A influência e a análise das cores do filme Laranja Mecânica de Stanley Kubrick

Por Loislaine Rodrigues Sadhas | 24/05/2015 | Arte

A influência e a Análise das Cores do Filme Laranja Mecânica de Stanley Kubrick1

Letícia Favero FRANÇA2

Loislaine Rodrigues SADHAS3

Milton Alves SOARES da Silva4

UCDB – Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, MS

RESUMO

Neste artigo há uma análise da paleta de cores do filme A Clockwork Orange (Laranja Mecânica) como as cores são capazes de influenciar e transmitir emoções, sejam elas boas ou ruins, a sensações que elas passam e o que cada cor significa, há também uma análise semiológica do filme, observando o ponto de vista histórico e desvendando o que há por trás de cenas marcantes.

PALAVRAS-CHAVE: Cores; Psicologia; Semiótica; Laranja Mecânica;

FICHA TÉCNICA 

Nome Original: A Clockwork Orange

Nome em português: Laranja Mecânica

Gênero: Drama

Direção: Stanley Kubrick

Roteiro: Stanley Kubrick

Elenco: Adrienne Corri, Anthony Sharp, Aubrey Morris, Barrie Cookson, Carl Duering, Carol Drinkwater, Cheryl Grunwald, Clive Francis, Craig Hunter, David Prowse, Gaye Brown, Gillian Hills, Godfrey Quigley, James Marcus, Jan Adair, John Clive, John J. Carney, John Savident, Katya Wyeth, Lee Fox, Lindsay Campbell, Madge Ryan, Malcolm McDowell, Margaret Tyzack, Michael Bates, Michael Gover, Michael Tarn, Miriam Karlin, Neil Wilson, Patrick Magee, Paul Farrell, Pauline Taylor, Peter Burton, Philip Stone, Prudence Drage, Richard Connaught, Sheila Raynor, Shirley Jaffe, Steven Berkoff, Virginia Wetherell, Vivienne Chandler, Warren Clarke

Produção: Stanley Kubrick

Fotografia: John Alcott

Trilha Sonora: Walter Carlos

Duração: 137 min.

Ano: 1971

País: Estados Unidos / Inglaterra

Cor: Colorido

Estúdio: Hawk Films / Warner Bros. Pictures

Informação complementar: Baseado no livro de Anthony Burgess

 

1Trabalho desenvolvido para a disciplina de Tópicos em Comunicação orientada pelo Professor Mestrando em Comunicação Eduardo Perotto Biagi

2Graduanda do curso de Publicidade e Propaganda, contato: leticiafaverofranca@hotmail.com

3Graduanda do curso de Publicidade e Propaganda, contato: lois_sadhas@hotmail.com

4Graduando do curso de Publicidade e Propaganda, contato: soaresmilton06@gmail.com

 

INTRODUÇÃO

Nesta análise falaremos sobre como as cores influenciam e compõe as cenas dos filmes, a semiótica aplicada nas entrelinhas do mesmo, e em seus personagens. Como objeto da pesquisa, usamos em especial o filme de Stanley Kubrick, Laranja Mecânica. Onde é possível perceber a atuação de objetos e signos não claros a perspectiva de um leigo. Cenas icônicas, índices de um passado não gravado e símbolos capazes de transformar o humor ou o dia-a-dia de alguém. Como a cor pode influenciar e reforçar sentimentos e sensações em diversas cenas.

Usando como base os estudos de Eva Heller, utilizamos como principal referência de pesquisa, o seu o livro ‘’A psicologia das cores: Como as cores afetam a emoção e a razão’’. O livro aborda a relação das cores com os nossos sentimentos e mostra como as duas coisas não se combinam por acaso, já que a relação entre ambas não são apenas questões de gosto, mas sim experiências universais profundamente enraizadas na nossa linguagem e no nosso pensamento.

A teoria semiológica utilizada foi baseada no livro “Teoria geral dos signos: Semiose e autogeração” de Lúcia Santaella, professora titular da PUC/SP com doutoramento em Teoria Literária na PUCSP em 1973 e Livre-Docência em Ciências da Comunicação na ECA/USP, e também na obra “Semiótica Básica” de John Deely, americano, semiólogo, filósofo e professor de filosofia na universidade de São Thomas em Houston. 

