A INTERVENCÃO DA PSICOPEDAGOGIA NO PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA

Por Paulo Sérgio Farias | 09/06/2011 | Educação

Resumo: O processo de ensino/aprendizagem de língua é extremamente relevante, tão relevante que até se confunde com o próprio processo de educar, afinal é por meio da linguagem que se transmite a cultura; se socializa; adquiri padrões, normas e ideologias coletivas, como sendo individuais, é também por seu intermédio que há transformação. O interesse em escrever um artigo sobre esse assunto surgiu a partir das observações, dentro de sala de aula, feitas pelos alunos e fora dela por parte de outros professores. Por que precisamos estudar língua portuguesa? Por que é tão difícil? Quando se ensina, o que ensinar? Por que com frequência encontramos alguém tropeçando na Língua? Estas são apenas alguns exemplos, não raros que pairam a mente de muitos. Na busca por respostas satisfatórias temos contado com a ajudar da psicopedagogia, para que mesmo sem tirar as pedras, tenhamos um ensino de línguas com menos tropeços. Com isto queremos que, a questões tão antigas, como veremos, e pela escassez de material, somos limitados, mas quem sabe o presente trabalho possa inspirar a novas pesquisas.

Palavras-chave: Aprendizagem, intervenção psicopedagógica, ensino de Língua Portuguesa.

Abstract: The process of teaching and learning language is very important, so important it confuse with educational process. It is through language that conveys the culture, acquires rules and patterns social, collective ideologies as individual. Language also transforms. We became interested in writing this article, after we heard questions about difficult language come from students. Other teachers talk too. Why do we study Portuguese language? Why is it so difficult? When you teach, what to teach? Why would often find someone missing in speaking? These are just examples, it isn?t rare examples and many peoples do these questions. In the search for satisfactory answers the psychpedagogy helps us. Although the errors aren?t eliminated they are minimized. We know old questions as we will see, and the scarcity of material we are limited, but perhaps this work may inspire further research

Key words: Learning, psychpedagogy intervention, teaching Portuguese.

Introdução

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estavam com Deus e o Verbo era Deus." O primeiro verso do livro de João parece intrigante, até mesmo para teólogos, que tem dedicado tempo a discursar sobre ele. A nós, amante da linguagem, queremos apenas nos ater ao seu magistral aplauso ao poder do Verbo/Palavra, sem é claro entrarmos no mérito religioso, ou melhor, espiritual, Se bem que, nos primórdios o interesse pela linguagem estava sem dúvida em questões religiosa de seus pesquisadores, no caso dos hindus, que redescobriram o sânscrito. Contudo, nosso assunto é outro, mas já que tocamos no assunto, podemos nesse ínterim lembrar dos gregos, afinal foram eles que pensando na unidade linguística cunharam o termo grammatiké, tão conhecida e "amada" gramática. Vamos ao mérito da questão inicial. No início de tudo, portanto era o Verbo. E por falar em início, voltemos um poucochinho os olhos ao Livro de Gênesis. "E disse Deus: Haja luz. E houve luz", a predisposição desta sequência de léxicos parece tão perfeitamente ordenada, organizada que não dá pra mudar sua ordem e termos o mesmo sentido. A Voz, a Palavra, o Verbo é que dá existência aquilo que não existia. Poderia falar muito sobre o assunto, mas como é só um poucochinho, passemos a diante. Esse verso junto com o que está em questão, o de João, faz nos lembrar do fascínio que é a linguagem humana, ela concerne à palavra o status de deus. E bem merecido, já que é pelo ato da palavra que se nomeiam as cores, objetos, pessoas, lugares, sentimentos, enfim, mundos, real ou imaginário; ideal ou transcendental. Somente o que se convenciona em uma língua se torna real. Convencionou-se que "cadeira" seria cadeira em Português; em espanhol "silla"; em Inglês "chair", portanto esse objeto veio a existir e a manifestar-se em qualquer lugar, tempo e evento comunicativo a partir de uma convenção social linguística. Tudo que ainda não passou pela língua jazi indiscutivelmente nas trevas da inexistência.
A língua foi, é e, sem dúvida sempre será objeto de estudo por muitos. Sua fonte de pesquisa é inesgotável. Em todas as novas teorias que surgem os olhos são iluminados e, se entende melhor a complexidade comunicativa, e sua aquisição por parte dos falantes. O ensino de Língua Portuguesa tem sido muito discutido e ainda é motivo de muitas críticas, vejamos um pouco a cerca disso.

