A INFLUÊNCIA DOS CONTOS INFANTIS NO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM INFANTIL

Por Solange Melo | 27/11/2010 | Educação



A INFLUÊNCIA DOS CONTOS INFANTIS NO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM INFANTIL

Luciani Gallo Machado Barreto
Secretaria Municipal de Educação de Nova Olímpia
Luciani_gallo@hotmail.com
Neide da Silva
Secretaria Municipal de Educação de Nova Olímpia
neidesilva_66@hotmail.com
Solange dos Santos Melo
Secretaria Municipal de Educação de Nova Olímpia
sol_mel13@hotmail.com


RESUMO


O referido artigo trata de um relato de experiência do projeto "Conte outra vez" desenvolvido no Centro de Educação Infantil Eusébio Justino de Camargo em Nova Olímpia MT, no qual visa rememorar o mágico universo da infância, resgatando o encantamento pelas histórias infantis desenvolvendo assim a escrita, a fala, expressando as emoções os sentimentos, a socialização e os valores morais. Devido ao desenvolvimento do contexto global como também a falta de hábitos familiares, criaram-se uma distância entre a criança e os livros infantis. Parte daí a necessidade de mostrar ao aluno a importância da leitura, do conto e reconto das histórias infantis, bem como ressaltar a importância de atividades com a literatura infantil aproximando a criança deste gênero literário, promovendo o gosto pela leitura, propondo interação entre a obra literária e as artes plásticas por meio de atividades estimuladoras da imaginação e criatividade.

Palavras - chaves: Leitura ? criança ? desenvolvimento ? linguagem.

INTRODUÇÃO

Desde a antiguidade tanto a leitura quanto a escrita, exercem grande importância na evolução da humanidade. Mas, saber decodificar letras em sons e codificar sons em letras, não é sinônimo de capacidade em utilizar a língua materna, pois essa capacidade de uso é equivalente à possibilidade de falar, escutar, escrever e ler em diferentes contextos de comunicação. Cabe a escola e principalmente ao educador, relacionar as práticas de uso da linguagem às praticas sociais. No início da vida escolar, já na Educação Infantil, é necessário o trabalho com textos que circulam socialmente, dando maior importância a Literatura Infantil. O contato da criança com materiais de leitura deve ser constante para que desperte o gosto por esse ato, tornando-se um hábito e não um momento esporádico.
A Literatura Infantil, utilizada de modo adequado, é um instrumento de suma importância na construção do conhecimento do educando, fazendo com que ele desperte para o mundo da leitura não só como um ato de aprendizagem significativa, mas também como uma atividade prazerosa.
Através da leitura, a criança se apropria de culturas e saberes historicamente acumulados pelo homem, adquirindo informações que o ajudarão na construção de seu conhecimento. A literatura e conseqüentemente a leitura é um dos caminhos mais viáveis para desenvolver e estimular a formação de idéias, que habilitará o educando para uma escrita concisa e lógica.
Os Referenciais Curriculares Nacionais sugerem que:

[...] os professores deverão organizar a sua prática de forma a promover em seus alunos: o interesse pela leitura de histórias [...]. Isto se fará possível trabalhando conteúdos que privilegiem a participação dos alunos em situações de leitura de diferentes gêneros feita pelos adultos, como contos, poemas, parlendas, trava-línguas, etc. propiciar momentos de reconto de histórias conhecidas com aproximação às características da história original no que se refere à descrição de personagens, cenários e objetos, com ou sem a ajuda do professor. (BRASIL, 1998, vol.3, pp. 117, 159).

É importante salientar que a criança constitui através da leitura, significados que podem melhorar sua qualidade de vida, propondo um resgate da auto-estima e do autoconhecimento, conscientizando-a de que todos são capazes de superar suas próprias dificuldades e limitações, levando-a a encontrar caminhos que despertam a compreensão de si e do mundo e as novas descobertas que contribuirão para o seu conhecimento e crescimento pessoal e social. Os contos dão à criança a oportunidade de projetar sonhos e anseios por meio da fantasia, conduzem a sua autonomia e a crença na transformação de suas fraquezas em potenciais para vencer desafios, adotar novas posturas, pensar com criticidade e mudar sua história.