Baseado nestes livros, seguindo a semiótica peirceana podemos afirmar que o signos são mais que meramente alguma coisa que significa algo para alguém, signos são ambos criadores e criação do objeto. Com este pensamento, seguimos à análise.

 

  1. 1.      A HISTÓRIA
                 Alexander DeLarge, o personagem principal, é um jovem aparentemente bem estruturado na família, não teria motivos para cometer os delitos da trama, uma vez que tem pais que se preocupam com ele, tem uma boa casa, uma boa estrutura social, mas juntamente com seus outros três amigos, saem e cometem vários crimes. Logo no início do filme, os jovens violentos agridem um senhor já de idade e morador de rua. O procedimento de invasão nas casas a serem atacadas é bem simples: um deles chega até a porta, pede para usar o telefone, pois alega que ele e seus amigos sofreram um grave acidente. Da forma expendida, eles inicialmente invadem a casa de um escritor e sua mulher, então eles estupram sua esposa, agridem-no, danificam sua casa e seus pertences. Do mesmo modo, porém com a ressalva da simulação não dar certo nesse crime, a moradora de um hotel-fazenda desconfia da forma com que eles pediram para usar o telefone, semelhante ao modo do crime anterior, e liga para a polícia, não abrindo a porta para eles. Os três esperam  do lado de fora enquanto o líder (Alex) entra no hotel-fazenda, agride a mulher e golpeia-a com um objeto assemelhado a  um pênis causando-lhe a morte. O grupo está desgastado, o líder perde sua força entre os integrantes, correndo o risco de ser traído a qualquer momento.
 É neste ultimo crime que se dá a traição e que começa toda a trama política fundada na redução da criminalidade. Quando o líder do grupo executa o golpe na cabeça da mulher, tenta fugir, mas um de seus “amigos” o atinge com uma garrafa de leite, o que o deixa temporariamente sem visão, concomitantemente, sendo preso pela polícia. Alex é sentenciado a 14 anos de prisão por homicídio se tornando notícia em todos os jornais. Na penitenciária, entra em contato com a religião, se familiarizando muito com leituras, especialmente da bíblia. Conversa com o padre sobre uma forma de tratamento, chamado de terapia Ludovico, que poderia tirá-lo de lá em pouco tempo e não cometer mais crimes. Os simpatizantes desta nova maneira de tratar o criminoso defendiam que curando o extinto criminoso o sujeito não mais praticaria delito algum. Consistia o tratamento em colocar o paciente, preso por uma camisa de força, com os olhos abertos por um gancho em cada lado,  em uma sala de cinema onde devia assistir a várias sessões de pura violência para aprender que ser violento era uma atitude a ser reprovada pela sociedade. O ministro do interior, com o intuito político, vai até a prisão e procura alguém para servir como teste e se interessa por Alex. Se este tratamento desse certo, reduziria a criminalidade em pouco tempo e entregaria sujeitos reintegrados para a sociedade. Em um tempo em que as autoridades do presídio acreditavam que a retribuição para o delito devesse ser feita na mesma moeda do cometimento criminoso, Alex é submetido a esta terapia, passa por duas sessões de filmes violentos sendo que no primeiro assiste as imagens com o áudio referente ao conteúdo; na segunda sessão assiste ao filme apenas com as imagens e a nona sinfonia de Beethoven. Em decorrência das cenas de violência juntamente com a música sensível, como consequência secundária, ele não pode mais ouví-la, pois se sente mal

            Enfim Alex é curado e volta à sociedade, contudo esta não o aceita e passa a repudiá-lo. Como efeito imediato do tratamento, ele é impelido por sua própria consciência a não cometer ou se livrar dos delitos contra sua pessoa. Sua família não o acolhe como deveria e ele então sai de casa para buscar outro lugar que não aquele para morar. O senhor morador de rua o reconhece, chama seus amigos moradores de rua e o agride, com isto, “dois dos amigos traidores” de Alex se tornam policiais, separam a confusão, mas levam-no para um lugar distante e agridem-no e tentam afogá-lo na água. Alex sai em busca de ajuda e vai parar na casa do escritor que em virtude do ataque que sofreu dos jovens tempos atrás, ficou paraplégico e perdeu sua esposa em consequência também do ataque.  O escritor, no intuito de se vingar e vislumbrando a possibilidade política de derrubar a força do partido político contrário do qual não defendia,  chama seus amigos e fazem testes psicológicos com Alex, principalmente quando coloca a nona sinfonia de Beethoven, em som alto a fim de testá-lo. Como Alex não pode ouvir a música se joga da janela querendo se matar, mas não morre. É levado para o hospital, onde acorda do coma, recebe uma visita do ministro do interior e novamente é tido como pano de fundo para o partido político.  