Breve histórico do Ensino de Língua Portuguesa no país

Só em 1827 foi estabelecido por Lei o ensino no Brasil, os professores deveriam ensinar a ler e escrever utilizando a gramática da língua nacional. Evitou-se chamá-la de Língua Portuguesa. Nesse momento a gramática ensinada era a latina, E por falar em gramática. Foi no século V que o gramático Prisciano se tornou celebre pela "livre instituição da gramática", suas ideias apoiadas em Apolônio Díscolo, autor do século II, vai tratar as palavras isoladamente (nomes, pronomes, verbos) e a partir disso que se pode forma frases e orações complexas, o que chama de constructio, sendo por assim dizer "as palavras, as letras das orações" A palavra era o objeto de estudo, primeiro com suas propriedades e depois como causadora de sentido (na oração). A palavra independente e a palavra em seu conjunto. Seu método consistia em eliminar da oração tudo que considerava indispensável, até restar apenas o essencial o nome e o verbo, que se torna seu ponto de análise. Essa dualidade encontrada em Platão e Aristóteles é o que conhecemos hoje como sujeito e predicado. Assim, para Prisciano a fonte de sua análise era a base da oração (nome e o verbo) e depois classificar os demais elementos em relação a essa base. A preposição, artigos eram analisados em relação ao nome e ao verbo; Os advérbios e sua relação semântica com os verbos. Sobre os vários erros apontados ele justifica a necessidade de se considerar a sintaxe pela razão. Evidentemente, a razão não dá conta de todas as possibilidades de uso.
Nesse tempo que se instalou no Brasil o ensino, a gramática era considerada uma arte. Entre a Retórica, a Poética, Aritmética entre outra que constituíam as artes liberais praticadas pelos homens livres, a Gramática era a arte por excelência.
Anos se passaram, novas ideias foram surgindo, o país respira ares da tecnologia e renovação, contudo no que diz respeito ao ensino de língua, não parece que tem acompanhado os novos tempos, ainda enfatiza-se dentro das salas de aula o prestígio a gramática e seu estudo na maior parte das vezes descontextualizado. O problema maior é que a abordagem quanto ao ensino de língua acaba causando desprivilegio social, sendo esse o tema de livros e teses. Como no caso do prefácio do livro de Irandé Antunes, "Muito além da gramática", publicado em 2007, o também linguista Marcos Bagno chama de "intrinsecamente excludente" o ensino da língua. Segundo ele é um "crime" o tempo em sala de aula.
Segundo Bagno; Antunes (2007, p.13):

Esta educação linguística (...) centrada de construtos teóricos elaborados antes de Cristo e repudiada há bom tempo pelos empreendimentos científicos, de uma metalinguagem falha e inconsciente, quando não francamente errônea. E um crime em todos os sentidos da palavra, desperdiçar o espaço de tempo da sala de aula ? rarefeito e, portanto, precioso num pais de tradição educacional paupérrima como o nosso ? com "aulas de gramatica" (...) com transmissão nebulosa como a de uma "norma culta" rigidamente fixada pelos séculos amem...

