A Lei Do Tempo
Por Nagib Anderáos Neto | 08/07/2008 | FilosofiaO mistério do tempo é o mistério da vida. Da compreensão de ambos depende o segredo da conquista da felicidade.
Mais do que um bem precioso, o tempo é história, eternidade, paciência, sabedoria. Deus é paciência, disse a personagem de Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas. Uma parte de Deus também é tempo, irmão da paciência, pois lá estava ele no inicio de todas as coisas.
Tempo, paciência, movimento e mudanças são lições diárias que a Natureza oferece através de suas múltiplas faces para a inteligência humana que pode decifrá-las.
A fuga do tempo existe para quem não consegue retê-lo e multiplicá-lo. Neste caso, os ponteiros do relógio são uma tortura. Não há tempo suficiente para o cumprimento dos compromissos.O tempo passa muito rápido e escraviza a pessoa que julga que tempo seja dinheiro. Se tempo fosse dinheiro, Deus seria um banqueiro.
Os dias que se sucedem monotonamente são noites mentais, pedaços de vida que se desprendem da pessoa deixando o saldo do vazio, a sensação de inutilidade, o esquecimento, o temor pela morte que se aproxima a passos largos.
O tempo de vida do ser humano pode transcender a mensuração limitada das horas, dos dias e dos anos definida entre o instante do nascimento e o da transição para a morte. Esta ampliação do próprio tempo é uma conseqüência da ampliação da vida mental, a vida verdadeira. Pode-se viver muito ou pouco, dependendo dos conhecimentos que se tenha.
Os tempos de evolução caracterizam-se pelo esforço continuado na busca do conhecimento e na ampliação da consciência. Para aproveitar o tempo é necessário aprender a pensar, produzir soluções para os problemas humanos.
Administrar bem o tempo significa acumulá-lo dentro de si; ser consciente do que se viveu e ter um plano para a vida futura. Ter um domínio sobre si mesmo e um objetivo definido para a vida; todos os atos e pensamentos imantados por um grande objetivo que abarque o aperfeiçoamento individual e coletivo da espécie humana. Significa encarar a vida como um grande campo experimental de aprendizado e realização.
Em um brilhante artigo escrito na década de quarenta, o pensador e educador González Pecotche dizia que a lei do tempo é, como todas as leis universais, justa e exata; e é lei porque fixa, sem distinção, normas e regras inexoráveis. Assim demonstra o fato de que o tempo perdido não pode mais ser utilizado; é como um pedaço de vida que se desperdiça e não pode mais ser incorporado a ela.
E numa conferência pronunciada em Córdoba em 1949, muitos momentos do dia passam em branco porque a mente, distraída por completo, se submerge na penumbra. Como é natural, estes trechos de tempo são pedaços de vida que se vão, por não se experimentar no curso dos mesmos a sensação de existir.
O tempo é como a água: um bem precioso que só se dá conta de seu valor quando falta, por ter sido mal empregue, desperdiçado.
A rotina, a distração, as divagações e os rancores são inimigos do tempo por impedir que o ser humano pense, crie e construa um destino melhorado.
Nagib Anderáos Neto
neto.nagib@gmail.com