 

  1. 2.       ANÁLISE DO SER (ALEX DELARGE)

 

Alex DeLarge apresenta um profundo grau de sociopatia. Segundo o Dr. Renato Sabbatini "Os sociopatas são caracterizados pelo desprezo pelas obrigações sociais e por uma falta de consideração com os sentimentos dos outros. Eles exibem egocentrismo patológico, emoções superficiais, falta de auto-percepção, pobre controle da impulsividade (incluindo baixa tolerância para frustração e limiar baixo para descarga de agressão), irresponsabilidade, falta de empatia com outros seres humanos e ausência de remorso, ansiedade e sentimento de culpa em relação ao seu comportamento anti-social. Eles são geralmente cínicos, manipuladores, incapazes de manter uma relação e de amar. Eles mentem sem qualquer vergonha, roubam, abusam, trapaceiam, negligenciam suas famílias e parentes, e colocam em risco suas vidas e a de outras pessoas”. Esta definição dada pelo PhD neurocientista se encaixa perfeitamente no estado de mente de Alex. Sendo assim, o diagnóstico de sociopatia é compatível com o “Horrorshow" que é apresentado no filme Laranja Mecânica, dirigido por Stanley Kubrick.

Alex estupra, traumatiza, castiga, machuca, e por fim, mata, neste longa. Suas condutas definitivamente não estão a favor da lei. Não é atoa que seu nome, do latim “A-Lex” significa “Sem Lei”. Fazendo analogia ao Alexandre O Grande, “Alex O Largo” nunca se tornará o grande, pois sua ambição não é grande. Seu crescimento é horizontal, ele deseja estar em todos os cantos da cidade, e viver sua vida intensamente.

Adepto da ultraviolência, Alex e seus Droogies (Termo em Nadsat para “Amigos”) Pete, o que sempre está presente mas concorda com tudo o que é imposto, Dim, o cabeça-oca da trupe que se revolta mas não é respeitado, e Georgie, o ganancioso que deseja tomar a posição de Alex de líder. Suas vestes brancas simbolizam a paz interior que os Droogies sentiam. Não havia remorso algum sobre as atrocidades cometidas durante as noites de Horror-Show.

Primeiro, a gangue se dirigia ao Korova Milk Bar, um bar onde era servido leite com adicional de algumas drogas, dentre elas, Drencrom, um sintético de Adrenocromo, responsável por deixar transparecer desejos de violência oprimidos no subconsciente de cada um dos membros da turma.

Antes de continuar a análise do ser, gostaria de fazer uma analogia do filme aos dias de hoje, onde jovens, na presença de álcool no sangue, liberam alteregos interiores a favor da violência, batendo em qualquer um que por um simples, jogo de olhares,  olhar para sua mulher. Caso recente acontecido na capital de Mato Grosso do Sul, onde uma boate foi inteiramente destruída pela falta de escrúpulos dos que lá estavam. Quadro que Kubrick, em 1971 já previa.

Continuando;

Ludwig van Beethoven é o artista favorito de Alex, suas músicas estão por toda parte no longa, seja em momentos de diversão ou de extrema agonia. Sua obra predileta é a Nona Sinfonia, que por uma ironia do destino, é a causadora da maior dor já sofrida por Alex, capaz até de fazê-lo desejar a morte numa tentativa frustrada que iremos discutir mais a frente neste artigo.

O estudo da fenomenologia aplicado na família de Alex pode ser concluído ao analisar seu pai e mãe como extremamente manipulados pela mídia e pelo sistema imposto no filme. Da Igreja Anglicana, Alex, por ser uma pessoa muito egoísta, não respeita seus pais, fazendo com que suas lições passem desapercebidas, como quando sua mãe demanda para que se dirija a escola, ele simplesmente diz que está com dor de cabeça. Decisão respeitada imediatamente pela sua mãe, que continua sua vida medíocre sem se preocupar com as consequências de certos atos.