A língua ensinada na escola não dá ao usuário o constante ir e vir linguístico, o domínio social, ou seja, a possibilidade de agir através dela. É muito comum encontrarmos pessoas que sentem dificuldades de produzirem seus textos, sejam eles orais ou escritos; no dia a dia, cartas pessoais, diálogos, ou em ocasiões de maior relevância social, cartas a autoridades, entrevistas, resumo académico.
Parece claro que o problema da famigerada tradição linguística está nos privilégios d?uns e exclusão d?outros, quando de fato deveria a língua unir todos mediante a comunicação. E esse como se percebemos é um problema bem antigo e como já mencionado de difícil solução.
Ainda restam questionamentos sem respostas, ao menos não satisfatória, por que continuar repetindo os mesmos erros? O erro está em ensinar gramática? Diante desse quadro de questionamento temos mais um: como pode a psicopedagogia intervir no processo de ensino aprendizagem da língua? Sabemos que a psicopedagogia institucional atua onde há alguma dificuldade de aprendizagem, no âmbito educacional, procura investigar dificuldades que envolva conforme apresentamos há um tremendo problema, contudo continuar na análise diagnóstica parece um tanto quanto confuso, já que fatores como orgânicos, específicos, psicógenos e ambientais, que geralmente são levados em conta, parecem difíceis de avaliar.
Antes de tudo queremos partir do seguinte princípio, sendo a psicopedagogia uma disciplina que trazer luz a quaisquer aspectos relacionados com a aprendizagem humana, esse também é um assunto a ser analisado pelos óculos psicopedagógicos.

O processo de aprendizagem

A psicopedagogia institucional vem proporcionar novas possibilidades para que a escola comece a reduzir ou reverter o fracasso escolar.
O objeto central da psicopedagogia é o processo de aprendizagem humana, bem como a influencia familiar, escolar e social. Segundo Bossa apud Porto (2007) há três níveis de prevenção. O primeiro pretende diminuir os problemas, o segundo além de diminuir, tratar. O terceiro e último eliminar os problemas já existentes. Se não se consegue eliminar-se que sejam ao menos minimizados. Que é o pretendemos aqui. Agindo como é possível nos seguintes âmbitos de ação: o individual, ao professor; grupo de ensino, alunos e instituição escolar.
Por ser a aprendizagem o foco da psicopedagogia será exposto para melhor compreensão esse processo e a partir dele abordar métodos que poderiam ser aplicados em sala.

Aprender é preciso/fundamental

Sabemos que a aprendizagem é inerente ao homem. Acontece desde o nascimento e continua enquanto houver vida no ser. Alguns aprendem por imitação, outros por reformulação, e ainda outros por criação. Aprender é permitir que experiências de outros sejam de repente parte das nossas. Não está somente ligado ao contexto escolar. A isso alguns diriam "10 nas ruas 0 (zero) na escola". Ou "o português que é aprendido é desaprende ao se chegar à escola".
Segundo Porto (2007) o aprender envolve a inteligência, os desejos e as necessidades mediante a cognição. Sendo assim, quando se pensa em ensinar algo se deve primeiro perguntar se aquilo terá alguma utilidade ou incitará os anseios dos alunos. Esse é um ponto muito importante a ser levado em conta por parte da instituição quando se prepara um conteúdo programático, é comum ouvirmos dos alunos o seguinte questionamento, em que isso será importante na minha vida? Eles sentem a necessidades de saber a relevância do que está aprendendo.
Antunes (2007, p. 41) nos fala que "para ser eficaz comunicativamente, não basta, portanto, saber apenas regras específicas de gramática, isso é necessário, mas não é suficiente".
No que será útil decorar um monte de regras para se passar em um teste, se depois que acabar o ano, o bimestre ou até o teste não terá mais importância? A aprendizagem é fundamental. Tudo depende dela. É por seu intermédio que se dá a mudança de comportamento e as grandes revoluções no mundo interior e consecutivamente exterior. E através do uso da linguagem A aprendizagem deve começar pelo conceito que o indivíduo tem de si e do mundo que o rodeia a parir daí a complexidade do desconhecido passa lhe fazer sentido à medida que ele decide e manifesta o interesse em conhecer. É o conhecimento para a transformação.

