A LÍNGUA INGLESA NAS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

Por josé raimundo alves | 07/02/2025 | Educação

A LÍNGUA INGLESA NAS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

José Raimundo Alves

Introdução

A relação entre as ciências sociais e o inglês no contexto da globalização é complexa e apresenta divergências significativas. Por um lado, o uso massivo do inglês como idioma predominante nas ciências sociais possibilitou a disseminação e a colaboração entre pesquisadores de diferentes partes do mundo, promovendo a conectividade e a troca de conhecimento. Por outro lado, a hegemonia do inglês tem levantado críticas e desafios, como a marginalização e exclusão de pesquisadores que não possuem fluência nessa língua, a perda de tradições linguísticas e conhecimentos culturalmente específicos, e a necessidade de buscar um equilíbrio entre a expansão do inglês como idioma global e a valorização da diversidade linguística e epistemológica.

Neste sentido, é essencial compreender como o Ensino de Inglês pode ser adequado às especificidades dessas áreas do conhecimento, que envolvem um estudo aprofundado das relações sociais e econômicas, bem como suas implicações nos diversos contextos. É necessário, portanto, refletir sobre as estratégias e abordagens que podem ser mais eficientes e significativas para os estudantes, a fim de promover o desenvolvimento de suas habilidades linguísticas de forma contextualizada e relevante para o campo em que atuarão.

Além disso, é importante considerar que o ensino de inglês nas Ciências Humana e  Sociais não se restringe apenas ao aprendizado da língua em si, mas também implica o desenvolvimento de competências interculturais e a capacidade de se comunicar de forma eficaz em situações acadêmicas e profissionais específicas. Portanto, torna-se fundamental explorar metodologias e recursos que possibilitem a integração desses diferentes aspectos no processo de ensino-aprendizagem.

Diante dessas questões, este artigo tem como objetivo analisar e discutir o ensino de inglês no contexto das referidas Ciências, buscando identificar as principais dificuldades enfrentadas pelos estudantes, bem como propor estratégias e abordagens pedagógicas que possam contribuir para uma formação mais completa e adequada às necessidades desses profissionais. Através de uma revisão da literatura, serão explorados conceitos, teorias e pesquisas que abordam o tema, a fim de embasar as reflexões e propostas apresentadas ao longo do estudo.


 

Compreender a importância do Ensino de Inglês nesse itinerário educacional e promover uma reflexão crítica sobre as práticas pedagógicas adotadas são passos essenciais para aprimorar a formação dos estudantes e prepará-los de maneira mais efetiva para enfrentar os desafios do mercado de trabalho atual. Portanto, este artigo contribuirá para a discussão e avanço do campo acadêmico, fornecendo subsídios teóricos e práticos que podem orientar a atuação dos educadores nessa área específica do ensino de inglês. 

 

Desenvolvimento

A relação entre as ciências sociais e o inglês no contexto da globalização tem apresentado divergências significativas. Por um lado, o inglês se tornou a língua franca da comunicação internacional, especialmente nas áreas acadêmicas e profissionais. Com isso, houve uma massificação do uso do inglês como idioma predominante nas ciências sociais, o que possibilitou a disseminação e a colaboração entre pesquisadores de diferentes partes do mundo. Essa universalização da língua inglesa tem sido positiva para a conectividade e a troca de conhecimento entre os estudiosos das ciências sociais.

A hegemonia do inglês nos estudos sociais tem gerado críticas e desafios. A imposição do inglês como língua padrão nas publicações científicas pode levar a uma marginalização e exclusão dos pesquisadores que não possuem fluência nessa língua. Isso se torna uma barreira para a pluralidade de perspectivas e conhecimentos produzidos nas ciências sociais, restringindo o debate e a compreensão das realidades locais. Além disso, a dependência excessiva do inglês pode levar à perda de tradições linguísticas e conhecimentos culturalmente específicos. Portanto, é necessário que haja um equilíbrio entre a expansão do inglês como idioma global e o reconhecimento e valorização da diversidade linguística e epistemológica. 