O idioma utilizado no filme é o inglês com algumas partes em Nadsat, uma mistura de dialetos em Russo e gírias dos subúrbios de Londres. Criada por Anthony Burgees em 1962, este novo idioma foi adaptado por Stanley Kubrick para que o filme fosse melhor retratado e entendido.

Um dos maiores ícones deste filme é a máscara que Alex usa sempre que vai atacar alguém. A máscara iconifica o Horror-show, até mesmo para a personagem, que se vê em transformação sempre que a máscara é posta.

O símbolo mais observado no longa é a Nona Sinfonia de Beethoven, capaz de modificar o humor, o comportamento, e até o dia-a-dia de Alex, a obra está em constante uso ao decorrer da trama, que iremos analisar agora.

 

2.1   A SEMIÓTICA DAS CENAS DE LARANJA MECÂNICA

 

O filme começa com Alex encarando a câmera, sob o efeito do Drencom, está com a ultraviolência a flor da pele. Se passa no Korova Milk Bar, cenário bastante recorrente ao decorrer do longa, onde os Droogies se drogam e partem para mais uma empreitada de estúpros, roubos, e horror-show. A fisionomia de Alex, denota um ser perturbado, em transe sob o efeito do Drencom e com a violência a flor da pele, cuja fisionomia se transforma junto com a sua relação com o governo e/ou seus amigos. Logo nos primeiros instantes do filme, é possível vê-lo rodeado de amigos e pessoas que o tratam como um líder. Ele detém o poder de decidir o futuro daquelas pessoas, logo, ele é o principal símbolo de liderança. No final do longa, Alex se encontra na mesma situação, rodeado de pessoas prontas para o bajular e o tratar como líder, podendo decidir o futuro, porém, desta vez, seus amigos são o governo e a imprensa, divulgando todo arrependimento por terem feito da vida de Alex, um Inferno, como ele mesmo diz para o Ministro.

Após o ato de violência gratuita no subúrbio, Alex e os Droogies se encontram em um teatro, onde uma cena de estupro está a ocorrer em palco. Com a trupe do Billy Boy em ação, os Droogies ficam somente olhando. Billy Boy estavam usando uma vestimenta típica e similar a usada pelos nazistas na segunda guerra mundial. Hitler, um grande fã de teatro, ovacionava cenas de violência ao vivo em espetáculos, o que provavelmente estaria fazendo se estivesse a vendo. Em teatros, a ação é geralmente oferecida ao ator pelo foco de luz, ou seja, um ator quando em exercício, deve sempre buscar a luz para se fazer percebido. É o que Alex faz. Em meio àquele espetáculo, Alexander entra em cena ao buscar a luz e confronta a outra gangue, causando um conflito cujos Droogies saem vitoriosos e fugitivos da polícia.

Chegam numa localidade muito importante neste filme, HOME. Onde inventam que houve um acidente próximo ao local e que precisam utilizar o telefone. Neste momento, o Escritor libera a entrada dos delinquentes a bater em sua porta, esta decisão custou a vida de sua esposa. Situações como essas são um trauma imenso para a vida de um ser-humano.

 

”Além de consequências psicológicas, as emoções

podem, também, desencadear alterações físicas. Elas

alteram as respostas imunológicas e tÍm grandes

influencias sobre o sistema nervoso autônomo. As

emoções perturbadoras, em especial, podem ser nocivas

para o organismo e devem ser consideradas umas ameaças

à saúde. Sentimentos como ira, raiva, hostilidade, tensão,

ansiedade e depressão estão associados com doenças

coronarianas, gastrintestinais, infecciosas, imunológicas

entre outras.”

 

Diz Daniel Goleman em "Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente.”

Alex e os Droogies após adentrarem HOME começam o Horror-show, onde o Líder fica encarregado de, gradativamente, tirar a roupa da esposa do escritor enquanto ele assiste a cena, imobilizado põe Georgie e sem chances de ficar sem olhar. Alex canta “Singing in the Rain” enquanto bate no casal e estupra a mulher, traumatizando profundamente o escritor que se vê impossibilitado de ajudá-la.

Após o massacre àquela família, os Droogies se dirigem ao Korova, onde tomam a “saideira”, mais uma dose da droga. Dim pega leite de Lucy, nome da primata mais antiga achada por arqueólogos, como um pequeno Orangotango tomando leite de sua mãe. Quando na pausa da música ambiente uma mulher começa a cantar a Nona Sinfonia de Beethoven, fazendo com que Alex ficasse alucinado com tal ato, porém Dim zomba da cantora, forçando Alex a tomar a decisão de humilhar Dim em público. Ato que o resto da trupe não aceita muito bem, começando assim o conflito entre os colegas de gangue.