Aprender é uma decisão

Assim como acontece quando a criança precisa da "autorização" dos pais para começar a aprender, também os jovens decidem se vão dedicar-se ou não a vida acadêmica. Como acontece em quase tudo na vida o processo de aprendizagem também é uma questão de escolha. Escolhe aprender, e o que aprender; por isso, desde cedo vemos alguns alunos que se inclinam naturalmente para determinadas áreas. Se bem que algumas essa inclinação surgi, por sugestão dos pais amigos, que tem são profissionais daquelas áreas, outras vezes, pelo apreso ao professor e neste último estaria uma nota a ser observada, como ensinantes precisamos manifestar o prestígio dos aprendentes. Precisamos parecer com aquilo que mediamos e ser coerentes no nosso falar e viver. Ser tão bons que para aprendentes não haja autoridade mais confiável. No caso do ensino de línguas mostrarmos-lhes a necessidade que ela tem para as demais disciplinas.
Aprender é construir a partir do olhar coletivo um significado individual. É tornar particular uma visão que é de outros, estes muitas vezes são os ensinantes. Assim um aprendiz precisa de possibilidades, pois nem tudo que reluzirá aos olhos de outros será ouro para o aprendente, mas somente aquilo que despertar seu real interesse. Por que uma criança é capaz de passar horas no vídeo game e não encontrar concentração na tarefa de casa? Conforme disse Drouet, para provocar mudanças efetivas à aprendizagem precisa se relacionar com a vida do aprendiz.
No ato de aprender está implícito o conhecimento, e para aconteça. É necessário o ato de querer. Como já diz o velho ditado querer é poder. O ato de "querer" precisa ser ativado no sujeito de maneira real e utilitária. O que aprendo necessita fazer algum sentido. O algo novo que aprendo passa por um julgamento, compreensão, interpretação, inferência, comparação, conforme disse Machado é "o ato de aprender".
Dessa forma, estudar um monte de regras ortográficas, de coerência e coesão textual que não ajuda a produzir texto não fará nenhum sentido, senão para uma avaliação que o aluno decorará e depois sem entender ao certo a utilidade delas vai dizer a famosa frase "Não sou bom de Português". Esse tipo de ensino não manifesta no aluno o verdadeiro desejo de conhecer a língua como um instrumento de transformação e liberdade.


Aprender mexe com a emoção

As emoções, bem como a aprendizagem são intrínsecas ao homem. As emoções é a mola de força para motivar a aprendizagem. Se um aprendente confia no seu ensinante ele se sentirá mais seguro quando for questionado ou confrontado. Cada aluno é um amigo potencial e essa relação de amizade, e respeito deve ser harmoniosa a tão ponto que entenda a intenção de ambos. Conforme a metaforizou algum, se bem que a outro propósito, mas o que é o jardineiro e o jardim? O primeiro está cheio de pensamentos de jardins. O segundo são os pensamentos do jardineiro. Os dois se completam. Um não existe sem o outro, assim como aprendente e ensinante. No caso dos aprendentes são como jardins em constante mutação alguns até se tornam "jardineiros".
Assim como alguns fazem, o jardineiro precisa estabelecer diálogos verdadeiros, acreditando que o que seus jardins dizem é relevante inclusive para seu trabalho na preparação do solo e adubagem. Para haver beleza no jardim ambos precisam ser um no processo de crescimento e transformação. Segundo especialistas o afeto influencia na velocidade do crescimento das rosas de um jardim. Quando somos um em união e respeito o aprendiz se torna verdadeiramente relevante o ensino, a matéria poderia nem ser a mais querida daquele educando, mas pelo fato de se sentir importante pelo professor a aula exercerá uma nova dinâmica, a dinâmica do interesse.
Ainda voltando à metáfora anterior, na capa do livro de "Muito além da gramática" a ilustração é de flores e logo a cima delas um regador, parece bem sugestiva de como deve ser o ensino, movido a regadas de carinho, incentivo e conversas informais, é a sala de aula um local de muitos desabafos e operações de alma. O psicólogo, quer dizer o pedagogo, o melhor professor precisar ter sua sala de aula muitas vezes como um divã. E nas aulas de línguas mais ainda, pois é através da introspecção que alguns conseguiram sair dos seus mundos de sombras e produzirem os textos uma vida saudável. Que nossas diversidades de flores tenham a cada dia os pingos de um regador que sabe que lida com seres humanos e não com máquinas que necessitam serem treinadas para um duelo mortal, onde somente os que decoram regras e mais regras serão capazes de comunicar-se com sucesso.
No que diz respeito à sala de aula como deve ser a relação professor e aluno? Segundo Cool o processo ensino; aprendizagem envolve aluno, objeto de conhecimento e professor; esses devem encontrar-se de maneira harmoniosa, pois o conteúdo não terá lugar no aluno se o professor não prepará-los para esse "encontro". Assim, cabe ao mestre dá ao seu discípulo uma medida certa de conhecimento e, este precisa está carregado de significado. "O aluno pode aprender um determinado conteúdo quando é capaz de lhe atribui um significado"
Em um dos mais significativos sermões pronunciados por Cristo está o Sermão da Montanha, nele cada verso se inicia com a palavra feliz. Não só na época em que foi proferido, mas especialmente hoje, as pessoas buscam por felicidade. E essa também é uma realidade dentro da relação em sala de aula. Se o aprendente não está contente sua atividade intelectual estará comprometida de maneira significativa. Somos seres criados para nos relacionarmos, e essa relação deve ser de aceitação, acolhimento, respeito e amor, dessa forma a inter-relação será o fio condutor para aprendizagem.
Para Freire (1999) apud Porto (2007, p.60):

