A INTERNET COMO FONTE DE PESQUISA NO ENSINO SUPERIOR
Por OSMARINA DE OLIVEIRA CARDOSO FILHA | 09/02/2017 | EducaçãoRESUMO Este trabalho refere-se ao uso da internet como fonte de pesquisa no ensino superior. Trata-se de um estudo bibliográfico que visa investigar a importância dos recursos tecnológicos para o Ensino Superior. Sabe-se que a internet tornou-se uma importante fonte de pesquisa que possibilita o acesso a conteúdo diversos ampliando e transformando o conhecimento científico. Para tanto, O presente artigo tem como objetivo discutir o uso da internet como fonte de estudo e pesquisa. A pesquisa foi desenvolvida para verificar como os estudantes universitários fazem uso das fontes de pesquisa como parte de sua formação acadêmica. O estudo caracteriza-se como exploratório-descritivo, de abordagem qualitativa. Os resultados indicam que a rapidez e a comodidade possibilitadas com o uso da Internet para o desenvolvimento da pesquisa impõe o uso absoluto deste mecanismo em comparação aos recursos impressos e com meios consolidados de controle da informação fornecida, o que, no entanto, gera uma dificuldade maior na seleção de fontes de confiabilidade científica.
Os primeiros contatos com a Internet antes de sua abertura comercial se deram em ambiente acadêmico. Sendo a função da Universidade a produção e divulgação de conhecimento, é de extrema utilidade um sistema de comunicação em rede que permita o armazenamento e troca de informações.
Na década de 60, com o desenvolvimento dos meios de comunicação de massa, expandiram-se as discussões sobre as concepções de tecnologia, educação e comunicação. Na década de 70, o ensino como processo tecnológico, norteou as pesquisas, estudos e aplicações da tecnologia na educação. A partir da década de 80, a divulgação da ciência computacional e a aplicação dos sistemas de informação, transformaram o mundo acadêmico, implantando no meio educacional o computador. O marco referencial de mudanças significativas na inclusão das tecnologias na educação está relacionado à rede de computadores, partir da metade da década de 90 com o aparecimento da Internet.
A tecnologia utilizada, aos poucos transforma os indivíduos e as sociedades, e estas transformações ocorrem independentes da utilização que se faça da tecnologia. O uso da internet na educação proporciona novas relações de trabalho pedagógico que oportuniza melhoria da qualidade social da educação.
Com o avanço comercial da Internet, ainda na década de 90, multiplicaram-se as funções e usos da rede mundial de computadores, que adquiriu finalidades comerciais, de lazer, entretenimento, educação e manteve a finalidade de pesquisa. Entretanto, com tamanhas possibilidades e facilidade de acesso, ficou mais difícil discernir o tipo de informação obtida, de identificar as fontes de credibilidade científica.
O acesso à informação para o desenvolvimento da pesquisa acadêmica foi ampliado de maneira significativa nos últimos anos. O aprimoramento das ferramentas de pesquisa online permite aos internautas buscar informações com relativa facilidade. Consolidou-se o hábito de utilizar os serviços online para entretenimento, trabalho, comunicação, educação e pesquisa.
Esta investigação tem como objetivo verificar o uso da internet como fonte de pesquisa acadêmica e, dessa forma, caracterizar as formas de estudo e pesquisa. O estudo justifica-se pela preocupação em relação ao grau de credibilidade das informações obtidas, uma vez que na Internet o acesso às informações, edições e veiculação geralmente podem ser realizadas por todos os usuários da rede, o que reconfigura os modelos de pesquisas vigentes até então, motivando a novos desafios, problemáticas e potencialidades em vários campos de atuação, dentre os quais o meio acadêmico. Também se faz pertinente averiguar como o aparecimento da Internet alterou a utilização de meios tradicionais de pesquisa, como livros e periódicos científicos impressos.
Para a realização adequada da pesquisa foi necessário verificar aspectos essenciais da relação estabelecida entre o estudo superior e a comunicação digital. O procedimento elementar foi identificar a frequência de uso da Internet para finalidades de pesquisa, pois suas distintas possibilidades de uso estimulam a permanência dos internautas por diversas horas diárias na rede mundial de computadores.
A INTERNET COMO FONTE DE PESQUISA NO ENSINO SUPERIOR
A tecnologia aos poucos transforma os indivíduos e as sociedades, e estas mudanças ocorrem independentes da utilização que se faça dela, sua evolução permitiu que fosse incorporada praticamente em todas as esferas da cultura. Antes que uma nova tecnologia seja interiorizada pelas pessoas, não é fácil conseguir compreender de forma clara o movimento dessas mudanças e, mais ainda, antever seus efeitos, pois a cada novo sistema de comunicação fabricam-se novos excluídos (ALMEIDA, 2009, p.6).