Em uma cena particular, Alex passeia pelos subúrbios de Londres de volta para casa, assobiando Beethoven por todo o bairro, chega em seu edifício, onde a conotação sexual fica muito em evidência ao passo em que se aproxima do seu quarto. Começa pelo corredor, onde pichações estão por toda parede do Hall. Seu quarto é cheio de pornografia em pôsteres, desenhos, estátuas. Em meio a toda esse ambiente sexual e pervertido, é possível evidenciar o maior pôster de todos, o de Beethoven em sua janela, como se a única luz que é permitida neste caos sexual, é a da música clássica. Sua maior fraqueza.

Uma personagem muito influente na trama é o Sr. Deltoid, inspetor dos pequenos infratores, pois ele sempre está presente nos momentos mais decisivos na vida de Alex antes de ser preso. Em sua primeira aparição, Sr. Deltoid aparece sentado na cama dos pais de Alex o esperando para uma conversa confidencial. Ele já sabia que o garoto estava se envolvendo com “sujeiras" e que se continuasse assim ele iria acabar na prisão. Sr. Deltoid sempre tinha as previsões mais certeiras. Ele era o guardador mor de Alex e dava os melhores concelhos, porém o delinqüente sempre respondia com alto teor de sarcasmo e ironia. O inspetor acerta suas previsões pela segunda vez na saleta da delegacia, quando diz a Alex que espera que a tortura da qual ele iria sofrer, fosse a maior de todas, e foi.

Alex DeLarge torna-se 655321, conjunto de números que assim como a vida dele, estava na decrescente. Forçado ao respeito falso e à ironia exacerbada, Alex se da bem na prisão, logo deixando aflorar seu lado frio e calculista para se livrar do encarceramento. Juntou-se à Igreja da prisão, e tornou-se braço direito do Padre. A intenção de melhorar nunca foi a mais importante, mas foi a que mais o motivava a ler a Bíblia só pela parte da violência.

DeLarge passou a acreditar que o que ele fazia era errado, mas não pela moral, nem pelo senso de direito do próximo, mas sim porque os enfermeiros, por acidente, colocaram Beethoven para tocar, música que fez com que Alex perdesse os sentidos. “É errado porque é contra a sociedade”, gritou.

Quando a personagem principal é solto, ele começa a se deparar com a sociedade manipulada que foi levada a odiá-lo, não somente por ter feito todas as atrocidades, mas também por ter sido solto numa tentativa falha do governo. Alex é rejeitado pelos pais, espelhos de uma sociedade totalmente corrompida pela mídia, percebe-se que sempre antes dos pais entrarem em cena, jornais mostram o cenário local.

Alex reencontra o mendigo o qual assaltou e bateu e recebe a mesma sina imposta no começo do filme. Ironicamente salvo por policiais, Alex percebe que as mãos amigas que o salvaram eram na verdade de Dim e Georgie, antigos colegas Droogies, os quais havia violentado também anteriormente. No estado em que estava, DeLarge se dirige a mesma casa a qual havia estuprado uma moça enquanto seu marido assistia a cena. Mas agora, Sr. Alexander não estava sozinho, tinha Julian, seu segurança pessoal.

Sr. Alexander não reconhece o delinquente de primeira instância, pois enquanto estava em sua casa, DeLarge usou uma máscara, porém, ao tomar banho começa a cantar a música a qual cantava enquanto estuprava a mulher de Alexander (Singing In The Rain). O escritor se lembra imediatamente e sente o mesmo desejo de suicidar-se que Alex sente ao ouvir a 4ª Sinfonia de Beethoven, e começa a planejar o assassinato de Alex.

Quando Alex acorda no quarto, a 4ª Sinfonia está tocando alta e clara para que escute. Ele começa a surtar, enquanto isso no andar de baixo Sr. Alexander ri ao ver o sofrimento do garoto que tanto o fez sofrer na vida. O fato do escritor estar num quarto escuro embaixo de Alex, denomina o “inferno" o qual DeLarge refere-se após a cena. A tortura infernal é praticada com bom humor e sadismo pelo escritor enquanto Alex sente o ultimo desejo de vida e decide pular da janela. Desejando, desta vez, a morte.