Para ser validada toda ação educativa deve necessariamente ser preenchida de uma reflexão sobre o homem e de uma análise do meio de vida concreto, (...) Se vier a faltar tal reflexão sobre o homem, corre-se o risco de adotar métodos educativos e maneiras de agir que reduzam o homem a condição de objeto, quando a sua vocação é de ser sujeito e não objeto.

Aprender é interagir

O conhecimento se dá a partir da interação entre sujeito e objeto. Segundo Franco, (2000) apud Porto (2007, p.49) "é na medida em que o sujeito interage, age sobre e sofre a ação do objeto que ele vai produzindo sua capacidade de conhecer o próprio conhecimento".
Segundo Vygotsky a aprendizagem é uma ativa inter-relação com outros, e nesta, a potencialidade do indivíduo é posta a prova. Sendo ela estimulada e explorada por meio da múltipla troca de experiências. A escola pode ser esse lugar onde as relações sejam trabalhadas de maneira mais natural possível. Uma boa forma para trabalhar as possibilidades com os aprendentes em línguas é através dos gêneros textuais, Pois, eles abrangem todo o agir social, o agir linguístico. E nesse sentido o processo de ensino/aprendizagem se confunde com o processo de educar. Afinal assim como a educação a língua também pode ser vista como: sistema de propagar normas e regras, tidas como certas; um instrumento transmissor de informações; atividade cognitiva; expressão do pensamento criativo do homem; atividade sociointerativa, situada histórico e culturalmente. E, por meio dessa interação educacional e linguística é que o indivíduo aprende sobre si e de outro; à medida que convive o homem sobrevive. E ao conviver percebesse e completasse. O ser humano transforma-se em pessoa quando pode dialogar com outros sujeitos. O homem é estruturado pelo outro.
Mas, conforme falávamos os gêneros textuais são modelos de usos sociais que tem características próprias e devem ser adotados no ensino de línguas, afinal é através de cartas, receitas, notícias, telefonemas e vários outros gêneros que vai o ser humano se comunicar. Sendo assim o trabalho com eles é uma boa forma de se ensinar uma língua de forma prática e funcional.