A ORIGEM DOS CONTOS INFANTIS


Desde os primórdios, a literatura infantil surge como uma forma literária menor, apenas expressando um ato de linguagem ou representação simbólica de alguns fatos, os quais, nem sempre eram reais. Como se sabe, a literatura infantil contém em seu abrangente conteúdo vários tipos de textos representativos como é o caso das fábulas, o apólogo, a lenda, o conto maravilhoso, os contos de fadas e etc. Então, vista a necessidade de escolher diante de tanta oferta em literatura a mais criativa e eficaz na alfabetização, a indicada vem a ser os contos de fadas, os quais, tratam de problemas humanos universais como, por exemplo, a solidão e a necessidade de enfrentar a vida por si só, mas de uma maneira simbólica.
Em sua origem, os contos de fadas nada mais eram do que relatos de fatos da vida dos camponeses, recheados de conflitos, aventuras e pornografias sendo assim, pouco indicado a ser contado para as crianças. Esses relatos apenas serviam como entretenimento; anos mais tarde com a descoberta das fadas, que eram idealização de uma mulher perfeita, linda e poderosa, a qual era dotada com poderes sobrenaturais, vê-se a necessidade de utilizar tais estórias alienadas também à educação, já que as crianças gostavam muito desses contos e a fantasia inserida neles, estava ajudando a formar a personalidade dessas pequenas pessoas.
O reconhecimento da edição dos conto de fadas, como conhecemos hoje, surge na França no fim do século XVII sob iniciativa de Charles Perrault (1628 - ] 703). Ao contrário do que se possa ser pensado, Perrault não criou as narrativas de seus contos, mas as editou para que estas se adequassem à audiência da corte do rei Luiz XIV (J 638 - I 71 5). Foram às narrativas folclóricas contadas pelos camponeses, governantas e serventes que forneceram a matéria - prima para estes contos. Apesar do distanciamento da camada popular e do desprezo pela sua cultura, a classe nobre só conhecia tais narrativas devido ao inevitável contato por meio do comércio ou pelas presenças das governantas e outros serviçais em suas residências. Após coletar tais narrativas, Charles Perrault eliminou o quanto pôde as passagens obscenas ou repugnantes que continham incesto, canibalismo e sexo grupal para manter o seu apelo literário junto aos salões letrados parisienses.
Já no Brasil, a adaptação do modelo europeu que chegava, abrangia todo tipo de literatura até então usada, sendo assim também apropriada para o projeto educativo e ideológico que via no texto infantil (principalmente os contos de fadas) e na escola aliados indispensáveis para formação de cidadãos. Essa formação, que utilizava tais textos aconselhavam em suas páginas principalmente o patriotismo, o amor e respeito à família e aos mais velhos, a dedicação aos mestres e à escola, a piedade pelos pobres e fracos.
Neste clima de valorização da instrução e da escola, simultaneamente a uma produção literária variada, inicia-se um período de preocupação generalizada, devido à carência de material adequado à leitura para crianças brasileiras, já que, apenas era o começo da utilização dos contos, e histórias na escola, é o que documenta Silvio Romero, reclamando a precariedade das condições em sua alfabetização:
"Ainda alcancei o tempo em que nas aulas de primeiras letras aprendia-se a ler em velhos autos, velhas sentenças fornecidas pelos cartórios dos escrivães forenses. Histórias detestáveis e enfadonhas em suas impertinentes banalidades eram-nos administradas nestes poeirentas cartapácios. Eram como clavas a nos esmagar o senso estético, a embrutecer o raciocínio e a estragar o caráter." (ROMERO, Silvio. Rio de Janeiro, Lalmmert, 1885).
Nestas lamentações de ausências de material de leitura e de livros para infância brasileira, fica clara a concepção, bastante comum na época, da importância do hábito de ler para a formação do cidadão, formação que, a curto, médio e longo prazo, era o papel que se esperava do sistema escolar e da então utilização dos contos e histórias infantis.
A partir daí, dentro desse espírito de mudanças surgiram vários programas de nacionalização, os quais aderem à temática urbana, tendo crianças como personagens centrais que, através de variadas situações e aventuras iam desenvolvendo o sentimento de família, noções de obediência, prática das virtudes civis, sendo formadas crianças moldadas e pouco críticas, cuja presença nos livros parece cumprir a função de contagiar todos com iguais virtudes e sentimentos.
Teve grande destaque em regenerar esse conceito de molde para as crianças, Olavo Bilac ou Tales de Andrade na literatura infantil, fazendo a inversão de valores ideológicos, com isso assume um compromisso com a modernidade centralizando sua preocupação em valores menos tradicionais e mais liberais.