A cena mais icônica do filme é seu Gran Finale, quando no hospital, o Ministro chega para conversar com o personagem principal, após os jornais soltarem que o governo o tratou erroneamente. Sendo símbolo da manipulação, Alex abre a boca e é alimentado, como um pássaro qua acabou de nascer, pela sua mãe. É a mão do governo impondo uma reação de respeito comprando-lhe com um bom emprego e um bom lar.

Alex termina o filme com a mesma fisionomia do começo, mostrando que ele é a mesma pessoa, só que agora, é aceito pela sociedade. Então ele diz “Eu estava curado mesmo.” Curado pois agora a sociedade o considera curado de fato.

 

  1. 3.       O ESTÍMULO QUE AS CORES CAUSAM

Ao contrário do que muitos pensam as cores não representam apenas estética, cada cor possui seu significado e esse significado é capaz de influenciar pessoas e transmitir diversos sentimentos e sensações, além de atingir diversas pessoas por não possuir barreira linguística. Cada sentimento e sensação vão de acordo com o cenário e contexto em que a mesma é inserida. Antonioni (1947, apud MARTIN, Marcel, 2005, p. 87), diz que – ‟a cor é uma relação entre o objeto e o estado psicológico do observador, no sentido em que ambos se sugestionam reciprocamente‟, sendo assim, as cores são capazes de nos influenciar tanto quanto nós a influenciamos.

Cada cor tem a sua influência e seu significado sob nós, esse significado varia de acordo com a cultura de cada pessoa. O vermelho pode representar amor, mas também pode representar o poder. O preto para a cultura ocidental significa luto, já para os orientais a cor que representa o sentimento de perda é o branco. Por isso, para a psicologia das cores, devemos levar em conta a cultura e o local dos seus receptores.

 

Tabela 01

 

Fonte: http://portalintercom.org.br/anais/sudeste2013/resumos/R38-1304-1.pdf

3.1 AS CORES E O FILME

3.2 AZUL

O azul tem como significância emoções como tranquilidade, harmonia e entre outros. Observando o filme A Clockwork , a significância do azul fica bem evidente na cena, em que Alex e seus ‘’Drugues’’ – que é como ele chama seus companheiros – encontram um velho mendigo em um beco, e começam a bater nele sem motivo algum. A cena toda é composta por azul, dos tons mais claros com a entrada de luz, até os tons mais escuros que são criados através de sombras. O azul em questão transmite a sensação de tranquilidade, que é o que Alex sente ao praticar ‘’ultraviolência’’. O azul tem presença também nas roupas, quando Alex chega na prisão, ele usa um terno azul, acompanhados de camisa e gravatas da mesma cor, nesse momento a cor escura da roupa de Alex representa sua emoção, que começa a ficar abalado e deprimido, pois no inicio do filme, ele usava apenas roupas brancas, como se seu emocional estivesse tranquilo, em paz, fazendo aquilo que lhe dava prazer. Ao longo do filme, as sensações que o azul passa, vão aumentando a sua carga emocional, como quando ele tenta se matar se jogando do segundo andar da casa do escritor Sr. Alexander. Completamente perturbado, na cena em que Alex se joga, o céu azul fica em evidência, passando a sensação de calmaria, que é o ele procura naquele momento, tentar acabar com sua dor e ter um pouco mais de calma e, naquele momento, ele acredita que a morte é capaz de proporcionar a calma que ele necessita. No cenário, nas roupas de cama de Alex, no seu quarto, quando seu interior esta em paz, a colcha de dentro é da cor azul, porém, a colcha laranja que fica na parte externa representa seu exterior, que queria demonstrar extrema liderança e rispidez.