Aprender envolve percepção, criatividade e inteligência

Estas palavras percepção, criatividade e inteligência, são tão intimamente ligadas que segundo Greene apud Porto, não são distintas e sim semelhantes. A primeira envolve a sensação e compreende todos os órgãos do sentido, pelos quais tudo em volta e apreendido, a saber, sons, cores, cheiros, temperaturas, outros. A segunda tem a ver com a imaginação são os construtos imaginários do mundo real, é a capacidade de simbolizar, presente nos contos, narrações, novelas e em diversos outros gêneros textuais. E, por último a inteligência, o campo perceptivo que envolve o uso adequado de cada atividade cerebral. Para Piaget há diferença entre percepção e inteligência. Segundo ele na percepção o conhecimento se dá por meio da presença do objeto, o contato direto e atual, já a inteligência possibilita o conhecimento mesmo na ausência do contato com o objeto. Essa discussão não se torna relevante aqui. O que precisamos saber é que o conhecimento acontece por meio da interação entre sujeito e objeto, falaremos disso a seguir.
O processo de aprendizagem está dessa forma ligado ao mecanismo de impressões, sentimentos e fantasias, quando falta razão, o cérebro pode recriar, imaginar e inventar a própria lógica. O profissional precisa preparar e organizar o universo para a pesquisa. Nunca dá as respostas, mas incentivar a buscar. Conforme disse Piaget "uma verdade imposta, não é mais uma verdade".
O educador que deseja dá o melhor porá a disposição do educando os textos necessários para que o falante pelo seu saber intuitivo ou gramática internalizada vá assimilando e abarcando todo o conhecimento da língua, não somente conceitos gramaticais isolados, além do mais é impossível que alguém fale uma língua e ignore sua gramática, conforme disse nos Antunes (2007, p.27) "toda língua em qualquer condição de uso é regulada por uma gramatica." A autora nos demonstra que a gramática vai sendo aprendida naturalmente, na própria interação com a língua. Não há necessidade, portanto de se perder tanto tempo ensinando-a mediante métodos complicados e descontextualizados que a desvaloriza o ensino, a língua e a gramática. O estudo dos gêneros mostra a funcionalidade da sociedade.
Para Marcushi (2008, p. 154) "é impossível não se comunicar verbalmente por algum gênero, assim como é impossível não se comunicar verbalmente por algum texto".

"Aprender é viver"

O que se aprende na teoria só fará sentido se for vivenciado de maneira prática. A aprendizagem para vida caracteriza pelo entregar-se ao processo, agir sobre o objeto aprendido ou simplesmente deixa acontecer de forma a tornar-se um receptáculo de transformação e mudanças, Podendo ora receber, ora rejeitar.
Nesse aspecto da aprendizagem o sujeito imerge no objeto, cria e recria situações vivenciais, onde valores são fortalecidos e o processo intelectual consiste da realidade objetiva. Esse tipo de conhecimento e conseguido mediante o desejo individual. Acontece o pensamento vivencial quando o sujeito emerge no objeto ou na situação que ele acessa com profundidade. É dessa forma que a língua deve ser passada aos aprendentes, de maneira vivencial, ou seja, o sujeito precisa criticar, analisar, valorizar e compreender. Segundo Haydt (1998) apud Porto (2007, p.64) o sujeito deve atuar e participar ativamente na realização do conhecimento. O processo de aprender é "exclusividade" do discente. O resultado dessa interação é um saber autentico.
Essa deve ser a meta educacional, levar o sujeito a mudar de comportamento. Pensar de forma crítica, orientar-se no mundo, desenvolver-se como ser psiquicamente saudável, e comunicativo. Viver é aprender e aprender envolve sentimento. Sentimento de vontade e desejo de mudar, transformar o mundo e a si mesmo.