Assim, apesar de todo o progresso observado, a ideia de que o homem aprenderia por meio das máquinas não passou de mera aspiração, como cita Oliveira Netto (2006). A sociedade sofre de diversas mazelas e umas delas é a extrema dependência que o homem tem das máquinas.
Cunha (2005) afirma que, a educação escolarizada tem também, as marcas históricas do processo que a produziu. E, relacionam-se aos princípios do estado moderno que defendia a idéia da educação como direito e assumia a necessidade da escolarização como dever de estado e fator de desenvolvimento humano e econômico. Ou seja, “seus rituais, sua forma de funcionamento, a eleição do conhecimento válido e as práticas pedagógicas que desenvolve trazem marcas da dimensão cultural, epistemológica e política” (CUNHA, 2005, p.71).
Da educação básica ao ensino superior, “antes de ser mera prática em sala de aula, é constituída de concepções político-sociais e acadêmicas, que definem os seus parâmetros” como afirma Oliveira Netto (2006, p.16). Compete aos espaços escolares instituídos a produção e difusão do conhecimento, da cultura, da formação para a cidadania, para a vida profissional e para o desenvolvimento pessoal. Para Enricone (2005, p.88), “aprender, só pode ter sentido se houver desenvolvimento ou melhora pessoal”.
A educação é um ato de conhecimento e conscientização, como afirma Paulo Freire (1986, apud OLIVEIRA NETTO, 2006). Justifica-se em sua função social e emancipatória: a consciência, ao lado da mudança, deve ser o tema gerador da prática teórica. O educador não deve separar o ato pedagógico do ato político. A Universidade desenvolve a sua função educativa quando a cultura acadêmica oferecida serve para que o indivíduo reconstrua de modo consciente seu pensamento e atuação a partir da reflexão crítica sobre sua própria experiência e comunicação alheia (ENRICONE, 2005).
A educação, portanto, é um processo mais amplo do que a sua formação profissional, pois abrange o desenvolvimento pessoal e a auto-realização. A formação profissional qualifica o acadêmico e possibilita a integração de novos conhecimentos, habilidades, competências, atitudes, valores e enriquecimento de experiências que envolvem também o desenvolvimento e uso de tecnologias.
A Internet como uma ferramenta complementar aos estudos faz com que o estudante desenvolva seu programa individual de aprendizagem tornando-se um ser ativo, mais motivados e instigados à busca de informações além das já trabalhadas em sala de aula. Moura (1998, p.146) salienta que “a Internet veio revolucionar o nosso mundo de comunicação, possibilitando-nos acessar bibliotecas, livrarias, universidades, grupos de investigação e professores dos mais variados cantos do mundo”. A Internet remete para novos caminhos na produção e prolixidade dos conhecimentos, além de novas maneiras de assimilação dos saberes. Com a Internet, por exemplo, professores e estudantes podem navegar nas páginas que contém informação e conhecimentos variados disponíveis em rede.
A internet além de possibilitar a pesquisa, facilita o acesso direto a diversos dados, consulta a especialista de diversas áreas, visita virtual a museus e a outros lugares, contato virtual com pessoas com os mesmos interesses pessoais, profissionais, prática da leitura em línguas estrangeiras, comunicação entre estudantes de escolas e cidades diferentes, intercâmbio de informações na troca de experiências, projetos, etc. visita a sites interativos, participação em cursos virtuais; leitura e análise das notícias nacionais e internacionais em jornais e revistas online acesso a amplas áreas do conhecimento, que vão desde a Matemática, Informática, Música, Poesia, Arte, Medicina, etc. entre outros.
O uso da internet no ensino superior de forma crítico-reflexiva, possibilita o acesso à informação e comunicação, consequentemente à pesquisa e, desta forma, concretizar o uso metodológico das tecnologias para um dos pontos do desenvolvimento da qualidade educacional contínua, partilhando do ideário freireano da consciência de sermos inacabados e “como tal, que se funda a educação como processo permanente” (FREIRE, 2005, p. 58).
Seguindo a mesma linha de pensamento, que hoje se encontra em alguns países do mundo, concorda-se com Bemejo (2006), no que diz respeito à formação, no sentido de que para incluir o uso das TIC na educação atual é necessário observar a formação dos futuros professores que serão lançados no mercado de trabalho, dos professores que já estão atuando, dos professores dos futuros professores e das famílias dos alunos.