Imagen: 01

Fonte: Produzido pelos autores

3.3  VERMELHO

O primeiro indício de vermelho no filme é visto já nos primeiro segundos, o filme começa com uma tela vermelha, mas logo depois vem uma tela azul e aí volta à tela vermelha e o nome A Clockwork Orange, essa combinação do vermelho com o azul tem suas significâncias totalmente opostas, o vermelho representando o sexo, a violência e a sua excitação em ser um fora da lei e o azul, a sensação de calma e tranquilidade que ele sente após cometer os delitos. Depois de alguns minutos, quando Alex e seus Drugues chegam ao teatro abandonado, encontram a gangue rival de BillyBoy tentando violentar uma mulher, no teatro, há vários objetos em tons avermelhados, que indicam o modo agressivo que a mulher é tratada que esta sendo supostamente violentada, além do sexo não desejado e a frieza com que a gangue de BillyBoy tenta fazê-lo.  Na cena seguinte, em que eles estão em um carro fugindo, o interior do carro também é vermelho o que representa na cena a excitação, os gritos e toda a adrenalina da fuga da polícia. Em seguida, quando eles chegam à casa do escritor Sr. Alexander, o ambiente é composto por diversos objetos de cor vermelha, a máquina de escrever e o roupão que o escritor veste pode indicar o perigo que está por vir, em seguida Alex e seus Drugues conseguem invadir a casa do escritor e fazem ele e sua esposa de refém. Pode-se perceber que a mulher do escritor se veste inteiro de vermelho, desde seu cabelo em tons de ruivo até as meias e o sapato. Acredita-se que ²o vermelho é a cor das meretrizes. ‘’Não vista tanto vermelho, vão te tomar por uma vagabunda’’; assim as mães costumavam advertir suas filhas. No Novo Testamento aparece a ‘’Mãe das Fornicações’’, uma mulher totalmente vestida em vermelho. Uma tradição mais antiga é, entretanto, depreciar os cabelos ruivos e se acredita que as ruivas são especialmente ardorosas. Como cabelos vermelhos não são adequados s ‘’senhoras decentes’’, as mentes conservadoras ainda hoje os vêm como cabelo típico das meretrizes. E é de tal forma que eles a tratam, como uma verdadeira meretriz, cortando sua roupa e violentando-a. Quando Alex inicia seu tratamento, ao ‘’videar’’ o primeiro filme, ele se sente bem ao ver o sangue escorrendo e se refere ao mesmo como ‘’vinho tinto’’ e ainda destaca o quanto é bom vê-lo saindo ‘’direto da fonte’’ ou seja, o quanto é prazeroso para si ver uma pessoa ensanguentada.

Imagem: 02

Fonte: Produzido pelos autores

3.4 BRANCO

O branco representa o estado de espírito de Alex, no início suas roupas todas são brancas, de camisas e calças, até meias e cuecas. Todas as vezes em que ele rouba ou estupra ele se sente em paz e isso é transmitido através de suas roupas. Mais a frente, quando Alex esta no hospital para seu tratamento de recuperação, o espectro é branco, seu significado parte é por estar em um hospital, que sugere limpeza e parte é por ele achar que após o tratamento, irá ser solto, mas sem sofrer algum dano grave, tendo assim, sua paz interior de volta. E o branco volta a ser espectro da cena em que Alex está trancado em um quarto na casa do Sr. Alexander, o mesmo coloca em alto e bom som o 4º momento da 9ª Sinfonia de Bethoven, que após o tratamento se torna o seu maior ponto fraco, o quarto todo em tons claros, tem a representação do céu e logo abaixo, no inferno, o Sr. Alexander sentindo prazer em ouvir os gritos de Alex. No final, novamente em um hospital, após a tentativa de morte, Alex volta a usar roupas brancas e seu estado de paz interior volta, pois ele já não sente mais aquele mal estar em sentir ódio ou desejo sexual.

Imagem: 03

Fonte: Produzido pelos autores

3.5  PRETO

 A cor preta se torna constante a partir do momento em que Alex vai para a cadeia, estar preso acaba com o seu emocional, traz sentimentos de depressão, solidão e tristeza. Os primeiro sinais são as roupas da prisão e o espectro escuro que o ambiente tem. Mesmo após o tratamento ter terminado e ele ser solto, os tons escuros de cinza e preto permanecem nas cenas subsequentes. Quando ele é rejeitado pelos pais e sai andando na rua sem ter para onde ir, quando apanha dos moradores de rua, quando seus antigos Drugues se vingam dele e o abandonam num lugar no meio do nada e o ápice da decadência de Alex é quando ele rasteja na chuva, na lama em direção à casa do Sr. Alexandre

 

Imagem: 04

Fonte: Produzido pelos autores

 

 

 