O aprendizado na escola

Escola é a "agência do saber??. É neste ambiente que acontece de fato o processo sistemático de ensino-aprendizagem. Sendo de responsabilidades dessa instituição a promoção e condução do processo educativo, através de estratégias diversas. E é através dessas estratégias diversas, e pela intervenção da psicopedagogia, que gostaríamos nosso trabalho vem apresentando uma simples, mas laborada contribuição para que o ensino de Língua Portuguesa pela seja mais significativo.
Aprender, como vimos, decorre da ação do aprendiz sobre o objeto ou situação a ser aprendida por isso a escola deve oferecer as possibilidades, organizadas com sentido claro para que os aprendizes saibam colocar no livro de sua vida, o que aprendem no livro escolar.
O ensino escolar, em especial na sala da aula envolve necessariamente dois sujeitos, aprendiz e mediador. Como vimos, os óculos com o qual o mediador ver seu aprendiz faz uma grande diferença. Mas, não somente a visão em relação ao aluno, mais a todo o processo de ensino/aprendizado de línguas, afinal a linguagem é um sistema complexo de comunicação que permite ao ser humano a interação. Quando um sujeito não aprende bem como lidar com o complexo código linguístico ele se torna um sujeito marginal.
Somente para fechar nossa ideia em relação a tudo que falamos e mesmo antes das considerações finais, deixaremos uma última fala por considerá-la fundamental sobre a importância da teoria na arte de ensinar, esse é o título do terceiro capítulo do livro "Por que há quem não aprende?" No capítulo a autora Sara Pain (2003) fala da importância dos professores terem uma teoria a conhecer o processo como acontece a aprendizagem. Ela também dará base, para criticar, refletir e eleger um método. A seguir ela explica o porquê de Piaget e Freud. Segundo a autora (2003 p.74) a teoria baseada neles tem uma visão global da inteligência. O primeiro, um verdadeiro humanista, diz que a inteligência é própria do ser humano, todos são e tem direito a essa inteligência. Essa é uma excelente maneira da fazer uma pedagogia sem descriminação. Já o segundo, apresenta uma teoria da significação, dizendo que "Não podemos estar numa classe como se estivéssemos diante de cérebros em que devemos inserir conhecimentos. Devemos estar atentos à significação que esses conhecimentos podem ter para as crianças". (PAIN, 2003 apud GROSSI, 2003, p.71)
Devemos estar atentos para os psicodramas das situações em sala, sabendo quem são e, o que estamos ensinando. Essas teorias mostram o homem como ser único. Segundo a autora são estruturalistas, ou seja, considera a aprendizagem não como repetição automática, mas organizada por serie de comportamentos. Temos assim, com Piaget uma estrutura para o pensamento lógico e em Freud para o pensamento dramático (relação pessoal). Poderíamos continuar falando muito mais sobre o assunto inclusive no que diz respeito a gêneses das teorias, o fundamento na existência do inconsciente. Contudo acreditamos que isso seja o suficiente para que encontremos a teoria a ser usada na arte de ensinar. Ainda com sede saciemos aos menos com mais esse gole.
Segundo a autora (2003, p.77) "Não poderíamos ensinar sem esse fundamento. O discurso do outro entra na consciência como uma certeza. Se tivéssemos certeza apenas de nossas experiências, seríamos muito pobres. Duvidaríamos até dos micróbios, porque nunca os vimos".

Metodologia

Esta pesquisa está classificada nos critérios de pesquisa bibliográfica para o embasamento teórico.
Partindo da pesquisa realizada, os dados foram analisados a partir de leitura crítica e redação dialógica a partir dos autores apresentados.

Considerações finais

Como vimos desde o histórico o processo de ensino/aprendizagem de língua portuguesa no Brasil não mudou muito. Muitos dos professores dos nossos professores passaram e, nós ainda impregnados insistimos em repetir caducos métodos no ensino de língua. Também temos acompanhado na leitura deste trabalho a relevância do tema, conforme sugere Piaget é a linguagem que estrutura o conhecimento lógico e fixa o pensamento já organizado. Assim há urgência em buscar soluções que melhore o processo proficiência linguística. No presente artigo apresentamos alguns rumos, porém, conforme prevíamos a questões tão antigas, não temos fórmula mágica. Mesmo assim, o auxílio psicopedagógico veio iluminar as trevas no processo. Esperamos assim, ter contribuído tornando de certa forma mais agradável e eficiente e o processo de ensino/aprendizagem, permitindo mais qualidade para que todos envolvidos sintam-se partes ativas.

Referências bibliográficas

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GROSSI, Esther Pillar (organizadora), Por que há quem não aprende?: a teoria. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

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SIMON, Professora - pós-Dra. Maria Lúcia Mexias. Disponível em www.filologia.org.br/O Ensino da Língua Portuguesa no Brasil: mudanças de abordagem. Acesso em 13 de marco de 2011