 

“Levando-se em consideração essa diversidade e o fato da impossibilidade de existir uma língua universal – para isso seria necessário que todas as experiências humanas convergissem para uma única fonte de sentido – seria insensato balizar nossa discussão na premissa de um mundo unívoco. O processo de globalização não é sinônimo de homogeneização, tampouco de americanização, trata-se de uma condição na qual as hierarquias e as linhas de força certamente existem, são desiguais, mas não implicam necessariamente a eliminação das diversidades. Nesse sentido, o desaparecimento das línguas nacionais, idealizado por alguns, como equivalente à irmandade universal (assim pensava Kautsky e muitos intelectuais da II Internacional), e por outros, como um pesadelo, é um falso problema. Não obstante, esta nota introdutória de cautela pouco esclarece sobre a temática em pauta, pois não é a unicidade das línguas que se encontra em causa, mas o fato de elas participarem de uma situação de globalização marcada por relações de poder”. (Ortiz, 2004, P 5)

 

No século XX, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, o inglês começou a ganhar cada vez mais importância como idioma da globalização. Com o avanço dos Estados Unidos como potência política e econômica, o inglês se tornou a língua dominante nos negócios internacionais e nas comunicações entre países. Isso se refletiu também no campo das ciências sociais, onde o inglês passou a ser imprescindível para a disseminação e o acesso ao conhecimento produzido nessa área.

Renato Ortiz, em seu artigo "As Ciências Sociais e o Inglês", aborda essa nova realidade linguística no campo acadêmico. O autor discute como o inglês se tornou uma ferramenta essencial para os pesquisadores das ciências sociais, permitindo o diálogo entre diferentes culturas e facilitando o intercâmbio de ideias e teorias. Ortiz destaca que, apesar das controvérsias e desafios que surgem com essa globalização linguística, a habilidade de se comunicar em inglês se tornou uma competência obrigatória para os profissionais da área.

O artigo também levanta questões sobre a hegemonia do inglês e seus impactos nas produções científicas de outros idiomas. Ortiz enfatiza a necessidade de se repensar as barreiras linguísticas e promover a diversidade linguística nas ciências sociais. Além disso, ele debate sobre a importância de se garantir o acesso ao conhecimento produzido em outras línguas, evitando a exclusão de trabalhos relevantes por conta da predominância do inglês. 

A internacionalização das produções científicas das ciências sociais por meio de sua escrita em língua inglesa tem se tornado cada vez mais predominante nas últimas décadas. Isso se deve principalmente ao fato de que o inglês se tornou a língua franca global, sendo amplamente utilizado tanto na academia quanto nos negócios e nas relações internacionais. Ao escrever em inglês, os cientistas sociais têm a oportunidade de alcançar um público muito mais amplo e diversificado, pois suas pesquisas podem ser lidas e compreendidas por acadêmicos e profissionais ao redor do mundo. Além disso, a escrita em inglês facilita o intercâmbio de conhecimentos entre diferentes países e culturas, permitindo a colaboração e o diálogo internacional, contribuindo para uma maior difusão das ideias e teorias nas ciências sociais.

 

“O inglês é visto como a “língua franca” da ciência, pois oferece a possibilidade para que pesquisadores de todos os países possam se comunicar e trocar informações por meio do mesmo idioma. Há uma tendência crescente da publicação de artigos na língua inglesa, reflexo do esforço de cientistas, instituições de ensino e periódicos de países não anglófonos em prol da internacionalização das suas produções científicas.” (Cintra 2020, P 1)

 

O autor descreve o inglês como a principal língua utilizada na comunicação e troca de informações na área da ciência, conhecido como "língua franca". Essa preferência pela língua inglesa é atribuída à sua capacidade de permitir que pesquisadores de diferentes países possam se comunicar de forma eficiente, facilitando a acessibilidade e entendimento mútuo. Além disso, o fragmento destaca a tendência crescente de publicação de artigos científicos em inglês, resultado do esforço de cientistas, instituições de ensino e periódicos de países não anglófonos em busca da internacionalização de suas pesquisas. Isso evidencia a importância da língua inglesa como meio de comunicação global na área científica.

A globalização da pesquisa acadêmica nas disciplinas sociais em inglês também pode apresentar desafios. Uma das principais questões é a questão da tradução e da adaptação cultural das pesquisas. Não é fácil transferir um conceito ou uma teoria de uma língua para outra, especialmente quando se trata de conceitos sociais e culturais específicos de um determinado contexto. Além disso, há também o risco de que a predominância do inglês nas produções científicas possa levar à marginalização ou à exclusão de pesquisas realizadas em outras línguas, principalmente aquelas que são consideradas menos prestigiosas. Portanto, é importante que os cientistas sociais busquem o equilíbrio entre a necessidade de se comunicar em uma língua global e a preservação da diversidade linguística e cultural nas ciências sociais.