CONCLUSÃO

Como vimos, as cores predominantes foram o Azul, Vermelho, Branco e Preto. O tempo todo, as cores transmitem as emoções, seja do personagem principal Alexander DeLarge ou dos personagens complementares. As emoções de Alex vão da pureza do branco e sua paz, a tranquilidade do azul e à solidão do preto. ¹Na Inglaterra, ‘’Blue Movies’’ são filmes pornográficos, ‘’Blue Jokes’’ são piadas obscenas. E quem costuma usar termos de baixo calão tem uma ‘’Blue Language’’ – um linguajar azul. E é exatamente isso que o filme retrata, a mente de um sociopata viciado em pornografia e que tem um vocabulário repleto de palavras de baixo calão. O filme traz também um apanhado de símbolos, ícones e índices, como pudemos observar na análise semiótica do filme, as questões políticas, como o governo é capaz de manipular o povo e os sentimentos que se passam na cabeça de um sociopata. Portanto, chegamos à conclusão de que há muito mais do que grandes produções por trás dos filmes, as cores e a semiologia são capazes de mexer com o nosso psicológico sem que se perceba. É capaz também de nos influenciar e nos transmitir diversas mensagens, sendo assim, cabe a nós tentarmos enxergar o que as entrelinhas tem a nos dizer.

POR TRÁS DA LARANJA

Como qualquer produção de filme muitos fatos e curiosidades acontece nos bastidores e separamos várias. Uma delas conta que basil a cobra, foi colocoda nas filmagens após o diretor Stanley Kubrick descobrir que Malcolm McDowell tem medo de cobras.

 Entre inúmeros fatos culturais no filme, a cena em que Alex fala com o padre sobre a terapia Ludovico, é possível ver os prisioneiros marchando em círculo no pátio. A cena recria uma pintura de Vincent van Gogh, Prisioneiros se Exercitando (1890).

Imagem: 05

 

Fonte: http://cinema.uol.com.br/album/2013/04/25/conheca-15-detalhes-do-polemico-laranja-mecanica-de-stanley-kubrick.htm#fotoNav=9

"Só depois da minha morte": Ao contrário do que dizem "Laranja Mecânica" não foi banido dos cinemas do Reino Unido. Na verdade, o filme foi massacrado por críticos consagrados (como Pauline Kael e Roger Ebert) e foi atacado por "promover a violência". Irritado, Stanley Kubrick decidiu impedir a exibição do filme em 1973 até sua morte (em 1999). Durante muito tempo, os britânicos assistiram ao filme através de VHS importadas de outros países.

O segurança do então tetraplégico Sr. Alexandre vítima dos ataques dos Droogs é David Prowse, nada mais nada menos que Darth Vader (corpo) na Trilogia Original de Star Wars.

Desesperado por dinheiro, Anthony Burgess vendeu os direitos de adaptação ao cinema de Laranja Mecânica para Mick Jagger por apenas US$ 500,00. O músico planejava fazer o filme tendo os Rolling Stones como os droogs, mas acabou revendendo os direitos por uma quantia muito maior.

O médico que acompanha Alex enquanto ele é forçado a assistir filmes violentos é um médico de verdade, presente para assegurar que os olhos de McDowell não secassem. Seus olhos foram anestesiados para que as cenas de tortura fossem filmadas sem tanto desconforto. Ainda sim, suas córneas foram arranhadas pelos grampos de metal.

REFERÊNCIAS

HELLER, Eva. A Psicologia das Cores: Como as cores afetam a emoção e a razão. 2 ed. Barcelona. 2012

SANTAELLA, Lúcia. Teoria Geral do Signos: Semiose e Autogeração. São Paulo. Ática. 1995

DEELY, John. Semiótica Básica. 1990

T. GOMES, Douglas. Resenha do filme Laranja Mecânica, JurisWay, 2013. Disponível em < http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=11867> Acessado em 09/04/2015

GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional.

MARTIN, Marcel. A Linguagem Cinematográfica. 2 ed. Lisboa: Dinalivro, 2005. 333 p.

Ficha Técnica do Filme Laranja Mecânica. Disponível em <http://www.cineclick.com.br/laranja-mecanica> Acessado em 09/04/2015

Curiosidades sobre o filme. Disponível em <http://cinema.uol.com.br/album/2013/04/25/conheca-15-detalhes-do-polemico-laranja-mecanica-de-stanley-kubrick.htm#fotoNav=9> Acessado em 09/04/2015

<http://portalintercom.org.br/anais/sudeste2013/resumos/R38-1304-1.pdf> Acessado em 08/04/2015