A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

São construídas e desenvolvidas durante os primeiros anos de vida da criança, maneiras particulares de ser e esquemas de relações com o mundo e com as pessoas. Suas matrizes de relações são construídas a partir de sua interação com o meio: o seu comportamento emocional, individualização do próprio corpo, formação da consciência de si, são processos paralelos e complementares do desenvolvimento da criança (em seus primeiros anos) e é nesta fase que prevalecem os critérios afetivos sobre os lógicos e objetivos.
De acordo com Piaget, as crianças adquirem valores morais não só por internalizá-los ou observá-los de fora, mas por construí-los interiormente através da interação com o meio ambiente. Nesta fase, ouvir histórias (principalmente os contos), entre outras atividades, é possibilidade real de desenvolvimento e aprendizagem.
Os contos de fadas exercem um grande fascínio nas crianças, são caminhos de descoberta e compreensão do mundo. Segundo Bettelheim dentro do texto: "O conto de fadas procede de uma maneira consoante ao caminho pelo qual uma criança pensa e experimenta o mundo; por esta razão os contos de fadas são tão convincentes para elas".
Bettelheim ainda assinala que as crianças, através da utilização dos contos, aprendem sobre problemas interiores dos seres humanos e sobre suas soluções e também é através deles que a herança cultural é comunicada às crianças, tendo uma grande contribuição para sua educação moral.


Já Aguiar, coloca que os contos infantis:
"É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, das dificuldades, dos impasses, das soluções, que todos atravessamos e vivemos de um jeito ou de outro, através de problemas que vão sendo defrontados, enfrentados (ou não), resolvidos (ou não) pelos personagens de cada história (cada um a seu modo...). E assim consegue esclarecer melhor os nossos problemas ou encontrar um caminho possível para a resolução deles...".
Enfim, o contato com os livros de contos de fadas transporta a criança para um mundo mágico possibilitando-lhe soltar a imaginação e identificar na leitura experiências de vida que ela vive ou viveu em determinado momento de sua existência. Faz comparações da sua realidade com a do personagem que mais lhe chamou a atenção, pois se vê nele e busca soluções para a compreensão dos seus problemas existenciais. Os temas tratam de questões que afligem o ser humano e utilizam uma linguagem que tocam sentimentos como o medo, insegurança, carências, amor, aflições e tristezas que atingem tanto a criança quanto os adultos, fazendo-a despertar para a necessidade de externalizar suas emoções.

RELATO DE EXPERIÊNCIA
"Projeto Conte Outra Vez..."


A partir da constatação da importância dos contos na fase da pré-escola abordaremos uma experiência comprovada através do projeto "Conte outra vez..." desenvolvido no Centro de Educação Infantil Eusébio Justino de Camargo em Nova Olímpia MT. O projeto contemplou as turmas B, C e D de pré I e II na faixa etária de 04 a 05 anos ao longo do ano de 2010.
As atividades desenvolvidas durante o projeto enfocaram os aspectos de interesse infantil, respeitando sempre a faixa etária e o desenvolvimento individual dos alunos. Partindo desse pressuposto, os professores selecionaram juntamente com os alunos as histórias que mais lhes interessaram e planejaram de que forma cada uma seria explorada.
Para desenvolver a linguagem oral e a expressão corporal e artística trabalhou-se com: Narração (conto e reconto), dramatização, músicas, danças, ilustração de histórias, leitura de histórias, vídeos; produção de um livro de história ilustrado pelas crianças.

No eixo artes visuais, exploramos as possibilidades de manuseio de diversos materiais trabalhados por meio de: Desenhos; pinturas; recortes e colagens e modelagem;
Foram exploradas também atividades que desenvolveram o raciocínio lógico matemático através de confecção dos seguintes jogos pelas crianças tais como: Dominó, quebra-cabeça e jogo da memória e outros.
As habilidades previstas no decorrer do projeto foram: Recontar histórias, desenvolver a linguagem oral e escrita, executar tarefas em grupo, demonstrar criatividade, ouvir com atenção, dramatizar de forma coletiva, cuidar e compartilhar dos livros, desenhar e pintar, participar de momentos de leitura;
Enfim, que a educação seja um espaço para descobertas obtidas através da participação e colaboração ativa de cada criança com seus parceiros em todos os momentos, possibilitando, assim, a construção de sujeitos autônomos e cooperativos.
É, portanto, através de um ensino por projetos, que a literatura infantil ganhará um sentido maior na vida das crianças. O confronto de opiniões, a motivação, as interações sociais e o trabalho cooperativo possibilitarão à criança condições que asseguram o caráter formativo das atividades, através de uma boa orientação do professor, tendo a finalidade de esclarecer aos alunos o que devem fazer como devem fazer, por que e para que fazer tal atividade ou ler este ou aquele livro. Na literatura infantil, portanto, a criança aprende brincando em um mundo de imaginação, sonhos e fantasias.


REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
AGUIAR, Vera Teixeira. Era uma vez... na escola: formando educadores para formar leitores. Belo Horizonte: Formato, 2001.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília : MEC/SEF, 1997.
BETIELHEIM, Bruno, A Psicanálise dos Contos de Fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.
CADEMARTORI, L. O que é literatura infantil? 6.ed. São Paulo : Brasiliense, 1994.
JOLIBERT, J. Formando crianças leitoras. Porto Alegre : Artes Médicas, 1994. v.1