Traduzir das ciências humanas e sociais para o inglês é um desafio significativo, principalmente devido às questões culturais envolvidas. Muitos conceitos nessas disciplinas têm origem em valores, tradições e experiências culturais específicas que podem não ter um equivalente direto na língua inglesa. Isso torna a transmissão dessas ideias e conceitos particularmente complexa, uma vez que a tradução precisa ir além da simples substituição de palavras. Existem termos nas ciências humanas e sociais que não possuem uma tradução adequada em inglês. Muitas vezes, esses termos têm um significado mais amplo ou específico que não pode ser adequadamente expresso em outra língua. Isso pode levar a interpretações distorcidas ou perda de nuances importantes na tradução. Portanto, os tradutores das ciências humanas e sociais enfrentam o desafio de encontrar soluções criativas e precisas para garantir que o texto traduzido transmita corretamente os conceitos e ideias originais. 

 

“Therefore, textual productions in the Human Sciences are about the textual representation of human thoughts, needs, past, accomplishments, desires, functions, organizations, beliefs, knowledge, and so on. All of these are represented through symbols of our complex human deeds and existence. Therefore, the representation of Human Sciences in language deals with profound cultural issues. Human ‘culture’, as we know, varies according to each cultural community and the way it is represented. That is why translating Human Sciences presents a wide field of cultural complexities, since it is the translation of a cultural representation.” (Pfau 2019, P 150)

 

Nesse contexto é importante considerar que as produções textuais nas Ciências Humanas tratam da representação textual dos pensamentos, necessidades, passado, conquistas, desejos, funções, organizações, crenças, conhecimentos e assim por diante dos seres humanos. Todos esses aspectos são representados por meio de símbolos de nossas ações e existência complexas. Assim, a representação das Ciências Humanas na linguagem lida com questões culturais profundas. A 'cultura' humana, como sabemos, varia de acordo com cada comunidade cultural e a forma como ela é representada. Por isso, traduzir as Ciências Humanas apresenta um amplo campo de complexidades culturais, uma vez que se trata da tradução de uma representação cultural.

A tradução de textos das Ciências Humanas, portanto, vai além de simplesmente transpor palavras de um idioma para outro. Ela exige compreender e transmitir os diferentes significados e nuances culturais presentes na relação entre os termos e conceitos abordados. Cada cultura possui suas próprias particularidades e formas de ver e expressar o mundo, o que torna a tradução de textos das Ciências Humanas um desafio complexo. É necessário considerar não apenas a linguagem, mas também os costumes, crenças, valores e formas de organização social presentes em cada contexto cultural. Dessa forma, a tradução de textos das Ciências Humanas revela-se como um processo intrincado, em que se busca preservar a riqueza cultural e a profundidade dos temas abordados. 

 

Conclusão

A relação entre as ciências sociais e o inglês no contexto da globalização apresenta divergências significativas. Por um lado, o inglês se tornou a língua franca da comunicação internacional, o que possibilitou a disseminação e a colaboração entre pesquisadores de diferentes partes do mundo. Essa universalização da língua inglesa tem sido positiva para a conectividade e a troca de conhecimento entre os estudiosos das ciências sociais. Por outro lado, a hegemonia do inglês nos estudos sociais pode levar à exclusão de pesquisadores que não possuem fluência na língua, restringindo a pluralidade de perspectivas e conhecimentos produzidos nas ciências sociais. A dependência excessiva do inglês pode levar à perda de tradições linguísticas e conhecimentos culturalmente específicos. Portanto, é necessário buscar um equilíbrio entre a expansão do inglês como idioma global e o reconhecimento e valorização da diversidade linguística e epistemológica nas ciências sociais. 

 

Referências

 

Cintra, Paulo Roberto; Silva, Marco Donizete Paulino da; FURNIVAL, Ariadne Chloe. Uso do inglês como estratégia de internacionalização da produção científica em Ciências Sociais Aplicadas: estudo de caso na SciELO Brasil. Em Questão, Porto Alegre, v. 26, n. 1, p. 17-41, jan/abr. 2020. Disponível em: http://doi.org/10.19132/1808-5245261. E-ISSN 1808-5245. 

 

Ortiz, R. (2004). As ciências sociais e o inglês. Revista Brasileira de Ciências Sociais, Vol. 19, nº. 54, fevereiro, 5-24. 

 

Pfau, M., & Humblé, P. (2019). Translation analysis of academic texts in the human sciences: A case study. Cad. Trad., Florianópolis, 39(2), 146-165. doi:10.5007/2175-7968.2019v39n2p146 

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