Partindo da ação pedagógica sobre o uso das tecnologias na construção do conhecimento, concorda-se com Valente (2005, p.23) que “a experiência do professor é fundamental. [...] o professor precisa conhecer as diferentes modalidades de uso da informática na educação [...] entender o que os recursos oferecem para a construção do conhecimento”, lembrando que os futuros professores são formados em cursos de licenciaturas, portanto a ação-reflexão-ação pedagógica do docente de licenciaturas é necessária, no uso das tecnologias.
Em André (2005, p.59), entende-se que ensino e pesquisa partem de pressupostos e atitudes diferentes, mas que em nenhum momento podem desprivilegiar o fato de que “o professor não deva ter um espírito de investigação”. Em Chizzotti (2006, p.112), também se encontra a preocupação voltada ao ensino com pesquisa, “a crescente preocupação com um ensino que se fecunde de pesquisa é parte de uma nova agenda da vida docente e deverá determinar muito do que será o ensino, no futuro”.
É importante o papel do docente de ensino superior na condução do futuro professor para que “aprenda a observar, a formular questões e hipóteses e a selecionar instrumentos e dados que o ajudem a elucidar seus problemas e encontrar caminhos alternativos na sua prática docente” (ANDRÉ, 2005, p. 59).
Ao mesmo tempo em que conduzir o aprendiz à formação da ação de pesquisar, à reflexão-crítica daquilo que pesquisou, à ação de sua futura prática como professor em situações da qual pode e deve aprender a pesquisar dados pela Internet, remete ao docente do ensino superior a preocupação da autoria deste aprendiz, principalmente porque “quanto mais fácil pegar uma informação, mais diminui esse processo (construtivo) e menor a possibilidade de tornar-se autor” (ACKERMANN, 2000, apud. ALMEIDA, 2005, p. 103).
Entre as diversas possibilidades de investigação em meios digitais de informação e comunicação, esta pesquisa se propõe a verificar os efeitos que o uso da Internet como fonte de pesquisa e comunicação tem nas licenciaturas.
CONCLUSÃO
Observou-se que a expansão rápida dos meios digitais de comunicação provocou mais acesso à informação e, portanto, a necessidade de verificar se ocorre a preocupação, entre os estudantes universitários, com a qualidade da informação recebida, haja visto que, até o momento, pode-se considerar que no olhar discente não há preocupação docente voltada ao uso da construção de conhecimento por meio da Internet, apesar dos alunos utilizarem as mídias digitais no dia-a-dia e com disciplinas voltadas para o uso da tecnologia na educação, o professor ainda não volta seu olhar para a utilização da Internet como fonte de pesquisa.
Verificou-se que o acesso à Internet é um hábito socialmente estimulado a partir do uso das ferramentas eletrônicas em áreas como lazer e trabalho. Esse hábito é transferido para as práticas relativas à vida universitária. Identificou-se alguns fatores que demonstram a ausência de preocupação quanto à confiabilidade das informações obtidas via online. O primeiro refere-se à consulta reduzida às fontes impressas, o que não permite comparar informações obtidas em diferentes fontes. Segundo, os sites mais citados não demonstram a preocupação em apurar as informações a partir da área de formação, ou seja, a consultar periódicos de caráter científico reconhecido. Entretanto, devemos questionar até onde essa ferramenta está beneficiando a sociedade, é fato que os alunos utilizam o computador de uma forma incorreta, fazendo de sua praticidade a própria condenação, submergindo o seu raciocínio, não se preocupando em aprender, simplesmente se acomodando com a praticidade de uma máquina, que praticamente faz da criatura o mestre do seu criador. A forma de escrita, fala e raciocínio não se enquadra ao que se considera aceitável para uma sociedade que busca evolução intelectual. Limitar o uso das tecnologias dentro do âmbito universitário, aparentemente, pode se apresentar como uma forma de retrocesso á evolução. Cabe ao educador impor limites de uso das tecnologias, orientando o seu uso, apontando o melhor desenvolvimento mental e intelectual e moral dos alunos, de forma que contribua para o desenvolvimento real do ser humano. Outro aspecto relevante é que os alunos universitários não veem à oportunidade de realizar um trabalho científico como uma proposta de alcançar um novo patamar intelectual, sendo capaz de criar novos conceitos e teorias, as quais poderiam ser revolucionárias. O comodismo e conformismo tornaram-se os constituintes principais do aluno que hoje frequenta curso superior, sem criatividade, apenas aceitando o conhecimento a eles transmitido, e se preocupando apenas com a aquisição do diploma universitário, demonstrando mais uma vez que uma titulação, não é normativa a um cidadão criativo e consciente da sua contribuição para uma sociedade mais crítica e inteligente.
REFERÊNCIAS
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