de ação e interação culminando no despertar do gosto pela leitura, e assim, causando no leitor o hábito pela escrita e linguagem corretas. A revista escola (2006) registra que:

 

Alunos gostam de ouvir histórias contadas ou lidas pelo professor, atividades como esta aproximam o educando do educador e o ajudam a se apropriar da estrutura da narrativa e a perceber o valor estilístico dos textos. Obrigar o aluno a copiar textos didáticos, questionários ou tornar a leitura e a escrita apenas objeto de avaliação é eliminar no aluno o desejo de ser leitor ou escritor.

 

 

  A base da escrita correta está na fala e na leitura corretas, o exercício de leitura diária e a atenção dada ao que se fala, deveria ser cotidiana para se tornar natural, do contrário adquire-se um vocabulário parco. “Ampliar o repertório verbal dos aprendizes, garante a eles, o acesso a múltiplas formas de falar e de escrever, desde as mais espontâneas, até o cânone literário’’. (BAGNO 2009, p.86). 

A leitura contínua em um espaço adequado ajuda muito, um momento específico para isso também, um segredo para formar leitores é misturar os momentos de leitura íntima, silenciosa e pessoal com outros de troca sobre como cada aluno se relaciona com o que leu. Uma boa produção textual resulta de uma perfeita união entre o pensamento e a linguagem.  ”Escrever bem não é uma tarefa fácil e prazerosa, é antes de tudo aprender a pensar. É organizar pensamentos”.  (SENA, 2004 p.10).

                                   

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Tendo em vista a problemática encontrada na produção dos textos dos alunos do 9º ano do ensino do ensino fundamental e constatando-se que essa problemática ocorre em consequência de alguns fatores como a utilização da língua mãe erroneamente e também das novas maneiras utilizadas para comunicação via mídias sociais que levaram a velocidade para a comunicação com a utilização de abreviações e símbolos, procurou-se levar para meio discente e até mesmo para os acadêmicos dos cursos de Licenciaturas uma reflexão e um novo olhar para tais produções. Alunos que não tem uma boa linguagem oral não sabem ler com entendimento logo, suas produções textuais são deficientes, o que reflete no resultado escolar, pois a língua portuguesa é a base de todas as disciplinas, ler e compreender é essencial para a elaboração de um texto escrito.

Há certos usos consagrados na fala, e até mesmo na escrita, que a depender do nível social e da escolaridade do falante, são previsíveis. Ocorrem até mesmo com falantes que dominam a variedade padrão, pois revelam tendências existentes na língua em seu processo de mudança que não podem ser bloqueados, pois, a linguística defende a comunicação em seu todo, desde que se faça entender. Usos como ter por haver em construções existenciais (tem muitos livros na estante), o do pronome objeto na posição do sujeito (para mim fazer o trabalho), a não- concordância das passivas com se ( aluga-se casas),  são indícios da existência, não de uma norma única , mas de uma pluralidade de normas, entendidas como conjunto de hábitos linguísticos, sem implicar no juízo de valor.

 Como exigir do aluno uma escrita correta tendo em vista tanta diversidade de linguagem? Uma alternativa é ler para o educando, a leitura correta praticada pelo educador mostrara para o aluno que falar corretamente é uma forma de fazer-se compreender melhor e aproximará educador de seu pupilo. A ideia é de que todo educando tem direito a uma escola que ensine de fato, mas será que a escola está mesmo ensinando aquilo que se propõe? A base da escrita correta está na fala e na leitura correta, o exercício diário e a atenção dada ao que se fala deveria ser cotidiana para se tornar natural.

Outra alternativa é levar os jovens a falar sobre textos com colegas de classe, debater sobre leitura, observar um ao outro no momento em que lêem em voz alta, discutir sobre erros de leitura ajuda com que pensem antes de falar, tornar a leitura prazerosa ajuda na compreensão dos textos. Quando se observa alguém que lê  detecta-se suas deficiências na língua falada assim, fazendo refletir sobre a leitura e tornar-se  cauteloso   com a atuação de sua oratória. Tornando a leitura contínua atividade permanente, nas séries do 9º ano do ensino fundamental, será um suporte para questões gramaticais na hora da escrita, ao ter contato quase que diário com textos o aluno familiariza-se com as expressões corretas o que se tornará um hábito refletindo no seu falar; o que falta para uma boa produção textual é uma linguagem oral correta.

 

 

 

 

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